3. O Penedo do Lexim: Uma leitura paleoambiental - Câmara ...

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Se porventura o nível médio do mar tivesse descido, os cursos de água tê-lo-iam acompanhado e teriam acelerado o processo erosivo das vertentes 10 . Se assim fosse, estaríamos hoje a abordar morfologias de vertente bastante diferentes destas, com uma inclinação seguramente mais pronunciada. Para além disso, outra realidade que provavelmente confirmaríamos seria a orientação da inclinação dos declives em direcção à costa (Coque, 1977). Mas como o nível médio do mar se manteve estável até agora, e essa manutenção terá sido assegurada, certamente, por uma estabilização climática, o perfil longitudinal da linha de curso de água ter-se-á processado de uma maneira gradual e lenta e não terá tido, até agora, razões para intensificar o seu nivelamento. Claro que hoje em dia não observamos quaisquer formas de erosão activas, pelo que podemos afirmar que essas tais cristas estão estáveis – ou não fossem os factores de estabilidade climática, que dão origem a uma cobertura vegetal quase contínua às vertentes, a ausência de movimentações tectónicas, e o actual e limitado impacte de acção antrópica, funcionar como mecanismos de estabilização daquelas realidades geomorfológicas Posto isto, e de acordo com o que pudemos inferir das observações de campo, arriscamo-nos na interpretação paisagística e paleoambiental de que a área envolvente do Penedo do Lexim não terá sofrido uma grande alteração, nem a sua expressão geomorfológica terá sido afectada por uma mudança manifestamente evidente. 4. A questão do domínio visual da paisagem Por diversas ocasiões pudemos ter o privilégio de usufruír das vistas panorâmicas que os topos dos penedos por onde passamos tinham para oferecer. Foi daí que apreciámos a paisagem geral e comprovámos aquele termo frequentemente utilizado em manuais de arqueologia referentes aos períodos Neolítico Final e Calcolítico – o conceito de estratégia de visibilidade. Nunca quisemos, verdade seja dita, abordar esse tema de uma forma sistemática, até porque estávamos mais empenhados na descrição da paisagem do que propriamente na interpretação de uma eventual 10 Temos que atender para o facto de que a Gravidade é a principal força de energia desse mecanismo pertencente ao Sistema Morfogenético Fluvial. 375
escolha voluntária de estabelecimento em elevações naturais, por parte dos povos que possam ter habitado os locais cimeiros de uma região tendencialmente aplanada. Sendo assim, não entraremos em discussões de razão interpretativa. 4.1. O conceito de visibilidade “O conceito ‘estratégia de visibilidade’ (Criado Boado, 1998) não se aplica uniformemente à globalidade do registo arqueológico, já que depreende a existência de uma escolha deliberada e/ou presença de atitudes reconhecíveis” (Gonçalves et al, 1996, p. 25). O que, no entanto, podemos afirmar é que os sítios mais altos desta região dispõem de um domínio visual panorâmico, e, em dias de melhor visibilidade, de qualquer um dos penedos que já referimos (Funchal, Cartaxos, Alcaínça, Jarmeleira, Lexim...) se pode observar os outros, e até mesmo a Serra de Sintra. Fig. 5 – Vista panorâmica para SW, a partir do Penedo da Alcaínça. Foto de Diego Angelucci. Destes sítios cimeiros são também constatáveis os escalonamentos de percepção visual referidos em diversas obras que se debruçam sobre o tema: até 500 metros – curta distância; de 500 a 1000 metros – média distância; + de 1000 metros – longa distância. “Este escalonamento é aplicado às áreas vistas, mas poderão ter existido elementos que as alterassem no que se refere ao reconhecimento de um ponto concreto: a colocação de sinais [...]” (Gonçalves et al, 1996, p. 26). 376
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