sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina
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me <strong>de</strong>u sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> casa. Comparado com ele, o caranguejo parecia sem<br />
graça. — Como foi o <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> casacos <strong>de</strong> pele? — perguntei para Betsy,<br />
quando não estava mais preocupada que as outras comessem meu caviar.<br />
Raspei com minha colher <strong>de</strong> sopa os últimos ovinhos negros e salgados do<br />
prato e <strong>de</strong>ixei-o limpo. 130<br />
A avareza <strong>de</strong> Esther não está em tirar o que é do outro, e sim arrecadar para si<br />
o que os outros não querem mais, claro que ela toma todos os cuidados para que tudo<br />
dê certo no final. No próximo exemplo Esther narra sobre a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za dos alimentos<br />
em contrapartida, como uma espécie <strong>de</strong> crítica, recorda os almoços <strong>de</strong> domingo na<br />
casa da avó. Citamos:<br />
Antes <strong>de</strong> almoçarmos na Ladie´s Day — a importante revista feminina que<br />
publicava belas páginas duplas cheias <strong>de</strong> pratos com comidas e cores,<br />
mostrando a cada mês um tema diferente, num lugar diferente —,<br />
percorremos as enormes e brilhantes cozinhas e vimos como é complicado<br />
fotografar uma torta <strong>de</strong> maçã à la mo<strong>de</strong> sob refletores: o sorvete vai<br />
<strong>de</strong>rretendo, precisa ser levantado por trás com palito e trocado cada vez<br />
que fica muito aguado.Toda aquela comida exposta nas cozinhas me<br />
<strong>de</strong>ixou tonta. Não que não tivéssemos muito o que comer em casa, mas<br />
minha avó só comprava carne <strong>de</strong> segunda, fazia bolo <strong>de</strong> carne e tinha<br />
mania <strong>de</strong> dizer, na hora que você dava a primeira garfada, ―espero que<br />
esteja bom, custa quarenta centavos o quilo‖, por isso eu sempre achava<br />
que estava comendo moedas em vez do assado <strong>de</strong> domingo. 131<br />
O que torna a narrativa engraçada parece feito na medida para os temas<br />
chocantes do romance, o qual na persona <strong>de</strong> Esther engraçada e <strong>de</strong>liberadamente fora<br />
<strong>de</strong> seu juízo adiciona uma pitada <strong>de</strong> sordi<strong>de</strong>z e humor ácido à narrativa, Esther diz:<br />
―Eu já tinha lido nos jornais sobre pessoas que tentaram se matar, mas acabaram<br />
atingindo um nervo importante e ficaram paralíticas, ou arrebentaram o rosto, mas,<br />
graças aos cirurgiões e a uma espécie <strong>de</strong> milagre, não conseguiram morrer. Era muito<br />
arriscado usar uma arma‖. 132 E Esther prossegue:<br />
A casa da minha avó era num lindo estilo século <strong>de</strong>zenove, com quartos<br />
amplos, can<strong>de</strong>labros sobre sólidas peanhas, armários altos com cabi<strong>de</strong>iros<br />
e um sótão on<strong>de</strong> ninguém jamais entrava, cheia <strong>de</strong> trambolhos, gaiolas <strong>de</strong><br />
papagaio, manequins <strong>de</strong> costureira e vigas grossas como lastro <strong>de</strong> navio.<br />
Mas era uma casa antiga, minha avó ven<strong>de</strong>u-a e eu não conhecia mais<br />
130 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 34-35.<br />
131 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 33.<br />
132 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 171.