Manuel Bandeira e suas inovações na criação poética - Unorp
Manuel Bandeira e suas inovações na criação poética - Unorp
Manuel Bandeira e suas inovações na criação poética - Unorp
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
BOSCO BREVIGLIERI, Etiene M. <strong>Manuel</strong> <strong>Bandeira</strong> e <strong>suas</strong> <strong>inovações</strong> <strong>na</strong> <strong>criação</strong> <strong>poética</strong>. Revista UNORP, v1(1):21-40, dezembro 2002.<br />
“...poeta ponte <strong>na</strong> passagem da poesia brasileira para a modernidade”.<br />
Ainda quanto ao lado crítico de <strong>Bandeira</strong> temos o tom de observação em<br />
conseqüência da visão social modernista; este tipo de poesia incorporou-se <strong>na</strong><br />
identidade cultural e, portanto, também, <strong>na</strong> identidade literária de nosso país,<br />
engendrando, assim, as crônicas sociais e outros gêneros que continuariam a<br />
crítica ao funcio<strong>na</strong>mento político da sociedade. Para tanto, <strong>Bandeira</strong> usava de<br />
tom irônico, audacioso, traço típico modernista que o autor vinha a i<strong>na</strong>ugurar,<br />
mesmo antes da Sema<strong>na</strong> de Arte Moder<strong>na</strong> de 1922, e que se relacio<strong>na</strong>va com<br />
o movimento de classes sociais insatisfeitas com a política econômica que<br />
vigorava <strong>na</strong> época.<br />
Assim, o poeta penetra <strong>na</strong> crítica social. Contudo, sua visão é lírica. O<br />
sofrimento não é ape<strong>na</strong>s o do homem, mas o do poeta, numa forma de protesto<br />
que não ataca as classes domi<strong>na</strong>ntes com protestos duros e com nomes, mas<br />
faz do poeta uma ferramenta de luta social e, por extensão, faz da literatura<br />
uma expressão de identidade, onde a literatura deixava-se contami<strong>na</strong>r pelo meio<br />
em que viviam os poetas. Enfim, o fluxo da comunicação é interrompido somente<br />
para dar vazão ao desenlace irônico do poeta. Como exemplo desta vertente<br />
temos : O bicho.<br />
Vi ontem um bicho<br />
Na imundície do pátio<br />
Catando comida entre os detritos.<br />
Quando achava alguma coisa,<br />
Não exami<strong>na</strong>va nem cheirava:<br />
Engolia com voracidade.<br />
O bicho não era um cão,<br />
Não era um gato,<br />
Não era um rato.<br />
O bicho, meu Deus, era um homem.<br />
(<strong>Bandeira</strong>, 1947)<br />
Fi<strong>na</strong>lmente retrataremos no poema Camelôs, poema abrangido pela obra<br />
Liberti<strong>na</strong>gem, publicada em 1930, e que inclui poemas escritos de 1924 a 1930.<br />
31