Livro de Anita Garibaldi - Nereu Moura
Livro de Anita Garibaldi - Nereu Moura
Livro de Anita Garibaldi - Nereu Moura
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> A Guerreira das REPÚBLICAs– Adílcio Cadorin<br />
Biblioteca Virtual da Página do Gaúcho - www.paginadogaucho.com.br<br />
estado. Minha barriga parece estar ficando cada vez mais inchada e eu não<br />
estou sentindo nenhum movimento. Estou achando que meu filho está morto,<br />
que a nossa criança da primavera <strong>de</strong> Rieti nunca verá a luz. Depois da<br />
breve trégua <strong>de</strong> Cetona, continuamos a marcha rumo aos Apeninos, num<br />
sobe-e-<strong>de</strong>sce <strong>de</strong> trilhas poeirentas que parecia não ter fim. Eu continuava a<br />
me arrastar atrás do cavalo e <strong>de</strong> vez em quando montava para <strong>de</strong>scansar,<br />
apesar da dor na barriga. Assim como os outros pobres animais, ele estava<br />
magro <strong>de</strong> dar medo. Depois <strong>de</strong> dias e dias <strong>de</strong> caminhada, finalmente<br />
apareceu o rochedo <strong>de</strong> San Marino, majestoso, ao longe. Gastei as minhas<br />
últimas forças para chegar perto dos muros, on<strong>de</strong> esperei a volta <strong>de</strong> José,<br />
que tinha ido na frente e entrado na cida<strong>de</strong> para pedir permissão <strong>de</strong><br />
trânsito. Cara irmã, enquanto eu estava estendida no chão para retomar o<br />
fôlego, ouvi tiros e vi atrás <strong>de</strong> nós, no vale, parte da nossa retaguarda se<br />
dispersando, tomada <strong>de</strong> pânico pela aproximação <strong>de</strong> uma patrulha <strong>de</strong><br />
austríacos. Não sei como encontrei forças para reagir. Eu me levantei,<br />
montei no cavalo e fui a galope na direção dos fugitivos, para incitá-los a<br />
reagir. Mas não adiantou. Quase todos aqueles malditos covar<strong>de</strong>s fugiram<br />
sem nenhuma vergonha, enquanto eu gritava para eles pararem. Não pu<strong>de</strong><br />
fazer nada para o José e, o que é pior, estou percebendo que, doente <strong>de</strong>ste<br />
jeito, sou apenas um peso para ele, que agora luta pela própria vida. Este<br />
pensamento me incomoda e me angustia, pois me dá a medida <strong>de</strong> minha<br />
impotência. Mas qual é a alternativa? Foi em San Marino que me <strong>de</strong>i conta<br />
disso. Depois <strong>de</strong> vencermos tantas dificulda<strong>de</strong>s para entrar na cida<strong>de</strong>,<br />
acabamos ficando lá por poucas horas. Angustiada, vi José, com o rosto<br />
tenso e os olhos fundos <strong>de</strong> tanto cansaço, obrigado a dissolver a Legião<br />
italiana. Depois, <strong>de</strong>itei-me na cama, enquanto tudo ao meu redor girava<br />
vertiginosamente. Lembro-me das mulheres, ao meu redor, tentando me<br />
convencer a permanecer na cida<strong>de</strong> até ficar curada. Até morrer, eu pensava.<br />
E me aterrorizava pensar em ficar sozinha e morrer em terra <strong>de</strong>sconhecida,<br />
sem nenhum rosto amigo. Quando o José entrou no quarto me dizendo a<br />
mesma coisa, comecei a chorar, pedindo que ele não me <strong>de</strong>ixasse, que não<br />
me abandonasse. Com ele entrou um oficial. Insistiam em que eu ficasse,<br />
dizendo que não era possível continuar a fuga nas minhas condições.<br />
Quanto mais eles falavam, mais eu chorava, mais a fraqueza e a náusea<br />
tomavam conta <strong>de</strong> mim, mais eu implorava, tentando me agarrar à mão <strong>de</strong><br />
José que estava perto <strong>de</strong> mim. Então eu ouvi a sua voz pedindo que eles<br />
página 255/255