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O autor da peça “Línea de Vacío” explica-nos que a inversão do dispositivo <strong>te</strong>m por objectivo reduzir a<br />

visibilidade por par<strong>te</strong> do público, deixando des<strong>te</strong> modo o auditor livre à sua imaginação no sentido de como é<br />

produzida a ma<strong>te</strong>rialização de certos sons e timbres. Baseada num esquema de pedais, por vezes oscilan<strong>te</strong>s,<br />

que domina ao longo de praticamen<strong>te</strong> toda a obra, esta parece reme<strong>te</strong>r para as corren<strong>te</strong>s dominan<strong>te</strong>s na<br />

música que vai dos finais dos anos 70 aos anos 80. Tendo em meu en<strong>te</strong>nder uma in<strong>te</strong>rpretação impecável e<br />

sendo <strong>te</strong>cnicamen<strong>te</strong> correcta, “Línea de Vacío” não parece encontrar uma voz original. E se bem que os seus<br />

ma<strong>te</strong>riais constitutivos podem ser in<strong>te</strong>ressan<strong>te</strong>s, a peça não os consegue desenvolver de um modo original.<br />

Diferen<strong>te</strong> é o caso dos “Pensamentos Perdidos”, de Ana Seara, que parece não <strong>te</strong>r como único preceden<strong>te</strong> a<br />

bagagem “clássica” da <strong>for</strong>mação composicional <strong>te</strong>órica – que tanto marca a maioria dos compositores a partir<br />

da segunda metade do século XX –, e parece in<strong>te</strong>ressar-se também em muito pelos sons e a sua articulação<br />

como elemento constitutivo do seu trabalho. Isto de in<strong>te</strong>ressar-se pelo som, que parece uma evidência<br />

tratando-se de música, em realidade não é tal: lembremos as investigações feitas já nos anos cinquenta do<br />

século passado por Robert Francès, nas quais es<strong>te</strong> demonstra que a identificação de estruturas seriais pela<br />

simples audição de uma obra é altamen<strong>te</strong> improvável, mesmo para músicos com muita experiência. A<br />

composição hoje, bem sabemos, passa sobre tudo pela relação que o compositor estabelece com o<br />

computador – até quando es<strong>te</strong> é usado só no âmbito do “<strong>te</strong>mpo real”. A belíssima peça de Ana Seara faz-nos<br />

lembrar que, apesar de tudo, a música pode seguir sendo por vezes uma simples affaire de sons. E isso, por si<br />

só, hoje já é algo magnífico. Es<strong>te</strong> crítico fica a espera de saber qual o apor<strong>te</strong> que poderá trazer a electrónica a<br />

es<strong>te</strong>s “Pensamentos Perdidos”, já prometido para uma próxima apresentação da obra.<br />

A partir da excelen<strong>te</strong> ideia de fazer uma obra em contra-ponto com o “Kontra-Punk<strong>te</strong>” de Karlheinz<br />

Stockhausen, “P(S) alpha”, a obra de Luc Doeberener, começa, justamen<strong>te</strong>, com o uso da “oficina electrónica”<br />

e com o piano num carác<strong>te</strong>r rapsódico, mas não deixa identificar qual será o caminho que o compositor irá<br />

seguir. É com a aparição do quar<strong>te</strong>to – violino, violoncelo, flauta e clarine<strong>te</strong> – que começa a aparecer-nos à<br />

fren<strong>te</strong> o jogo duplamen<strong>te</strong> contrapontístico apontado pelo autor: es<strong>te</strong> desenvolve por um lado um contraponto<br />

em relação às “velhas” estruturas stockhausenianas – no caso de se <strong>te</strong>r presen<strong>te</strong> a obra no momento de ouvir<br />

“P(S) alpha” – e, ao mesmo <strong>te</strong>mpo, começa a deixar entrever um segundo contra-ponto à ideia de unidade /<br />

duplicidade em que está baseada a peça, assim como a <strong>for</strong>ma precisa e concisa com que esta unidade dupla<br />

se exprime nes<strong>te</strong> in<strong>te</strong>ressantíssimo quin<strong>te</strong>to “+” (quin<strong>te</strong>to e dispositivo electrónico).<br />

Gonçalo Gato, ao apresentar “Configurazioni”, fez-nos par<strong>te</strong> de ser a sua obra uma <strong>te</strong>ntativa de in<strong>te</strong>rpretar a<br />

música no seu aspecto morfológico. Ou seja, num carác<strong>te</strong>r baseado mais no “escultural” do que nas <strong>for</strong>mas<br />

musicais propriamen<strong>te</strong> ditas, falando-nos também de “espaço” e “trans<strong>for</strong>mação”. Coisas que, per se, podem<br />

se considerar ineren<strong>te</strong>s de todos modos ao fenómeno musical, sonoro, ficando assim pouco clara a ligação da<br />

ideia composicional com a escultura ou a “instalação” plástica. Para es<strong>te</strong> ouvin<strong>te</strong>, a peça funda-se e funde-se<br />

numa série de ideias confusas, não encontrando o “espaço” que parece buscar. A “ajuda” da electrónica, nes<strong>te</strong><br />

caso, também fica reduzida, e só parece funcionar como um sis<strong>te</strong>ma de caixa de ressonância nesta obra que<br />

se me afigura deveria ser revista e reconsiderada.<br />

Num registo mais deslumbran<strong>te</strong> e groovy que as peças an<strong>te</strong>riores, o flipbook que evoca o título da peça de Igor<br />

Silva, imagina-se como o desenho de um fogo de artifício que vai se <strong>for</strong>mando folha a folha, desenho a<br />

desenho, para depois e adequadamen<strong>te</strong> ir buscar fogos mais “naturais”. Talvez na par<strong>te</strong> central da obra se<br />

sinta a falta de dinâmicas mais matizadas e de algum ma<strong>te</strong>rial menos estático, de “chispa” dá vontade de dizer,

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