pdf - Alberto Pucheu
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viva. Com a morte sensível se manifestando na podridão, no mau<br />
cheiro, na carne estragada, no putrefazer, nos cortes, na virulência<br />
inorgânica, em todo fenecimento, bem como, de modo muitas<br />
vezes menos evidente, em tudo mais que revela seus movimentos<br />
mutatórios (“energia generosa, distributiva, reciclante”), trata-se<br />
de uma estética da dissolução, do desmanche, da desagregação, da<br />
porosidade, das excrescências...<br />
Inserindo-se no campo das formas, a arte realiza um plano sensório<br />
da morte. A morte já não é amorfa, mas se insere no corpo de<br />
um sujeito vivo. Ao mesmo tempo em que percurso de aceitação<br />
obrigatória da morte, a arte combate-a, suspende-a, dando-lhe o<br />
tão ansiado segundo de vidência. em roberto Corrêa dos santos,<br />
tanto a literatura quanto a crítica e a teoria, instaurando momentos<br />
estéticos de dissoluções dos limites do corpo, assumem a<br />
tarefa paradoxal de ter “a morte por obra”. da mesma maneira que<br />
combater ou suspender a morte – trabalho da literatura – não é<br />
recalcá-la, mas, antes, obrá-la, gerar seus signos em uma aparência<br />
tensiva, fabricar objetos estéticos, por demais sutis, com os quais<br />
ela se deixa significar, a tarefa crítica não é, tampouco, iluminar<br />
o mais nitidamente possível a escuridão na qual a obra literária<br />
emerge esteticamente. se fosse isso, o teórico estaria em um segundo<br />
plano (mais afastado da experiência da morte) em relação<br />
ao escritor literário (mais próximo a ela), mas, tanto este quanto<br />
aquele traçam igualmente sua obra enquanto uma zona de difusão<br />
que indetermina os limites e determina os ilimitados entre o texto<br />
e a morte, entre o corpo e sua dissolução.<br />
na difusão em que literatura, teoria e crítica se indiscernibilizam,<br />
a estética da morte se materializa como uma aprendizagem