Manuel Bandeira e suas inovações na criação poética - Unorp
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BOSCO BREVIGLIERI, Etiene M. <strong>Manuel</strong> <strong>Bandeira</strong> e <strong>suas</strong> <strong>inovações</strong> <strong>na</strong> <strong>criação</strong> <strong>poética</strong>. Revista UNORP, v1(1):21-40, dezembro 2002.<br />
28<br />
Que a vida é traição<br />
E saudava a matéria que passava<br />
Liberta para sempre da alma extinta.<br />
Estrela da vida inteira<br />
O tema central do poema, muitas vezes evocado pelo poeta em sua obra,<br />
é o da valorização do instante, da sublimação do cotidiano. <strong>Manuel</strong> <strong>Bandeira</strong><br />
retrata, neste poema, a utilização do instante cotidiano como forma de evasão<br />
do sublime.<br />
Daí a escolha da palavra “momento” utilizada no título como forma de<br />
efetuar um recorte, fragmentação do dia em um pequeno e valoroso momento,<br />
instante de vida usado para apontar a valorização desta mesma vida, da qual o<br />
“momento” foi retirado.<br />
O perso<strong>na</strong>gem principal a ser destacado no poema, assim como o<br />
“momento” valorizado dentro do cotidiano foi também a<strong>na</strong>lisado de forma<br />
singular, destacado do resto do povo e daqueles que pensam de acordo com a<br />
“massa”, representado no poema pelo pequeno grupo de cavalheiros que se<br />
encontrava no café no “momento” em que o esquife passava. Assim, o poeta<br />
realiza recortes dentre as ce<strong>na</strong>s que compõem o poema e aponta para tal técnica<br />
desde o início do poema, pelo seu título.<br />
No caso, o perso<strong>na</strong>gem destacado se vê valorizado pela sua sensibilidade<br />
em perceber, diferentemente dos demais, a profundidade da ce<strong>na</strong> que assistia,<br />
apesar desta fazer parte da vida e do cotidiano das pessoas. Temos aqui um<br />
ente que não se embriagou <strong>na</strong> avidez da vida.<br />
Desta forma, por meio das apresentações das diferentes ce<strong>na</strong>s dentro<br />
do poema, temos a apresentação das diferentes opiniões dos homens do café<br />
diante de um mesmo tema, a vida e a morte, colocadas frente a frente, a<br />
sublimação do momento cotidiano como instrumento de elucidação dos grandes<br />
segredos da vida, tão constantemente emaranhados em discussões filosóficas,<br />
apresentados, agora, segundo a visão de <strong>Bandeira</strong> como tema presente no diaa-dia.<br />
Através da “sacralização” do “momento” aqui descrito pelo poeta temos<br />
a valorização do instante, o apontamento para temas como o “carpe diem”<br />
colocados de forma questio<strong>na</strong>dora frente à presença da morte inevitável.<br />
No poema acima, o poeta utiliza a sobreposição de fragmentos que nos<br />
levam à construção de imagens dispostas em dois blocos, a imagem da maioria