A natureza da moral de Hume - CFH
A natureza da moral de Hume - CFH
A natureza da moral de Hume - CFH
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Em outro lugar, <strong>Hume</strong> novamente resume as principais idéias dos<br />
racionalistas dizendo que eles sustentam que “a virtu<strong>de</strong> não é senão uma<br />
conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a razão”; que existe nas próprias coisas e ações uma<br />
“eterna a<strong>de</strong>quação ou ina<strong>de</strong>quação e que esta é a mesma para todo ser<br />
racional que a contemple”. Além disso, que “os critérios imutáveis do certo e<br />
do errado impõem uma obrigação não apenas para as criaturas humanas,<br />
mas também para a própria divin<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Ain<strong>da</strong> segundo <strong>Hume</strong>, todos os<br />
sistemas racionalistas “coinci<strong>de</strong>m em afirmar que a <strong>moral</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>, como a<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, é discerni<strong>da</strong> por meio <strong>de</strong> idéias, por sua justaposição e<br />
comparação” (T 3.1.1.4). Numa outra passagem <strong>Hume</strong> lembra ain<strong>da</strong> que os<br />
racionalistas sustentam que existem regras ou valores morais a priori (Cf. T<br />
3.1.1.26).<br />
Na Investigação <strong>Hume</strong> também menciona algumas <strong>da</strong>s principais<br />
idéias dos racionalistas, afirmando, <strong>de</strong>ntre outras coisas, que, segundo<br />
estes, a relação que as ações comportam com os padrões éticos (se se<br />
correspon<strong>de</strong>m ou não se correspon<strong>de</strong>m) é tão auto-evi<strong>de</strong>nte como as<br />
relações matemáticas (Cf. EPM Apêndice 1.9).<br />
Nestes resumos que <strong>Hume</strong> oferece do racionalismo po<strong>de</strong>mos ver<br />
referências claras a algumas <strong>da</strong>s principais idéias <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong>s por autores<br />
como Clarke, Locke, Wollaston, entre outros, que consi<strong>de</strong>ravam que a<br />
<strong>moral</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> pela razão.<br />
Para melhor compreen<strong>de</strong>rmos os motivos <strong>da</strong>s críticas <strong>de</strong> <strong>Hume</strong> ao<br />
racionalismo, cuja exposição faremos mais adiante (Cf. 2.1), vejamos agora<br />
alguns <strong>de</strong>talhes adicionais acerca <strong>da</strong> concepção racionalista.<br />
Comecemos com Locke. Em seu Ensaio acerca do entendimento<br />
humano (1690), Locke afirmou que as regras morais constituem “as mais<br />
óbvias <strong>de</strong>duções <strong>da</strong> razão humana” (Ensaio, 1.3.12). Ele falou <strong>de</strong> uma<br />
<strong>moral</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrativa (i<strong>de</strong>m 1.3.4); que a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s regras morais<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> certos princípios dos quais elas ‘<strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>duzi<strong>da</strong>s”; que com<br />
uma <strong>de</strong>finição “o sentido exato <strong>da</strong>s palavras morais po<strong>de</strong> ser conhecido”<br />
(i<strong>de</strong>m 3.11.17). Para Locke, assim como “o matemático somente consi<strong>de</strong>ra a<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s pertencentes a um retângulo, ou círculo, tal como<br />
⎯ 24 ⎯