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sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

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Esther escrevia que:<br />

Elaine sentou no jardim <strong>de</strong> inverno usando uma velha camisola amarela<br />

da mãe, à espera <strong>de</strong> que alguma coisa acontecesse. Era manhã calorenta<br />

<strong>de</strong> julho e gotas <strong>de</strong> suor escorriam <strong>de</strong> suas costas, uma a uma como se<br />

fossem insetos se arrastando lentamente. 64<br />

A Elaine <strong>de</strong> Esther, sua protagonista, era ela mesma disfarçada, como bem<br />

falou, mas Esther não conta que sua Elaine faria as mesmas coisas que ela, a<br />

bonequinha em seu pequeno jardim, achava que estava verossímil, mas o que<br />

importava é que estava muito orgulhosa <strong>de</strong> sua escrita. Era do duplo <strong>de</strong> Esther que se<br />

duplicava <strong>de</strong> igual maneira na personagem <strong>de</strong> Elaine. ―Fiquei ali sentada cerca <strong>de</strong><br />

uma hora, tentando pensar no que aconteceria a seguir e, na minha cabeça, a boneca<br />

<strong>de</strong>scalça usando a velha camisola amarela da mãe também estava sentada e olhando<br />

para o nada‖. 65 [sem grifo no original]<br />

A mãe <strong>de</strong> Esther pe<strong>de</strong> para que ela troque <strong>de</strong> roupa:<br />

— Estou escrevendo um romance. Não dá para largar e trocar <strong>de</strong> roupa –<br />

disse eu. Estirei-me no sofá do jardim <strong>de</strong> inverno e fechei os olhos. Dava<br />

para ouvir minha mãe tirando a máquina <strong>de</strong> escrever e os papéis da mesa<br />

<strong>de</strong> jogo e colocando os talheres para o jantar, mas não me mexi.<br />

‘A preguiça escorria como óleo pelo corpo <strong>de</strong> Elaine. Deve ser assim que<br />

fica uma pessoa que pega malária, pensou ela’. [...]<br />

Naquele ritmo, seria um milagre se eu conseguisse escrever uma página<br />

por dia.<br />

Então <strong>de</strong>scobri qual era o problema.<br />

Precisava <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> vida. [...]<br />

Cheguei à conclusão <strong>de</strong> que eu não escreveria mais o romance até ir para a<br />

Europa e ter um amante, e que jamais apren<strong>de</strong>ria uma só palavra <strong>de</strong><br />

taquigrafia. Se jamais apren<strong>de</strong>sse, jamais teria <strong>de</strong> usá-la.<br />

Pensei em passar o verão lendo Finnegans Wake e escrevendo minha<br />

tese. 66 [sem grifos no original]<br />

O duplo no romance A redoma <strong>de</strong> Vidro aparece sob vários aspectos, o<br />

pseudônimo, o elemento máscara usado conotativamente, a duplicação das letras nos<br />

64 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. I<strong>de</strong>m. 1999, p.133.<br />

65 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. I<strong>de</strong>m, 1999, p.133.<br />

66 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p.134-135.

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