18.04.2013 Views

Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77

Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77

Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

esponsabilida<strong>de</strong> dos “provedores <strong>de</strong> S. Majesta<strong>de</strong>”. 16 Nas freguesias, os doentes ditavam a<br />

alguma pessoa as suas últimas vonta<strong>de</strong>s, seguindo um mo<strong>de</strong>lo existente para os testamentos e<br />

chamavam o escrivão da vintena para fazer a aprovação, tanto <strong>no</strong>s testamentos da alçada<br />

eclesiástica como da secular. Todas as aprovações seguiam um mo<strong>de</strong>lo como esse feito pelo<br />

escrivão da vintena <strong>de</strong> Itabira:<br />

Saibam quantos este público instrumento <strong>de</strong> aprovação <strong>de</strong> testamento última e <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira vonta<strong>de</strong><br />

ou como em direito mais válido for virem que <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> nascimento <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo<br />

<strong>de</strong> mil setecentos e sessenta e dois a<strong>no</strong>s aos treze dias do mês <strong>de</strong> julho do dito a<strong>no</strong> em esta<br />

freguesia da Nossa Senhora da Boa Viagem <strong>de</strong> Itabira distrito <strong>de</strong> Vila Rica <strong>de</strong> Nossa Senhora do<br />

Pilar <strong>de</strong> Ouro Preto em casas <strong>de</strong> morada da testadora <strong>de</strong>itada em cama em forma da enfermida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> que lhe sobreveio mas estando em todo o seu perfeito juízo e entendimento que Deus Nosso<br />

Senhor foi servido dar-lhe segundo o parecer <strong>de</strong> mim escrivão, testemunhas adiante assinadas na<br />

presença das quais logo por ela testadora das suas mãos às minhas me foram dadas três folhas <strong>de</strong><br />

papel como seu solene testamento escrito nelas e a todas as perguntas que eu escrivão lhe fiz me<br />

respon<strong>de</strong>u que sim a saber que este era o seu solene testamento o qual mandara escrever por<br />

Domingos Lopes da Costa ditando-lhe ela dita testadora por sua própria boca e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> escrito<br />

sendo lido por estar tudo a seu gosto <strong>de</strong> forma que o tinha or<strong>de</strong>nado o assinara o dito Domingos<br />

Lopes da Costa o que por este recebo ela por revogado outro qualquer testamento que antes <strong>de</strong>ste<br />

havia feito esse o presente que a ela como um solene testamento o qual em direito melhor se acha<br />

chamar por quanto tudo nele disposto é sua última vonta<strong>de</strong> por isso roga as justiças <strong>de</strong> Sua<br />

Majesta<strong>de</strong> lhe cumpram e guar<strong>de</strong>m e façam inteiramente cumprir e guardar na forma da maneira<br />

que nele se contém e <strong>de</strong>clara a mim escrivão me pediu lhe aprovasse para inteira valida<strong>de</strong> por<br />

quanto ela testadora o tinha aprovado e <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo ratificava sua aprovação e seu testamento eu<br />

escrivão lhe aceitei e se acha escrito em três meias folhas <strong>de</strong> papel que ocupam quatro laudas e<br />

vinte e oito reiras da outra on<strong>de</strong> <strong>de</strong>i princípio a esta aprovação e o vi e examinei rubriquei a folhas<br />

com a minha rubrica que diz Pimenta e por estar sem vício em trezenhas borraduras nem cousa<br />

dúvida possa lhe aprovei e <strong>de</strong>i por aprovado tanto quanto em direito, <strong>de</strong>ver e posse inteiro<br />

instrumento <strong>de</strong> aprovação estando presentes [...] por mim escrivão Antônio José Pimenta em<br />

público e raso [...]<br />

Como as pequenas localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pendiam da vila e sua Câmara para organizá-las e<br />

controlá-las, a maior parte dos casos conflituosos <strong>de</strong>viam ser resolvidos neste âmbito, <strong>de</strong>vido à<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação da justiça nas áreas remotas e aos altos custos. No dia 8 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1751, o ouvidor da comarca <strong>de</strong> Sabará, João <strong>de</strong> Souza <strong>de</strong> Mendonça Lobo escreveu ao Conselho<br />

Ultramari<strong>no</strong> <strong>no</strong>tificando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>mearem oficiais <strong>de</strong> vintena.<br />

Nesta comarca há arraiais distantes <strong>de</strong>sta vila quatro, seis, oito, <strong>de</strong>z, doze e mais léguas e o mesmo<br />

acontece <strong>no</strong> termo da Vila <strong>de</strong> Caeté. Os ditos arraiais, sendo populosos não têm vintenários <strong>de</strong> que<br />

muito necessitam, tanto para acudirem às rixas, portarem-se das feridas e mortes <strong>de</strong> sorte que<br />

pelos não haver, quase todos os corpos <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito se fazem por testadas por não caber <strong>no</strong> possível<br />

po<strong>de</strong>r vir <strong>no</strong>tícia a esta vila para lá se mandar tabelião a tempo <strong>de</strong> se achar o corpo por enterrar,<br />

como também são precisos vintenários para fazerem principalmente em causas módicas, citações e<br />

mais diligências, pois muitas pessoas por temerem as custas das mesmas diligências, e importarem<br />

estas em mais do seu principal, não <strong>de</strong>mandam os seus <strong>de</strong>vedores. São outrossim precisos os<br />

15 Regimento que os tabeliães das <strong>no</strong>tas e escrivães do judicial e do crime <strong>de</strong> todo o Rei<strong>no</strong> hão <strong>de</strong> ter, conforme a <strong>no</strong>va<br />

reformação das Or<strong>de</strong>nações do Rei<strong>no</strong>, mandando observar por Sua Magesta<strong>de</strong>. In: Systema, ou Collecção dos<br />

Regimentos Reaes. Lisboa: Na Officina Patriarcal <strong>de</strong> Francisco Luiz Ame<strong>no</strong>, 1789, livro 9, p.99.<br />

16 VIDE, Dom Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia (1707). Coimbra: s.n., 1720,<br />

Livro 4, tit.43, § 803.<br />

Revista Eletrônica <strong>de</strong> História do Brasil, v. 7 n. 2, jul.-<strong>de</strong>z., 2005<br />

10

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!