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VARAL DO BRASIL 19 JAN 2013

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Conto 7 – Davi e a tempestade<br />

Varal do Brasil janeiro/fevereiro de <strong>2013</strong><br />

Por Fabiane Ribeiro<br />

Pela fria madrugada, o suor banhava-lhe a face,<br />

contrastando ao clima gélido do outono. Era<br />

a insegurança, adentrando cada célula de seu<br />

corpo.<br />

Davi abriu os olhos e pôde... ver?<br />

Que ideia absurda, ele pensou.<br />

Era deficiente visual há mais de uma década.<br />

Como poderia, no meio da noite, abrir os olhos<br />

e, simplesmente... ver...?<br />

Contudo, a visão era de uma beleza singular.<br />

Uma luz pálida, porém, penetrante; forte e vibrante.<br />

Era impossível não se entregar.<br />

Davi estivera na reunião do grupo de deficientes<br />

visuais aquela tarde, entretanto, não se sentira<br />

muito confortável. Os colegas haviam partilhado<br />

sonhos, visões durante sonos renovadores.<br />

Ele, por sua vez, desde que sofrera o acidente,<br />

nunca sonhara. Nem ao menos um pesadelo<br />

para constar.<br />

Sonhos, bons ou ruins, não faziam parte de sua<br />

vida. Portanto, ele não compartilhara nada na<br />

reunião; apenas ouvira relatos que lhe eram estranhos.<br />

Agora não parecia sonhar; a luz fazia com que<br />

se sentisse mais vivo e acordado que nunca.<br />

Era como se aquela luz fosse a vida...<br />

E, de alguma forma, era.<br />

Ele abriu os braços e jogou-se, com força na<br />

luz.<br />

Sentiu gotas pesadas e aterrorizantemente gélidas<br />

pesarem contra seu corpo. Estava chovendo.<br />

Não era uma chuva qualquer. Era uma forte<br />

tempestade.<br />

Estava em um barco em meio a um oceano de<br />

águas sem fim.<br />

Água. Raios. Trovões. Água. Vento. Água. Nuvens<br />

escuras... Tudo cinza. Exceto... a luz.<br />

A luz continuava em sua visão, pálida, encoberta<br />

por algumas nuvens e, ao mesmo tempo,<br />

convidativa.<br />

Então, ele deixou de incomodar-se pela tempestade<br />

e concentrou-se na luz e na paz que<br />

ela lhe transmitia...<br />

O barco continuou seu balanço sobre as fortes<br />

ondas no mar, e a luz continuou a acalmar-lhe,<br />

até que os primeiros raios de sol fossem vistos<br />

e os tons cinzentos da tempestade fossem preenchidos<br />

por cores vibrantes. Tudo se fez luz,<br />

após uma noite de tempestades em alto-mar.<br />

Davi retomou a consciência.<br />

Em seu quarto, calmo e silencioso, os raios do<br />

sol da manhã tingiam tudo com brilho. Ele sorriu.<br />

Voltara a sonhar. Teria um sonho a partilhar<br />

com os colegas na próxima reunião.<br />

Entretanto, não era um sonho qualquer... Era<br />

um anúncio de boas-novas a caminho. De uma<br />

luz capaz de afugentar qualquer tempestade.<br />

Ele havia sonhado com um farol em meio ao<br />

mar.<br />

Se antes, na ausência dos sonhos, tudo era escuridão<br />

em sua vida; agora, após sonhar com o<br />

farol e com a tempestade que se desfez, ele<br />

teve certeza de que bastaria concentrar-se na<br />

luz, presente em qualquer existência, para que<br />

as nuvens escuras fossem carregadas pelos<br />

ventos de mudança...<br />

www.varaldobrasil.com 100

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