pdf - Alberto Pucheu
pdf - Alberto Pucheu
pdf - Alberto Pucheu
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
24<br />
desordem e do desmando, o que sempre há precisa de uma trégua<br />
mínima, cuja requisição se manifesta na explosão desejante de<br />
conter a tirana implosão, transformando-a: “Por um segundo de<br />
vidência e de controle”.<br />
A questão do texto, em nome da qual é reivindicado um segundo<br />
de vidência e de controle: a morte: e sua relação com a vida, com<br />
a escrita, com a literatura, com a crítica, com a teoria. num dos<br />
primeiros vetores que cortam o texto, o que é dito da morte? o<br />
que, dela, é possível falar? Que sentido ganha o grito da morte?<br />
enquanto regência soberana, a morte é a obrigação do retorno de<br />
tudo o que há para o reino da amorfia, que se dobra em expressões<br />
ou palavras tais quais ponto zero, inorgânico, decomposição,<br />
degeneração, vazio, ausência de imagens, imperceptível, desgaste,<br />
desordem, invisível etc. Pensar um puro reino da amorfia é admitir<br />
a morte absoluta. Como encampar o amorfo em uma forma, mesmo<br />
nas mais sutis como a escrita ou a fala, se ele deglute tudo o que<br />
atravessa ao mesmo tempo em que de tudo escapa? o esforço se<br />
direciona para uma maior aproximação ao vazio imperceptível que<br />
se retrai na eclosão de toda e qualquer manifestação, buscando, no<br />
sumiço dela, misturar-se a ele. narrar a morte equivale, portanto, a<br />
narrar o inenarrável. enquanto existe palavra ou qualquer imagem<br />
da morte, não há morte, enquanto existe a aparência da morte, há<br />
apenas seu desaparecimento, afirma o belíssimo “A morte humana”,<br />
poema de Hélio Pellegrino, para o qual dizer é sempre um acréscimo,<br />
um mais traidor, qualquer que seja, à pura ausência, à morte<br />
absoluta, que permanece indizível: