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GESTÃO DE RESÍDUOS - Revista Visão Ambiental

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te e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama)<br />

se uniram no caso e iniciaram um processo de<br />

investigação. Em Caxias do Sul, mais descaso.<br />

Além do envio do lixo, a transportadora recolheu<br />

as caixas utilizadas no carregamento por ordem<br />

do importador e deixou o material despejado no<br />

porto seco da serra gaúcha junto a outras cargas,<br />

sem qualquer tipo de isolamento ou proteção.<br />

Os contêineres eram destinados a duas empresas<br />

de Bento Gonçalves (RS) - Stephenon<br />

Estratégia e Marketing e Alfatech - e a uma empresa<br />

de Goiânia. A ironia encontra-se no fato<br />

de que o dono das exportadoras é brasileiro.<br />

Julio Cesar Rando da Costa é proprietário da<br />

Worldwide Biorecyclabes Ltda. e da UK Multiplas<br />

Recycling Ltda., sendo que a primeira entrou em<br />

falência neste ano e a segunda opera em Swidon,<br />

na Inglaterra. De acordo com informações da<br />

BBC Brasil, o empresário afirmou que recebeu a<br />

carga como sendo plástico destinado a reciclagem,<br />

já que a UK Multiplas Recycling realiza o<br />

processo de prensagem do material, exportado<br />

em seguida.<br />

O problema se estendeu para São Paulo. Dias<br />

depois, as manchetes dos jornais declaravam um<br />

acréscimo de mais de seiscentas toneladas a essa<br />

conta. A chefe do escritório regional do Ibama<br />

em Santos, Ingrid Öberg, contou que recebeu<br />

um comunicado do escritório de Rio Grande<br />

com suspeita de que uma outra parte da carga<br />

do mesmo importador estaria no porto da cidade<br />

e poderia conter lixo. A dúvida se confirmou:<br />

resíduos eletrônicos como cabos e restos de computadores,<br />

travesseiros, embalagens de produtos<br />

domésticos e sobras de alimentos aumentaram<br />

a soma em cerca de trezentas toneladas. “Nós<br />

assumimos a responsabilidade de contatar a<br />

Receita Federal, vistoriar os contêineres e tomar<br />

as providências legais no âmbito da legislação<br />

brasileira”, explicou Ingrid. Segundo ela, em 2004<br />

houve a autuação de uma importação de resíduos<br />

tóxicos industriais, mas é a primeira vez que<br />

ela tem conhecimento desse tipo de ocorrência<br />

com lixo doméstico.<br />

A conta totalizou oitenta e nove contêineres:<br />

quarenta em Rio Grande, quarenta e um em<br />

Santos e oito em Caxias do Sul. A partir de então,<br />

os órgãos envolvidos no caso procuraram agir<br />

de forma conjunta nas três regiões, seguindo o<br />

mesmo padrão de procedimentos. O escritório<br />

central do Ibama, em Brasília, providenciou a<br />

coordenação das informações e a organização<br />

de um dossiê para formalizar denúncia ao Mi-<br />

nistério do Meio Ambiente e ao Ministério das<br />

Relações Exteriores. O objetivo foi comunicar o<br />

governo inglês e declarar o descumprimento<br />

de acordos internacionais, como a Convenção<br />

de Basileia.<br />

O porto de Santos é o maior da América<br />

do Sul. A carga ilegal encontrada lá teve ainda<br />

como agravante o tempo em que permaneceu<br />

no local. Os últimos vinte e cinco contêineres<br />

descobertos estavam no porto desde novembro<br />

de 2008. “O processo de importação tem seu<br />

tempo específico, muitas vezes cargas ficam<br />

paradas no aguardo dos trâmites necessários<br />

para sua internalização. Mas os contêineres<br />

estavam praticamente abandonados pelo importador”,<br />

esclareceu Ingrid. Quanto aos demais<br />

contêineres de Santos e à carga localizada no Rio<br />

Grande do Sul, a remessa aportou em vários lotes<br />

que começaram a chegar ao Brasil em fevereiro<br />

deste ano.<br />

Como todo visitante indesejado, a solução<br />

para o caso foi mandar o lixo de volta o mais<br />

rápido possível. A devolução da carga começou<br />

no dia 5 de agosto e a previsão de chegada da<br />

primeira remessa é dia 17 de agosto no porto de<br />

Felixtowe, o mesmo ponto de partida. As multas<br />

aplicadas pelo Ibama às importadoras passam<br />

de um milhão de reais. “Em Santos, foram duas<br />

multas de aproximadamente R$ 154 mil e duas<br />

de R$ 234 mil. No Rio Grande, as multas foram<br />

de R$ 408 mil”, contou Ingrid. Em entrevista à<br />

<strong>Visão</strong> <strong>Ambiental</strong>, o ministro do Meio Ambiente,<br />

Carlos Minc, chamou a atenção para o dever do<br />

país em reprimir esse crime ambiental. “Estamos<br />

comunicando ao país exportador para que use<br />

a legislação soberana para punir os autores da<br />

exportação ilegal. Duvido que algum país desenvolvido<br />

aceite nosso lixo ou troquem o lixo<br />

entre si”, declarou o ministro.<br />

CONVENÇÃO <strong>DE</strong> BASILEIA<br />

O caso repercutiu no país e no mundo. Ao<br />

mesmo tempo, a África também era alvo desse<br />

tipo de crime. O jornal britânico The Times chamou<br />

a atenção dos leitores para uma denúncia<br />

em Gana. De acordo com a reportagem, televisores,<br />

geladeiras e outros aparelhos eletrônicos<br />

são amontoados em depósitos no bairro de Agbogbloshie.<br />

Moradores e trabalhadores de lá afirmam<br />

que os materiais têm etiquetas britânicas.<br />

Também não é a primeira vez que a África passa<br />

por essa situação. Em agosto do ano passado, o<br />

Greenpeace divulgou um relatório identificando<br />

“Estamos<br />

comunicando<br />

ao país<br />

exportador<br />

para que use<br />

a legislação<br />

soberana para<br />

punir os autores<br />

da exportação<br />

ilegal. Duvido<br />

que algum país<br />

desenvolvido<br />

aceite o nosso<br />

lixo ou troquem<br />

o lixo entre si”.<br />

Carlos Minc, ministro<br />

do Meio Ambiente<br />

VISÃO AMBIENTAL • SETEMBRO/OUTUBRO • 2009<br />

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