Manuel Bandeira e suas inovações na criação poética - Unorp
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BOSCO BREVIGLIERI, Etiene M. <strong>Manuel</strong> <strong>Bandeira</strong> e <strong>suas</strong> <strong>inovações</strong> <strong>na</strong> <strong>criação</strong> <strong>poética</strong>. Revista UNORP, v1(1):21-40, dezembro 2002.<br />
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sem prejuízo da visão histórico-cultural da tradição do país que tanto enfatizam,<br />
buscando resgatá-la para a atualidade, eles deslocam o interesse da <strong>criação</strong><br />
rumo à experiência cotidia<strong>na</strong> do escritor, que é, no caso, em grande parte uma<br />
experiência coletiva.”<br />
O poema se inicia com uma espécie de frase bíblica, utilizando a expressão<br />
“Abençoado seja”, apresentando assim os Camelôs como parte de uma atividade<br />
importante e louvável da sociedade, como um elemento que merece destaque,<br />
de forma que o tom bíblico eleva os camelôs a seres divinos que possuem <strong>na</strong>s<br />
mãos os dons, em especial a arte de lidar com os sonhos das pessoas, como<br />
veremos mais ao fim do poema.<br />
O camelô é, ainda, mais especificado como aquele que vende os<br />
“brinquedos de tostão”. Neste caso, há uma valoração ainda maior do sujeito,<br />
uma vez que apresenta que este vive de pouco dinheiro (lucro); consagrado<br />
para muitos como sem importância, mas de grande valor sentimental para as<br />
crianças, e ainda um grupo seleto de observadores que, como o poeta, dão<br />
importância a elementos deixados no passado, <strong>na</strong> infância. Esta, talvez, seja a<br />
primeira antítese do poema, a do valor econômico em choque com o valor<br />
sentimental e afetivo.<br />
Em seguida, temos versos que complementam o primeiro como forma<br />
de enumeração expositiva, de explicação mais detalhada. Assim os demais<br />
versos irão apontar, com pormenores, os elementos que compõem a roti<strong>na</strong> de<br />
venda dos camelôs de tostão, seus produtos.<br />
Temos neste rol: os balõezinhos de cor, o macaquinho que trepa no<br />
coqueiro, o cachorrinho que bate com o rabo, os homenzinhos que jogam boxe,<br />
elementos pertencentes ao mundo infantil apresentados de forma a se aproximar<br />
do mundo atual do poeta. Nota-se que todas as ações dos brinquedos são<br />
descritas no tempo presente, dando-nos a sensação de que o poeta mostra que<br />
tais elementos ainda vivem no mundo de cada criança, que os enxerga <strong>na</strong>s<br />
calçadas e <strong>na</strong> mente daqueles que trazem consigo as memórias da infância,<br />
podendo uma destas pessoas ser representada pelo eu-lírico.<br />
Temos, ainda, dois elementos que fazem parte desta enumeração e que<br />
receberam destaque do poeta e uma explicação para sua importância <strong>na</strong> vida<br />
das crianças e dos futuros adultos, vejamos: “A perereca verde que de repente<br />
dá um pulo que engraçado”; neste verso, o brinquedo citado também possui