Manuel Bandeira e suas inovações na criação poética - Unorp
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BOSCO BREVIGLIERI, Etiene M. <strong>Manuel</strong> <strong>Bandeira</strong> e <strong>suas</strong> <strong>inovações</strong> <strong>na</strong> <strong>criação</strong> <strong>poética</strong>. Revista UNORP, v1(1):21-40, dezembro 2002.<br />
uma ação descritiva no presente (dá um pulo). O mais intrigante está <strong>na</strong> parte<br />
“que engraçado”, uma espécie de exclamação implícita, demonstrando uma<br />
surpresa, uma alegria, um contentamento um tanto comedido pelo eu-lírico, que<br />
não utilizou a pontuação necessária (parágrafo e ponto de exclamação);<br />
mostrando que o poeta, que agora transitava pelas calçadas, ainda se encanta<br />
com tais brinquedos.<br />
Aqui poderia se indagar se a pausa presente no fi<strong>na</strong>l deste verso não<br />
indica uma intenção (implícita) do poeta em perguntar ao leitor: Não é mesmo?,<br />
como forma de participação da emoção do eu-lírico em relação ao leitor.<br />
O próximo verso aponta para o último elemento a ser descrito “e as<br />
canetinhas-tinteiros que jamais escreverão coisa alguma”. Neste caso, o<br />
elemento “canetinha”, aponta para uma reflexão, um ato de consciência do eulírico,<br />
que considera a carga das canetinhas-tinteiro tão efêmeras quanto a<br />
duração das idéias infantis e da própria infância. Tais objetos ficariam presos<br />
aos desenhos, sem compromissos e sem sentido, e se acabariam antes da<br />
aquisição da escrita, e dos compromissos dos adultos.<br />
A forma como a figura do camelô é construída, tor<strong>na</strong>-se interessante à<br />
medida que esse processo de construção vai se dando a partir do detalhamento<br />
e descrição dos elementos de trabalho dos camelôs, seus brinquedos de tostão.<br />
Assim, ocorre um processo de colagem onde a disposição dos brinquedos e<br />
sua descrição, as ce<strong>na</strong>s incluídas no poema, vão, aos poucos, criando a imagem<br />
fi<strong>na</strong>l do camelô.<br />
Desta forma, o poema vem cumprindo seu papel de apresentar (e não de<br />
representar) a imagem, o camelô é formado ou imagi<strong>na</strong>do <strong>na</strong> mente do leitor no<br />
momento em que este entra em contato com o poema. A imagem tem <strong>na</strong>tureza<br />
<strong>poética</strong>, emotiva, a ce<strong>na</strong> do camelô se forma para o leitor com base no que o<br />
texto apresenta, no contato com as palavras sem, no entanto, haver uma imagem<br />
visual que o direcione durante a leitura . Não há figuras, gravuras, desenhos ou<br />
mesmo uma disposição do poema <strong>na</strong> pági<strong>na</strong> que indique a formulação da imagem<br />
do “camelô”.<br />
A segunda estrofe continua com as afirmações/opiniões do eu-lírico a<br />
respeito dos camêlos, a afirmação “alegria das calçadas” aponta para a<br />
importância destes perso<strong>na</strong>gens <strong>na</strong> vida das grandes cidades. Para tanto, inicia<br />
a descrição dos camelôs não ape<strong>na</strong>s quanto a sua “figura” mas, também, quanto<br />
ao seu comportamento: “uns falam pelos cotovelos” mostrando a agilidade que<br />
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