Morde-me, mas pouco - Fonoteca Municipal de Lisboa
Morde-me, mas pouco - Fonoteca Municipal de Lisboa
Morde-me, mas pouco - Fonoteca Municipal de Lisboa
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
RICARDO OLIVEIRA ALVES<br />
16 • Ípsilon • Sexta-feira 1 Maio 2009<br />
Música<br />
Uma mulher<br />
do seu tempo<br />
Des<strong>de</strong> que editou “Balancê” em<br />
2005, Sara Tavares atravessou a<br />
Europa e passou pelos EUA dando<br />
um total <strong>de</strong> 120 concertos, chegou a<br />
rádios como a BBC, a jornais como o<br />
“Guardian”, a revistas como a “Sound<br />
Roots”, a sites como o World Music.<br />
E no entanto, nada disto parece<br />
<strong>de</strong>ixá-la propria<strong>me</strong>nte entusiasmada,<br />
<strong>me</strong>nos ainda se nota alguma vaida<strong>de</strong><br />
quando fala da segunda fase da sua<br />
já longa carreira.<br />
“Balancê” foi tão bem recebido que<br />
“Xinti”, o seu mais recente disco,<br />
ainda nem saiu e ela já tem uma<br />
i<strong>me</strong>nsa lista <strong>de</strong> concertos marcados<br />
até finais <strong>de</strong> Setembro que a levarão<br />
por Inglaterra, Holanda, Bélgica, Alemanha<br />
e Espanha. “Há etapas na<br />
construção <strong>de</strong> uma carreira lá fora,<br />
que têm <strong>de</strong> ser conquistadas uma a<br />
uma. Neste mo<strong>me</strong>nto ainda estou<br />
nessa fase. O mundo é gran<strong>de</strong> e país<br />
a país vai-se conquistando”, diz,<br />
acen<strong>de</strong>ndo um dos escassos cigarros<br />
<strong>de</strong> enrolar que fuma ao longo <strong>de</strong> uma<br />
hora <strong>de</strong> conversa. Ela é tão doce a<br />
falar quanto a cantar, <strong>mas</strong> a calma<br />
não impe<strong>de</strong> que seja <strong>de</strong>cidida.<br />
É, <strong>de</strong> facto, uma história no mínimo<br />
fora do comum. Sara surgiu em 1994,<br />
quando participou num daqueles<br />
concursos televisivos em que <strong>de</strong>sconhecidos<br />
cantam canções dos seus<br />
ídolos. Tinha apenas 15 anos e<br />
ganhou um Chuva <strong>de</strong> Estrelas com<br />
uma versão <strong>de</strong> uma canção <strong>de</strong> Whitney<br />
Houston, que, na altura, admirava.<br />
Se tudo corresse como normal<strong>me</strong>nte,<br />
<strong>de</strong>sapareceria em <strong>pouco</strong><br />
tempo, <strong>de</strong>ixando um ou outro disco<br />
que ninguém ouviria.<br />
Uma segunda vida<br />
Quando gravou o pri<strong>me</strong>iro álbum,<br />
um disco <strong>de</strong> gospel chamado “Sara<br />
Tavares e os Shout”, a música negra<br />
a<strong>me</strong>ricana ainda era o seu amor - <strong>mas</strong><br />
o simples facto <strong>de</strong> ter feito um disco<br />
<strong>de</strong> gospel em vez <strong>de</strong> versões <strong>de</strong> baladas<br />
<strong>de</strong> Céline Dion po<strong>de</strong>ria ter indicado<br />
aos mais atentos que a rapariga<br />
queria fazer as coisas à sua maneira.<br />
Esteve três anos sem gravar, editando<br />
<strong>de</strong>pois “Mi Ma Bô”, que pouca gente<br />
há-<strong>de</strong> ter ouvido. Esperou seis anos<br />
até lançar “Balancê”, o disco que<br />
mudou por completo a percepção<br />
que o público tem da sua música.<br />
Vaga<strong>me</strong>nte assente na música<br />
cabo-verdiana, com <strong>me</strong>lodias simples<br />
a espraiar-se por ritmos dolentes,<br />
“Balancê” foi um surpreen<strong>de</strong>nte<br />
êxito, tanto nacional como fora <strong>de</strong><br />
portas. Lá fora não sabem bem se ela<br />
é portuguesa ou cabo-verdiana e<br />
alguns textos, <strong>de</strong> forma sensata,<br />
optam por chamar-lhe um produto<br />
da diáspora. Tudo isto é surpreen<strong>de</strong>nte,<br />
se tivermos em conta que no<br />
mundo da pop ninguém costuma ter<br />
direito a uma segunda vida.<br />
A pri<strong>me</strong>ira, foi <strong>me</strong>nos glamourosa:<br />
A segunda vida <strong>de</strong> Sara Tavares levou-a ao circuito “world music” e trouxe-lhe o<br />
reconheci<strong>me</strong>nto nas páginas das <strong>me</strong>lhores publicações do género. “Xinti”, o novo disco, é mais<br />
um conjunto <strong>de</strong> canções lentas e vaga<strong>me</strong>nte cabo-verdianas. João Bonifácio