pdf - Alberto Pucheu
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paramos de conversar. somos tagarelas. a linguagem pede que se-<br />
jamos tagarelas. pegando a passagem do poema que cito do leonar-<br />
do (“de tanto andar fazendo esforço se torna/ um organismo em<br />
movimento reagindo a passadas”), você diz: “ora, essa quebra não<br />
se situa no limite do fôlego do animal, ‘representando-a’ (a palavra<br />
não é a melhor)? quando ‘acaba o fôlego da linha versejadora’, como<br />
você diz, não é porque acaba o fôlego do animal?” não me parece<br />
assim; parece-me justamente o contrário. seria algo da tensão entre<br />
a linha do verso que acaba, entre o fôlego do verso que acaba e o<br />
fôlego do animal do sentido, que segue a plenos pulmões (ele subirá<br />
arrastado como por um ímã e ainda, ao não-fim do poema,<br />
terá de aprender a descer). seria de fato uma isomorfia se o fôlego<br />
da linha versejadora acabasse e, com ele, o fôlego do animal também<br />
acabasse. neste caso, animal, o poema, morreria. na tensão, há<br />
então a possibilidade de uma heteromorfia e não uma isomorfia.<br />
ao invés de o sentido fazer um aí com a linha formal, com a sonoridade<br />
do verso, ele é rachado, fendido. nessa rachadura, nós entramos<br />
com as mais diversas leituras. eu, por exemplo, com a do poema<br />
do puro tornar-se, do puro devir. o eduardo, por exemplo, lê<br />
“introdução à arte das montanhas” como o poema da ascese e<br />
da descida. depois da ascensão à montanha mística do sublime da<br />
revelação, a descida, a própria escrita do poema, a retomada<br />
da linguagem, a cotidianidade, a mundanidade. para ele, o poema<br />
tem um fim e não poderia ter sido escrito se o animal não tivesse<br />
aprendido a descer. o tornar-se do eduardo chega a um ponto. o<br />
meu, que não vejo fim no poema, não chega a ponto algum. é, de<br />
fato, uma bela leitura, a do eduardo. mas não é única. é uma leitura,<br />
a minha, mas não é única. e o que possibilita as duas leituras (e,