Morde-me, mas pouco - Fonoteca Municipal de Lisboa
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¬Mau ☆Medíocre ☆☆Razoável ☆☆☆Bom ☆☆☆☆Muito Bom ☆☆☆☆☆Excelente<br />
theremins). Kid Congo a li<strong>de</strong>rar os<br />
Pink Monkeybirds na <strong>de</strong>liciosa<strong>me</strong>nte<br />
absurda “I found a peanut”,<br />
rock’n’roll minimalista dos Thee<br />
Midniters, heróis Chicanos da década<br />
<strong>de</strong> 1960, ou a transportar Bo Diddley<br />
(o <strong>de</strong> “Funky fly”) para um espaço em<br />
que as divagações em Farfisa dos<br />
Floyd <strong>de</strong> Syd Barrett ganham<br />
sexualida<strong>de</strong> funk.<br />
Exímio criador <strong>de</strong> ambientes<br />
sonoros, inspirados no cinema sci-fi<br />
<strong>de</strong> série B, na BD un<strong>de</strong>rground e no<br />
rock’n’roll como manifestação<br />
marginal, Kid Congo Powers cria<br />
música em que uma i<strong>de</strong>ia (uma linha<br />
<strong>de</strong> baixo, um riff, um ritmo <strong>de</strong> bateria)<br />
serve toda a estrutura. Depois,<br />
preenche-a <strong>de</strong> alucinações, <strong>de</strong><br />
psica<strong>de</strong>lismos, <strong>de</strong> efeitos <strong>de</strong><br />
electrónica vintage que transformam<br />
essa i<strong>de</strong>ia em algo mais.<br />
“Dracula Boots” foi imaginado<br />
como “rave up” em baile <strong>de</strong> finalistas<br />
e cumpre o propósito. É o ambiente<br />
da selva psicadélica, tal como<br />
explicada pelos Cramps, concretizado<br />
enquanto festa dançante: Farfisas a<br />
fervilhar, secção rítmica em “boogie”<br />
carnal, os sons <strong>de</strong> guitarra mais<br />
estratosféricos e uma voz funda<br />
contando histórias bizarras que a<br />
rapariga da saia com folhos rosa não<br />
está certa <strong>de</strong> querer ouvir. Mário<br />
Lopes<br />
A verda<strong>de</strong> dos Born<br />
A Lion<br />
Born A Lion<br />
Bluezebu<br />
Lux Records; distri. Compact Records<br />
mmmnn<br />
Em “John Captain”,<br />
o álbum <strong>de</strong> estreia,<br />
o pó que cobria a<br />
música dos Born A<br />
Lion era <strong>de</strong>sértico -<br />
tragédias country<br />
em terra <strong>de</strong> ninguém e riffs stoner-rock<br />
atravessando terrenos áridos em alta<br />
velocida<strong>de</strong>. Com “Bluezebu”, o<br />
segundo disco da banda da Marinha<br />
Gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> haver um território<br />
simbólico tão facil<strong>me</strong>nte<br />
“cartografável”.<br />
O que há aqui, ou <strong>me</strong>lhor, o que já<br />
existia neles <strong>mas</strong> que agora se torna<br />
mais evi<strong>de</strong>nte, é uma crença na i<strong>de</strong>ia e<br />
nas for<strong>mas</strong> do rock’n’roll clássico que<br />
insufla vida a estes grooves<br />
“Zeppelianos”, a este negru<strong>me</strong><br />
Sabbath, às guitarras “wah wah”<br />
enfurecidas e à secção rítmica<br />
cavalgando em ritmo <strong>de</strong> jam libertina.<br />
Agora, não há fronteiras <strong>de</strong>finidas: isto<br />
é rock’n’roll <strong>de</strong> peso e ali<strong>me</strong>nta-se do<br />
excesso - conferir as vagas eléctricas<br />
da guitarra ou a voz grave que, em<br />
“Daisies and diamonds”, encarna um<br />
Lee Hazelwood entregue aos prazeres<br />
do “boogie” (<strong>de</strong>pois, a canção levita<br />
até psica<strong>de</strong>lismos Floydianos e<br />
Hazelwood torna-se <strong>me</strong>mória<br />
esbatida).<br />
Nesta fantasia rock’n’roll feita<br />
violento escapismo, os Born A Lion<br />
conjugam tudo num corpo uno: são os<br />
Deep Purple a inventarem-se<br />
enquanto Funka<strong>de</strong>lic em “Space<br />
traveling” (órgão Hammond e coros<br />
femininos incluídos), ou uma balada<br />
acústica que cresce até se transformar<br />
em blues catártico, culpa do piano<br />
gingão do convidado Filipe Costa, dos<br />
Sean Riley & The Slowri<strong>de</strong>rs.<br />
“I live my life in a rock’n’roll tone”,<br />
Espaço<br />
Público<br />
Não será tão abrangente<br />
quanto o La Blogotheque,<br />
<strong>mas</strong> o conceito associado<br />
ao The Black Cab Sessions<br />
é algo <strong>de</strong> extraordinário:<br />
uma banda - ou um(a)<br />
artista - a actuar num táxi<br />
em movi<strong>me</strong>nto, algu<strong>mas</strong><br />
vezes sobrelotado,<br />
mostrando a arte<br />
Born a Lion: soa verda<strong>de</strong> - e isso, aqui, é tudo o que interessa<br />
cantam os Born A Lion naquele refrão.<br />
A questão não é isso ser ou não<br />
verda<strong>de</strong>. Soa verda<strong>de</strong> - e isso, aqui, é<br />
tudo o que interessa. M.L.<br />
Melingo<br />
Maldito Tango<br />
Mañana, distri. Andante<br />
mmmnn<br />
Tem-se falado <strong>de</strong> Nick Cave ou Tom<br />
Waits a propósito <strong>de</strong> Daniel Melingo,<br />
performativa <strong>de</strong>spojada<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s artifícios.<br />
Música em estado<br />
puro, verda<strong>de</strong>ira. Neste<br />
mo<strong>me</strong>nto, o The Black<br />
Cab Sessions conta já<br />
com 74 sessões, em que<br />
participaram no<strong>me</strong>s<br />
como Fleet Foxes, The<br />
Kooks, Beach House<br />
<strong>mas</strong> seria mais justo<br />
aparentá-lo em<br />
pri<strong>me</strong>iro lugar ao<br />
saudoso Roberto<br />
Goyneche (1926-<br />
1994) <strong>de</strong> “Viejo<br />
Ciego” ou “Patotero Senti<strong>me</strong>ntal”,<br />
cronista singular da boémia argentina.<br />
É certo que Melingo, neste seu quinto<br />
disco, vai mais longe no<br />
experi<strong>me</strong>ntalismo iniciado em<br />
“Tangos bajos” (1998) e “Ufa” (2003),<br />
<strong>de</strong>ixando insinuarem-se, por entre os<br />
ou The Walk<strong>me</strong>n. Fica<br />
o caminho para uma<br />
magnífi ca central <strong>de</strong> táxis,<br />
que em breve irá sofrer<br />
remo<strong>de</strong>lações: www.<br />
blackcabsessions.com.<br />
Pedro Miguel Silva,<br />
35 anos, Técnico <strong>de</strong><br />
Comunicação<br />
traços nervosos do tango, sons <strong>de</strong><br />
outras latitu<strong>de</strong>s (México, Brasil, Cuba,<br />
França, Cabo Ver<strong>de</strong>, o jazz). E<br />
também efeitos sonoros, vocais e<br />
electrónicos, com que pontua as<br />
canções. Ouçam-se, por exemplo,<br />
“Pequeño paria”, “Cha digo!” (on<strong>de</strong>,<br />
aqui sim, a voz rugosa <strong>de</strong> Melingo<br />
lembra clara<strong>me</strong>nte a <strong>de</strong> Tom Waits,<br />
enquanto a guitarra “clona” os<br />
Shadows) ou “Eco il mondo”, que nos<br />
seus imponentes 12m12s (a lembrar<br />
Cohen, até nos ecos a duplicar a<br />
Ípsilon • Sexta-feira 1 Maio 2009 • 33