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GESTÃO DE RESÍDUOS - Revista Visão Ambiental

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VISÃO AMBIENTAL • SETEMBRO/OUTUBRO • 2009<br />

56<br />

EXPORTAÇÃO <strong>DE</strong> <strong>RESÍDUOS</strong><br />

depósitos ilegais de lixo eletrônico em Gana. O<br />

material era originário da Ásia, Europa e Estados<br />

Unidos. Esse tipo de resíduo recebe o nome de<br />

e-waste (ou e-lixo, na tradução) e é altamente<br />

tóxico, composto por elementos como alumínio,<br />

cádmio, zinco e chumbo, que contaminam o solo<br />

e os lençóis freáticos.<br />

O envio de lixo de países desenvolvidos<br />

a países em desenvolvimento é crime. Isso<br />

contraria a Convenção de Basileia, tratado internacional<br />

reconhecido em uma conferência<br />

do Programa das Nações Unidas para o Meio<br />

Ambiente (PNUMA), em 1988, em Basiléia, na<br />

Suíça. Em 1993, o Brasil confirmou sua participação<br />

como integrante da convenção, citada<br />

POSICIONAMENTO ABRELPE<br />

REVISTA VISÃO AMBIENTAL – A ISWA (Associação<br />

Internacional de Resíduos Sólidos)<br />

comenta no texto de apresentação que “ser<br />

parte da nossa associação irá dar-lhe um<br />

acesso sem precedentes a organizações internacionais<br />

como o PNUMA, a OMS, a Europa<br />

ou UE (...)”. Isso demonstra que países como<br />

a Inglaterra deveriam ser referência no tratamento<br />

e destinação de resíduos sólidos.<br />

Considerando essa notícia e tantas outras<br />

que denunciaram casos de envio de lixo de<br />

países desenvolvidos a países em desenvolvimento,<br />

nota-se que essa prática não é tão<br />

incomum. Sabemos que o caso noticiado se<br />

trata de situação isolada e repudiada pela comunidade<br />

internacional, e que tal atitude não<br />

representa a postura de um país, mas sendo<br />

a Abrelpe a representante da International<br />

Solid Waste Association no Brasil, qual é a<br />

avaliação da associação diante do envio de<br />

contêineres de lixo da Inglaterra para o Brasil?<br />

O envio de resíduos de países desenvolvidos<br />

para países em desenvolvimento, principalmente<br />

os localizados na África, no leste Europeu<br />

e no sul da Ásia constitui-se num fato já<br />

constatado há algum tempo, cuja prática vem<br />

sendo coibida por todos os órgãos envolvidos.<br />

Estima-se que cerca de 400 milhões de toneladas<br />

de resíduos perigosos são gerados no<br />

mundo atualmente e que cerca de 40 milhões<br />

de toneladas são dispostas em países menos<br />

desenvolvidos.<br />

ABRELPE – Observamos que a disposição de<br />

uma tonelada de resíduos nos países desenvolvidos<br />

custa em torno de USS 100 a USS 2<br />

mil, dependendo da característica do resíduo<br />

a ser disposto, enquanto nos países em desenvolvimento<br />

custa entre USS 3 e USS 70.<br />

Tal constatação torna necessária a adoção<br />

de políticas de controle e rastreamento de<br />

resíduos que impossibilitem tal “comércio”<br />

ilegal pois, em última instância, quem perde<br />

em resolução do Conselho Nacional do Meio<br />

Ambiente (Conama). O acordo tem como finalidade<br />

acabar com o envio de lixo dos países<br />

mais desenvolvidos aos menos desenvolvidos.<br />

Duas emendas ao tratado, aprovadas entre 1995<br />

e 1997, determinam a proibição da exportação<br />

de qualquer resíduo, seja ele para destinação<br />

ou reciclagem. Coube aos países a decisão de<br />

ratificar ou não essa emenda.<br />

O ministro Carlos Minc alertou para a necessidade<br />

de legislação e fiscalização mais rigorosas.<br />

Reuniões entre a Polícia, a Receita Federal e o setor<br />

responsável pela política portuária brasileira já<br />

foram feitas para discutir o problema. “Só conseguiremos<br />

assegurar que nenhum lixo exportado vá<br />

é sempre o meio ambiente.<br />

A Convenção da Basileia conta com um centro<br />

e pessoal treinado e capacitado para desestimular<br />

tais práticas, fiscalizar, apurar denúncias<br />

e punir os responsáveis. Também existem<br />

diversas ONGs que tratam do assunto, auxiliando<br />

as autoridades em suas funções.<br />

Entretanto, tal como outros crimes (contrabando,<br />

tráfico de drogas, etc.), a exportação ilegal<br />

de resíduos é planejada e executada por quadrilhas<br />

com ramificações e integrantes que tentam<br />

viabilizar a tarefa e consumar a disposição dos<br />

resíduos nos países em desenvolvimento.<br />

A ISWA, no seu papel de principal associação<br />

do mundo do setor de resíduos sólidos, vem<br />

cumprindo seu papel de integrar os atores,<br />

disseminar informações, treinar e capacitar as<br />

pessoas e estabelecer uma rede de contatos a<br />

fim de promover o desenvolvimento do setor<br />

de resíduos ao redor do globo.<br />

Nesse caso específico de exportação ilegal de<br />

resíduos, a ISWA está em permanente contato<br />

com a delegação da Convenção da Basileia,<br />

em Genebra, e junto à mesma estabelece uma<br />

constante troca de informações e dados, a fim<br />

de aprimorar os sistemas de fiscalização e apuração<br />

dos crimes, com a consequente punição.<br />

Além disso, as autoridades da Convenção da<br />

Basileia participam com frequência dos congressos<br />

e seminários da ISWA, onde apresentam<br />

os dados mais recentes e outros detalhes<br />

para capacitar e conscientizar os participantes<br />

acerca da importância dessa questão.<br />

No tocante ao caso ocorrido no Brasil, a Abrelpe,<br />

como membro nacional da ISWA em nosso<br />

país, manteve contato com os representantes<br />

da CIWM (Chartered Institution of Wastes<br />

Management) e com membros nacionais da<br />

ISWA no Reino Unido na tentativa de obter<br />

mais informações de ambos os lados, bem<br />

como para estabelecer uma base de dados<br />

iniciais (afinal essa foi a primeira vez que tal<br />

entrar aqui quando tornarmos<br />

mais rigoroso o chamado Canal<br />

Verde, em que cerca de 85% dos<br />

contêineres passam pela aduana<br />

portuária sem fiscalização direta<br />

do seu conteúdo”, explicou Minc.<br />

Para que isso ocorra, o ministro<br />

detalha que o país terá que<br />

adquirir mais equipamentos de<br />

controle, como scanners e aparelhos<br />

de raio X. Parcerias serão<br />

firmadas entre a Polícia Federal<br />

e as autoridades portuárias para<br />

que episódios como esse não<br />

voltem a ocorrer.<br />

fato aconteceu envolvendo os dois países)<br />

com o objetivo de prevenir futuras ocorrências<br />

semelhantes, enquanto aguardamos a completa<br />

apuração do caso e a responsabilização<br />

dos criminosos.<br />

REVISTA VISÃO AMBIENTAL – No que diz respeito<br />

à legislação, em entrevista à nossa revista,<br />

o ministro Carlos Minc declarou que serão<br />

propostas mudanças nas leis vigentes, pois<br />

“não é possível que o lixo indesejável tenha o<br />

mesmo tratamento que qualquer produto de<br />

exportação ilegal, que é o confisco, sem que<br />

possamos responsabilizar os criminosos pelo<br />

retorno da carga exportada ilegalmente para o<br />

Brasil”. A Abrelpe concorda com isso? A legislação<br />

tem falhas? O que é preciso mudar?<br />

ABRELPE – A importação de resíduos já é<br />

efetivamente proibida no Brasil, pois o País<br />

é signatário da Convenção da Basileia, que<br />

proíbe o trânsito de resíduos sólidos e líquidos<br />

perigosos entre países. Entretanto, de<br />

acordo com a situação do mercado, empresas<br />

que atuam no Brasil podem importar alguns<br />

materiais, como sucata de papel, ferro, aço,<br />

plástico que, a todo rigor, podem se configurar<br />

como resíduo em sua origem, porém são<br />

importados como insumos (matéria-prima)<br />

para a indústria brasileira.<br />

Como signatário da convenção, o Brasil conta<br />

com uma proteção legal contra a importação<br />

indevida de resíduos. Porém, nosso país ainda<br />

não conta com uma Política Nacional de Resíduos,<br />

que poderia e deverá tratar dessa matéria<br />

de maneira mais clara e efetiva. De acordo com<br />

o projeto de lei atualmente em discussão no<br />

Congresso (PL 1991/2007), há uma disposição<br />

para vedar a importação de qualquer tipo de<br />

resíduo. Assim, ao nosso ver, não há necessidade<br />

de se falar em nova legislação, mas de se<br />

canalizar esforços para a aprovação da Política<br />

Nacional de Resíduos Sólidos.

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