A natureza da moral de Hume - CFH
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auto-interessado por luxo e felici<strong>da</strong><strong>de</strong>. A competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a inveja, a paixão<br />
pelo luxo, e a ambição pelo sucesso pessoal, são todos vícios. Em suma,<br />
segundo Man<strong>de</strong>ville, ca<strong>da</strong> pessoa agiria “<strong>de</strong> modo vicioso” tendo em vista a<br />
melhoria pessoal, e assim inadverti<strong>da</strong>mente, acabaria promovendo o bem-<br />
estar <strong>de</strong> todos (Cf. Beauchamp, 1998, 20).<br />
Como Hobbes, Man<strong>de</strong>ville sustenta que o homem não é um animal<br />
naturalmente sociável. Segundo ele, “nenhuma espécie <strong>de</strong> animal, sem o<br />
freio <strong>de</strong> um governo, é menos capaz do que o homem <strong>de</strong> viver por muito<br />
tempo em harmonia em grupos numerosos” (in: Raphael, 1969, 263); e<br />
ain<strong>da</strong>, que “tratando-se, porém, <strong>de</strong> um animal tão extraordinariamente<br />
egoísta e obstinado quanto astucioso, embora possa ser domado por força<br />
superior, é impossível que somente esta o torne dócil e capaz <strong>de</strong><br />
aperfeiçoamento” (in: Raphael, 1969, 263). Man<strong>de</strong>ville então apresenta uma<br />
hipótese engenhosa. “Portanto, a coisa principal em que os legisladores e<br />
outros homens <strong>de</strong> saber se empenharam, em seus esforços no sentido do<br />
estabelecimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, consistiu em fazer com que as pessoas a<br />
que têm <strong>de</strong> governar acreditem ser mais benéfico para todos dominar os<br />
apetites em vez <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r-lhes, e muito preferível aten<strong>de</strong>r ao interesse<br />
público do que ao que, aparentemente, era o interesse privado <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um”<br />
(in: Raphael, 1969, 263). Mas como perceberam que não seria fácil fazer as<br />
pessoas acreditarem nisso e que eram incapazes <strong>de</strong> <strong>da</strong>r a elas reais<br />
recompensas pelas ações <strong>de</strong> espírito público, inventaram uma recompensa<br />
imaginária pela abnegação, uma recompensa que na<strong>da</strong> custaria a ninguém,<br />
que era a <strong>de</strong> louvar e lisonjear. Os sábios compreen<strong>de</strong>ram que todos os<br />
seres humanos são extremamente suscetíveis à lisonja, e ao louvar as<br />
ações <strong>de</strong> espírito público como nobres e racionais, e con<strong>de</strong>nar as puramente<br />
egoístas como bestiais e <strong>de</strong>sumanas, persuadiram as pessoas a controlar<br />
suas tendências egoístas em benefício geral <strong>de</strong> seus membros. Em<br />
particular, estabeleceram um contraste entre dois tipos <strong>de</strong> homens: o<br />
primeiro, <strong>de</strong>sprezível, vulgar, que está sempre procurando o prazer imediato,<br />
incapaz <strong>de</strong> abnegação, sem qualquer respeito para com o bem dos outros; o<br />
segundo, elevado, criatura corajosa, livre do egoísmo, colocando acima <strong>de</strong><br />
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