27.04.2013 Views

PERDOAR

PERDOAR

PERDOAR

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

mais próxima e da mais longínqua geografia. Hoje não dá para postergar a redefinição<br />

da humanidade dos homens e das mulheres e das relações que estes estabelecem com o<br />

fim de fazer mais vivível e mais humana a vida. Nesta redefinição é necessária a<br />

experiência de ser perdoado e de perdoar e, ao mesmo tempo, uma rigorosa definição<br />

do que perdoar e ser perdoado significa como realidade humana capaz de transformar o<br />

presente e o devir. Dotar de sentido a vida é também dotar de sentido as palavras para<br />

que elas nos permitam fazer nascer um mundo para nós e para o nosso presente. Caso<br />

contrário, as águas do niilismo nos chegariam até o pescoço.<br />

Com relação ao perdão, a situação hoje é, de fato, uma situação paradoxal. Tão<br />

cedo encontramos alguns que negam a linguagem e a realidade do perdão, da mesma<br />

que o consideram um exercício sobreiro, próprio de um mundo religioso caduco e<br />

contraditório, um termo que desdiz a autêntica realidade relacional humana, como<br />

encontramos, de outro lado, uma inflação da mesma linguagem do perdão, sobretudo do<br />

pedi-lo, como se pedir perdão fosse uma moda, sem nenhuma disposição de mudar<br />

nada, mas só de dizer. A situação paradoxal do momento presente é ainda maior se<br />

termos em consideração que alguns dos que menosprezam a realidade do perdão e a sua<br />

linguagem têm, na | prática, atitudes e realizam atos de perdão, sem chamá-los assim;<br />

enquanto outros, dentre os mais religiosamente partidários de perdoar, com muita<br />

freqüência, com demasiada freqüência, alimentam (alimentamos) a inflação comentada,<br />

desatendem (desatendemos) situações reais de necessidade de perdão e explicitam<br />

(explicitamos) abertamente linguagens e realidades de condena de forma até<br />

incompreensível. Aproximar-se da realidade e das linguagens do perdão faz-se<br />

totalmente necessário no nosso presente, no qual se decide ao mesmo tempo o futuro (o<br />

nosso e o de nossos filhos e netos). Que as Jornadas da Associação Bíblica da Catalunha<br />

dos anos 1998 e 1999, em Solsona, tenham sido dedicadas ao estudo bíblico do perdão<br />

significa que a abertura até uma nova compreensão e uma nova experiência do perdão,<br />

uma nova maneira de aproximar-se das relações com um mesmo, com os outros, com a<br />

natureza e com Deus está em jogo. Estas páginas nossas foram pedidas como um<br />

avental –marcadamente um ensaio breve, umas notas introdutórias gerais- daqueles<br />

estudos exegéticos. Com muito prazer, colaboramos em uma obra dos biblistas da<br />

Catalunha, colegas e amigos com os quais o trabalho de estudo se orienta, em definitiva,<br />

à mesma direção: à busca do logos, de um logos que toma o seu sentido da carne da<br />

Palavra. Aqui, advertimos já agora, não falaremos nem biblicamente (exegeticamente)<br />

nem teologicamente (sistematicamente), ainda que não silenciaremos nem o texto<br />

bíblico nem o logos teológico, está claro, quando estes sejam adequados ao discurso<br />

deste ensaio de colaboração e agradecimento.<br />

I. A gratuidade e o perdão.<br />

Perdoar nos diz antes de tudo gratuidade, dar gratuitamente, que provem do<br />

donare per do baixo latim, dar totalmente. O termo perdão parece que surgiu pela<br />

primeira vez em uma tradução latina de uma fábula de Esopo e o podemos encontrar na<br />

linguagem dos trovadores: amarai donc en perdos, isto é, amarei em troca de nada,<br />

26<br />

15

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!