universidade federal de pernambuco centro de artes e comunicação ...
universidade federal de pernambuco centro de artes e comunicação ...
universidade federal de pernambuco centro de artes e comunicação ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Sendo assim, po<strong>de</strong>mos concluir que tanto a fala quanto a escrita<br />
compreen<strong>de</strong>m um continuum, que vai do mais informal ao mais formal,<br />
passando por níveis intermediários. Dessa forma, a informalida<strong>de</strong> consistiria<br />
em uma das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> realização tanto da fala como da escrita, e não<br />
uma característica específica da modalida<strong>de</strong> oral (FÁVERO, 2003, p.75). Ou<br />
seja, não po<strong>de</strong>mos afirmar que a escrita seja mais complexa, mais bem<br />
elaborada, mais explicita ou mais autônoma que a fala (BIBER, 1988, p.24).<br />
A segunda tendência, a qual Marcuschi <strong>de</strong>nomina visão culturalista,<br />
observa muito mais a natureza das práticas <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong> versus escrita, e vê<br />
esta como um avanço na capacida<strong>de</strong> cognitiva dos indivíduos. Os seguidores<br />
<strong>de</strong>ssa visão, Walter Ong (1982), Jack Goody (1977) e David Olson (1977), se<br />
voltam para as mudanças operadas nas socieda<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> o sistema da escrita<br />
foi introduzido. O maior problema acarretado por essa perspectiva <strong>de</strong> análise<br />
seria a idéia <strong>de</strong> que as culturas letradas são superiores, por apresentarem<br />
raciocínio <strong>de</strong>dutivo e pensamento abstrato, possíveis graças à escrita, o que<br />
sugeriria a supremacia da escrita sobre a fala.<br />
Há ainda duas tendências <strong>de</strong> tratamento da questão da fala e escrita, a<br />
da perspectiva variacionista e a sociointeracionista. A primeira, variacionista,<br />
além <strong>de</strong> utilizar um maior rigor metodológico na análise da língua que as duas<br />
propostas anteriores, não faz distinção dicotômica ou caracterização estanque,<br />
mas, ao contrário, preocupa-se com regularida<strong>de</strong>s e variações lingüísticas<br />
distintas. Nessa perspectiva, as diferentes manifestações observadas nas<br />
relações entre fala e escrita seriam casos <strong>de</strong> variação lingüística.<br />
Na segunda, sociointeracionista, as relações entre fala e escrita são<br />
tratadas <strong>de</strong>ntro da perspectiva dialógica, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um continuum textual sem<br />
polarida<strong>de</strong>s estritas, percebendo a língua como fenômeno interativo e dinâmico<br />
(v. Quadro 2 abaixo). A preocupação <strong>de</strong>ssa perspectiva está voltada para os<br />
processos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentido, situando-os em contextos sociohistoricamente<br />
marcados por ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> negociação ou por processos<br />
inferenciais. Conforme lemos em Zanotto (2005, p. 31), o interacionismo<br />
sociodiscursivo privilegia o estudo da língua como um instrumento <strong>de</strong> interação<br />
social, não a língua como sistema ou construto teórico, mas a língua<br />
transformada em discurso, viabilizado pelos gêneros <strong>de</strong> textos.<br />
45