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pdf - Alberto Pucheu

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26<br />

viva. Com a morte sensível se manifestando na podridão, no mau<br />

cheiro, na carne estragada, no putrefazer, nos cortes, na virulência<br />

inorgânica, em todo fenecimento, bem como, de modo muitas<br />

vezes menos evidente, em tudo mais que revela seus movimentos<br />

mutatórios (“energia generosa, distributiva, reciclante”), trata-se<br />

de uma estética da dissolução, do desmanche, da desagregação, da<br />

porosidade, das excrescências...<br />

Inserindo-se no campo das formas, a arte realiza um plano sensório<br />

da morte. A morte já não é amorfa, mas se insere no corpo de<br />

um sujeito vivo. Ao mesmo tempo em que percurso de aceitação<br />

obrigatória da morte, a arte combate-a, suspende-a, dando-lhe o<br />

tão ansiado segundo de vidência. em roberto Corrêa dos santos,<br />

tanto a literatura quanto a crítica e a teoria, instaurando momentos<br />

estéticos de dissoluções dos limites do corpo, assumem a<br />

tarefa paradoxal de ter “a morte por obra”. da mesma maneira que<br />

combater ou suspender a morte – trabalho da literatura – não é<br />

recalcá-la, mas, antes, obrá-la, gerar seus signos em uma aparência<br />

tensiva, fabricar objetos estéticos, por demais sutis, com os quais<br />

ela se deixa significar, a tarefa crítica não é, tampouco, iluminar<br />

o mais nitidamente possível a escuridão na qual a obra literária<br />

emerge esteticamente. se fosse isso, o teórico estaria em um segundo<br />

plano (mais afastado da experiência da morte) em relação<br />

ao escritor literário (mais próximo a ela), mas, tanto este quanto<br />

aquele traçam igualmente sua obra enquanto uma zona de difusão<br />

que indetermina os limites e determina os ilimitados entre o texto<br />

e a morte, entre o corpo e sua dissolução.<br />

na difusão em que literatura, teoria e crítica se indiscernibilizam,<br />

a estética da morte se materializa como uma aprendizagem

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