You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
trinitário de Deus: somos imago na medida que transportamos a semelhança do amor<br />
interpessoal de Deus. Com relação à nossa relação de alteridade, a categoria de próximo<br />
leva no terreno do quotidiano a concretude da conformação do ser humano como imago<br />
Dei. Esta aproximação ao outro que o cristianismo considera nuclear à sua<br />
compreensão do ser humano e que determina o cristianismo como religião de ligações<br />
pessoais (com Deus e com os outros) comporta uma permanente atualização desta<br />
aproximação ao outro e, neste sentido, exige repensar e concretizar permanentemente o<br />
perdão como praxis de relação interpessoal e, em paralelo, a justiça como exigência<br />
também desta praxis de inter-relação, de aproximação do outro. A aproximação do<br />
outro (de todo outro) é o núcleo do movimento inter-relacional que tende à comunhão<br />
com o outro (com todo outro). É paradigmático neste sentido o texto de Lucas<br />
transmitido na parábola do bom samaritano (Lc 10,25-37). Nele mostra-se bem<br />
claramente o duplo movimento (o de afastamento e o de aproximação) frente ao outro e<br />
a posição inconfundível de Jesus de opção pela aproximação até o outro e de rechaço do<br />
afastamento em respeito do outro. Os comentaristas, alguns, tal como nos é referido<br />
pela nota b no texto da Bíblia catalã interconfessional, v. 32:<br />
Opinam que o sacerdote e o levita consideram o homem morto e evitam contrair<br />
impureza ritual tocando um cadáver, por isso se afastam.<br />
Relacionam o texto de Lucas com o Levítico do Antigo Testamento. Com efeito,<br />
em Lv 22,3 lemos que «nas gerações futuras, aquele descendente vosso que se<br />
aproxime, em estado de impureza ritual, das oferendas santas [...]» e em 22,4<br />
determinam-se os estados de impureza, o de tocar um cadáver, por exemplo. O<br />
movimento de afastamento, de interposição de distância em relação àquilo que é<br />
sagrado é legislado bem claramente no judaísmo. Jesus de Nazareth reclama a<br />
aproximação do outro, do outro que pode parecer inclusive um cadáver, desfigurado,<br />
irreconhecível, abandonado na sua solidão à beira do caminho. Somente a aproximação<br />
do outro (irreconhecível) é aproximação de Deus. Este é o núcleo do cristianismo: um<br />
movimento de aproximação do outro irreconhecível que estabelece com o outro relações<br />
de próximo. No v. 36 Jesus diz:<br />
Quem destes três te parece que se comportou como próximo do homem que caiu em<br />
mãos dos bandoleiros?<br />
E o mestre da Lei de Lucas diz (v. 37): |<br />
«Quem o tratou com amor».<br />
O mestre da Lei sabe o que é o amor e sabe que aquilo era um trato de amor. A<br />
aproximação do outro é amor, mais quando o outro já quase nem o reconhecemos como<br />
o outro, maltratado como foi pelo trato inumano de bandoleiros, sacerdotes e levitas.<br />
Todo este movimento de aproximação que o cristianismo faz motor da sua compreensão<br />
das relações humanas com o outro é um movimento de aproximação a algo que é<br />
relativamente próximo. O homem que ia de Jerusalém a Jericó, pelo caminho que<br />
atravessava o deserto de Judéia, fica malferido à beira do caminho, no qual a vista o<br />
cobria: a distância era pouco mais da largura do caminho, muito próxima, pois. A<br />
40<br />
33