18.04.2013 Views

Gestão de Pessoas/ Recursos Humanos - IEFP

Gestão de Pessoas/ Recursos Humanos - IEFP

Gestão de Pessoas/ Recursos Humanos - IEFP

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1. As origens<br />

Penso que po<strong>de</strong>mos começar a falar da <strong>Gestão</strong> <strong>de</strong> <strong>Recursos</strong> <strong>Humanos</strong><br />

enquanto disciplina organizada com a Revolução Industrial,<br />

mas sobretudo com o taylorismo a que viemos a chamar a<br />

OCT – Organização Científi ca do Trabalho. Po<strong>de</strong>mos por isso dizer<br />

que, na sua essência, a <strong>Gestão</strong> dos <strong>Recursos</strong> <strong>Humanos</strong> é fi lha já<br />

do século XX.<br />

Desta teoria, cujo objectivo era a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um enorme<br />

salto <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>, marcam-nos sobretudo três aspectos<br />

importantes:<br />

• Porque não havia qualifi cação para a indústria, nem tempo para<br />

a formação das pessoas que vinham da agricultura, o trabalho<br />

teve que ser organizado em pequenas parcelas, a chamada gran<strong>de</strong><br />

divisão do trabalho. Isto resultava, na prática, <strong>de</strong> que cada posto<br />

<strong>de</strong> trabalho realizava um reduzido número <strong>de</strong> pequenas tarefas<br />

na ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção. Resolvia-se assim a falta da formação,<br />

já que pouco tinha que se ensinar às pessoas.<br />

• Um segundo aspecto tinha a ver com a separação clara entre<br />

pensamento e execução. Nas pare<strong>de</strong>s das fábricas era muito habitual<br />

existirem cartazes on<strong>de</strong> se lia: «Não és pago para pensar,<br />

há outros que são pagos para isso.» Isto signifi cava que a execução<br />

do trabalho não era inteligente, era meramente mecânica.<br />

As pessoas eram partes <strong>de</strong> um sistema mecânico e, como tal,<br />

peças que se podiam substituir com facilida<strong>de</strong>.<br />

• O terceiro aspecto é a separação entre chefes e subordinados,<br />

uns do lado dos pensantes e outros do lado dos executantes, controlo<br />

e execução. Vêm daqui algumas anedotas que ainda hoje se<br />

contam como, por exemplo, «o chefe não está a ler o jornal, está<br />

a estudar o jornal» ou «o chefe não está a dormir a sesta, está a<br />

refl ectir».<br />

É importante marcar este período não porque Portugal tenha sido<br />

um bom ou mau exemplo do taylorismo; ele quase não existiu<br />

porque também a nossa indústria era fraca. Parece que o primeiro<br />

registo do taylorismo em Portugal aconteceu através <strong>de</strong> um<br />

médico que estudava este método <strong>de</strong> organização do trabalho<br />

para integrar <strong>de</strong>fi cientes no mundo do trabalho.<br />

Mas se por um lado as nossas experiências práticas do taylorismo<br />

não foram férteis no terreno, a verda<strong>de</strong> é que a gestão das<br />

nossas organizações e empresas herdou um pensamento do<br />

mesmo tipo aplicado à gestão das pessoas.<br />

A <strong>Gestão</strong> dos <strong>Recursos</strong> <strong>Humanos</strong> encontra-se ainda hoje muito<br />

marcada por estes traços, que no momento presente <strong>de</strong>vem ser<br />

consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>feitos graves. E graves porque já não temos o<br />

problema <strong>de</strong> que as pessoas vêm da agricultura sem formação,<br />

as pessoas vêm das escolas, e também porque a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong> hoje é contrária à <strong>de</strong> antigamente. Actualmente todas as<br />

pessoas têm que pensar no seu trabalho, seja o contínuo ou o<br />

presi<strong>de</strong>nte do conselho <strong>de</strong> administração. Nesse sentido, fi ca-<br />

revista dirigir 21<br />

história e cultura<br />

ram completamente <strong>de</strong>sfocadas até hoje as funções das chefi as<br />

e a precisarem <strong>de</strong> uma reconversão profunda no sentido do <strong>de</strong>senvolvimento<br />

da li<strong>de</strong>rança.<br />

Se quisermos ter alguma honestida<strong>de</strong> intelectual, po<strong>de</strong>mos seguramente<br />

dizer que o principal problema da <strong>Gestão</strong> dos <strong>Recursos</strong><br />

<strong>Humanos</strong> em Portugal ainda hoje é a mudança do conceito e<br />

prática da chefi a para a li<strong>de</strong>rança efectiva. E a questão é simples<br />

<strong>de</strong> equacionar: trata-se <strong>de</strong> uma mudança on<strong>de</strong>, pelo menos, o<br />

chefe não se impõe mas é aceite e reconhecido, trata-se <strong>de</strong> uma<br />

mudança on<strong>de</strong> o chefe já não é mais o único inteligente mas reconhece<br />

a inteligência dos outros e sabe aproveitá-la no sentido<br />

dos resultados, uma mudança on<strong>de</strong> o chefe é parte da equipa e<br />

primeiro responsável pelos erros <strong>de</strong>ssa equipa.<br />

2. Principais fases <strong>de</strong> evolução<br />

Há quem argumente que a <strong>Gestão</strong> <strong>de</strong> <strong>Recursos</strong> <strong>Humanos</strong> evoluiu<br />

em função das correntes profi ssionais que a <strong>de</strong>tiveram nas organizações.<br />

Primeiro os militares para porem o pessoal na or<strong>de</strong>m,<br />

<strong>de</strong>pois os engenheiros pela força com que geriam as fábricas e<br />

a produção, mais tar<strong>de</strong> os advogados quando se começou a negociar<br />

contratação colectiva com os sindicatos, <strong>de</strong>pois os economistas,<br />

gestores e posteriormente as ciências sociais. Formações<br />

em gestão e <strong>Gestão</strong> dos <strong>Recursos</strong> <strong>Humanos</strong> só aparecem<br />

nos anos 80.<br />

Embora eu pense que esta versão dos acontecimentos tem algum<br />

peso, ela tem também algumas <strong>de</strong>fi ciências, porque <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

essa época até aos nossos dias convivem nesta função todo o<br />

tipo <strong>de</strong> formações e a maior parte das vezes a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa<br />

gestão não está directamente ligada com a formação académica<br />

dos seus titulares. Há, no entanto, uma marca terrível que<br />

começa já nos anos 50/60 e que tem a ver com a incapacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> visão e <strong>de</strong> gestão dos responsáveis pelas empresas, não esquecendo<br />

que a maioria não tinha qualquer formação em gestão.<br />

Tradicionalmente acontecia que uma boa parte dos chamados<br />

chefes ou directores <strong>de</strong> pessoal eram profi ssionais, sobretudo<br />

engenheiros que tinham fracassado na sua profi ssão. Se não<br />

faz bem o seu papel como engenheiro, então vai para director <strong>de</strong><br />

pessoal. Este foi um erro que nos saiu muito caro!

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!