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Manuel Bandeira e suas inovações na criação poética - Unorp

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BOSCO BREVIGLIERI, Etiene M. <strong>Manuel</strong> <strong>Bandeira</strong> e <strong>suas</strong> <strong>inovações</strong> <strong>na</strong> <strong>criação</strong> <strong>poética</strong>. Revista UNORP, v1(1):21-40, dezembro 2002.<br />

sobre a evocação freqüente de pessoas pertencentes ao seu passado, dentre<br />

elas, sua irmã, seu pai, a cozinheira Tomázia, a ama-seca Rosa e Totônio<br />

Rodrigues (uma espécie de tio), realizando assim uma aproximação entre o<br />

mundo do eu lírico e sua obra.<br />

Como extensão deste processo temos em “Camelôs”, figura tão presente<br />

no cotidiano das grandes cidades como o Rio de Janeiro, Recife, locais onde o<br />

poeta morou, aqui representados especificamente como “aqueles dos brinquedos<br />

de tostão” (apesar destes perso<strong>na</strong>gens não adquirirem nomes próprios neste<br />

poema), e escolhidos como foco das memórias a serem retratadas neste poema.<br />

Camelôs foi escrito enquanto o autor ainda residia no Rua do Curvelo<br />

(RJ), incluído <strong>na</strong> obra Liberti<strong>na</strong>gem,obra que segundo o próprio autor ficou<br />

impreg<strong>na</strong>da do cotidiano que o cercava: “A Rua do Curvelo ensinou-me muitas<br />

coisas. Couto foi avisada testemunha disso e sabe que o elemento de humilde<br />

quotidiano que começou desde então a se fazer sentir em minha poesia não<br />

resultava de nenhuma intenção modernista. Resultou muito simplesmente, do<br />

ambiente do morro do Curvelo.”<br />

A rua do Curvelo, em Santa Teresa, repleta de pessoas simples,<br />

trabalhadores e crianças, estas últimas, figuras de recorrentes observações do<br />

poeta, tornou-se presente em sua obra, principalmente <strong>na</strong>s obras que escreveu<br />

enquanto ali vivia.<br />

“Camelôs” está enquadrado nesse tipo de poema que se vale da descrição<br />

desse elemento tão presente <strong>na</strong>s cidades e <strong>na</strong> infância de todos nós. Assim o<br />

título anuncia a descrição desta figura simples e cotidia<strong>na</strong> que compõe, em<br />

grande parte, o que denomi<strong>na</strong>mos de “economia informal”, como aquela que<br />

gera circulação de capital e de lucro, sem, no entanto, possuir registro junto aos<br />

órgãos competentes; o que já apresenta aqui uma das características de <strong>Bandeira</strong>:<br />

a valorização de figuras que fizeram parte do seu mundo, não importando o<br />

quanto estas mesmas figuras recebam como reconhecimento da comunidade<br />

em geral; a exaltação do simples, do elemento mágico, criador de imagens que<br />

se aliam às imagens pessoais que cada um traz em si, e que farão parte do<br />

processo de recepção do leitor diante da obra.<br />

Essa utilização de elementos simples das grandes cidades se reflete <strong>na</strong><br />

linguagem por meio de um afastamento dos temas sublimes; a humildade<br />

banderia<strong>na</strong> se utiliza em seus textos de uma forma literária “baixa”, diz Arrigucci:<br />

Com olhos voltados para o presente, confiantes <strong>na</strong> realidade brasileira do tempo,<br />

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