Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77
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servir em caso <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>. Portugal não constituiu exceção a este quadro sendo marcante a<br />
presença <strong>de</strong> forças militares ou paramilitares locais <strong>no</strong> quadro organizacional do exército<br />
português, à imagem do que ocorria em vários rei<strong>no</strong>s europeus 2 .<br />
Contudo cabe sublinhar uma especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portugal neste contexto. No período <strong>de</strong><br />
1500-1800 boa parte das gran<strong>de</strong>s potências européias oci<strong>de</strong>ntais passaram por conflitos militares<br />
<strong>no</strong>s quais se po<strong>de</strong> acompanhar a evolução das táticas, dos armamentos e da organização militar,<br />
num processo que ficou conhecido como “revolução militar”. Como se sabe, a revolução militar é<br />
caracterizada pela introdução intensiva e extensiva da <strong>no</strong>va tec<strong>no</strong>logia militar <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo, o<br />
que resultou em uma série <strong>de</strong> mudanças não apenas nas técnicas <strong>de</strong> combate, mas também na<br />
organização militar e na relação da guerra com a socieda<strong>de</strong> 3 . Portugal, entretanto, ficou <strong>de</strong> fora<br />
<strong>de</strong>ste processo. Sua história militar é a <strong>de</strong> um país que, durante mais <strong>de</strong> 150 a<strong>no</strong>s, (entre Toro-<br />
1476 e a Aclamação-1640) não participou <strong>de</strong> operações militares terrestres na Europa e que, <strong>de</strong><br />
experiência, conhecia apenas a guerra ultramarina, em que se <strong>de</strong>frontavam práticas bélicas<br />
peculiares e a guerra <strong>de</strong> guerrilhas 4 . Com efeito, os esforços <strong>de</strong> guerra <strong>de</strong> Portugal concentravam-<br />
se, sobretudo, na força naval. Des<strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s o século XVI Portugal tecia uma armada<br />
permanente. Apesar <strong>de</strong> esta comportar funções civis (comerciais) ela era ao mesmo tempo uma<br />
armada <strong>de</strong> guerra, sustentada pela Coroa, sendo o gran<strong>de</strong> sustentáculo <strong>de</strong>sta em seus êxitos,<br />
pelo me<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Oriente, e do Império Ultramari<strong>no</strong>. Ou seja, a potência naval foi um fator – direto,<br />
enquanto força, e indireto, enquanto garantidor <strong>de</strong> riqueza – <strong>de</strong> credibilização externa <strong>de</strong><br />
Portugal 5 .<br />
Diferente era a situação da força armada terrestre. Aí as tradições portuguesas são tardias e<br />
pouco permanentes, até pelo me<strong>no</strong>s o século XVII 6 . Conforme dito anteriormente, e a exemplo do<br />
que acontecia em outras partes da Europa, os monarcas se apoiaram em milícias urbanas para<br />
assegurar a existência <strong>de</strong> uma tropa pronta a servir em caso <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>.<br />
A origem <strong>de</strong>stas milícias mergulha na Ida<strong>de</strong> Média. No período da Reconquista os fueros<br />
<strong>de</strong> leão e Castela, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XI, e os forais portugueses <strong>de</strong>s<strong>de</strong>, pelo me<strong>no</strong>s, 1157,<br />
consagravam a obrigatorieda<strong>de</strong> dos cavaleiros em participar das expedições militares. Com D.<br />
2 RODRIGUES, José Damião. “A guerra <strong>no</strong> Açores”. In. HESPANHA, António Manuel (Org). Nova História Militar <strong>de</strong><br />
Portugal. Vol. II – séculos XVI-XVII. Lisboa: Círculo <strong>de</strong> Leitores, 2003, p. 245.<br />
3 HESPANHA, António M. “Introdução”. In: HESPANHA, António Manuel (Org). Nova História Militar <strong>de</strong> Portugal... Op.<br />
cit., p. 9. Sobre revolução militar ver: Parker, Geoffrey. The Military Revolution: Military I<strong>no</strong>vation and the Rise of the<br />
West, 1500-1800. Cambridge, Cambridge University Press, 1992.<br />
4 I<strong>de</strong>m. Sobre este assunto ver: PUNTONI, Pedro. A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do Sertão<br />
Nor<strong>de</strong>ste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Hucitec, 2002.<br />
5 HESPANHA, António M. “Conclusão”. In: HESPANHA, António Manuel (Org). Nova História Militar <strong>de</strong> Portugal... Op.<br />
cit., pp. 360-361.<br />
6 I<strong>de</strong>m.<br />
Revista Eletrônica <strong>de</strong> História do Brasil, v. 7 n. 2, jul.-<strong>de</strong>z., 2005<br />
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