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Lembranças do Planeta Terra<br />
Por Norália de Mello Castro<br />
Talvez a lembrança mais nítida de meu<br />
pai seja quando, numa mesa farta com jabuticabas,<br />
ele, sentado à cabeceira, ia devorando essas<br />
frutinhas. Literalmente devorando. Sua expressão<br />
de gula se manifestava no rosto avermelhado,<br />
nos olhos brilhantes, nas mãos sôfregas<br />
buscando as delícias dessa frutinha preta<br />
de brilhante, com um caldo adocicado e delicioso.<br />
Ele ia pegando uma a uma, levando à<br />
boca com um prazer quase infantil.<br />
Ia selecionando as maiores, colocandoas<br />
num copo ou numa vasilha qualquer. Depois<br />
de saciada a sua gula primeira, pegava as selecionadas<br />
e nova seleção fazia. E... ai de quem<br />
tocasse nas selecionadas das selecionadas!<br />
Ele brigava como uma criança. Não deixava<br />
ninguém pegá-las. Talvez cansado de tanto brigar<br />
com a meninada, num rompante mais ameno,<br />
pegava uma ou outra e ia pondo na boca de<br />
cada um.<br />
Gulosa, eu me debatia. Queria mais. Mas<br />
ele não dava.<br />
Só sei que esta gula paterna me fez<br />
amar as jabuticabas. Amo mesmo esta frutinha<br />
e admiro um pé de jabuticaba: majestoso: sua<br />
floração é deslumbrante, com pequenas flores<br />
brancas a esparramar um perfume sem igual:<br />
suave, inebriante, belo. E daí vêm centenas de<br />
milhares de bolinhas pretas em todos os galhos<br />
a estimular os sentidos da gula, do prazer, uma<br />
alegria sentida apenas uma vez ao ano. Ninguém<br />
resiste à atração de um pé de jabuticabas<br />
pronto a ser consumido.<br />
Um pé de jabuticaba é igual ao cosmo<br />
celestial: milhares de dezenas de corpos celestes<br />
esparramados em todas as direções: constelações,<br />
estrelas, planetas vagando no espaço<br />
sideral numa ordenação cronometrada, advinda<br />
de uma única raiz – o Princípio, de uma única<br />
Força – Deus, a emanar vida em grande escala.<br />
Varal do Brasil janeiro/fevereiro de <strong>2013</strong><br />
A Vida está presente, total. E se manifesta em<br />
cada ser humano, na sua totalidade.<br />
A Força me fez aportar numa bolinha de<br />
jabuticaba, bem especial chamada Terra. Cá<br />
estou no planeta que tenho de estar, acolhida,<br />
amada, determinada, em transição. Um planeta<br />
escola de aprendizagem, para maiores voos.<br />
De onde vim? De Triskle, planeta de origem?<br />
Não me importa saber. Venho do Pai. Para onde<br />
vou: Alcion, planeta futuro? Não importa.<br />
Vou com o Pai. Só sei, hoje, que sou caminhante<br />
no Planeta Terra e nele encontrei respostas à<br />
vida que me foi dada e que mais resposta ainda<br />
me dá. A Face da Força foi delineada com a<br />
Beleza do Planeta Terra, talvez seu lado feminino:<br />
suas águas, seus ventos, suas chamas, e a<br />
Mãe Terra se fez mais mãe: deu-me Lar. Deume<br />
também o maior dos presentes: a consciência<br />
de que tenho vida e que sou vida interligada<br />
a tudo e todos. Amar este Planeta, estar aqui,<br />
só se justifica em espargir o amor entre os seres<br />
iguais a mim, assim como o prazer imenso<br />
de chupar uma frutinha preta, redonda, adocicada<br />
e saborear seu sumo. Celebrar o hoje como<br />
se apresenta, consciente que estou de passagem...<br />
para onde? Para onde o meu mérito me<br />
levar: quero ser selecionada dos selecionados<br />
do Bem.<br />
Brumas 21 de outubro de 2012- domingo, manhã.<br />
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