Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77
Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77
Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
quantia partindo, então, para a Bahia, nutrindo um profundo rancor por aqueles que seguiram o<br />
partido real em 1720 31 .<br />
Do acima exposto, <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>-se claramente uma situação que, longe <strong>de</strong> ser um<br />
particularismo da capitania <strong>de</strong> Minas do Ouro, foi recorrente tanto <strong>no</strong> Estado espanhol como <strong>no</strong><br />
português. Acerca do primeiro, “a chegada <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo vice-rei <strong>de</strong>veria re<strong>no</strong>var constantemente<br />
os pactos e acordos com os colo<strong>no</strong>s, cujos interesses usualmente não coincidiam nem com as<br />
pretensões metropolitanas, nem com as aspirações <strong>de</strong> lucro do vice-rei e seus agregados” 32 . O<br />
conflito <strong>de</strong> interesses sugerido pela negociação coadunasse com a re<strong>no</strong>vação dos pactos e<br />
acordos estabelecidos entre as autorida<strong>de</strong>s régias e os vassalos. Concernente à relação entre D.<br />
Lourenço <strong>de</strong> Almeida e Custódio Rebelo, o pacto entre ambos não se realizou <strong>de</strong>vido à diferença<br />
<strong>de</strong> interesses estabelecidos <strong>no</strong> traçar <strong>de</strong> suas estratégias <strong>de</strong> ação. Acredito po<strong>de</strong>r afirmar a<br />
infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Custódio Rebelo em medir o valor daquilo a ser ganho ou perdido. Ao emprestar<br />
certa quantia a D. Lourenço <strong>de</strong> Almeida, Custódio Rebelo, em um primeiro momento, estreitou<br />
seus laços <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> com o referido governador. Contudo, ao cobrar a dívida e negar os<br />
acordos a ele oferecidos pelo representante régio, o que Custódio conseguiu foi angariar a<br />
insatisfação não só <strong>de</strong> D. Lourenço, mas também <strong>de</strong> sua re<strong>de</strong> em Minas do Ouro, obrigando-o à<br />
perda <strong>de</strong> seus bens e saída da região mais cobiçada <strong>de</strong> todo o Imperium Lusitanum.<br />
Félix <strong>de</strong> Azevedo Carneiro e Cunha parece ter tido, apesar da contenda com D. Lourenço<br />
<strong>de</strong> Almeida, sorte diferente da <strong>de</strong> Custódio Rebelo Vieira. Casado com Madalena Maria <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong> Matos e pai <strong>de</strong> cinco filhos 33 , Félix <strong>de</strong> Azevedo ascen<strong>de</strong>u "por todos os postos inferiores,<br />
e pelo <strong>de</strong> capitão do regimento da Armada Real, fazendo muitas campanhas e armadas por mar e<br />
terra achando-se em muitas ocasiões <strong>de</strong> peleja com valor <strong>no</strong>tório". Veio para as conquistas da<br />
América juntamente com D. Antônio <strong>de</strong> Albuquerque Coelho <strong>de</strong> Carvalho, trabalhando <strong>no</strong> Real<br />
Serviço em São Paulo, Rio <strong>de</strong> Janeiro – por ocasião da invasão francesa, em 1711 –, na<br />
arrecadação do quinto e em vários levantes ocorridos em Minas Gerais 34 . Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>scer à<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião do Rio <strong>de</strong> Janeiro, D. Antônio <strong>de</strong> Albuquerque, a quem Félix <strong>de</strong> Azevedo<br />
se apresentou com <strong>escravos</strong> seus armados às suas custas 35 , conce<strong>de</strong>u ao indivíduo em questão<br />
31<br />
AHU, MG, cx. 12 doc. 33. REQUERIMENTO (cópia) feito pelo comerciante Custódio Rebelo Vieira solicitando justiça<br />
nas violências contra ele praticadas pelo governador D. Lourenço <strong>de</strong> Almeida, as quais relata. OBS.: Segue-se uma<br />
cópia <strong>de</strong> <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> Eugênio Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Superinten<strong>de</strong>nte das Casas <strong>de</strong> Fundição e Moeda das Minas, dos<br />
acontecimentos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1725. 18 jun. 1728.<br />
32<br />
SUÁRES, Margarita. Desafíos transatlânticos: merca<strong>de</strong>res, banqueros y el estado en el Peru virreinal, 1600-1700,<br />
Fondo <strong>de</strong> Cultura Econômica, Peru, 2001, pp. 256-257.<br />
33<br />
AHU, MG, cx. 1 doc. 36. REQUERIMENTO <strong>de</strong> Madalena Maria <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Matos, casado com Félix <strong>de</strong> Azevedo<br />
Carneiro e Cunha tenente do gover<strong>no</strong> das Minas, pedindo que por <strong>de</strong>creto se lhe dêem vinte mil réis cada mês, por<br />
conta dos soldos <strong>de</strong> seu marido. 02 jan. A713.<br />
34<br />
AHU, MG, cx. 1 doc. 40. REQUERIMENTO <strong>de</strong> Félix <strong>de</strong> Azevedo Carneiro e Cunha tenente <strong>de</strong> mestre-<strong>de</strong>-campo<br />
general do gover<strong>no</strong> das Minas Gerais, pedindo provimento <strong>no</strong> gover<strong>no</strong> da Capitania <strong>de</strong> Pernambuco. 11 jul. P714.<br />
35<br />
VASCONCELOS, Diogo <strong>de</strong>., op. cit., p. 296.<br />
Revista Eletrônica <strong>de</strong> História do Brasil, v. 7 n. 2, jul.-<strong>de</strong>z., 2005<br />
30