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Manuel Bandeira e suas inovações na criação poética - Unorp

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BOSCO BREVIGLIERI, Etiene M. <strong>Manuel</strong> <strong>Bandeira</strong> e <strong>suas</strong> <strong>inovações</strong> <strong>na</strong> <strong>criação</strong> <strong>poética</strong>. Revista UNORP, v1(1):21-40, dezembro 2002.<br />

26<br />

Mas não sei se não ficou sempre como uma saudade a repontar aqui e ali... não<br />

me lembro de problemas dentro da metrificação, que eu não tivesse resolvido<br />

prontamente”. Para o poeta, sua concepção de verso livre era a de que este<br />

apesar de se distanciar da tirania métrica deveria, no entanto, manter a ento<strong>na</strong>ção<br />

do verso, tal concepção é fruto da experiência do metro que o levou a concluir<br />

que o movimento rítmico não está preso à metrificação.<br />

Mas as <strong>inovações</strong> de <strong>Bandeira</strong> não param por aí; além de introduzir o<br />

verso livre em nossa poesia, outro elemento passaria a fazer parte da <strong>criação</strong><br />

<strong>poética</strong> a partir de então: a temática banderia<strong>na</strong>, caracterizada pela escolha de<br />

um estilo humilde de elevar ce<strong>na</strong>s do cotidiano <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l; a busca pelo poético<br />

no dia a dia, o desentranhar da poesia presente <strong>na</strong>s coisas mais simples.<br />

Desse processo constante de busca das relações entre seus versos e o<br />

dia a dia temos as seguintes invocações: de sonhos ou trechos de sonhos<br />

(“Palinódia”, “O lutador”), de prosa literária, notícias de jor<strong>na</strong>l: (“O homem e a<br />

morte”, “Poema tirado de uma notícia de jor<strong>na</strong>l”, “Namorados”, “Pneumotórax”),<br />

além do uso de frases da fala <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, propaganda de produtos, letras de samba,<br />

frases pertencentes ao universo infantil e tantos outros elementos do dia a dia<br />

das pessoas mais comuns.<br />

Como elementos que alteraram o modo de <strong>criação</strong> <strong>poética</strong> provenientes<br />

do modernismo, e que aproximaram a arte da cultura popular temos a tendência<br />

em tor<strong>na</strong>r cada vez menos nítida a delimitação entre os domínios da língua<br />

escrita e da língua falada, pelo acolhimento, <strong>na</strong> língua literária, de termos e<br />

expressões usados <strong>na</strong> linguagem cotidia<strong>na</strong>, bem como a aproximação dos temas<br />

à vida comum; senso de pesquisa estética, constante uso de técnicas de<br />

renovação artística representados pela irreverência formal, em muito devidas<br />

ao uso do verso livre.<br />

Quanto a estas mudanças, podemos citar palavras de <strong>Bandeira</strong>: “A vida<br />

não me chegava pelos jor<strong>na</strong>is nem pelos livros, vinha da boca do povo...ao<br />

passo que nós o que fazemos é macaquear a sintaxe lusita<strong>na</strong>...”<br />

Em um ensaio sobre a poesia de 30, Mário de Andrade, ao lidar com o<br />

verso livre enquanto aquisição de ritmo pessoal, chamou atenção para um aspecto<br />

de <strong>Bandeira</strong>, onde a principal característica dessa nova estética se baseia <strong>na</strong><br />

mescla entre prosa e poesia, resultando numa poesia que contém elementos do<br />

cotidiano sem deixar de ser poesia da mais alta qualidade.<br />

Essa nova tendência trazia em si elementos da fala brasileira, isto é, com

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