Manuel Bandeira e suas inovações na criação poética - Unorp
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BOSCO BREVIGLIERI, Etiene M. <strong>Manuel</strong> <strong>Bandeira</strong> e <strong>suas</strong> <strong>inovações</strong> <strong>na</strong> <strong>criação</strong> <strong>poética</strong>. Revista UNORP, v1(1):21-40, dezembro 2002.<br />
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Ocorre aqui o que Arrigucci define como: “Forma-se, então, uma imagem<br />
súbita do despertar da consciência, momento de recolhimento humilde do vivido,<br />
instante de ilumi<strong>na</strong>ção lírica dentro do cotidiano mais prosaico, recorte de uma<br />
emoção recolhida <strong>na</strong> recordação” (Abbag<strong>na</strong>no, 19 :736-41).<br />
Dessa forma, cabe em “ Camelôs” a idéia de Abbag<strong>na</strong>no, segundo a<br />
qual a poesia é conceituada como “modo definido e diferencial de expressão<br />
lingüística” (1970:736-41), forma de expressão que se utiliza de palavras para<br />
atingir a sonoridade e a produção de imagens desejadas, no caso, para que<br />
<strong>Bandeira</strong> desse aos camelôs a condição mítica de “demiurgos de inutilidades”.<br />
E ainda, a apresentação e construção de imagens determi<strong>na</strong> a forma com que<br />
o poeta quer que os camelôs sejam vistos, “como forma de poesia como<br />
expressão da sua verdade,” da sua idéia de valorização do cotidiano, de forma<br />
a estimular, participar <strong>suas</strong> idéias junto aos leitores.<br />
No poema, a <strong>na</strong>tureza <strong>poética</strong> das imagens está demonstrada <strong>na</strong> <strong>criação</strong><br />
das figuras, dos elementos revividos pelo poeta. Na poesia, a imagem alcança<br />
sua função de apresentação, de personificação da expressão <strong>poética</strong> do autor;<br />
numa composição provinda das palavras no poema.<br />
Outro ponto interessante e subentendido no poema é a comparação<br />
possível entre as figuras dos camelôs, e a dos poetas em geral, já que para<br />
Octavio Paz: “cada imagem - ou cada poema composto de imagens- contém<br />
muitos significados contrários ou díspares, aos quais abarca ou reconcilia sem<br />
suprimí-los”.<br />
Assim como os “vendedores de brinquedos de tostão”, os poetas são<br />
pessoas que trabalham num tipo de “economia informal” dos grandes centros,<br />
isto porque o que o poeta vende, seu material de trabalho, a poesia, é também<br />
um elemento que se relacio<strong>na</strong> com os sonhos, com a ilusão de cada um de nós;<br />
o poeta se utiliza de sua ferramenta de trabalho, as palavras, as imagens e os<br />
sons para atingir o objetivo de se tor<strong>na</strong>r um “demiurgo”, lidar também com a<br />
matéria caótica do dia-a-dia da vida adulta de todos nós.<br />
Para muitos, a poesia pode ser algo inútil, e o poeta, um vendedor de<br />
sonhos e palavras que se equivalem aos brinquedos de tostão. No entanto, a<br />
poesia possui em si a função de trazer ao cotidiano um pouco de emoção e<br />
sentimento, ou como o próprio <strong>Bandeira</strong> cita Válery: “poesia é a tentativa de<br />
representar ou de restituir por meio da linguagem articulada aquelas coisas ou<br />
aquela coisa que os gestos, as lágrimas, as carícias, os beijos, os suspiros