30.04.2013 Views

sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

— Não, só em estátuas – disse eu.<br />

— Bom, acha que gostaria <strong>de</strong> me ver? [...]<br />

— Bom, está bem, acho que sim – disse eu. [...]<br />

Buddy parecia magoado por eu não ter falado nada.<br />

— Acho que você <strong>de</strong>via se acostumar a me ver assim. Agora <strong>de</strong>ixa eu ver<br />

você — disse.<br />

Mas tirar a roupa na frente <strong>de</strong> Buddy <strong>de</strong> repente me pareceu como tirar<br />

uma foto-anatomia na faculda<strong>de</strong>, [...]<br />

— Ah, <strong>de</strong>ixa para outro dia – disse eu.<br />

— Está bem. — E Buddy se vestiu outra vez<br />

Aí nos beiijamos, [...] De repente, perguntei:<br />

— Já teve um caso com alguém, Buddy?<br />

Não sei o que me fez falar isso, as palavras simplesmente saíram da minha<br />

boca. Nunca imaginei, nem por um minuto, que Buddy Willard fosse capaz<br />

<strong>de</strong> ter um caso com alguém. Esperava que ele fosse dizer: ‗Não, quero me<br />

guardar para quando casar com alguém pura e virgem como você‘.<br />

Mas Buddy não disse nada, só enrubesceu.<br />

— Então, teve?<br />

— O que você quer dizer com um caso? – Buddy perguntou, baixo.<br />

— Ora, já foi para a cama com alguém? [...]<br />

— Bem, tive sim – disse Buddy, finalmente.<br />

Quase <strong>de</strong>smoronei. Depois daquela primeira noite em que Buddy Willard<br />

me beijou e disse que, pelo jeito, eu saía com muitos rapazes, me senti<br />

muito mais sensual e experiente do que ele e que tudo que me fazia —<br />

acariciar, beijar e abraçar — era apenas o que eu provocava nele, e ele não<br />

conseguia se controlar e também não sabia a razão daquilo.<br />

Agora eu via que ele estava apenas fingindo o tempo todo que era tão<br />

ingênuo. [...] O que eu não agüentava era Buddy fingir que eu era tão<br />

sensual e ele tão puro, se o tempo inteiro estava tendo um caso com aquela<br />

garçonete azeda e, <strong>de</strong>certo, rindo da minha cara. [...] Bom, eu tinha<br />

acabado <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir largar Buddy Willard para sempre, não só por ele ter<br />

dormido com a garçonete, mas por não ter sido honesto para assumir o que<br />

fez na frente <strong>de</strong> todo mundo e encarar aquele comportamento como parte<br />

<strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>. [...] Pensei que a tuberculose <strong>de</strong>via ser apenas um<br />

castigo por levar aquela vida dupla e se achar tão superior às outras<br />

pessoas. 53<br />

Esther reage negativamente ao fato <strong>de</strong> Buddy ter um caso com a garçonete,<br />

não somente uma vez, mas muitas outras, o que para ela vinha confirmar suas<br />

perspectivas em relação à sexualida<strong>de</strong>. Esther gostaria <strong>de</strong> assumir a personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Doreen, porém i<strong>de</strong>alizava um senso moral sobre sua sexualida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong> Buddy, Esther<br />

achava que Buddy não era mais o herói que romantizou. Ele era sórdido, pois<br />

acreditava que Esther po<strong>de</strong>ria ser sua esposa e ao mesmo tempo lhe confi<strong>de</strong>nciar suas<br />

investidas amorosas. De fato, Esther não estava preparada para lidar com as duas<br />

faces <strong>de</strong> Buddy, ela não consi<strong>de</strong>rava que esses ambos aspectos pu<strong>de</strong>ssem existir na<br />

53 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 68-69; 76-78, 80-81.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!