pdf - Alberto Pucheu
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força é vil. em sua vileza, você se julga aconselhador de alguém:<br />
—se jogue no poço escuro! —morra na praia! —Pare de escrever!<br />
A ausência de eco que você encontra só faz aumentar a sua estridên-<br />
cia. seus textos sobre os escritores contemporâneos não ressoam em<br />
ninguém, pelo menos, em ninguém que conheço. Pela ausência de<br />
ouvidos que encontra, você precisa de polêmicas que fazem parte<br />
de seu jeito de se achar quase charmoso. Contrariamente aos escritores<br />
contemporâneos, você não busca uma saída, você só conhece<br />
o beco sem saída. também pudera: para você, o mundo do nosso<br />
tempo, tal qual existe, está simplesmente – é você quem diz – no<br />
estado de merda. um dia escutei uma anedota de um monge hindu.<br />
ele dizia que havia um homem com bigode viajando numa cabine<br />
de trem. Quando foi dormir, sentiu um cheiro de merda em volta<br />
de si. olhou as solas de seus sapatos, estavam limpas. olhou os<br />
sapatos vizinhos. todos limpos. Vasculhou o chão, tudo limpo. sem<br />
querer, deparou-se com um espelho no qual viu, em seu bigode, a<br />
merda que procurava. esta anedota pode ser útil para você.<br />
Com sua anosmia, você cheira merda em todo lugar, você manda<br />
os outros pararem de escrever, você aconselha aos outros se jogarem<br />
no poço escuro, você mata os outros no mar. Você é fúnebre.<br />
Fúnebre e macabro. enquanto crítico, você é estéril, você parece um<br />
recolhedor dos cadáveres que o mar de sua própria crítica lançou à<br />
praia. Como os corpos supostamente há muito mortos, você, que<br />
desde há muito acredita na morte deles e tem a falsa crença de<br />
que os pesca, cheira à putrefação. Com você, a crítica é um cadáver<br />
não adiado que nem procria: é um cadáver de ontem, de anteontem,<br />
de trasanteontem: com você, a crítica fede. Com você, estranha tarefa,<br />
a crítica é o criminoso e o coveiro. Protegido por não sei qual