17.04.2013 Views

pdf - Alberto Pucheu

pdf - Alberto Pucheu

pdf - Alberto Pucheu

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

74<br />

força é vil. em sua vileza, você se julga aconselhador de alguém:<br />

—se jogue no poço escuro! —morra na praia! —Pare de escrever!<br />

A ausência de eco que você encontra só faz aumentar a sua estridên-<br />

cia. seus textos sobre os escritores contemporâneos não ressoam em<br />

ninguém, pelo menos, em ninguém que conheço. Pela ausência de<br />

ouvidos que encontra, você precisa de polêmicas que fazem parte<br />

de seu jeito de se achar quase charmoso. Contrariamente aos escritores<br />

contemporâneos, você não busca uma saída, você só conhece<br />

o beco sem saída. também pudera: para você, o mundo do nosso<br />

tempo, tal qual existe, está simplesmente – é você quem diz – no<br />

estado de merda. um dia escutei uma anedota de um monge hindu.<br />

ele dizia que havia um homem com bigode viajando numa cabine<br />

de trem. Quando foi dormir, sentiu um cheiro de merda em volta<br />

de si. olhou as solas de seus sapatos, estavam limpas. olhou os<br />

sapatos vizinhos. todos limpos. Vasculhou o chão, tudo limpo. sem<br />

querer, deparou-se com um espelho no qual viu, em seu bigode, a<br />

merda que procurava. esta anedota pode ser útil para você.<br />

Com sua anosmia, você cheira merda em todo lugar, você manda<br />

os outros pararem de escrever, você aconselha aos outros se jogarem<br />

no poço escuro, você mata os outros no mar. Você é fúnebre.<br />

Fúnebre e macabro. enquanto crítico, você é estéril, você parece um<br />

recolhedor dos cadáveres que o mar de sua própria crítica lançou à<br />

praia. Como os corpos supostamente há muito mortos, você, que<br />

desde há muito acredita na morte deles e tem a falsa crença de<br />

que os pesca, cheira à putrefação. Com você, a crítica é um cadáver<br />

não adiado que nem procria: é um cadáver de ontem, de anteontem,<br />

de trasanteontem: com você, a crítica fede. Com você, estranha tarefa,<br />

a crítica é o criminoso e o coveiro. Protegido por não sei qual

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!