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Livro de Anita Garibaldi - Nereu Moura

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<strong>Anita</strong> <strong>Garibaldi</strong> A Guerreira das REPÚBLICAs– Adílcio Cadorin<br />

Biblioteca Virtual da Página do Gaúcho - www.paginadogaucho.com.br<br />

Por isso agra<strong>de</strong>ço por você não ter querido assistir ao ato da minha<br />

vergonha, àquele contrato imposto em nome <strong>de</strong>sta nossa terra<br />

hipócrita, realizado contra tudo o que você sempre combateu. Da<br />

minha parte, não sei mais o que dizer. Você me conhece o suficiente<br />

para enten<strong>de</strong>r as minhas lágrimas, tão amargas quanto inúteis.<br />

Você po<strong>de</strong> imaginar a igreja enfeitada para a festa, com o tapete<br />

vermelho das solenida<strong>de</strong>s estendido da porta até o altar. Para mim,<br />

parecia um rio <strong>de</strong> sangue. Entrei <strong>de</strong> braços dados com o meu padrinho,<br />

que me segurava firme para me amparar. Sentia umas pontadas<br />

geladas no estômago. Os olhos pretos das duas estátuas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira,<br />

que ficam na laterais, pareciam carvão em brasa. Tentei não olhar para<br />

o Manuel no altar, mas quando ouvi sua voz respon<strong>de</strong>ndo ao padre,<br />

perto <strong>de</strong> mim, achei que ia <strong>de</strong>smaiar.<br />

Não me lembro nem <strong>de</strong> ter aberto a boca.Depois da missa cantada, que<br />

não acabava mais, virei as costas para o altar, esforçando-me para<br />

conter o enjoou, e comecei a caminhar para a saída. Então Manuel<br />

quis me pegar pelo braço, mas eu o afastei e me esqueci <strong>de</strong> prestar<br />

atenção nos sapatos. Aí eu tropecei. Os sapatos eram muito gran<strong>de</strong>s<br />

para mim e eu não estava acostumada a usá-los. Na igreja cheia <strong>de</strong><br />

gente ergueu-se um murmúrio, porque, como você sabe, tropeçar ao<br />

sair da igreja <strong>de</strong>pois do casamento, é mau agouro.<br />

Mas eu nem liguei, pois não podia imaginar uma situação mais infeliz.<br />

Quero que saiba que o meu casamento não é um casamento<br />

verda<strong>de</strong>iro. Des<strong>de</strong> o começo, eu me recusei a ir para a cama com o<br />

Manuel, e ele não insistiu, pelo menos até agora. Pedi para ele me<br />

<strong>de</strong>sculpar, mas eu não queria ir para a cama sem amor. Ele parece<br />

resignado a esperar, ou talvez tenha pena <strong>de</strong> mim. Talvez ele seja<br />

melhor do que eu pensava. Mas então por que se prestou ao jogo cruel<br />

dos outros?...<br />

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