30.04.2013 Views

sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

me <strong>de</strong>u sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> casa. Comparado com ele, o caranguejo parecia sem<br />

graça. — Como foi o <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> casacos <strong>de</strong> pele? — perguntei para Betsy,<br />

quando não estava mais preocupada que as outras comessem meu caviar.<br />

Raspei com minha colher <strong>de</strong> sopa os últimos ovinhos negros e salgados do<br />

prato e <strong>de</strong>ixei-o limpo. 130<br />

A avareza <strong>de</strong> Esther não está em tirar o que é do outro, e sim arrecadar para si<br />

o que os outros não querem mais, claro que ela toma todos os cuidados para que tudo<br />

dê certo no final. No próximo exemplo Esther narra sobre a <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za dos alimentos<br />

em contrapartida, como uma espécie <strong>de</strong> crítica, recorda os almoços <strong>de</strong> domingo na<br />

casa da avó. Citamos:<br />

Antes <strong>de</strong> almoçarmos na Ladie´s Day — a importante revista feminina que<br />

publicava belas páginas duplas cheias <strong>de</strong> pratos com comidas e cores,<br />

mostrando a cada mês um tema diferente, num lugar diferente —,<br />

percorremos as enormes e brilhantes cozinhas e vimos como é complicado<br />

fotografar uma torta <strong>de</strong> maçã à la mo<strong>de</strong> sob refletores: o sorvete vai<br />

<strong>de</strong>rretendo, precisa ser levantado por trás com palito e trocado cada vez<br />

que fica muito aguado.Toda aquela comida exposta nas cozinhas me<br />

<strong>de</strong>ixou tonta. Não que não tivéssemos muito o que comer em casa, mas<br />

minha avó só comprava carne <strong>de</strong> segunda, fazia bolo <strong>de</strong> carne e tinha<br />

mania <strong>de</strong> dizer, na hora que você dava a primeira garfada, ―espero que<br />

esteja bom, custa quarenta centavos o quilo‖, por isso eu sempre achava<br />

que estava comendo moedas em vez do assado <strong>de</strong> domingo. 131<br />

O que torna a narrativa engraçada parece feito na medida para os temas<br />

chocantes do romance, o qual na persona <strong>de</strong> Esther engraçada e <strong>de</strong>liberadamente fora<br />

<strong>de</strong> seu juízo adiciona uma pitada <strong>de</strong> sordi<strong>de</strong>z e humor ácido à narrativa, Esther diz:<br />

―Eu já tinha lido nos jornais sobre pessoas que tentaram se matar, mas acabaram<br />

atingindo um nervo importante e ficaram paralíticas, ou arrebentaram o rosto, mas,<br />

graças aos cirurgiões e a uma espécie <strong>de</strong> milagre, não conseguiram morrer. Era muito<br />

arriscado usar uma arma‖. 132 E Esther prossegue:<br />

A casa da minha avó era num lindo estilo século <strong>de</strong>zenove, com quartos<br />

amplos, can<strong>de</strong>labros sobre sólidas peanhas, armários altos com cabi<strong>de</strong>iros<br />

e um sótão on<strong>de</strong> ninguém jamais entrava, cheia <strong>de</strong> trambolhos, gaiolas <strong>de</strong><br />

papagaio, manequins <strong>de</strong> costureira e vigas grossas como lastro <strong>de</strong> navio.<br />

Mas era uma casa antiga, minha avó ven<strong>de</strong>u-a e eu não conhecia mais<br />

130 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 34-35.<br />

131 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 33.<br />

132 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 171.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!