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sandra bernardes puff - Universidade Federal de Santa Catarina

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Ainda um exemplo aos simples <strong>de</strong> coração, ou seja, ora <strong>de</strong>monstram-se puros,<br />

ora falam <strong>de</strong> si com uma certa naturalida<strong>de</strong> que só ocorrem às crianças. Assim fala<br />

Esther: ―Quebrei a casca <strong>de</strong> um amendoim do pacote <strong>de</strong> <strong>de</strong>z centavos que tinha<br />

comprado para dar aos pombos, e comi. Tinha gosto <strong>de</strong> velho, parecia um pedaço <strong>de</strong><br />

casca <strong>de</strong> árvores‖. 128 Esther acaba comendo a comida dos pombos, talvez não fosse a<br />

fome, e sim a gula. Muitos momentos do romance narram a fome, a gula, a avareza <strong>de</strong><br />

Esther com assunto relacionado à comida. Selecionamos alguns. Este sobre a comida<br />

mostra a Esther satisfeita em falar sobre o assunto.<br />

Antes <strong>de</strong> vir para Nova York, jamais tinha ido a um restaurante elegante.<br />

Não consi<strong>de</strong>ro o Howard Johnson´s porque lá eu só comia batata frita,<br />

hambúrgueres e frappés <strong>de</strong> baunilha, acompanhada <strong>de</strong> gente como Buddy<br />

Willard. Não sei direito porque a coisa que mais gosto no mundo é comida.<br />

E posso comer o quanto quiser, não engordo. Com excessão <strong>de</strong> uma vez,<br />

há <strong>de</strong>z anos tenho o mesmo peso. Meus pratos preferidos têm muita<br />

manteiga, queijo e creme <strong>de</strong> leite. Em Nova York tínhamos tantos convites<br />

para almoços com a equipe da revista e com gente famosa que fiquei com<br />

mania <strong>de</strong> passar os olhos por aqueles longos cardápios manuscritos —<br />

on<strong>de</strong> uma entradinha <strong>de</strong> ervilha custa cinqüenta ou sessenta centavos —,<br />

escolher os pratos mais sofisticados e caros e pedir vários. Nós sempre<br />

saímos com as <strong>de</strong>spesas pagas, por isso não dava para me sentir culpada. E<br />

<strong>de</strong>scobri um jeito <strong>de</strong> comer tão rápido que quem estava comigo não tinha<br />

<strong>de</strong> esperar terminar — eram pessoas que costumavam pedir salada do chef<br />

e suco <strong>de</strong> grapefruit porque estavam querendo emagrecer. Quase todo<br />

mundo que eu conhecia em Nova York estava querendo emagrecer. 129<br />

Ao falar da comida Esther <strong>de</strong>ixa uma pontinha <strong>de</strong> ironia àqueles que não po<strong>de</strong>m<br />

comer o quanto gostariam, ainda assim uma ironia sutil. Mas, se o assunto ainda é comida<br />

Esther po<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar sua face avarenta frente aos <strong>de</strong>liciosos pratos e pra quem quiser<br />

ver. Outro exemplo:<br />

Nenhum editor nem ninguém da equipe da Ladie´s Day sentou perto <strong>de</strong><br />

mim, e Betsy parecia meiga e simpática, não tinha cara <strong>de</strong> gostar <strong>de</strong> caviar,<br />

por isso fiquei mais tranqüila. Quando terminei meu primeiro prato <strong>de</strong><br />

frango frio e caviar, arrumei outro. Depois ataquei o abacate com salada <strong>de</strong><br />

caranguejo. Abacate é minha fruta preferida. Todo domingo meu avô me<br />

trazia um, escondido no fundo da mala, embaixo <strong>de</strong> seis camisas sujas e<br />

das revistas em quadrinhos dominicais. Ele me ensinou a misturar geléia<br />

<strong>de</strong> uva e molho francês numa panela para rechear o abacate. Esse molho<br />

128 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p.150.<br />

129 PLATH, Sylvia. A redoma <strong>de</strong> vidro. Ibid., 1999, p.32

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