Comments for "Sond'Ar-te Electric Ensemble"
Comments for "Sond'Ar-te Electric Ensemble"
Comments for "Sond'Ar-te Electric Ensemble"
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Comércio entre os dois países.<br />
An<strong>te</strong>s de eu continuar deixem-me ainda fazer uma declaração curta e muito pessoal em relação às<br />
condições me<strong>te</strong>orológicas em Portugal. Mesmo que eu seja da Polónia, onde os Invernos costumam ser<br />
extremos e violentos, nunca experimen<strong>te</strong>i tanto frio dentro dos prédios como cá em Portugal (o que<br />
acon<strong>te</strong>ceu à ideia dos aquecimentos centrais?). O concerto <strong>te</strong>ve lugar no Centro Cultural de Cascais que se<br />
encontra instalado na "Casa Cor-de-Rosa", antigo Convento de Nossa Senhora da Piedade. Apesar das<br />
paredes espessas do prédio o frio implacável entrou na sala do concerto...<br />
O evento começou com uma introdução breve mas substancial feita por Miguel Azguime, o omnipresen<strong>te</strong> cofundador<br />
da Miso Music Portugal e do Sond’Ar-<strong>te</strong> <strong>Electric</strong> Ensemble. “A música con<strong>te</strong>mporânea em Portugal<br />
foi sempre menosprezada pelos governos e o cor<strong>te</strong> anunciado para o orçamento da cultura do próximo ano<br />
reflec<strong>te</strong> es<strong>te</strong> facto com muita clareza”, disse o compositor português.<br />
Felizmen<strong>te</strong>, es<strong>te</strong> <strong>te</strong>xto não é de orientação política, então por enquanto abs<strong>te</strong>r-me-ei de fazer referências ao<br />
delicado assunto. Vou passar directamen<strong>te</strong> para a música…<br />
A primeira par<strong>te</strong> do concerto foi marcada pelos 100 anos da criatividade musical em Portugal e começou<br />
com o Trio para violino, violoncelo e piano de Luís de Freitas Branco. O Trio, composto em 1910, é uma<br />
obra juvenil e consta dum movimento amplo, uma espécie de fantasia, que foi in<strong>te</strong>ncionalmen<strong>te</strong> escrita como<br />
programática e descritiva. Visto que a obra provém do primeiro período da evolução artística do compositor<br />
é possível distinguir nela três inspirações claramen<strong>te</strong> audíveis: o “Impressionismo” de Claude Debussy, o<br />
estilo romântico de César Franck e a música tradicional. O Trio, embora pareça “desigual qualitativamen<strong>te</strong><br />
ou irregular no plano estilístico” é “atraen<strong>te</strong> na fogosidade de alguns trechos e na envolvência lírica de<br />
outros.” Não obstan<strong>te</strong>, nesta peça particular, as capacidades per<strong>for</strong>mativas dos membros do Sond’Ar-<strong>te</strong><br />
<strong>Electric</strong> Ensemble davam a impressão de serem desanimadas pelas condições me<strong>te</strong>orológicas do Outono –<br />
os músicos, apesar de <strong>te</strong>rem todas as competências técnicas, não conseguiram encontrar um balanço<br />
adequado entre o lírico, o impetuoso e o romântico.<br />
O Trio de Luís de Freitas Branco foi seguido pelo “Cadavre Exsquis” português, uma obra colectiva<br />
composta para o 25º aniversário da Miso Music Portugal. Cadáver esquisito é um jogo colectivo surrealista<br />
de criar histórias em que cada participan<strong>te</strong> adiciona a sua par<strong>te</strong> à história em sequência, baseando-se na<br />
última frase. Segundo Nicolas Calas os fragmentos poéticos eram supostos manifestar “a realidade<br />
inconscien<strong>te</strong> na personalidade dum grupo”. O “Cadavre Exquis” da Miso Music é uma colecção original de<br />
100 novas miniaturas musicais, cada delas de acerca 1 minuto de duração. As miniaturas <strong>for</strong>am escritas por<br />
compositores portugueses e estrangeiros de várias gerações, com os quais a Miso Music Portugal <strong>te</strong>ve o<br />
privilégio de colaborar ao longo dos seus 25 anos de actividade. Nes<strong>te</strong> concerto <strong>for</strong>am colocadas em<br />
perspectiva 16 miniaturas, escolhidas e in<strong>te</strong>rpretadas numa ordenação aleatória pelo Sond’Ar-<strong>te</strong> <strong>Electric</strong><br />
Ensemble dirigido por Pedro Neves. A própria ideia, apesar da sua originalidade, na minha opinião podia <strong>te</strong>r<br />
um êxito algo mais esquisito. Algumas miniaturas, como “Just a Minu<strong>te</strong>” de Paula Azguime ou “One Minu<strong>te</strong> to<br />
Go” de António Pinho Vargas eram um piscar de olhos irónico para o público, enquanto que as outras<br />
pareciam movimentos incompletos, introduções ou esboços composicionais. Não há dúvidas que o projecto<br />
<strong>te</strong>m o po<strong>te</strong>ncial de justapôr linguagens musicais, ideias e abordagens estilísticas diferen<strong>te</strong>. Porém, não seria<br />
mais excitan<strong>te</strong> conseguir encontrar um fio invisível juntando todas as miniaturas como no Cadavre Exquis<br />
original?<br />
A primeira par<strong>te</strong> acabou, os meus pés aqueceram um bocado. Chegou o <strong>te</strong>mpo para fazer um in<strong>te</strong>rvalo<br />
curto, portanto, sintam-se à vontade para tomar um café ou chá com lei<strong>te</strong> (devido ao frio, obviamen<strong>te</strong>).<br />
A segunda par<strong>te</strong> do concerto dedicada à música japonesa começou com uma peça de Ai Kamachi. Na sua<br />
nota biográfica, a compositora fala sobre os seus diversos in<strong>te</strong>resses, que incluem música electroacústica,<br />
obras sinfónicas, bandas sonoras e música pop. Todas estas inspirações eclécticas encontram-se na peça<br />
da compositora sob o título curioso de “Fairy Circle” (“O Círculo das Fadas”). O círculo das fadas é um