sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina
sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina
sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O sorriso <strong>de</strong> Buddy diminuiu.<br />
— Pois é você estava certo. Eu sou neurótica. Não me sentiria bem na<br />
cida<strong>de</strong> nem no campo. 58<br />
Esther acabara <strong>de</strong> confirmar sua doença: ―eu sou neurótica‖ 59 e explicava que<br />
não queria ―uma coisa‖ e ―nem outra‖. A única coisa que Esther queria era sumir<br />
daquele lugar e da frente daquela pessoa que ela nunca reconhecera. Esther, nesse<br />
momento, credita seus impulsos, repressões e <strong>de</strong>sespero a mais uma chegada da<br />
<strong>de</strong>pressão, sente-se sufocada pela atmosfera intelectual que paira sobre a cabeça e<br />
boca <strong>de</strong> Buddy Willard, com seus diagnósticos <strong>de</strong> neuroses ou simplesmente porque<br />
acha que Esther esteja incapaz <strong>de</strong> escolher entre uma coisa e outra, mas Esther em<br />
lampejos <strong>de</strong> sanida<strong>de</strong>, ri loucamente e diz que duas coisas po<strong>de</strong>m se excluir<br />
mutualmente, ou ao mesmo tempo. O que ele quer dizer com essa metáfora é que, não<br />
sabendo escolher entre duas coisas, ou tendo vonda<strong>de</strong> múltiplas <strong>de</strong> inacabar tudo que<br />
começar a única solução seria a exclusão do seu ser. Esther vê nisso a primeira<br />
tentativa <strong>de</strong> suicídio, <strong>de</strong> que falaremos mais adiante.<br />
Esther não <strong>de</strong>sistiu da idéia <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r sua virginda<strong>de</strong> para <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser quem<br />
ela é, e se tornar outra. Mas em verda<strong>de</strong>, ―Ela quer ser tudo – disse Jay Cee,<br />
brincando‖ 60 . Nessa tentativa <strong>de</strong> ser tudo e não conseguir ser alguma coisa, a<br />
ansieda<strong>de</strong>, insatisfação tornam-se terrenos movediços, é um querer estar lá e cá.<br />
Doreen apresenta Marco para Esther, porém Marco não passa <strong>de</strong> uma segunda<br />
personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Buddy Willard, só que mais cruel e violento. Marco tenta estuprar<br />
Esther, que por algum momento não se resigna, pois consi<strong>de</strong>ra que ele seja a extensão<br />
violenta <strong>de</strong> Buddy. Marco avança em Esther, a agri<strong>de</strong> e se torna puro e violento<br />
quando Esther <strong>de</strong>siste da idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser virgem, <strong>de</strong>volve toda a violência a<br />
58 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p. 103-104.<br />
59 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p.104.<br />
60 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p.113.