18.04.2013 Views

Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77

Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77

Cristãos pretos no mundo colonial: irmandades de escravos e 77

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

primeiras décadas dos setecentos 40 . Assim, a mestiçagem era vista como um dos principais<br />

elementos causadores dos <strong>de</strong>feitos da população mineira. Esse elevado número <strong>de</strong> negros e<br />

mestiços justifica o alto índice <strong>de</strong> violência envolvendo <strong>escravos</strong> e forros, tanto como vítimas ou<br />

agressores.<br />

Segundo Marcos Aguiar, embora ocorresse em me<strong>no</strong>r número que os crimes individuais, a<br />

incidência <strong>de</strong> crimes coletivos em Mariana era mais elevada que em Vila Rica. Tal averiguação<br />

situa Mariana próximo aos parâmetros estabelecidos para o termo <strong>de</strong> Sabará <strong>de</strong>vido,<br />

principalmente, à configuração socio-econômica e cultural complexa do seu extenso termo, on<strong>de</strong><br />

algumas freguesias estavam associadas à realida<strong>de</strong> dos sertões 41 .<br />

Alguns autos <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassas foram abertos para apurar <strong>de</strong>litos coletivos como assuadas e<br />

motins. A agressivida<strong>de</strong> dos ataques ficou <strong>de</strong>monstrada em relatos <strong>de</strong> testemunhas e em autos <strong>de</strong><br />

corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito, como os que se seguem:<br />

[...] achamos a um crioulo escravo do capitão José da Mota Araújo, morto, por <strong>no</strong>me Manuel <strong>de</strong><br />

Souza com uma ferida <strong>no</strong> peito da parte do coração, penetrante, da qual botou gran<strong>de</strong> cópia <strong>de</strong><br />

sangue e com uma orelha cortada, e também mais outro comprimento <strong>de</strong> três <strong>de</strong>dos e meio [...] e<br />

mais um negro por <strong>no</strong>me Caeta<strong>no</strong>, escravo <strong>de</strong> Francisco Luiz <strong>de</strong> Souza, com um braço passado <strong>de</strong><br />

uma zagaia <strong>de</strong> que dizem ficara aleijado e outra zagaia nas costas e um filho <strong>de</strong> [...] Silvério Diniz<br />

também ferido na cabeça com três feridas [...] e mais a mulher <strong>de</strong> Manuel Diniz que vinha para a<br />

missa, também lhe <strong>de</strong>ra uma porretada na cabeça e a roubaram <strong>de</strong> todos os seus vestidos que<br />

trazia vestida e <strong>de</strong> toda a família que trazia consigo, tudo <strong>de</strong>spiram até as próprias crianças e lhe<br />

meteram freios na boca, até as crianças e as amarraram [...] 42<br />

Em Cachoeira do Campo dois homens "rebuçados" apareceram na porta da casa <strong>de</strong> Maria<br />

Tereza com a <strong>de</strong>sculpa <strong>de</strong> lhe pedir informações e a agrediram com várias facadas. O juiz<br />

Joaquim Gonçalves Simões e seu escrivão Ma<strong>no</strong>el da Silva Pereira foram chamados para<br />

lavrarem o auto <strong>de</strong> corpo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lito que assim <strong>de</strong>screve o fato:<br />

[...] logo acudiram os povos <strong>de</strong>ste arraial com os soldados pagos, para evitarem o gran<strong>de</strong> distúrbio<br />

que houve com os mais que po<strong>de</strong>ria chegar e logo os ditos rebuçados partiram a resistir com uma<br />

pistola carregada quase até a boca e a bater a pedra umas e muitas vezes que fora Deus se servido<br />

não pegou fogo e outro com uma espada e a faca com que fizeram o <strong>de</strong>lito achou-se quebrada que<br />

julga-se ser quebrada <strong>no</strong> osso da cara da ofendida do que partindo o povo em seguimento <strong>de</strong>les<br />

junto com os mesmos soldados, em distância <strong>de</strong> um quarto <strong>de</strong> légua pouco mais ou me<strong>no</strong>s<br />

pren<strong>de</strong>u-se um com or<strong>de</strong>m do Ilustríssimo Excelentíssimo Senhor General do que o tenente Ma<strong>no</strong>el<br />

José Dias comandante do quartel tomou-os conta <strong>de</strong>les para os remeter a presença do mesmo<br />

senhor e logo pôs os soldados a estrada que vai <strong>de</strong>ste arraial a Vila Rica atrás <strong>de</strong> um dos vultos que<br />

tinha fugido em que o pren<strong>de</strong>ram a certa altura do dito caminho, a or<strong>de</strong>m do mesmo senhor em que<br />

ambos são remetidos a sala <strong>de</strong>ste gover<strong>no</strong>, on<strong>de</strong> um dos vultos dizem ser soldado pago, que dizem<br />

ser um fula<strong>no</strong>, o Pimentel, e o outro um homem bastardo que dizem vive <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r toucinho nessa<br />

vila do que vão remetidos com os cavalos em que vieram e as mais que trouxeram e tudo vai a<br />

presença <strong>de</strong> sua Excelentíssima do que <strong>de</strong> tudo portamos por fé dos <strong>no</strong>ssos ofícios e logo o dito juiz<br />

40 Cf. SOUZA. Os Desclassificados do Ouro, p. 141.<br />

41 AGUIAR. Op. Cit. Esse autor teve como objeto <strong>de</strong> estudos os <strong>de</strong>litos julgados pela ouvidoria da comarca, mas<br />

pesquisou também a primeira instância, ou seja, a justiça ordinária, representada <strong>no</strong>s processos crimes e <strong>de</strong>vassas.<br />

42 AHMI - Cód. 1<strong>77</strong>, auto 3178, 2 o of., 1796, fl.2.<br />

Revista Eletrônica <strong>de</strong> História do Brasil, v. 7 n. 2, jul.-<strong>de</strong>z., 2005<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!