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A04 - Tópicos de História da Mecânica - parte 2 - juliana hidalgo

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O sistema copernicano<br />

Des<strong>de</strong> a Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>, a maior <strong>parte</strong> dos astrônomos preferia a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a Terra estava<br />

para<strong>da</strong> e os planetas giravam ao seu redor. Procuravam, a partir disso, explicar os <strong>de</strong>talhes dos<br />

movimentos dos astros, isto é, “salvar os fenômenos”. Alguns autores, no entanto, conceberam<br />

sistemas diferentes.<br />

Entre os séculos IV e III a.C., o pensador grego Aristarco havia proposto um mo<strong>de</strong>lo<br />

heliostático <strong>de</strong> universo, cujos <strong>de</strong>talhes hoje são <strong>de</strong>sconhecidos. Sabe-se que ele <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u que<br />

o Sol estava parado e a Terra e os outros planetas se moviam em torno <strong>de</strong>le, o que explicava o<br />

movimento aparente do Sol e dos planetas. A Terra também girava sobre si, o que explicava o<br />

dia e a noite. Esse mo<strong>de</strong>lo também permitia explicar por que Mercúrio e Vênus não se afastavam<br />

muito (angularmente) do Sol.<br />

Havia, no entanto, muitas difi cul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para aceitá-lo. Os infl uentes argumentos <strong>de</strong><br />

Aristóteles apoiavam o mo<strong>de</strong>lo geostático. A concepção heliostática <strong>de</strong> Aristarco contrariava<br />

a tradição e não havia evidências a favor do movimento <strong>da</strong> Terra. Além disso, se a Terra girasse<br />

ao redor do Sol, as estrelas <strong>de</strong>veriam apresentar paralaxe (mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> posição aparente em<br />

função <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> posição do observador), mas isso não era observado. Esses fatores<br />

po<strong>de</strong>m ter contribuído para a rejeição às i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Aristarco (LOPES, 2004, p. 106-113).<br />

Algo semelhante ganharia força apenas ao longo dos séculos XVI e XVII. Mesmo nesse<br />

caso as oposições foram <strong>de</strong> cunho bastante similar às <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>, e não apenas resultado<br />

<strong>de</strong> dogmatismo religioso, como se costuma dizer.<br />

Em 1510, num curto texto manuscrito chamado Commentariolus e, em 1543, na obra<br />

As Revoluções <strong>da</strong>s Orbes Celestes, Nicolau Copérnico apresentou sua teoria heliostática. A<br />

aceitação <strong>de</strong>ssa concepção <strong>de</strong> modo algum foi instantânea. Muito pelo contrário, a polêmica<br />

se prolongou por mais <strong>de</strong> um século. O próprio Galileu apenas em 1595 passou a aceitar o<br />

sistema <strong>de</strong> Copérnico, após estu<strong>da</strong>r as marés e convencer-se <strong>de</strong> que elas eram produzi<strong>da</strong>s<br />

pelo movimento <strong>da</strong> Terra (essa interpretação posteriormente seria rejeita<strong>da</strong>).<br />

Nicolau Copérnico não se baseou em novas informações e observações astronômicas<br />

para propor o seu sistema. A motivação <strong>de</strong> Copérnico tinha raízes muito antigas e, po<strong>de</strong>-se<br />

dizer que in<strong>de</strong>pendia <strong>de</strong> olhar para o céu (MARTINS, 1994, p. 79-81).<br />

Copérnico não consi<strong>de</strong>rava o sistema aristotélico-ptolomaico inefi ciente, mas sim o via<br />

como um afronte ao i<strong>de</strong>al grego <strong>de</strong> perfeição. Repudiou o “equante”, alegando ser inconcebível<br />

que um planeta se movesse <strong>de</strong> modo não uniforme em relação ao centro <strong>de</strong> suas trajetórias.<br />

A justifi cativa para o trabalho <strong>de</strong> Copérnico, portanto, seguia a mesma linha <strong>de</strong> pensamento<br />

astronômico <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> na Antigui<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que indica a forte infl uência dos i<strong>de</strong>ais gregos na<br />

Revolução Científi ca (COPÉRNICO, 2003; LOPES, 2003, p. 5).<br />

Deve-se notar, no entanto, que o fato <strong>de</strong> estar <strong>de</strong>scontente com o sistema ptolomaico,<br />

não justifi cava a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> Copérnico <strong>de</strong> colocar justamente o Sol no centro do sistema.<br />

Segundo historiadores <strong>da</strong> ciência, a origem <strong>de</strong>ssa hipótese estava em tradições neoplatônicas<br />

Aula 04 <strong>História</strong> e Filosofi a <strong>da</strong> Ciência 7

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