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Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77

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Os casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassas do termo <strong>de</strong> Vila Rica são divididos em 50% ferimentos, 33%<br />

mortes, 5% furtos e 12% subdivididos em fuga da ca<strong>de</strong>ia, incêndio, extravio <strong>de</strong> diamantes,<br />

feitiçaria e <strong>de</strong>vassas janeirinhas 32 .<br />

Percebemos, nesse universo <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncias por "ouvir dizer", que o corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito<br />

compreendia um elemento indispensável por atestar a existência da ocorrência. Era a base<br />

essencial <strong>de</strong> todo o procedimento criminal, tratando quase que exclusivamente <strong>de</strong> crimes <strong>de</strong><br />

agressão e <strong>de</strong> homicídio. Segundo Marcos Aguiar, as taxas <strong>de</strong> crimes sobre violência e vida na<br />

comarca <strong>de</strong> Vila Rica <strong>no</strong> século XVIII eram elevadas. Em Mariana variavam <strong>de</strong> 51% a 60% na<br />

primeira meta<strong>de</strong> do século contra 42% <strong>de</strong> Vila Rica, para se estabilizar em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> 40% em<br />

meados do século, convergindo com a periodização proposta acerca do processo <strong>de</strong><br />

implementação do Estado na capitania. Segundo ele, esses dados representam sintomas do<br />

crescimento <strong>de</strong>mográfico e da urbanização. Além disso, o elevado número <strong>de</strong> crimes <strong>de</strong> violência<br />

e <strong>de</strong> honra na primeira meta<strong>de</strong> do setecentos e a intensificação <strong>de</strong> ações criminais eram<br />

respostas do Estado a essa situação crítica 33 .<br />

Nos casos <strong>de</strong> violência, o juiz da vintena e seu escrivão faziam o papel do atual perito<br />

criminal, <strong>de</strong>frontando-se com situações extremamente <strong>de</strong>sagradáveis que impressionam pelo grau<br />

<strong>de</strong> violência e mutilação dos feridos. Em Ouro Branco, o escrivão Francisco Coelho Simões foi<br />

chamado à casa <strong>de</strong> Ma<strong>no</strong>el Pacheco que estava "já sem fala" chegando a falecer por causa <strong>de</strong><br />

uma porretada "que lhe <strong>de</strong>ram na cabeça por reta da sobrancelha direita [com] uma ferida contusa<br />

feita com um pau que principiava da raiz do cabelo e chegava até o alto da cabeça que tinha<br />

carne do couro cortado com perda <strong>de</strong> substância" 34 . Na paragem chamada Água ver<strong>de</strong>,<br />

pertencente à freguesia <strong>de</strong> Congonhas do Campo, o escrivão Alexandre Moura, juntamente com o<br />

juiz Antônio Rodrigues Guimarães, encontraram um corpo sendo comido por porcos 35 .<br />

Os vintenários <strong>de</strong>ssa mesma freguesia, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1753, encontraram Leandro Francisco<br />

da Costa, morto em sua casa, com uma ferida <strong>no</strong> "ventre com couro e carne cortada e penetrante<br />

da parte esquerda com a largura <strong>de</strong> quatro <strong>de</strong>dos [...] que mostrava ser feita com instrumento<br />

perfurante”. O interessante nesse caso é que o cirurgião havia sido chamado para curar as feridas<br />

e, ao examiná-lo, disse que não havia nenhum membro inter<strong>no</strong> gravemente ferido que pu<strong>de</strong>sse<br />

levá-lo à morte. Porém, Leandro da Costa faleceu meia hora após o exame. Dessa vez o cirurgião<br />

alegou que a causa da morte foi "por logo se lhe não acudir e passar quase que uma hora <strong>de</strong>pois<br />

32 I<strong>de</strong>m, p.105.<br />

33 AGUIAR. Op. Cit., p.79-83.<br />

34 AHMI - Cód. 450, auto 9496, 1 o ofício, fl. 2.<br />

35 AHMI - Cód. 180, auto 33140,1 o of., fl.2, 1749.<br />

Revista Eletrônica <strong>de</strong> História do Brasil, v. 7 n. 2, jul.-<strong>de</strong>z., 2005<br />

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