m - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
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Jinkings foi lí<strong>de</strong>r do PCB e<br />
usou sua livraria para as<br />
clan<strong>de</strong>stinas reuniões do<br />
partido. Lutou por sua<br />
legalização. Foi cassado,<br />
per<strong>de</strong>u seus direitos<br />
políticos e <strong>de</strong> cidadão. Teve<br />
sua casa apedrejada.<br />
Amargou noites na ca<strong>de</strong>ia e<br />
certa vez foi seqüestrado,<br />
indo parar num forte em<br />
Macapá - " Vi a morte <strong>de</strong><br />
perto, pensei que não sairia<br />
vivo dali "- dizia ele.<br />
Amarílis Tupiassú conta sobre<br />
essa época <strong>de</strong> sobressaltos. "Foram<br />
duros aqueles tempos <strong>de</strong> ameaças no<br />
ar, sumiços, assassinatos e inseguran-<br />
ças. Bastava o anúncio <strong>de</strong> vinda a<br />
Belém <strong>de</strong> alguns daqueles gencrais-<br />
presi<strong>de</strong>ntes e lá se ia ele. E lá ficava a<br />
Isa e as crianças em vigília, os ami-<br />
gos, parentes, em aflição, tentando<br />
<strong>de</strong>scobrir para on<strong>de</strong> tinham sumido<br />
com o Jinkings".<br />
Mas Raimundo Jinkings resistiu<br />
à ditadura lutando pela anistia, pela li-<br />
berda<strong>de</strong>, contra os <strong>de</strong>cretos-lei <strong>de</strong> ar-<br />
rocho salarial, pelas eleições diretas,<br />
pelo socialismo e criando sua fortale-<br />
za <strong>de</strong> livros.<br />
Erguer a livraria foi outra bata-<br />
lha dura, lembra Amarílis. "Primeiro<br />
foi a casa, o lar sendo sacrificado na<br />
acomodação dos livros, centenas <strong>de</strong><br />
livros. Sala e varanda tomadas por<br />
pacotes, catálogos, faturas... Era<br />
transtornante ver Isa (mulher <strong>de</strong><br />
Jinkings) querendo impor or<strong>de</strong>m<br />
àquilo".<br />
Com as freqüentes invasões na<br />
casa da rua Tamoios, os prejuízos fi-<br />
nanceiros eram gran<strong>de</strong>s. Mas<br />
Jinkings não se <strong>de</strong>ixava abater e mes-<br />
mo em fase tão difícil não era me-<br />
nos solidário: dava-se ao luxo <strong>de</strong><br />
ven<strong>de</strong>r fiado. Não apenas aos ami-<br />
gos, mas também aos fiéis<br />
freqüentadores da casa-livraria. "Ha-<br />
via um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> anotações dos<br />
<strong>de</strong>vedores, alguns levavam meses<br />
para saldar as dividas sem que em<br />
nenhum momento lhe viesse o fiador<br />
cora cobranças", conta Amarílis.<br />
Nesses duros tempos foi pre-<br />
ciso muito jogo <strong>de</strong> cintura, muita<br />
força e <strong>de</strong>terminação para não esmo-<br />
recer. Jinkings tinha tudo isso e jun-<br />
to com a família montou uma<br />
barraquinha <strong>de</strong> vendas na praça Ba-<br />
tista Campos para continuar viven-<br />
do sem abrir mão das suas convic-<br />
ções. " Poucos como ele souberam<br />
lutar por seus projetos políticos e en-<br />
frentaram <strong>de</strong> peito aberto tantos<br />
constrangimentos", diz Amarílis.<br />
"Jinkings era um sonhador que<br />
empenhou todas suas energias em<br />
consolidar seus sonhos. Belém <strong>de</strong>ve<br />
muito a sua tenacida<strong>de</strong> e as esquer-<br />
das a sua <strong>de</strong>terminação na luta con-<br />
tra as injustiças sociais, diz o amigo<br />
escritor Jocelyn Brasil. Lembrando<br />
a frase <strong>de</strong> Victor Pires Franco, Bra-<br />
sil ressalta: Jinkings foi o baluarte das<br />
esquerdas do Pará.