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pdf - Alberto Pucheu

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na. como isomorfizar o branco? o poema não “representa” o branco,<br />

ele não parafraseia a ruptura, ele faz o branco aparecer e, com ele,<br />

a ruptura. a isomorfia com o branco seria calar-se, silenciar. o problema<br />

flagrado pelo agamben, tal qual vejo, é que mesmo na mancha<br />

negra da página já há o branco, no dito já há a potência do<br />

dizer, a abertura do dito para um novo dizer. como você bem sabe,<br />

para mim, contrariamente ao que pensa o cicero, não apenas o<br />

poema não é parafraseável, mas tampouco a prosa (estou falando<br />

também da prosa filosófica ou teórica, não apenas da ficcional) o<br />

é. quando falamos de um outro texto, quando escrevemos “sobre”<br />

um outro texto, falamos ou escrevemos sempre de um objeto perdido,<br />

que não comparece enquanto tal no novo texto. para agamben,<br />

a crítica é o pensamento que cuida para tornar seu objeto inacessível,<br />

inapropriável, sendo que, na modernidade, já é impossível<br />

separar poesia e crítica. a crítica, tal qual ele a pensa, seria justamente<br />

um lugar possível de encontro entre a poesia e a filosofia.<br />

não há qualquer oposição entre poema e prosa. não há poema<br />

contra a prosa, nem vice-versa. não há hierarquia entre poema e<br />

prosa. muito pelo contrário, há, no poema e na prosa, o mesmo<br />

acontecimento, ainda que com procedimentos diferentes que querem<br />

se aproximar, que querem se indiscernibilizar. daí, a passagem<br />

maravilhosa dele, que diz: “por esta razão, talvez, nem a poesia nem<br />

a filosofia, nem o verso nem a prosa possa jamais levar a cabo por<br />

si a própria empresa milenar. talvez apenas uma palavra na qual a<br />

pura prosa da filosofia interviesse, a certa altura, rompendo o verso<br />

da palavra poética e na qual o verso da poesia interviesse, por<br />

sua vez, dobrando em anel a prosa da filosofia seria a verdadeira<br />

palavra humana”. não se trata, portanto, de o poema ser imparafra-<br />

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