17.04.2013 Views

pdf - Alberto Pucheu

pdf - Alberto Pucheu

pdf - Alberto Pucheu

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

70<br />

paramos de conversar. somos tagarelas. a linguagem pede que se-<br />

jamos tagarelas. pegando a passagem do poema que cito do leonar-<br />

do (“de tanto andar fazendo esforço se torna/ um organismo em<br />

movimento reagindo a passadas”), você diz: “ora, essa quebra não<br />

se situa no limite do fôlego do animal, ‘representando-a’ (a palavra<br />

não é a melhor)? quando ‘acaba o fôlego da linha versejadora’, como<br />

você diz, não é porque acaba o fôlego do animal?” não me parece<br />

assim; parece-me justamente o contrário. seria algo da tensão entre<br />

a linha do verso que acaba, entre o fôlego do verso que acaba e o<br />

fôlego do animal do sentido, que segue a plenos pulmões (ele subirá<br />

arrastado como por um ímã e ainda, ao não-fim do poema,<br />

terá de aprender a descer). seria de fato uma isomorfia se o fôlego<br />

da linha versejadora acabasse e, com ele, o fôlego do animal também<br />

acabasse. neste caso, animal, o poema, morreria. na tensão, há<br />

então a possibilidade de uma heteromorfia e não uma isomorfia.<br />

ao invés de o sentido fazer um aí com a linha formal, com a sonoridade<br />

do verso, ele é rachado, fendido. nessa rachadura, nós entramos<br />

com as mais diversas leituras. eu, por exemplo, com a do poema<br />

do puro tornar-se, do puro devir. o eduardo, por exemplo, lê<br />

“introdução à arte das montanhas” como o poema da ascese e<br />

da descida. depois da ascensão à montanha mística do sublime da<br />

revelação, a descida, a própria escrita do poema, a retomada<br />

da linguagem, a cotidianidade, a mundanidade. para ele, o poema<br />

tem um fim e não poderia ter sido escrito se o animal não tivesse<br />

aprendido a descer. o tornar-se do eduardo chega a um ponto. o<br />

meu, que não vejo fim no poema, não chega a ponto algum. é, de<br />

fato, uma bela leitura, a do eduardo. mas não é única. é uma leitura,<br />

a minha, mas não é única. e o que possibilita as duas leituras (e,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!