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pdf - Alberto Pucheu

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outro se faz possível. “não há nada a explicar, nada a compreen-<br />

der, nada a interpretar. É do tipo de ligação elétrica”. em nome<br />

da diferença monstruosa, a escrita deleuziana se afastará cada<br />

vez mais da semelhança, da necessidade de que o filho, ainda que<br />

monstruoso, seja também do outro. Cada vez mais uma escrita<br />

das experimentações é trazida à tona. Como a inapropriabilidade<br />

e a inacessibilidade típicas da crítica filosófica e poética, o filósofo<br />

francês dirá: “Falamos do fundo daquilo que não sabemos, do fundo<br />

de nosso próprio subdesenvolvimento”. do mesmo modo que, em<br />

outro lugar, eu já havia feito o elogio de uma passagem de diógenes<br />

de laêrtios, volto aqui a afirmar que nunca é demasiado relembrar<br />

a anedota contada por ele, mencionando que sócrates, o indivíduo<br />

histórico, ouvindo Platão ler o lísis, teria exclamado: “Por Heraclés!<br />

Quantas mentiras esse rapaz me faz dizer!” mentir... mascarar...<br />

trair... Criar um monstro... enrabar sócrates... É o que faz o jogo<br />

dos diálogos platônicos ao lidar com o outro, com o outro amado.<br />

Apesar de raramente privilegiados pela crítica literária preponderante,<br />

os exemplos de uma crítica enrabadora e monstruosa, que<br />

se quer criadora e inventiva ou preservadora da inacessibilidade e<br />

inapropriabilidade, não são poucos nem periféricos. tanto como<br />

poeta quanto como crítico, Baudelaire foi um dos principais marcos<br />

inauguradores da modernidade, mas se, enquanto poeta, jamais<br />

abriu mão de uma poesia crítica, enquanto crítico, jamais abriu<br />

mão da superioridade de uma crítica poética sobre as demais: “eu<br />

creio sinceramente que a melhor crítica é a que é divertida e poética;<br />

não aquela, fria e algébrica, que, com o pretexto de tudo explicar,<br />

não sente nem ódio nem amor, e se despoja voluntariamente de<br />

qualquer espécie de temperamento; mas sim – como um belo<br />

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