GESTÃO DE RESÍDUOS - Revista Visão Ambiental
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VISÃO AMBIENTAL • SETEMBRO/OUTUBRO • 2009<br />
64<br />
VISÃO ECONÔMICA<br />
Alexandre Reis<br />
Recursos Hídricos:<br />
qual o cenário para o Brasil?<br />
O Brasil detém aproximadamente 8% de toda<br />
a água doce do mundo. Desse percentual, 80%<br />
está na região amazônica. Se repartíssemos os<br />
20% restantes pelas demais regiões, cada uma<br />
ficaria com 5%. Logo, é preciso haver um plano<br />
de gestão adequado para esse recurso natural,<br />
principalmente nos estados das regiões Sul<br />
e Sudeste.<br />
Antes, a problemática dos recursos hídricos<br />
se restringia ao problema da poluição qualitativa,<br />
ou seja, dos detritos lançados em mananciais.<br />
Com o passar do tempo surgiu também o problema<br />
da escassez quantitativa. Portanto, sem<br />
medidas bem planejadas, vai faltar água.<br />
Vários setores da sociedade argumentam<br />
pela consciência ou pela educação ambiental.<br />
Isso é muito importante, mas não é tudo. O próprio<br />
País age de maneira pouco significativa para<br />
mitigar o problema. O que precisamos, de fato,<br />
é da implementação imediata de um sistema<br />
nacional de gestão dos recursos hídricos. Isso é<br />
essencial para a sustentabilidade do sistema.<br />
Hoje, os instrumentos mais utilizados para<br />
controlar o problema da água são a cobrança<br />
pelo uso (retirada) e o direito de uso (outorga),<br />
mas falta o principal, que é a implementação<br />
da tríade incitação financeira, participação descentralizada<br />
e reversão de recursos em obras.<br />
Para que isso se concretize é preciso consolidar<br />
os comitês e as agências de bacia.<br />
A origem teórica do instrumento de cobrança<br />
está no livro Princípios da Economia Política<br />
e da Tributação, de David Ricardo, economista<br />
do século XIX. A generalização do raciocínio da<br />
renda estática para os demais recursos naturais<br />
já constava na discussão sobre a determinação<br />
da renda da terra que ele fez em sua obra. O<br />
autor falou desse problema com mais de um<br />
século de antecedência. A citação abaixo demonstra<br />
isso:<br />
“Nada é mais comum que ouvir falar das<br />
vantagens que a terra possui sobre qualquer<br />
outra fonte de produção, devido ao excedente<br />
que proporciona sob a forma de renda. No entanto,<br />
quando a terra é muito abundante, muito<br />
produtiva e fértil, não produz renda alguma. Somente<br />
quando suas forças diminuem, e quando<br />
se obtém menor retorno com o trabalho, uma<br />
parcela da produção original das faixas mais férteis<br />
é destinada ao pagamento da renda. (...) Se<br />
o ar, a água, a elasticidade do vapor e a pressão<br />
atmosférica tivessem diferentes qualidades; se<br />
pudessem ser apreendidas e se cada qualidade<br />
existisse apenas em quantidade moderada, esses<br />
agentes, assim como a terra, dariam origem<br />
a renda, à medida que as diferentes qualidades<br />
fossem sendo utilizadas.”<br />
David Ricardo constata que os recursos naturais<br />
podem gerar renda devido a três motivos:<br />
(a) escassez, (b) qualidades diferenciadas, e (c)<br />
possibilidade de ser apropriado (possuir valor<br />
de troca). De fato, quer por problemas quantitativos<br />
(extração excessiva), quer por problemas<br />
de degradação qualitativa (poluição), as águas<br />
dos mananciais têm diminuído.<br />
Dessa forma, os recursos naturais adquirem<br />
características semelhantes a qualquer outro<br />
ativo na economia. Ao não serem mais bens<br />
livres, passam a ser considerados bens econômicos,<br />
como a terra. É claro que, no caso do ar e<br />
da água, existe o problema da apropriabilidade.<br />
Nesse caso, a apropriação é feita pela declaração<br />
de domínio estatal.<br />
Através desse instrumento, a renda não<br />
é dissipada (o que ocorreria no caso de livre<br />
acesso ao recurso) e, ao ser cobrada, reverte<br />
para o Estado (o ativo “recursos hídricos” é um<br />
bem patrimonial estatal que faz jus a uma renda<br />
de escassez).<br />
Observa-se, então, que o cerne da questão é<br />
que, quando qualquer recurso natural se tornar<br />
escasso, será necessário cobrar um preço sobre<br />
esse bem. Cobrando esse preço, e mais um<br />
pouco para ser usado em ações mitigadoras, o<br />
processo torna-se eficiente. Caso isso não seja<br />
feito, o cenário é bastante pessimista.<br />
ALEXANDRE REIS<br />
é economista e professor<br />
especialista em<br />
Planejamento <strong>Ambiental</strong><br />
Divulgação