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VARAL DO BRASIL 19 JAN 2013

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O CERRA<strong>DO</strong>, FAZENDEIROS E<br />

Varal do Brasil janeiro/fevereiro de <strong>2013</strong><br />

uma área de 2 milhões de Km², abrangendo dez estados<br />

do Brasil Central. Nas décadas de 40 e 50, havia<br />

ONÇAS PINTADAS<br />

no Brasil muito maior extensão de cerrado, assim<br />

Por Eliane Accioly<br />

como de outros biossistemas.<br />

http://www.portalbrasil.eti.br/cerrado.htm).<br />

A arte é feita do lugar natal, aquele de nossa língua<br />

Volto ao Triângulo Mineiro e não vejo mais cerrado,<br />

materna. Para mim, o cerrado é matéria prima, a fon-<br />

apenas poucas reservas, quase todas em fazendas ou<br />

te na qual bebo. Lembro-me de nós, crianças, no ma-<br />

condomínios de luxo, particulares. Imagino que posto,<br />

como chamávamos o cerrado. Arbustos retorcisa<br />

haver reservas maiores do governo, mas preciso<br />

dos, rios de fluxo rápido, ribeirões transparências<br />

pesquisar para afirmar.<br />

macias e brilhantes, e poços ribeirinhos onde se po-<br />

Em uma ida ao Triângulo escutei reclamações de<br />

dia nadar. E as matas, pois no cerrado também as há.<br />

fazendeiros, revoltados com as onças-pintadas. Elas<br />

Emas correndo soltas, seriemas e nuvens barulhentas<br />

comem bezerros em profusão, afirmavam. Perguntei:<br />

de periquitos, maritacas, tucanos. Tatus e tamanduás<br />

- Como assim? Onças no meu tempo nunca apareci-<br />

-bandeira quando havia sorte, porque são medrosos<br />

am. Onça comendo bezerro?<br />

do humano. Aliás, como todos os bichos selvagens.<br />

O que ocorre, no meu entender, é que as fazendas<br />

Do cerrado me ficaram os amplos horizontes, o si-<br />

invadiram as matas, enormemente desbastadas. As<br />

lêncio quebrado por gritos de pássaros e rajadas de<br />

reservas ecológicas obedecem ao chamado limite<br />

vento. Bicho e vento, feitos de silêncio, como o ruí-<br />

legal. Os fazendeiros dizem: - Não posso derrubar<br />

do do mar, que conheci bem mais tarde. Não tenho<br />

toda a mata, mas o que puder vou desmatar para<br />

medo de onça pintada, lobo guará, cobra. De calan-<br />

plantar eucalipto, ou criar gado, ou plantar soja... O<br />

go, muito menos. Fico horas olhando para um deles<br />

lucro.<br />

parado, quentando sol.<br />

Vivi no cerrado nas décadas de 40 e 50. Talvez, ain-<br />

(Segue)<br />

da exista em mim a ilusão da liberdade, gerada pela<br />

imensidão do olhar, que no cerrado nunca chegava<br />

ao fim. O olhar resvalava no horizonte e seguia<br />

além. Havia, sim, o dia que se findava, quando a noite<br />

caía sobre nós. E ninguém se machucava. Era hora<br />

de ouvir as histórias dos peões, do meu avô Moisés,<br />

do Mario, o administrador da fazenda... Contavam<br />

das casas mal-assombradas, do poço preferido do<br />

Velho do Rio, muito perigoso para as crianças, da<br />

pedra onde as iaras se espraiavam, saindo do fundo<br />

do rio, de manhãzinha ou ao pôr sol. Casas, poços e<br />

pedras, pontos mapeados.<br />

Pesquisas na Internet mostram que o cerrado foi a<br />

segunda maior formação vegetal brasileira, habitat<br />

riquíssimo em sua diversidade de fauna, flora, minerais,<br />

água. Originalmente, o cerrado estendia-se por<br />

www.varaldobrasil.com 28

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