A natureza da moral de Hume - CFH
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um caráter que ele qualifica como sendo uma ‘revolução Copernicana em<br />
filosofia’. Segundo Capaldi, esta revolução consiste no fato <strong>de</strong> <strong>Hume</strong> ter<br />
abandonado o individualismo epistemológico, e ter assumido a reflexão <strong>de</strong><br />
uma perspectiva ao mesmo tempo prática e social. De acordo com Capaldi,<br />
segundo a perspectiva clássica ‘os seres humanos eram concebidos como<br />
sujeitos pensantes isolados em contraste com um mundo <strong>de</strong> objetos. O<br />
<strong>de</strong>ver <strong>de</strong>stes... era concebido como um <strong>de</strong>ver teórico, a saber, <strong>de</strong>scobrir<br />
como o mundo dos objetos realmente é’ (Capaldi, 1989, 22). Mas, segundo<br />
Capaldi, <strong>Hume</strong>, por outro lado, refletindo em termos <strong>de</strong> uma perspectiva<br />
prático-social, “concebeu os seres humanos fun<strong>da</strong>mentalmente como<br />
agentes, como criadores, imersos ao mesmo tempo num mundo físico e num<br />
mundo social junto com outros agentes. <strong>Hume</strong> consi<strong>de</strong>rou que o <strong>de</strong>ver<br />
principal dos homens era prático, não teórico. Esta não é somente uma<br />
mu<strong>da</strong>nça radical <strong>de</strong> perspectiva, mas é uma visão intrinsecamente social do<br />
homem. Ao invés <strong>de</strong> tentar examinar nosso processo <strong>de</strong> pensamento na<br />
esperança <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir princípios racionais que po<strong>de</strong>riam ser aplicados para<br />
coman<strong>da</strong>r nossa ação, <strong>Hume</strong> inverteu o procedimento. Ele começou com<br />
nossa prática, nossa ação, e buscou extrair <strong>de</strong>la as normas sociais<br />
inerentes” (Capaldi, 1989, 23).<br />
A revolução copernicana promovi<strong>da</strong> por <strong>Hume</strong> se caracterizaria,<br />
segundo Capaldi, pela “rejeição <strong>da</strong> perspectiva do eu penso em que os<br />
seres humanos aparecem como sujeitos colocados diante <strong>de</strong> um mundo<br />
objetivo e no qual os seres humanos <strong>de</strong>frontam-se com uma tarefa<br />
principalmente teórica”, a favor <strong>da</strong> “perspectiva do nós fazemos, em que os<br />
seres humanos são interpretados como agentes que interagem com o<br />
mundo e o mol<strong>da</strong>m, assim como a si mesmos, e em que nossa principal<br />
tarefa é prática” (Capaldi, 1989, 269). Para aju<strong>da</strong>r a esclarecer sua posição,<br />
Capaldi diz que no século XX os filósofos mais próximos <strong>de</strong> exemplificar a<br />
‘perspectiva do nós fazemos’ incluem Dewey, Hei<strong>de</strong>gger, Ortega e o<br />
segundo Wittgenstein. E, entre os filósofos morais e sociais que mais se<br />
aproximariam <strong>da</strong> concepção <strong>de</strong> explicação <strong>de</strong> <strong>Hume</strong> estariam Oakeshott,<br />
Hayek e Ortega y Gasset. (Capaldi, 1989, 359).<br />
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