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PERDOAR

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anos, cresce inevitavelmente a desorientação, porque os referentes que constituíam até<br />

agora o mundo (e o mundo de cada um, de cada indivíduo e de cada grupo social) se<br />

trasladaram ou até foram destruídos. Construir e construir-se um mundo neste momento<br />

de abalos, em que os vínculos entre o passado, o presente e o futuro se reformulam e se<br />

atualizam, é um trabalho que deve ocupar boas horas do tempo presente. Abandonar a<br />

edificação de um mundo (de um mundo novo) significa algo parecido a deixar de viver,<br />

a adotar uma atitude de rejeição do presente. Na atualidade os problemas são já<br />

decididamente de todos, mais que em qualquer outro momento da história da<br />

humanidade. Tratá-los pede uma disposição ética que tente se fundamentar mesmo na<br />

realidade e que considere a sua reflexão com uma visão universal. Neste sentido resulta<br />

enormemente interessante a obra do Dr. Jordi Corominas publicada com o título de<br />

Ética primera. Aportación de X. Zubiri al debate ético contemporáneo. 32 Nela podemos<br />

ler:<br />

Se hoje constituímos uma única sociedade mundial, os direitos e deveres mais anódinos<br />

que regem no interior dos estados são exigíveis mundialmente e a aspiração a uma<br />

cidadania mundial é menos uma utopia que um direito escamoteado às grandes maiorias<br />

da humanidade. Se conformarmos uma única sociedade | mundial, as repercussões dos<br />

atos quotidianos naqueles que vivem em culturas substancialmente ou totalmente<br />

diferentes da nossa podem ser tão ou mais relevantes moralmente que aqueles que<br />

afetam o âmbito local ou cultural próprio. Mas de um universalismo fático não se pode<br />

desprender um universalismo moral. Aquilo que mais se segue deste fato é a crítica de<br />

determinados tipos de relativismo ético que o escondem e a necessidade de uma ética<br />

mundial" (p. 36).<br />

No momento presente, pois, as relações humanas mais que nunca têm de ser<br />

tomadas em consideração para fazê-las acontecer, em meio destes processos de gestação<br />

de um mundo novo, nós desta rede de conexões que abrangem a humanidade inteira.<br />

Somente na consideração e no respeito às pessoas na sua unicidade e dos povos e das<br />

culturas na sua especificidade podem se estabelecer laços sólidos de universalidade. Na<br />

situação presente, tão itinerante, surgem e agravam-se muitos problemas que pedem um<br />

trato que faça possível o estabelecimento justo e pacífico de relações humanas de<br />

autêntica comunhão entre os homens e as mulheres e entre os povos entre si. O olhar ao<br />

mundo nos fala de realidades insuportáveis (e às quais nos temos habituado de forma<br />

vergonhosa) que pedem atuações justas e pacificadoras para refazer as relações de<br />

humanidade. Os exemplos seriam intermináveis e afetam os mais diversos âmbitos: a<br />

dívida do terceiro mundo e a erradicação em geral da pobreza, a pacificação de muitas<br />

zonas do planeta que vivem em um clima de permanente ou esporádica violência, bélica<br />

ou não, os conflitos que são abordados com terror e com morte por parte dos que se<br />

opõem entre si, etc. Em um mundo ferido na sua radical busca de vida, de sentido, de<br />

humanidade,... cumpre reservar espaços e tempos generosos para a cura do mal e o<br />

aprendizado do bem.<br />

Perdoar, como atuação decidida dos homens e das mulheres que compartilham<br />

uma tarefa comum de construção de um mundo mais habitável, mais humano e<br />

humanizador, deveria se tornar primeiro uma disposição sincera e depois uma realidade<br />

32 J. COROMINAS, Ética primera. Aportación de X. Zubiri al debate ético contemporáneo, Bilbao: Desclée<br />

2000.<br />

42<br />

35

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