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A ORGANIZAO INCONFORMISTA: Como identificar e transformar ...

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

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A ORGANIZAÇÃO <strong>INCONFORMISTA</strong>: como <strong>identificar</strong> e <strong>transformar</strong> mentes<br />

INTRODUÇÃO<br />

revolucionárias em um diferencial competitivo<br />

Celso José de Campos, D.Sc.<br />

cjcampos@uol.com.br<br />

Nos últimos anos do século que se encerrou, uma revolução com base na informação<br />

transformou nosso modo de pensar, produzir, consumir, negociar, administrar, comunicar,<br />

viver, etc. Formou-se aí uma economia global dinâmica no planeta, ligando pessoas e<br />

atividades importantes de todo o mundo. Uma cultura construída em torno de um universo<br />

virtual cada vez mais interativo. O espaço e o tempo, bases materiais da experiência<br />

humana, sofreram transformações profundas em comparação com o tempo cronológico<br />

da era industrial. Diante do turbilhão da globalização e com o abalo dos alicerces culturais<br />

e geopolíticos do mundo, o destino dos países dependerá da transição ao<br />

informacionalismo (Castells, 1999).<br />

Sabemos também que a tendência mundial hoje aponta para a competitividade total,<br />

e as organizações, por sua vez, deixaram de ser um mecanismo em que o homem é visto<br />

como mera peça da sua engrenagem. Isso se verifica devido a superespecialização ter-se<br />

tornado um fator de entrave ao desenvolvimento das organizações, ao contrário do que se<br />

pregava até bem pouco tempo. Quando os mercados mudam, as tecnologias proliferam,<br />

os concorrentes se multiplicam e os produtos se tornam obsoletos, quase que da noite<br />

para o dia. As organizações de sucesso são aquelas que criam sistematicamente novos<br />

conhecimentos, disseminam-nos pela organização inteira e rapidamente os incorporam<br />

em novas tecnologias e produtos. Tais atividades definem a empresa “criadora de<br />

conhecimento”, cujo único negócio é a inovação contínua. Tornar o conhecimento pessoal<br />

disponível para os outros é a atividade central da empresa criadora do conhecimento.<br />

Atualmente o novo conceito formulado para as organizações é o de se revelar como um<br />

núcleo de ensino e aprendizado, em que o fluxo da informação fluirá em uma rede de<br />

comunicação intensa de trocas, onde se ensina e se aprende ininterruptamente. Esse<br />

núcleo, basicamente funcional, deve traduzir um verdadeiro compromisso das<br />

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organizações para com os seus membros, clientes, fornecedores, acionistas, enfim, para<br />

com todos os grupos de interesse na organização. Entretanto, as organizações jamais se<br />

tornarão definitivamente educadas. Estão sempre aprendendo e ensinando.<br />

<strong>Como</strong> o conhecimento aumenta cada vez mais em cada vez menos tempo, as<br />

organizações, nesse caso, precisam aprender cada vez mais em cada vez menos tempo.<br />

Esse aprendizado só tem sentido quando ocorre mais rápido do que a concorrência.<br />

Porém, será preciso não só aprender, mas aprender melhor e continuamente. Isso<br />

significa assumir uma nova postura: participar ativamente no que está acontecendo e, a<br />

partir daí, seguir fazendo mais e melhor, no menor tempo. Convém salientar, portanto,<br />

que o conhecimento novo sempre começa no indivíduo e é transformado em<br />

conhecimento organizacional. Porém, conforme nos explica Alencar (1996), o<br />

conhecimento tem se tornado obsoleto em um período muito curto de tempo, exigindo<br />

uma aprendizagem contínua e permanente. <strong>Como</strong> é impossível prever o conhecimento<br />

que será necessário no futuro, torna-se indispensável o desenvolvimento de habilidades<br />

que ajudem o indivíduo a se adaptar com facilidade ao novo e às circunstâncias marcadas<br />

pela mudança, pela incerteza e pela complexidade. Nesse cenário, um conjunto de<br />

competências torna-se necessário, sobretudo no que diz respeito à capacidade de<br />

pensar, de resolver novos problemas e implementar novas ações. Não há dúvida de que o<br />

mundo de amanhã será significativamente diferente daquele em que hoje vivemos. Muitas<br />

das profissões atuais desaparecerão e outras que, sequer imaginamos, exigirão<br />

habilidades, destrezas, atitudes e informações que atualmente não somos capazes de<br />

antecipar. Diante da perspectiva de novos problemas e desafios, que tendem a surgir de<br />

forma cada vez mais rápida, a demanda crescente, por soluções originais, é um fato.<br />

Quando os funcionários inventam novos conhecimentos, eles estão também<br />

reinventando a si mesmos, a organização e até mesmo o mundo. De fato, a criação de<br />

conhecimento novo é produto da interação dinâmica entre o indivíduo e sua organização.<br />

O resultado é que, quando o conhecimento novo é difundido numa organização, seu<br />

significado vai sendo continuamente modificado. Por isso, faz-se necessário o<br />

permanente intercâmbio de conhecimento/energia entre as pessoas que formam a<br />

organização. Daí, a importância do comprometimento dos indivíduos para com sua<br />

organização. Isto significa o compartilhamento de objetivos e valores. Enfim, as<br />

organizações dependem cada vez menos da sua influência política e das aplicações<br />

financeiras e cada vez mais de servir melhor a seus clientes, de maior produtividade e do<br />

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envolvimento das pessoas. Uma estratégia competitiva de sucesso atual pode não ser<br />

mais válida para o futuro. É preciso aumentar continuamente nas organizações sua<br />

capacidade de aprender e inovar.<br />

As novas características ambientais requerem das organizações o desenvolvimento<br />

de novas capacidades se almejarem se alinhar a esse ambiente. Para isso requer-se<br />

mudanças na estrutura e no funcionamento das organizações. Essa estrutura se tornou<br />

possível pelo desenvolvimento de tecnologias de informação e pela necessidade de<br />

profissionais com as mais amplas e, ao mesmo tempo, as mais profundas capacidades.<br />

Caberá as organizações manter os indivíduos como cérebros revolucionários que movem<br />

a sua estrutura. Estes deverão atuar como professores, consultores e solucionadores de<br />

problemas. Todos deverão ser capazes, ou a competitividade das organizações estará<br />

seriamente ameaçada. Esse é o cenário propício para a criação de uma Organização<br />

Inconformista.<br />

Eis, portanto, a importância de uma Organização Inconformista como último baluarte<br />

que nos resta para sobrevivermos num mundo de mudanças, pois só se sustentarão as<br />

pessoas e as organizações que tenham aprendido a aprender de forma eficaz.<br />

<strong>Como</strong> o homem é único diferencial competitivo das organizações nesse ambiente de<br />

turbulência máxima, o funcionário que apresentar mais inconformismo com os processos,<br />

as políticas, os objetivos e as estratégias da organização deverá ser reconhecido como o<br />

de maior potencial a ser explorado.<br />

Com certeza, a aquisição de vantagem competitiva através da capacitação das<br />

pessoas inconformadas na organização reserva desafios com os quais as organizações<br />

não se sentem totalmente à vontade. Uma das razões se deve ao variado conjunto de<br />

aspectos a serem desenvolvidos que vai da capacitação para o exercício de determinadas<br />

tarefas até o questionamento da aquisição de novas atitudes e visões de mundo. Após<br />

constatarem que a capacitação desses profissionais é um caminho consistente para<br />

enfrentar os desafios do presente e do futuro, as empresas brasileiras têm se deparado<br />

com as deficiências de um sistema de treinamento interno ineficaz. Por outro lado,<br />

verificamos também as deficiências de um sistema de ensino básico que contribui para<br />

manter o Brasil nas últimas posições das estatísticas relacionadas à educação.<br />

No entanto, para <strong>transformar</strong>mos uma organização em inconformista precisamos<br />

primeiro estar determinados a trazer à tona e questionar nossos confortáveis modelos<br />

mentais de como "o mundo é". Muitos gerentes estão agora começando a perceber que é<br />

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tempo de realizar mudanças drásticas na nossa maneira de atuar. As pessoas,<br />

profundamente preocupadas em promover tais mudanças e empenhadas em criar os<br />

recursos de uma organização inconformista, vêm trabalhando para esse fim há vários<br />

anos. Porém, a maioria nunca foi reconhecida. Muitos eram chamados de loucos ou<br />

inadequados à organização.<br />

Kramlinger (1992) entende que toda definição para organização deve visar um<br />

grande corpo de indivíduos alinhados, de todos os níveis, que aprendem<br />

espontaneamente e inovam meios que promovam o bem-estar e a missão da<br />

organização.<br />

Afirma o autor que as palavras chaves, nesta definição, são:<br />

- Todos: todo indivíduo na organização está ou atualizado ou potencialmente aprendendo<br />

em nome da organização.<br />

- Espontâneo: aprender não acontece somente de maneira formal. Inovações ocorrem<br />

em qualquer lugar em qualquer tempo sem uma ordem expressa da gerência.<br />

- Alinhado: o aprendizado revolucionário não cria o caos. Melhora a organização como<br />

um todo e serve a seus propósitos coletivos.<br />

Este artigo destina-se às pessoas que, como eu, inconformadas com o convívio de<br />

gestões organizacionais ineficazes visam tornar as suas organizações mais eficazes,<br />

enquanto realizam as suas visões pessoais.<br />

Sabemos que o ser humano vem ao mundo motivado a aprender, a explorar e a<br />

experimentar tudo em sua volta. Infelizmente, em nossa sociedade a maioria das<br />

organizações é mais voltada para o controle que para o reconhecimento de uma nova<br />

idéia. Por isso, conforme salienta Senge (1990): “temos que desaprender para aprender<br />

de novo”. É por meio do indivíduo, permanentemente inconformado, em face da sua<br />

busca pelo autoconhecimento, pela clarificação de seus objetivos pessoais para com a<br />

organização, que se inicia o processo de uma organização inconformista. Sabemos que<br />

toda organização possui um estoque imenso de conhecimentos. Caberia, então,<br />

incentivar as pessoas para, além de explorá-los, buscarem experiências pessoais novas<br />

com esses conhecimentos e aprenderem com essas experiências.<br />

Dessa forma, a organização inconformista visa à construção de capacidades<br />

individuais para criar e romper barreiras, no intuito de liquidar com as maneiras rotineiras<br />

e habituais de pensar e agir.<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

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O funcionário inconformista gera conhecimento revolucionário, o qual serve para<br />

diminuir a incerteza, sendo que o aprendizado e o conhecimento são, ambos, recursos<br />

estratégicos de primeira grandeza cruciais para vantagem competitiva sustentável. Em<br />

ambientes instáveis, em que as mudanças ocorrem com rapidez, a inconformação<br />

explícita e sistemática deve ser a pedra fundamental das estratégias para a manutenção<br />

da adaptação das organizações a seus ambientes. O aprendizado revolucionário, nesse<br />

caso, é tanto o impulso quanto o motor que leva à mudança.<br />

A organização inconformista, neste caso, é apresentada como uma nova proposta<br />

de transformação pela sua habilidade de criar, adquirir e transferir conhecimentos<br />

revolucionários e em modificar comportamentos para refletir as novas perspectivas.<br />

Em suma, as organizações são, na verdade, grupos de pessoas que, responsáveis e<br />

comprometidas, passam a buscar, a trabalhar e a relacionar as informações adquiridas de<br />

tal forma que, somadas, se transformam num grande arquivo de conhecimentos. Por isso,<br />

essa movimentação pelo conhecimento revolucionário sugere uma motivação à<br />

competitividade. Para obter a vantagem competitiva sustentável, a organização<br />

inconformista se vê obrigada a encontrar permanentemente meios de incentivar os seus<br />

funcionários, que dela fazem parte, a gerar informações e conhecimentos revolucionários.<br />

Aliás, todo o esforço colocado para a aquisição de informações e conhecimento<br />

revolucionário só passa a ser válido se levar a alguma ação revolucionária. A ação<br />

revolucionária, rumo à competitividade, é possível na organização inconformista, pelo<br />

comprometimento do seu todo com os objetivos, planos e outros recursos utilizados para<br />

que juntos alcancem o intento desejado. A durabilidade de se manterem competitivas<br />

propõe às organizações inconformistas uma constante adoção de novas formas de<br />

estruturação, de uso de tecnologias, de produtos e serviços revolucionários.<br />

Assim, o presente artigo visa ampliar a capacidade das organizações brasileiras<br />

que atuam ou pretendem atuar em um mercado globalizado, fornecendo um modelo de<br />

organização denominado por nós de inconformista. A razão primordial da utilização do<br />

modelo é reduzir o efeito traumático, movido pelas resistências psicológicas do novo, na<br />

passagem de uma organização tradicional para um modelo de organização<br />

revolucionária.<br />

Este artigo é originado de uma dívida, que aumentava a cada dia, pela cobrança de<br />

credores inquietos: alunos do curso de graduação e pós-graduação. Devido aos inúmeros<br />

questionamentos, levantados nas disciplinas, que leciono em algumas Faculdades de<br />

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Administração do Rio de Janeiro, sentia-me na obrigação de apresentar alternativas de<br />

solução que respondessem aos desafios propostos às organizações contemporâneas<br />

nessa era de incerteza, com a qual convivemos. Ambicionavam esses alunos, quando se<br />

lançassem ao mercado, um mundo de escolhas que facilitasse a adoção de um perfil<br />

gerencial competitivo, no intuito de salvaguardar uma longa sobrevivência profissional. A<br />

expectativa era ainda maior para aqueles que se propunham a abrir seu próprio negócio.<br />

Devido a essa exigência, o meu poder de reflexão ficou todo voltado para o seguinte<br />

questionamento: “Que tipo de modelo de comportamento organizacional responderia<br />

competitivamente a um ambiente incerto e descontinuado, próximo ao caótico?” “E a que<br />

ponto as organizações brasileiras estariam preparadas para a adoção de um modelo de<br />

vantagem competitiva auto-sustentável?” As respostas a essas indagações são o objeto<br />

desse artigo.<br />

Entendemos que as pessoas criam e trabalham em organizações e tentam realizar<br />

um serviço ou atingir um resultado global. Em troca, elas têm a possibilidade de continuar<br />

daquela forma ou desenvolver novas formas. O grau de inconformismo das pessoas<br />

parece descrever a forma como elas querem atingir a um determinado resultado.<br />

Obviamente há centenas de tipos de organizações, mas algumas são melhores nisso do<br />

que outras. <strong>Como</strong> começar a aprender o que é bom, tanto para o indivíduo, quanto para a<br />

organização, em termos de recompensas e resultados?<br />

O inconformismo é fundamental para o sucesso das organizações nessa era de<br />

desafios constantes. Através dele a organização percebe em tempo real qual a mais<br />

adequada estratégia para responder aos desafios apresentados pelo mercado em que<br />

atua.<br />

A organização inconformista, enquanto conceito, é complicada. Na nossa pesquisa<br />

bibliográfica, verificamos a existência de diversas correntes de pensamento, cujos<br />

argumentos se apóiam em abordagens distintas para a criação de uma organização<br />

inconformista. As que mais nos sensibilizou favorecem a abordagem mais aberta e<br />

filosófica, valorizando o conhecimento revolucionário em termos de crescimento pessoal e<br />

a contribuição da organização para a sociedade. Esta última é a nossa visão, onde<br />

julgamos que a ação revolucionária repotência os indivíduos em organizações vistas<br />

como vítimas de mentalidades rígidas de gerentes e grupos dominantes. Nessa<br />

abordagem, os indivíduos são encorajados a adotar posturas que envolvam mais risco e a<br />

enfatizar aspectos informais nos processos organizacionais.<br />

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Seguindo os capítulos apresentados neste artigo e tratando a experiência como<br />

aprendizado individual e organizacional, acreditamos que se terá condições de envolver<br />

todos na organização e a organização como um todo. O conselho é prático e pode ser<br />

adaptado a contextos particulares para a criação de uma Organização Inconformista.<br />

<strong>Como</strong> já afirmamos, este artigo baseia-se na riqueza de conceitos e estudos de<br />

diversos autores e tenta integrar muitas abordagens de práticas aceitas em diversas<br />

pesquisas acadêmicas. Está dividido em quatro partes, a saber:<br />

Na Introdução, falamos sobre os aspectos que explicam e justificam a escolha da<br />

temática desse artigo.<br />

Na Parte I, falamos sobre os aspectos que norteiam a vocação das organizações<br />

para sua adaptação ao ambiente em que convive.<br />

Os tópicos são subdivididos nos seguintes capítulos:<br />

• No capítulo 1 “O Imperativo Ambiental”, verificamos, através da opinião de diversos<br />

autores, que julgamos relevantes para o nosso estudo, o conceito e a importância do<br />

ambiente no comportamento das organizações. Estudamos, também, a necessidade de<br />

as organizações <strong>identificar</strong>em as tendências do macroambiente e se alinharem aos seus<br />

“mercados”. Por fim, analisamos, também, os diversos graus de turbulência desses<br />

ambientes, medidos pela competitividade existente.<br />

• No capítulo 2 “A Organização e sua Constante Necessidade de Aprendizado<br />

Revolucionário”, apresentamos o conceito de organização e suas proposições, como<br />

também a busca permanente de criatividade e inovação no seu interior. Descrevemos<br />

ainda, sobre a importância de a cultura organizacional ser direcionada para a criação de<br />

uma cultura inconformista.<br />

• No capítulo 3 “As Condições Essenciais para a Formação de uma Organização<br />

Inconformista”, descrevemos sobre os traços marcantes de uma cultura conformista e<br />

inconformista. Entendendo o indivíduo como único diferencial competitivo da organização,<br />

mostramos a armadilha em que, ainda, se encontra e sua estrutura emocional, onde se<br />

nega ao crescimento humano. Prosseguimos com as dimensões esquecidas do ser<br />

humano, em que encurralado na superespecialização, apresenta uma perda do<br />

significado do seu trabalho. Mais adiante, propomos a ampliação do conceito do trabalho<br />

e da satisfação humana como um incentivo à produção de mentes revolucionárias na<br />

organização. A partir daí, traçamos os aspectos que formam uma organização<br />

inconformista.<br />

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• No capítulo 4 “A Organização Inconformista: transformadora de mentes<br />

revolucionárias em diferencial competitivo”, apresentamos o seu significado e como o<br />

aprendizado revolucionário deve ser fomentado e difundido como ferramenta vital da<br />

competitividade total. Definimos também um perfil de liderança que conduza a<br />

Organização Inconformista para a criação de conhecimentos revolucionários, voltados<br />

para o desenvolvimento da vantagem competitiva auto-sustentável no mercado.<br />

• Na Parte II, propomo-nos a apresentar o modelo de organização inconformista,<br />

idealizado por esse estudo. Através do capítulo 5 “Descrição de um Modelo de<br />

Organização Inconformista Aplicado a Organizações Brasileiras Emergentes Instituições<br />

Brasileiras Competitivas”, onde apresentamos o modelo de Organização Inconformista,<br />

como proposta de solução para as necessidades das organizações brasileiras que<br />

nasceram ou sobrevivem em função de uma oportunidade detectada no mercado. A<br />

aplicação desse modelo visa instrumentalizar a organização, baseado no aprendizado<br />

contínuo, para responder em qualquer tempo, lugar e situação com ações rápidas e<br />

efetivas que garantam sua sobrevivência competitiva por longo prazo.<br />

• Na Parte III, apresentamos as conclusões finais desse estudo.<br />

PARTE I – A Organização e a sua Vocação Revolucionária<br />

1. O Imperativo Ambiental<br />

Para mudar é necessário um grande amor ou uma grande dor.<br />

“Santo Agostinho”<br />

Neste capítulo, verificaremos o conceito e a importância do ambiente no<br />

comportamento das organizações. Analisamos o grau de impacto do ambiente nos<br />

negócios da organização. Buscamos <strong>identificar</strong> os graus de competitividade dos<br />

ambientes, as oportunidades e as ameaças que eles traduzem e, finalmente, a<br />

necessidade de as organizações se alinharem a eles como razão de sua sobrevivência.<br />

1.1 A Importância do Ambiente: onde tudo começa<br />

Iniciamos o estudo com a exposição de Bowditch e Buono (1992) que, referindo-se<br />

aos estudiosos clássicos da administração, verificaram que as organizações eram vistas<br />

por eles como sistemas relativamente fechados. Defendia-se, naquela época, que a<br />

eficácia e o sucesso dependiam da eficiência das operações internas e que as<br />

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organizações e as políticas administrativas eram criadas para realizar um conjunto estável<br />

de tarefas e metas organizacionais. Pouca atenção, se é que alguma, afirmam eles, era<br />

dedicada à adaptação da organização às mudanças do ambiente externo. Nessa direção,<br />

identificamos em Stoner (1995) a mesma argumentação onde esclarece que as escolas<br />

de administração clássica, comportamental e quantitativa se concentravam em eventos<br />

internos à organização: quantos subordinados cada administrador deve ter, por que<br />

melhorar as condições de trabalho, e que novas tecnologias devem apoiar o processo de<br />

tomada de decisão. Assim, verificamos que as escolas clássicas de administração<br />

menosprezavam a importância do ambiente externo, pois a maioria das organizações da<br />

primeira metade deste século operava em um ambiente relativamente estável e previsível.<br />

Somente através do surgimento da Teoria de Sistemas é que as organizações são vistas<br />

como sistemas abertos que precisam se adaptar a condições externas mutantes para<br />

desempenharem, terem sucesso e até sobreviverem ao longo do tempo de forma eficaz.<br />

Nesse ponto, as organizações mudam sua abordagem de melhor maneira para a<br />

perspectiva contingencial. Ansoff & McDonnel (1993) identificam essa transformação,<br />

salientando: "... a passagem para a orientação de marketing significou uma transição de<br />

uma perspectiva voltada para dentro para uma visão aberta e extrovertida.”<br />

Com essa mudança de foco das organizações, de internalizada para o ambiente em<br />

que convive, julgamos agora importante tentar buscar uma definição para ambiente.<br />

Embora tenhamos encontrado muitas definições do conceito de ambiente, concentramonos<br />

naquelas cujo tema básico é um enfoque nos fatores externos à organização. Uma<br />

definição, por exemplo, sugerida por Bowditch & Buono, trata o ambiente externo das<br />

organizações como "todos os elementos existentes fora dos limites da organização e que<br />

tenham potencial para afetar a organização como um todo ou partes dela". Para os<br />

autores da escola, denominada “Teoria Estruturalista da Administração”, como Amitai<br />

Etizioni, Selznick entre outros, o ambiente significa “tudo o que envolve externamente<br />

uma organização”. Para Stoner, então, uma definição para o ambiente externo, seria<br />

"como todos os elementos fora de uma organização que são relevantes para sua<br />

operação, captando “insumos" (matéria-prima, dinheiro, mão-de-obra e energia) desse<br />

ambiente externo, transformando-os em produtos ou serviços, e em seguida mandandoos<br />

de volta como produtos para o referido ambiente". Com essa breve noção de ambiente,<br />

vamos agora nos preocupar com o alinhamento da empresa para com seu ambiente<br />

específico ou da tarefa, interpretado por muitos como mercado. Nesse ponto, as<br />

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estudiosas em comportamento organizacional, Fiol & Lysle (1985) enfatizam que, pelo<br />

menos todos os teóricos estão convergentes com relação ao alinhamento da organização<br />

com o seu ambiente. Salientam que “… como a maior conveniência do desempenho<br />

organizacional é sobreviver por um longo tempo e crescer, atingir isto requer à<br />

organização um alinhamento com o seu ambiente para permanecer competitiva e<br />

inovativa”. O alinhamento implica, neste caso, que a organização deva ter o potencial<br />

para aprender com o seu mercado. Essa adaptação organizacional é a essência do<br />

comportamento estratégico por que é a chave da interação com as mudanças ambientais<br />

e envolve o processo contínuo de fazer escolhas estratégicas. Sabemos, no entanto que<br />

as organizações estão sendo confrontadas cada vez mais com campos turbulentos,<br />

caracterizados por altos níveis de instabilidade e complexidade. Esses embates com o<br />

ambiente têm trazido efeitos dramáticos nas organizações: concorrência crescente,<br />

aumento da diversificação da força de trabalho, mudança das expectativas do trabalho,<br />

mudança das regulamentações e desregulamentações governamentais, e a diminuição<br />

dos recursos em meio a outras transições ligadas ao trabalho e à sociedade.<br />

O mesmo Stoner nos esclarece que a necessidade de as organizações se alinhar ao<br />

ambiente só é, geralmente, possível, através do processo de planejamento. Afirma que os<br />

administradores desenvolvem e implementam planos estratégicos para guiar as tentativas<br />

da organização de influenciar o comportamento dos stakeholders 1 e seus ajustamentos<br />

ao ambiente de ação indireta. Esses projetos, salienta ele, implicam mudanças na<br />

estrutura formal da organização, que devem ser determinadas por uma estruturação<br />

consciente, de modo que ela enfrente melhor as demandas do meio ambiente num dado<br />

momento. Chamando a nossa atenção para as responsabilidades conseqüentes desse<br />

alinhamento, o autor afirma que os estilos de vida dos consumidores, a demografia dos<br />

empregados e os regulamentos governamentais também estão em mudança e, por isso, a<br />

organização é afetada diretamente. Antigamente, bastava maximizar os lucros que os<br />

administradores caíam na graça dos acionistas; agora, com as pressões provenientes do<br />

ambiente externo as organizações devem se responsabilizar não apenas pelos acionistas,<br />

mas também pela comunidade maior e mais variada dos stakeholders.<br />

Já para Daft & Weick (1984), a natureza desse comportamento interpretativo<br />

depende de dois fatores: o primeiro representa o grau em que o ambiente externo é<br />

percebido como possível de ser analisado e compreendido; o segundo fator é a extensão<br />

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em que a organização adota uma postura ativa ou passiva na busca de informações<br />

sobre o seu ambiente.<br />

Vista a necessidade primordial da organização para se alinhar com o seu ambiente,<br />

cabe, agora, entender como “os ambientes se decompõem”. Para isso recorremos, mais<br />

uma vez, a Bowditch & Buono que nos propõem a seguinte composição: ambiente geral e<br />

ambiente específico. Sobre o ambiente geral da organização, afirmam que se refere aos<br />

fatores, tendências e condições gerais que afetam a todas as organizações, incluindo<br />

coisas, tais como: condições tecnológicas, fatores sociais, interações políticas, condições<br />

econômicas, fatores demográficos, a estrutura legal, o sistema ecológico, fatores de<br />

mercado e condições culturais. Contrastando com a ambigüidade e a incerteza, relativas<br />

ao efeito do ambiente geral numa organização, o ambiente específico (ou da tarefa) é<br />

descrito por eles, como o que enfoca os fatores e as condições externas que tenham<br />

relevância imediata para a organização, incluso, aí, nele, temos: os clientes,<br />

fornecedores, sindicatos, autoridades regulamentadoras, grupos de interesse público,<br />

associações de classe e outros públicos ou entidades relevantes da organização.<br />

Para efeito de elaboração do modelo que vamos propor mais adiante, assumimos<br />

somente quatro fatores que julgamos os principais para a constituição do ambiente<br />

específico, ou seja:<br />

a) os consumidores ou usuários dos produtos ou serviços da empresa (clientes da<br />

empresa);<br />

b) os fornecedores de recursos para a empresa, isto é, os fornecedores de capital,<br />

matéria-prima, recursos humanos, etc.;<br />

c) os concorrentes, tanto para mercados (clientes ou usuários) como para recursos<br />

(materiais, humanos, financeiros etc.);<br />

d) os grupos regulamentadores, incluindo o governo, sindicatos, associações entre<br />

empresas, associações de classe etc.<br />

Com essa maneira de decompor o ambiente, nossa preocupação agora fica voltada<br />

para a compreensão de como o ambiente se manifesta junto às organizações. Bohm<br />

(1980) os auxilia nesta busca, propondo uma "nova noção de ordem" para descrever essa<br />

realidade mais profunda, a "ordem implicada," onde "tudo é envolvido em tudo." Esclarece<br />

ele que só podemos inferir sua presença, pois não existe prova tangível da sua existência,<br />

mas, em última análise, ela pode provar ser vital para um entendimento completo das<br />

1 Stakeholders, segundo Stoner ( 1995), significam os grupos ou indivíduos afetados direta ou indiretamente pela busca<br />

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mudanças profundas de percepção e capacidades das organizações. Do ponto de vista<br />

dele, a ordem implicada está continuamente "desdobrando-se" no que experimentamos<br />

como o mundo manifesto, "a ordem explicada." O estudo desse autor visava a entender<br />

as raízes da fragmentação em nossos modos de pensar e ser. Afirma ele: "… deveria ser<br />

dito que o todo é o que é real e que a fragmentação é a resposta desse todo à ação do<br />

homem".<br />

Foi visto, então, de uma forma bem geral, nessa seção, o impacto do ambiente nas<br />

operações internas de uma organização, direcionando o seu comportamento para um<br />

alinhamento total. Mais adiante, analisaremos os graus de competitividade dos ambientes<br />

e a busca permanente das organizações para um alinhamento eficaz.<br />

1.2 A Intensiva Competitividade no Ambiente Organizacional<br />

Sabemos que, por experiência própria, a partir de 1950, o mundo começa a<br />

<strong>identificar</strong> os tremores de um vulcão a iniciar seu processo de erupção. Ocorre uma<br />

aceleração e uma acumulação de eventos que começaram a alterar as fronteiras, a<br />

estrutura e a dinâmica do ambiente empresarial. As empresas passaram a se defrontar<br />

com desafios novos e imprevistos que eram de alcance tão longo, que justifica a<br />

identificação, proposta por Drucker (1969) que escreveu que o mundo estava entrando<br />

numa "Era de Descontinuidade." Substituindo os incrementos normais e as mudanças<br />

evolucionárias, ele viu um período de significativa descontinuidade – em que o futuro não<br />

é mais uma simples extrapolação do presente, mas sim um lugar reservado para<br />

jogadores diferentes. Resumidamente apresentamos as características, apontadas pelo<br />

mesmo Drucker, dessa nossa era:<br />

• Explosões de novas tecnologias resultando num grande número de novas empresas;<br />

• Uma mudança de economias internacionais para economias globais;<br />

• Um movimento político-social distante das instituições monolíticas e pluralistas;<br />

• Uma nova ênfase no conhecimento como capital central e recurso crítico para a<br />

economia.<br />

Mais drasticamente verificamos em Hamel & Prahalad (1995) o seguinte relato: "...<br />

estamos no limite - e para alguns será a beira de um precipício - de uma revolução tão<br />

profunda quanto a que deu origem à indústria moderna, ou seja, a revolução ambiental, a<br />

revolução genética, a revolução de materiais, a revolução digital e, acima de tudo, a<br />

dos objetivos por parte de uma organização.<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

revolução da informação.” Continuam sua explanação, afirmando que setores<br />

inteiramente novos, hoje ainda em gestação, logo estarão nascendo e se transformando<br />

em megaoportunidades, sendo que muitas delas representam bilhões de dólares em<br />

possíveis receitas futuras. E finalizam com a célebre sentença: "o futuro é agora".<br />

Conhecedores que somos de que, com a globalização da economia, as empresas<br />

enfrentam um número maior de concorrentes, cada um deles capaz de introduzir novos<br />

produtos ou serviços no mercado, as organizações, visando à sua sobrevivência,<br />

diminuíram não apenas os ciclos de vida dos produtos e serviços, como também o tempo<br />

disponível para o desenvolvimento e o lançamento de novos produtos. Não obstante, o<br />

conceito de concorrência, tal como é conhecido atualmente, não começou a surgir antes<br />

da década de 1880. Ansoff & McDonnel (1993) afirmam que a idéia que vigorava, antes<br />

dessa época, era a de não enfrentar o concorrente diretamente no mercado, e sim de<br />

dominá-lo ou absorvê-lo. Salientam que a concepção de mercado era direta e simples: a<br />

empresa que oferecesse um produto homogêneo ao preço mais baixo sairia vencedora.<br />

Isto foi sucintamente resumido na frase de Henry Ford I que, em resposta a uma sugestão<br />

de diferenciação de produtos, disse a seu pessoal de vendas: “… dêem-no (o Modelo T) a<br />

eles em qualquer cor, desde que seja preto”. Portanto, o marketing moderno, como o<br />

conhecemos hoje, ainda estava por ser desenvolvido.<br />

Já para Possas (1996), o tema da competitividade, apesar das dificuldades que<br />

apresenta para a formulação teórica e, talvez principalmente, para a mensuração,<br />

envolvendo indicadores, por vezes tão complicados quanto pouco objetivos, tem atraído<br />

um interesse surpreendente não só entre estudiosos afins, como também de governos,<br />

formuladores de política, agências oficiais nacionais e internacionais, empresários e<br />

mesmo da imprensa. Por ser bastante polêmico e de interesse da coletividade acadêmica,<br />

o autor acrescenta que esse tema parece indicar que se tratava de mais um modismo de<br />

época, tendo como cenário a chamada terceira revolução industrial (onde o pano de fundo<br />

é o processo da globalização produtiva e financeira: como atores, os grandes grupos<br />

transnacionais globalizados; como palco, a economia mundial; e, como enredo, a<br />

concorrência capitalista em nova fase competitiva).<br />

Na visão neo-schumpeteriana, para Possas, a atividade econômica é voltada para o<br />

lucro, em face das novas oportunidades de abertura de espaços econômicos passíveis de<br />

apropriação privada, ou seja, de criação de vantagens competitivas que possam ser<br />

convertidas em lucros monopolistas, temporários ou não. Porém, ressalta que se o locus<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

da concorrência é, por definição, o mercado, seu agente é, naturalmente, a empresa,<br />

mediante a formulação e a execução de estratégias competitivas. Aqui o autor define a<br />

concorrência como um processo de criação constante, ainda que descontínuo (via<br />

inovações), de assimetrias competitivas entre agentes - no caso mais relevante,<br />

empresas capitalistas.<br />

Nessa direção, identificamos ainda em Hamel & Prahalad que a competição pelo<br />

futuro é uma competição pela criação e domínio das oportunidades emergentes - pela<br />

posse do novo espaço competitivo. Drucker (1988), nesse caso, reforça essa idéia,<br />

declarando que cada empresa, não importa o tamanho, precisa achar seu lugar nessa<br />

economia global. “Esse é o caminho ... é preciso decidir entre atuar sozinho ou partir para<br />

alianças, joint ventures, licenciamento, sociedades”, frisa ele. Encontramos também, em<br />

Davidow & Malone (1993), a afirmação de que o mundo dos negócios está passando por<br />

uma revolução na qual cada elemento da corporação mudará substancialmente à medida<br />

que alguns clientes e fornecedores começarem a passar mais tempo na empresa do que<br />

alguns dos próprios trabalhadores.<br />

Dentro dessa linha, Coriat (1994) explora bem essa preocupação, sugerindo que<br />

acompanhemos o método japonês de pensar pelo avesso. Sugere ele: "… segundo Ohno,<br />

a regra é partir do mercado para garantir permanentemente a adaptabilidade da empresa<br />

à mudança. Se os clientes não podem obter os produtos dos quais necessitam é porque o<br />

sistema não anda".<br />

Radicalizando mais essa discussão, defrontamo-nos com as idéias de Peters (1992)<br />

que defende a autodestruição das empresas. Segundo ele, o segredo do sucesso está em<br />

canibalizarem-se antes que a concorrência o faça. Na mesma linha desponta Hammer<br />

(1994), o precursor da “reengenharia”, que enfatiza: "... o segredo do sucesso não é<br />

prever o futuro, mas criar uma organização, que prosperará em um futuro que não pode<br />

ser previsto". Entretanto, é o próprio Hammer que afirma que 50% a 70% das empresas<br />

que recorreram à reengenharia não foram bem-sucedidas. Drucker(1988), por sua vez,<br />

vem adotando como diretriz em seus últimos estudos que toda empresa precisa se<br />

preparar para abandonar tudo o que faz. Ele nos traz ao chão de novo, afirmando: "… os<br />

fatores básicos referem-se ao negócio de hoje... em épocas turbulentas, eles não podem<br />

pressupor que o amanhã será sempre uma extensão do presente. Pelo contrário, devem<br />

administrar visando a mudanças - mudanças como oportunidades e como ameaças".<br />

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Em paralelo com os autores já citados, Nasbitt (1994) nos apresenta uma nova versão,<br />

afirmando que downsizing, reengineering e a criação de organizações em rede, ou,<br />

ultimamente, a organização virtual, qualquer que seja o nome, todas levam à mesma<br />

coisa. Concorda com Peters, quando declara que “as empresas têm que desmantelar as<br />

burocracias para sobreviver.” Salienta ele que as economias de escala estão dando lugar<br />

às economias de abrangência, achando o tamanho certo para sinergia, flexibilidade de<br />

mercado, e, sobretudo, velocidade.<br />

É, sem dúvida, notável o espaço de tempo cada vez mais curto em que acontecem<br />

as inovações e transformações nas empresas. É como se estivéssemos à beira do caos<br />

sem saber para onde ir. Existem empresas atualmente, por exemplo, que produzem um<br />

invento a cada dia de trabalho. Agilidade e flexibilidade são características determinantes<br />

para a sobrevivência e para o sucesso das empresas no mercado em que operam. As<br />

mudanças ambientais e tecnológicas têm exigido das organizações alta capacidade de<br />

adaptação. Essa necessidade de adaptação, perante a turbulência do ambiente, exige<br />

que organizações busquem o que os professores Boynton & Bart (1991) chamam de<br />

“estabilidade dinâmica”. Segundo eles, estabilidade dinâmica significa: “… as empresas<br />

que enfrentam mudanças rápidas e imprevisíveis no mercado estão criando capabilidade<br />

de processos estáveis, de longo prazo e flexíveis, que diminuem o tempo de lançamento<br />

de produtos no mercado e aumentam a customização do produto de uma forma eficiente<br />

em termos de custo. Essas empresas estão administrando esses requisitos contraditórios<br />

e tornando-se organizações “dinamicamente estáveis” - empresas projetadas para<br />

atender a mais larga faixa de consumidores e demandas cambiantes nos produtos<br />

(dinâmica), enquanto se desenvolve na capabilidade dos processos existentes, em<br />

experiência e conhecimento( estabilidade)”.<br />

McKenna (1993), por sua vez, salienta que: "… tudo indica que a estratégia para o<br />

futuro precisa saber lidar com o mercado em mutação... significa que precisamos treinar<br />

mais o nosso processo de inovação de modo a explorar e nos adaptar às novas formas<br />

de abordar estratégias empresariais... significa também que precisamos desenvolver<br />

relações duradouras com nossos clientes e funcionários".<br />

Adicionando a esse ponto de vista, Ansoff & McDonnel (1993) confirmam essa<br />

visão estratégica, reconhecendo que uma empresa precisa desaprender grande parte de<br />

seu passado para poder descobrir o futuro. Salientam também que o problema da<br />

competitividade enfrentado atualmente por tantas empresas não é um problema de<br />

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competição "estrangeira", mas um problema de competição "não tradicional". O<br />

verdadeiro problema competitivo, segundo os autores, é retardatários versus desafiantes,<br />

líderes versus inovadores, inerciais e copiadores versus criativos. Nesse ponto sobre o<br />

poder de descobrir o futuro, Hamel e Prahalad seguem nessa linha, preconizando que a<br />

maior vantagem competitiva de uma empresa é a visão do futuro. “Toda a reengenharia<br />

no mundo não salvará a empresa que não refletir sobre o que acontecerá nos próximos<br />

dez anos. A empresa que primeiro chegar ao futuro ganhará a concorrência”, ressaltam<br />

eles.<br />

Com essa visão do sucesso futuro, Morrison e Schimid (1995) nos alertam sobre as<br />

forças que dirigem as mudanças no ambiente com avanços científicos fabulosos. Porém,<br />

ressaltam que as respostas administrativas a essas rápidas mudanças ambientais têm<br />

sido consideradas parciais e ineficazes. “Os modismos administrativos falham ao se ater<br />

ao contexto mais amplo de mudança ou às importantes conseqüências gerais das ações<br />

dos negócios sobre os empregados, o mercado e a sociedade”, salientam.<br />

Nessa linha em que se critica os modismos administrativos, Wood Jr. e Caldas<br />

(1995) também nos alertam para o perigo dos modismos da mudança, afirmando tratarse,<br />

sem dúvida, de um retorno aos dias em que engenheiros mudavam organizações,<br />

rabiscando organogramas, acreditando que assim poderia ser operada uma mudança<br />

planejada. “A febre atual por tais metodologias está claramente ligada ao fato de que<br />

vivemos uma era na qual tudo é subordinado à questão da competitividade.... essas<br />

metodologias são normalmente geradas, utilizadas e descartadas como panacéias<br />

gerenciais, seguindo um ciclo similar ao ciclo de vida de um produto", salientam os<br />

autores.<br />

Retornando a discussão da revolução em que estamos convivendo, entendemos<br />

que a causa primária disso é a dissipação da informação, tornando-se ela, a informação,<br />

o epicentro do terremoto de mudanças em que estamos passando. Peter Drucker, em<br />

entrevista a uma rede de televisão americana, em 1995, afiança que a produção científica<br />

mundial estava em 1982, em torno de 7.000 artigos diários (impactantes nos estudos<br />

científicos respectivos) e o conjunto dos conhecimentos crescia a razão de 13% ao ano,<br />

ou seja, dobrava a cada cinco anos e meio.<br />

Em seu artigo, dentro desse raciocínio, Drucker (1980) declara que os trabalhadores<br />

são, atualmente, o recurso potencialmente mais produtivo da organização (e também o<br />

mais dispendioso), o qual denomina de knowledge worker, ou seja, trabalhador<br />

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intelectual. Logo, concluímos, com base nessa declaração de Drucker, que o aprendizado<br />

na organização é o maior recurso a ser explorado como fator de competitividade.<br />

Na mesma direção de Drucker, encontramos em Tolovi Jr. (1995) a declaração de<br />

que o surgimento dos knowledge workers tem trazido uma série enorme de<br />

conseqüências para a gestão das organizações, sendo pessoas mais capazes e mais<br />

autônomas, esses profissionais trabalham com um grau de independência, porém mais<br />

dependente de seus colegas em virtude dos resultados a alcançar. O autor observa<br />

também que a situação parece não mais depender só da vontade de empresários e da<br />

alta administração das empresas. “A pressão começa a surgir dos novos profissionais que<br />

já conhecem esse estilo de trabalho e que não se sujeitam a trabalhar de maneira<br />

diferente”, finaliza o autor.<br />

Verificamos, então, que a informação passa a ser vista como ativo da organização para<br />

possibilitar um alinhamento eficaz com o ambiente competitivo. Dessa forma, só se torna<br />

revolucionária, quando gera riqueza e agrega valor a produtos. Pode ser utilizada por<br />

muitos indivíduos sem ser consumida e incrementa o desenvolvimento cultural do homem<br />

e sua qualidade de vida. <strong>Como</strong> o mundo transforma-se numa velocidade muito grande, ou<br />

seja, o volume de informações circulando entre as pessoas é fantástico, os governos, as<br />

organizações e até mesmo indivíduos que não estiverem aptos a gerenciar o processo de<br />

mudanças podem estar, irremediavelmente, sendo excluídos do ambiente competitivo.<br />

Em convergência com essa análise, Peters (1992) acrescenta: "… as novas<br />

organizações são máquinas de processamento de informações puras... o conhecimento<br />

integrado, tanto dentro quanto fora da empresa, e aplicado rapidamente, sendo a fonte de<br />

quase todo o valor econômico... o trabalho intelectual domina cada vez mais na criação<br />

do valor econômico".<br />

Buscando somar nessa discussão, Fleury e Fleury(1995) salientam que se alguma<br />

coisa é permanente, é a própria mudança e que o conceito de mudança, de inovação<br />

organizacional, deve estar profundamente integrado com o conceito de aprendizagem.<br />

Com base nessa argumentação, entendem os autores que está surgindo uma nova visão<br />

da importância do recurso da aprendizagem como o único diferencial competitivo que<br />

assegurará à empresa uma posição de liderança nessa "era da incerteza”. Afirmam eles<br />

que nessa Sociedade da Informação, a aprendizagem - dos indivíduos e das empresas -<br />

tornou-se uma variável estratégica bastante eficaz.<br />

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Fiol & Lysle (1985) nos ilustra com a Figura 1, “Nível de Aprendizado em Relação ao<br />

Nível de Mudança", onde demonstra a relação entre o nível de aprendizado e o nível de<br />

mudança existente nas organizações. Com base nessa ilustração, entendemos que os<br />

autores nos sugerem organizações que manobrem e escolham como elas se ajustam a<br />

mudança ambiental para conduzi-las à capacidade de aprender a todo tempo.<br />

Esta figura é explicada da seguinte forma:<br />

• A posição "A" é típica das empresas burocráticas nas quais os programas de sucesso<br />

têm sido firmemente enraizados. Nenhum novo aprendizado acontece nem tentativas são<br />

feitas para mudar. A posição "A" deve ser apropriada num ambiente previsível e estável,<br />

no qual há pouco incentivo ou necessidade para qualquer mudança ou aprendizado.<br />

• A posição "B" representa as empresas dinâmicas, que mudam suas estratégias<br />

constantemente se reestruturam mais com muito pouco aprendizado. Por exemplo,<br />

empresas que estão passando por crises e necessitam constantemente mudar sua<br />

performance, porém sem qualquer aprendizado substancial. Esse tipo de empresa produz<br />

impactos na sua estrutura com pouco senso de direção.<br />

• A posição "C" produz poucas mudanças, mas essas representam ferramentas de<br />

aprendizado significativas. Mudanças criam modificações significativas no<br />

desenvolvimento cognitivo da organização. Novas crenças e esquemas interpretativos<br />

são desenvolvidos. A posição "C" deve ser mais apropriada num ambiente turbulento no<br />

qual a renovação e inovação (formas de aprendizado e mudança) são cruciais para a<br />

sobrevivência, porém muita mudança levaria a organização a perder seu senso de<br />

direção.<br />

• Finalmente a posição "D" com sua alta propensão à mudança e ao aprendizado deve<br />

ser adequada num moderado ambiente turbulento. A complexidade interna e o dinamismo<br />

de tal organização não são suficientes para agüentar o volume de stress causado pelo<br />

ambiente externo. Sugere-se uma estratégia que produza folga dentro da organização. As<br />

organizações holográficas tornam-se um exemplo para a posição "D". Essas<br />

organizações são projetadas para estar em constantes mudanças com poucas regras<br />

definidas, de maneira que são melhores para o aprendizado, para formulação de<br />

problemas e, por isso, solucionar problemas.<br />

Após esta análise sobre o imperativo ambiental nos destinos da organização,<br />

finalizamos com Miller (1997), essa parte, que, através de uma analogia, nos esclarece o<br />

novo papel das organizações. Compara o comportamento das organizações do futuro<br />

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com o do camaleão, esclarecendo que, para assegurar sua sobrevivência, o camaleão<br />

muda a sua pele de cor em resposta a estímulos como a luz, a temperatura e a emoção.<br />

Da mesma forma, esclarece que a organização do futuro será um organismo<br />

absolutamente adaptável, sendo que o seu formato e a sua aparência vão-se modificar<br />

conforme o ambiente e as exigências na mudança organizacional. Afirma ainda: “…<br />

esforçamo-nos para prever mudanças em nosso ambiente de negócio... cada vez mais<br />

nossos clientes solicitam que aceitemos mais responsabilidades pelos resultados totais”.<br />

Conclui sua abordagem, caracterizando a “organização-camaleão”, como aquela que<br />

apresenta cinco características fundamentais: grande flexibilidade, compromisso com o<br />

indivíduo, uso assíduo de equipes, sólidas competências principais e satisfação com a<br />

diversidade. Embora o modelo de camaleão definitivo ainda não exista, o autor salienta<br />

que, atualmente, algumas organizações demonstram alguma ou até mesmo boa parte<br />

dessas características.<br />

Nesta seção, analisamos os graus de competitividade dos ambientes, suas<br />

oportunidades e ameaças, e, também, a necessidade de as organizações se alinharem a<br />

eles como razão de sua sobrevivência.<br />

Em suma, no capítulo 1, verificamos, através da opinião de diversos autores, que<br />

julgamos relevantes para o nosso estudo, o conceito e a importância do ambiente no<br />

comportamento das organizações. Estudamos também a necessidade de as<br />

organizações se alinharem aos seus ambientes, e, por fim, os diversos graus de<br />

turbulência desses ambientes, medidos pela competitividade existente.<br />

Cabe-nos agora entender o significado de organização e seus propósitos, junto aos<br />

ambientes em que opera. Analisar a importância da criatividade e a inovação nas<br />

organizações como respostas aos desafios propostos por esse cenário em que convivem.<br />

E, finalmente, procurar definir a cultura organizacional ideal para a implantação de uma<br />

cultura calcada no inconformismo. Isso tudo pretendemos desenvolver no capítulo a<br />

seguir.<br />

2. A Organização e sua Constante Necessidade de Aprendizado Revolucionário<br />

Em tempos de mudança, os que aprendem herdam a terra, enquanto os que já<br />

aprenderam encontram-se tremendamente equipados para lidar com um mundo que não<br />

mais existe.<br />

“Eric Hoffer”<br />

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Neste capítulo, buscamos uma definição do significado do sistema aberto,<br />

denominado de organização e seus propósitos, junto aos ambientes em que opera.<br />

Estudamos também o cenário de exigências que caracterizará o século XXI, nunca antes<br />

experimentado por nossas organizações, cujos comportamentos visam à busca de novas<br />

formas de se organizar e se adaptar a ele. Descrevemos sobre a importância da<br />

criatividade e inovação nas organizações como respostas aos desafios propostos por<br />

esse cenário em que convivem. E, finalmente, procuramos definir a cultura organizacional<br />

ideal para a implantação de uma cultura calcada no inconformismo.<br />

2.1 Para que Serve uma Organização<br />

Sabemos que todas as organizações 2 são constituídas de recursos humanos<br />

(pessoas) e de recursos materiais (recursos financeiros, recursos tecnológicos, recursos<br />

mercadológicos etc.). Nas organizações produzimos bens (produtos) e serviços<br />

(atividades especializadas). As organizações são extremamente heterogêneas e<br />

diversificadas, de tamanhos diferentes, de estruturas diferentes, de objetivos diferentes,<br />

não existindo em hipótese nenhuma, como nós indivíduos, duas organizações<br />

semelhantes. E uma mesma organização nunca é igual ao longo do tempo. Existem<br />

organizações lucrativas ou utilitárias (chamadas empresas) e organizações não-lucrativas<br />

ou normativas (como o exército, a igreja, os serviços públicos, as entidades filantrópicas<br />

etc.). A nossa sociedade é constituída de organizações: ela é basicamente uma<br />

sociedade de organizações. Para que as organizações possam ser administradas, elas<br />

precisam ser estudadas, analisadas e conhecidas, isto significa elaborar teorias sobre o<br />

seu comportamento como reação de sua interação com o ambiente.<br />

Para se entender o objeto das organizações, recorremos, primeiramente, a<br />

Shein(1968), onde verificamos que a própria idéia de organização deriva do fato de o<br />

indivíduo não ser capaz de satisfazer todas as suas necessidades e aspirações. Ele sente<br />

que tem que contar com outros para ajudar na realização das suas necessidades. Para<br />

que uma organização possa desempenhar a sua missão, o autor declara que as pessoas<br />

que a constituem deverão coordenar esforços para que se consiga um resultado que o<br />

indivíduo isoladamente seria incapaz de conseguir. Os que podem decidir são chamados<br />

de gerentes e os outros são normalmente chamados de subordinados. O autor sintetiza a<br />

2 Segundo o Aurélio, organização significa: “ato ou efeito de organizar-se...; modo pelo qual um ser vivo é organizado...; modo pelo<br />

qual se organiza um sistema...; associação ou instituição com objetivos definidos...; organismo de caráter cultural...; designação<br />

oficial de certos organismos...; planejamento, preparo... ”.<br />

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definição de organização como a coordenação racional das atividades de um certo<br />

número de indivíduos, tendo em vista a realização de um propósito comum explícito,<br />

através da divisão de trabalho e de uma hierarquia de autoridade. Salienta, porém, que a<br />

complexidade e o alto grau de interação das partes da organização, quer estas sejam<br />

funções, grupos ou indivíduos, exigem uma nova definição em termos de critério de<br />

sistemas complexos. “Com o rápido desenvolvimento da tecnologia, a expansão dos<br />

mercados e as súbitas transformações político-sociais, a organização sofre constantes<br />

pressões no sentido de se modificar, adaptar e desenvolver para poder corresponder às<br />

solicitações do meio”, reforça Shein.<br />

Para Morgan (l986), as organizações podem ser interpretadas por meio de<br />

metáforas, sendo que cada metáfora agrega diferentes valores às definições da<br />

organização. Uma delas é observar a organização como uma máquina. A própria origem<br />

da palavra organização, do grego organon, significa instrumento ou ferramenta, levandonos<br />

à visão mecanicista e simplista. Outra metáfora é a da organização como um<br />

organismo, baseada nos princípios da biologia, em que ecossistemas definem um habitat<br />

e os seres vivos que o habitam, leva-nos a ver a organização como participante de um<br />

ambiente e sujeita às influências dos outros participantes desse ambiente. Esta visão<br />

orgânica da organização nos permite analisar todo o seu ciclo de vida: seu nascimento,<br />

crescimento, desenvolvimento, declínio e morte conforme suas relações com o meio<br />

ambiente. Existe também a metáfora em que as organizações são vistas como cérebros,<br />

ou seja, dando importância aos processos de informação, aprendizado e inteligência e às<br />

formas de desenvolvê-los. Outras metáforas, citadas também por Morgan, são: a<br />

metáfora política que visa explicar a organização, segundo interesses, conflitos e disputas<br />

de poder internas e externas à organização; a metáfora em que as organizações podem<br />

ser vistas como prisões psíquicas, em que as pessoas são aprisionadas pelos seus<br />

pensamentos, ideais, crenças e preocupações surgidas do seu inconsciente; a metáfora<br />

em que as organizações podem ser vistas como fluxos e movimentos, trazendo-nos a<br />

perspectiva das mudanças influenciando e definindo as organizações (seja a organização<br />

moldando a si mesma, seja por meio da retroalimentação positiva ou negativa de<br />

experiências passadas, ou através do movimento dialético entre opostos e do equilíbrio<br />

de forças destes opostos); por fim, a metáfora cultural, que vê a organização como idéias,<br />

valores, normas, rituais e crenças que sustentam a organização como uma realidade<br />

social construída.<br />

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Lawrence & Lorsch (1972) salientam que tudo começa com as necessidades dos<br />

homens e para atendê-las eles procuram criar e desenvolver organizações. Acreditam os<br />

autores que eles (os indivíduos) dão início a novas organizações ou contribuem para as já<br />

existentes, porque, desse modo, encontram melhores soluções para os problemas<br />

ambientais com que se defrontam. Resumem então: “... nós tendemos a pensar em<br />

organizações como tendo um objetivo, mas este não é literalmente o caso: as pessoas<br />

têm objetivos, as organizações não os têm.” Por fim, os autores definem uma organização<br />

como a coordenação de diferentes atividades de contribuintes individuais com a finalidade<br />

de efetuar transações planejadas com o ambiente.<br />

Recorrendo, ainda, a Shein, que nos dá uma outra grande contribuição,<br />

esclarecendo que, em primeiro lugar, a organização deve conceber-se como um sistema<br />

aberto, o que significa que deva estar em constante interação com o meio; em segundo<br />

lugar, que a organização deve ser concebida como um sistema com múltiplos fins ou<br />

funções, que envolvem múltiplas interações entre ela e o meio; em terceiro lugar, que a<br />

organização compõe-se de muitos subsistemas que estão em interseção dinâmica uns<br />

com os outros; em quarto lugar, devido à dependência mútua dos subsistemas que<br />

compõem a organização, as modificações num subsistema têm toda a probabilidade de<br />

afetar o comportamento de todos os outros; e em quinto lugar, a organização existe num<br />

meio dinâmico que consiste noutros sistemas, uns maiores, outros menores do que a<br />

organização.<br />

Valença (1997), se baseando na obra de Chris Argyris & Donald Schön, “Theory in<br />

Practice”, 1974, caracteriza o ambiente interno das organizações atuais como artificial,<br />

porque adotam propriedades consideradas mais estruturantes. Para o autor, há<br />

procedimentos para a divisão do trabalho, para a padronização das tarefas, para a<br />

medição e monitoração quantitativas de resultados e para controles e avaliações<br />

unilaterais. Neste sentido, as organizações se tornam ambientes artificiais, nos quais há<br />

técnicas de gestão mais apropriadas, que são consideradas e apreciadas, e outras<br />

técnicas, que são excluídas e tidas como ineficazes. Isso significa que eles são<br />

concebidos para permitir ao profissional a realização e o alcance dos objetivos, portanto,<br />

para controlar unilateralmente a tarefa e o ambiente e para interferir no comportamento<br />

dos clientes e de outros. São ambientes voltados para a racionalização no sentido de<br />

adquirir e aplicar métodos e técnicas formuladas e aceitas e, portanto, para manipular o<br />

ambiente de forma a alcançar os resultados que sejam medidos quantitativamente. <strong>Como</strong><br />

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conclusão, o autor alega que, com este modelo, o objetivo é o controle dos outros para<br />

conseguir realizar a tarefa de maneira como o profissional se propôs a realizá-la ou como<br />

a sua comunidade define como compatível para sua prática.<br />

Para Gonçalves (1997), os modelos antigos de empresa, tanto do ponto de vista da<br />

estrutura organizacional, como da gestão das pessoas e do negócio, não funcionam mais.<br />

Segundo esse autor, as organizações tradicionais foram projetadas com base em<br />

pressupostos antigos, como a constância e a regularidade do ambiente externo - que<br />

permitia à empresa isolar-se dentro de suas fronteiras. Baseado no quadro formulado por<br />

esse autor, apresentamos abaixo o Quadro 1 “Os princípios Tradicionais do Desenho<br />

Organizacional”, onde aparecem os princípios cultuados pelas organizações desde que<br />

foram definidas na década de 30.<br />

QUADRO 1<br />

OS PRINCÍPIOS TRADICIONAIS DO<br />

DESENHO ORGANIZACIONAL<br />

Princípios Tradicionais<br />

Hierarquia<br />

Divisão do Trabalho<br />

Amplitude de Controle<br />

Disciplina<br />

Unidade de Comando<br />

Especialização Funcional<br />

Cadeia de Comando<br />

Valor de acordo com Posição Hierárquica<br />

Comunicação Formal em Papel<br />

Fonte: Gonçalves (1997)<br />

Esses princípios levaram à adequação das empresas para as décadas seguintes:<br />

bem estruturadas, claramente organizadas, altamente eficientes na produção de<br />

determinados bens materiais em quantidades cada vez maiores e bastante estáveis em<br />

termos de resultados. No entanto, esse modelo de empresa certamente não é mais<br />

adequado ao atendimento das características mutantes do mundo contemporâneo.<br />

Sabemos que não apenas a tecnologia moderna facilitou a coleta, a organização, a<br />

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consolidação, a transmissão, a armazenagem e a análise das informações operacionais<br />

das empresas, mas a maneira de gerenciar os recursos e, em particular, as pessoas<br />

mudou fundamentalmente. Com isso, segundo Gonçalves, as organizações modernas<br />

passam a ser projetadas com base em novos princípios, como os apresentados no<br />

Quadro 2 “Os Modernos Princípios do Desenho Organizacional”, mais adequados à<br />

tecnologia e ao estilo gerencial contemporâneos.<br />

QUADRO 2<br />

OS MODERNOS PRINCÍPIOS DO<br />

DESENHO ORGANIZACIONAL<br />

Princípios Contemporâneos<br />

Alocação Dinâmica de Recursos<br />

Comunicação Ponto a Ponto<br />

Trabalho Realizado em Times<br />

Criação de Valor<br />

Monitoração de Resultados<br />

Trabalho Organizado em Projetos<br />

Fronteiras Orgânicas<br />

Oportunidade<br />

Coordenação<br />

Fonte: Gonçalves (1997)<br />

Sabemos, porém, que a centralização das empresas em seus processos levará a<br />

desenhos organizacionais muito diferentes dos que conhecemos. O primeiro estágio não<br />

apenas previsível, mas que já está sendo adotado em muitas empresas, é o de redistribuir<br />

os recursos humanos e técnicos das empresas ao longo dos processos de negócios. As<br />

parcerias e as redes de empresas estão surgindo como um segundo estágio desse<br />

movimento de reforma conceitual, sendo que nem todos os recursos essenciais para a<br />

operação da empresa encontram-se dentro dela nem pertencem a ela.<br />

Entendendo melhor o significado das organizações e seus propósitos, convém agora<br />

saber como se comportam. Iniciamos com Bennis (1962) que nos fornece subsídios para<br />

a compreensão do comportamento das organizações, propondo três critérios para que a<br />

organização funcione em equilíbrio:<br />

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a) Adaptabilidade – significando a capacidade de resolver problemas a reagir com<br />

flexibilidade às solicitações de um meio ambiente em transformação;<br />

b) Sentido de identidade – significando o conhecimento por parte da organização do que<br />

ela é, quais os seus objetivos e o que deve ser realizado;<br />

c) Capacidade de testar a realidade – a capacidade de procurar, de entender<br />

precisamente e interpretar corretamente as particularidades reais do meio, em especial<br />

aquelas que têm importância fundamental para o funcionamento da organização;<br />

d) Integração interna – significando a integração entre as subpartes da organização total,<br />

de tal forma que as partes não trabalhem descoordenadamente.<br />

Shein (1968), nesse ponto, nos leva, mais uma vez, a um entendimento mais<br />

aprimorado do comportamento organizacional. Identifica ele quatro condições internas<br />

que levam a organização à competição e, conseqüentemente, à sua própria razão de<br />

existir num ambiente competitivo. Para uma competição eficiente, esclarece o autor,<br />

requer-se da organização a capacidade de: receber e comunicar informações de forma<br />

segura e válida; flexibilidade interna e poder criador para realizar as modificações que são<br />

pedidas pela informação obtida; integração e comprometimento aos objetivos da<br />

organização, resultando, assim, adesão à modificação; e, finalmente, um clima interno de<br />

apoio e ausência de ameaças, uma vez que, estando-se ameaçado, se mina a boa<br />

comunicação, reduz-se a flexibilidade e estimula-se a defesa própria, mais do que o<br />

interesse pelo sistema global. Essas condições não são fáceis de pôr em prática num<br />

sistema complexo como o de uma grande organização.<br />

Por esse mesmo prisma, Bell (1993) nos ajuda também a definir as características<br />

vitais observadas no comportamento organizacional. Em contraste com as sociedades<br />

baseadas na agricultura e na indústria de eras anteriores, a sociedade pós-industrial é<br />

caracterizada por dimensões bem diferentes. Bell nos apresenta essas dimensões da<br />

seguinte maneira:<br />

• uma mudança básica da orientação da força de trabalho da produção de bens para a<br />

prestação de serviços/processamento de informações;<br />

• um aumento gradual e constante da influência das ocupações profissionais e técnicas;<br />

• uma influência crescente e centralização do conhecimento teórico como fonte de<br />

inovações e formulação de políticas para a sociedade;<br />

• uma necessidade maior de planejamento, bem como controle da tecnologia e seu<br />

desenvolvimento;<br />

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• surgimento de sistemas de computadores integrados em massa, que criarão uma nova<br />

“tecnologia intelectual”.<br />

Kon (1997) nos leva a entender o comportamento das organizações, baseando-se em<br />

estudos sobre a Teoria do Caos, que nos revela que sistemas complexos, dinâmicos, em<br />

desordem (caos), não-lineares (são todos os sistemas em que as variáveis interagem com<br />

diversas alternativas de soluções), têm muitas vezes, na sua origem, leis e padrões<br />

simples. Entretanto, observa o autor, as interferências e acasos no seu percurso tornam<br />

seu futuro comportamento imprevisível, gerando desordens aparentes e de difícil<br />

explicação e entendimento. <strong>Como</strong> é o caso do questionamento de Edward Lorenz, citado<br />

por Kon, que se tornou símbolo dessa Teoria, afirmando: “ … pode o bater das asas de<br />

uma borboleta no Brasil, ocasionar um tornado no Texas?” Esse fenômeno, segundo o<br />

autor, é chamado pelos estudiosos de “sensibilidade às condições iniciais”. Nesse ponto,<br />

o autor se indaga: “… como, então, num mundo em acelerado processo de<br />

transformação, pode-se prever ou planejar, se pequenas ocorrências geram grandes<br />

mudanças?” <strong>Como</strong> resposta o autor enfatiza que, somente, através do planejamento, é<br />

possível a intervenção em momentos adequados, mas principalmente com flexibilidade e<br />

prontidão que, aliadas à informação, ajudarão os homens a enfrentarem essas “mudanças<br />

que mudam”, essas transformações imprevisíveis. Entretanto, lembra o autor que<br />

pequenas ocorrências não devem ser negligenciadas, pois podem gerar grandes efeitos,<br />

ou seja, informação, flexibilidade e prontidão. São essas, portanto, para o autor, as<br />

potencialidades, inerentes à organização, a serem acionadas para se enfrentar o “Caos”.<br />

Porém, esse mesmo autor salienta que não só nos estudos do Caos é que se pode<br />

extrair conceitos básicos para o nosso entendimento dos comportamentos individuais e<br />

organizacionais. Nos estudos de Fractais, Autopoiése e Estruturas Dissipativas 3 ,<br />

3 Para João Kon , através da “Teoria da Autopoiése”, (termo que se refere a auto-criação, integração, auto-organização<br />

dos sistemas vivos) os ácidos nucleicos (dos quais o DNA faz parte) participam da formação de proteínas que, por sua<br />

vez, participam da formação dos ácidos nucleicos. Essas é a circularidade dos processos biológicos; é a representação<br />

de um ser vivo. Na verdade, eles são intergerativos: um só existe a partir do outro, assim como o indivíduo e a<br />

sociedade. Conclusões a partir desses estudos, revela o autor, nos mostram que todos os sistemas vivos, para seu<br />

crescimento, são criativos, flexíveis e versáteis. Cada célula de um ser vivo, animal ou vegetal, tem no seu núcleo<br />

(DNA) todas as informações da matriz que a gerou e também as do todo que vai ser;, possuindo também flexibilidade<br />

para enfrentar com prontidão imprevistos que possam ocorrer.<br />

Através dos Fractais (estruturas cujos componentes têm semelhança como a totalidade da estrutura), Kohn nos revela<br />

que, ao ser mal atendido em uma empresa por um funcionário, é comum observar-se a generalização de que a empresa<br />

atende mal, não serve. O comportamento do indivíduo é um “Fractal Comportamental” do todo. Nos ilustra com o<br />

exemplo de uma samambaia, cujas folhas que formam a haste principal têm semelhança com a própria haste. As<br />

folhinhas que formam a folha também têm semelhança com o todo. Nesse caso, o foco, sobretudo no âmbito das<br />

empresas, educação e nas sociedades em geral, é o comportamento do indivíduo. Não conseguiremos acompanhar as<br />

mudanças se não mudarmos esses comportamentos, essa visão, esse foco.<br />

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encontrados nos mundos físico e biológico, podem ser também revelados nas esferas<br />

social e humana, o que de certa maneira transcende a discussão, acerca de semelhanças<br />

e diferenças, entre ciência física e humana. Reafirma ele que estamos construindo uma<br />

“Nova Aliança”, um novo elo, agora indissolúvel, que não se pode mais separar o ser<br />

humano da natureza que ele descreve.<br />

Bowditch & Buono (1992) salientam que, além da mudança tecnológica rápida e<br />

freqüentemente volátil, visualizada pelo pós-industrialismo, as organizações, como<br />

sabemos, também são confrontadas com uma infinidade de pressões. Essas pressões<br />

são bem visualizadas por esses autores como: (1) concorrência crescente na arena<br />

mundial; (2) regulamentações governamentais que, cada vez mais, têm tratado de<br />

controvérsias sociais (tais como, discriminação, segurança no local de trabalho, proteção<br />

do meio ambiente); (3) escassez de recursos; (4) maior diversidade de força de trabalho;<br />

(5) normas culturais em mudança; e (6) as pressões empresariais mais tradicionais, por<br />

parte de concorrentes, fornecedores e forças de oferta e procura. Além dessas, existe<br />

ainda a influência crescente de diversos novos interessados (pessoas que tenham<br />

interesses em jogo), tais como: grupos de interesse público, ecologistas, grupos de<br />

defesa de comunidades locais, advogados de defesa do consumidor.<br />

E sobre o impacto dessas pressões no comportamento das organizações, que<br />

Fleury (1993) dá um passo adiante, citando Zarifian (Zarafian, Philippe. L’Organization<br />

Qualificante: de quoi parle-t-on?: Le Monde, 9/9/92), que propõe a distinção entre a<br />

organização qualificada e a organização qualificante. Segundo esse autor, esclarece<br />

Fleury, as “organizações qualificadas” apresentam as seguintes dimensões: o trabalho em<br />

equipe ou em células; a autonomia delegada às células e sua responsabilização pelos<br />

objetivos de desempenho (qualidade, custos, rendimento, etc..); a diminuição dos níveis<br />

hierárquicos e o desenvolvimento das chefias para atividades de “animação” e gestão de<br />

recursos humanos; a reaproximação das relações entre as funções da empresa (entre a<br />

Por fim, Kohn se baseia também nas experiências com Termodinâmica de Ilya Prigogine (Nobel de Química –<br />

1977) que conceitua as Estruturas Dissipativas como sistemas vivos não-lineares, afastados do equilíbrio, nos quais a<br />

instabilidade - Caos - leva a novas formas de comportamento e, conseqüentemente, novas ordens e estruturas, diferentes<br />

das anteriores. Prigogine, descreve o autor, atuou sobre líquidos e gases provocando turbulências, criando uma<br />

instabilidade (através de variações de pressão, temperatura etc.) Percebeu que, após cessar essa ação as estruturas<br />

moleculares, as novas ordens geradas eram diferentes das anteriores e às vezes mais complexas: “A instabilidade, a<br />

desordem e a imprevisibilidade são fatores preponderantes nessas novas formações, às vezes mais complexas na sua<br />

organização”. Eis porque podemos entender o caos, a turbulência não como um fim, algo negativo, mas sim como um<br />

princípio de novas ordens às vezes até enriquecedoras, complexas e que abrem novas possibilidades em novas<br />

circunstâncias.<br />

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manutenção e a fabricação, entre produção e comercial). Essas quatro características são<br />

apresentadas como pontos de ruptura com o taylorismo e têm se tornado referenciais<br />

obrigatórios para aquelas organizações que se propõem modernas. Entretanto, por trás<br />

dessa aparência de modernidade, podem persistir problemas sérios: tornar-se uma<br />

organização excludente, à medida que os critérios de seleção de pessoal privilegiam<br />

níveis sempre mais elevados de educação e qualificação deixando de lado parcelas<br />

significativas da população; ou tornar-se uma organização rígida, incapaz de evoluir<br />

rapidamente, desmotivante, lenta para responder às mudanças.<br />

Uma outra relevante contribuição, no tocante ao comportamento das organizações, vem<br />

de Adizes (1990). Esse autor nos fala dos ciclos de vida em que passa a organização,<br />

apresentado na Figura 2, “A Natureza do Crescimento e do Envelhecimento das<br />

Organizações”. <strong>Como</strong> todos os organismos nascem, crescem, envelhecem e morrem, ao<br />

longo do seu ciclo de vida, esses sistemas vão sofrendo mudanças e revelando padrões<br />

previsíveis de comportamento, sendo que, em cada estágio, esses padrões de<br />

comportamento manifestam-se como um tipo de luta ou embate, isto é, como dificuldades<br />

ou problemas de transição que o sistema precisa superar. Quando não os supera surgem<br />

então doenças ou anomalias que exigem intervenção externa para serem resolvidas.<br />

Entretanto, os instrumentos para diagnosticar e tratar o comportamento das organizações<br />

- para modificar a sua cultura e a sua consciência - ainda estão na infância. O perigo da<br />

passagem de um estágio para o outro está na canalização de energias que tanto pode<br />

estimular a transição, como, em alguns casos, essa energia volta-se para o interior da<br />

organização somatizando mais problemas.<br />

Assim como ocorre com os organismos vivos, Adizes revela que o crescimento e o<br />

envelhecimento das organizações manifestam-se primordialmente na inter-relação entre<br />

dois fatores: “flexibilidade” e “controlabilidade”. As organizações quando jovens são<br />

bastante flexíveis, mas nem sempre são controláveis, porém à medida em que as<br />

organizações envelhecem, essa relação se altera. Nessa última condição, a<br />

controlabilidade aumenta e a flexibilidade diminui. O autor ilustra a sua idéia comparando<br />

com a diferença que há entre um bebê e uma pessoa mais velha, onde o bebê é bastante<br />

flexível e consegue até colocar o pé na boca, mas seus movimentos e o seu<br />

comportamento não são muito controláveis. À medida em que envelhecemos, acabamos<br />

eventualmente perdendo também o controle. Com Weisbord (1987), podemos resumir<br />

essa discussão, em que o autor declara: “… à medida que o campo do Comportamento<br />

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Organizacional continua a se desenvolver e evoluir, parece que hoje estamos no ponto<br />

em que o melhor conceito da verdadeira participação seria fazer com que os membros da<br />

organização se envolvessem não só na solução de seus próprios problemas, mas<br />

também na solução daqueles que, por sua natureza, envolvessem o sistema inteiro”.<br />

Em suma, nesta seção, não se teve a intenção de esgotar o assunto sobre o<br />

significado e o comportamento das organizações. Pretendeu-se, sim, oferecer uma visão<br />

sucinta de alguns pensamentos direcionados para a compreensão do que julgamos a<br />

essência comportamental da organização. Agora, na seção seguinte, estudaremos o<br />

comportamento que devem ter as organizações para se adaptar às exigências do século<br />

atual, tão imprevisível quanto caótico.<br />

2.2 O Comportamento Esperado das Organizações para o Século XXI<br />

Iniciamos esta seção com as considerações provenientes de Gerstein & Shaw<br />

(1994) sobre esses tempos turbulentos que desafiam constantemente as nossas<br />

organizações. Afirmam esses autores, que, já nessa década de 1990, pode-se<br />

testemunhar o começo do fim da organização tradicional. Sabemos que o século passado<br />

foi dominado por um único tipo de organização – a burocrática estática. Com essa postura<br />

as organizações estão lentamente sendo forçadas a se reformularem para sobreviver e<br />

para prosperar, devido a diversas forças que as impulsionam para uma mudança radical.<br />

Podemos citar algumas delas que aceleram esse caminho, como: tecnologia, competição,<br />

excesso de ofertas, globalismo, expectativas dos clientes, participação governamental. À<br />

medida em que as organizações foram se tornando cada vez mais complexas,<br />

internamente, suas relações com o mundo exterior também se tornam complexas. Isso é<br />

facilmente identificado em face da intensificação da competição e das crescentes<br />

expectativas dos consumidores, que exigem das organizações um nível de eficiência (alta<br />

qualidade a baixo custo), rapidez (redução do ciclo e tempo de desenvolvimento de<br />

produto) e inovação muito superiores aos do passado.<br />

Entretanto, O’Brien (1995) afirma que, para o começo do Século XXI, as organizações<br />

tem que apresentar quatro capacidades necessárias para essa mudança: a primeira é<br />

aprender a dispersar poder de maneira ordenada, não caótica, que significa aplicar o<br />

“repotenciamento” (empowerment), isto é, simplesmente concedendo poder, de modo que<br />

a autodisciplina possa, em grande parte, substituir a disciplina imposta; o segundo atributo<br />

das empresas vencedoras será o entendimento sistêmico, significando entender sistemas<br />

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e suas inter-relações; o terceiro atributo, que as empresas do século XXI necessitarão, é<br />

a capacidade de conversação, sendo essa a maior ferramenta de aprendizado da<br />

organização - mais importante do que computadores ou pesquisa sofisticada; finalmente,<br />

a quarta é a adesão voluntária, onde nossos líderes, em sua maioria, devem conquistar<br />

seguidores voluntários, e não pensar em termos de controlá-los. Para Ashkenas (1997),<br />

as organizações do futuro não mais estabelecerão limites para separar pessoas, tarefas,<br />

processos e lugares, em vez disso, o foco dessas organizações se concentrará em como<br />

atravessar essas fronteiras. Isto significa transferir rapidamente idéias, informações,<br />

decisões, recursos, recompensas e providências para onde são mais necessários. Isso<br />

não traduz que tal organização não terá fronteiras. Pelo contrário, Ashkenas responde<br />

que elas são necessárias para separar pessoas, processos e produção; para manter o<br />

foco e a distinção; para dar forma à organização. Sem essas fronteiras as organizações<br />

estariam desorganizadas, isto é, as pessoas não saberiam o que fazer - não haveria<br />

diferenciação entre tarefas, coordenação de recursos e habilidades, ou um senso claro de<br />

direção. Nessa mesma linha, Handy (1995) nos adianta que uma coisa é certa: “... as<br />

organizações do próximo século serão muito diferentes”. Muito das análises passadas e<br />

textos sobre o assunto serão, segundo o autor, com toda a franqueza, impróprios ou, na<br />

melhor das hipóteses, irrelevantes. Assim com esses alertas será preciso reformular o<br />

conceito de organização e repensar as razões e as finalidades de sua existência. Handy<br />

salienta que essa é uma tarefa mais indicada para um filósofo do que para um<br />

pesquisador, pois o primeiro coloca questões ainda não respondidas e apresenta<br />

respostas novas demais para serem estudadas em ação. Nesse sentido Handy nos<br />

oferece uma fórmula dramática que marcará as características da organização do futuro,<br />

ou seja: ½ x 2 x 3, onde metade das pessoas estará empregada no futuro, recebendo o<br />

dobro da remuneração (e trabalhando duas vezes mais), mas produzindo três vezes mais.<br />

Para Porter (1989), neste cenário de exigências nunca antes experimentado por nossas<br />

organizações, estão sendo formados novos tipos de organizações. Ele as chama de<br />

emergentes. Para ele, não existem regras que conduzam ou direcionem uma “Empresa<br />

Emergente”, sendo, portanto, sua característica essencial. O problema competitivo neste<br />

tipo de Empresa é que todas as regras devem ser estabelecidas de modo que a Empresa<br />

possa competir e prosperar sujeita a elas. “A ausência de regras é ao mesmo tempo um<br />

risco e uma fonte de oportunidade; de qualquer modo, isto tem que ser controlado”,<br />

salienta Porter.<br />

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Bennis (1972), por sua vez, nos oferece uma valorosa contribuição para essa nova era,<br />

nos brindando com o termo “temporário”, que caracterizará o comportamento das<br />

organizações no futuro, que muito bem pode ser agora. O jargão “temporário” pode ser<br />

traduzido por sistemas adaptativos e de rápida mutação, sendo, assim forças-tarefas<br />

organizadas em torno de problemas a serem solucionados por grupos cujos membros<br />

pouco se conhecem uns aos outros e com diferentes habilidades profissionais. Esse<br />

grupo será constituído conforme as necessidades impostas pela situação (modelo<br />

orgânico) e não de acordo com a função (modelo mecânico). Neste caso o papel da<br />

gerência é o de coordenador ou elo de ligação entre várias forças-tarefas. Com isso a<br />

expressão estruturas adaptativas a estas organizações de estilo novo. São no caso<br />

organizações que devem aumentar a motivação e, portanto, sua eficácia, por criarem<br />

condições sob as quais o indivíduo pode usufruir de satisfação crescente com a tarefa em<br />

si. Bennis afirma, então: “... assim, deve haver harmonia entre a necessidade que o<br />

indivíduo educado tem por tarefas que sejam significativas, propiciadoras de satisfação e<br />

criativas e uma estrutura organizacional adaptativa.” Confirmando essa tendência, Miller<br />

(1997) compara o comportamento das organizações do futuro, como já vimos no capítulo<br />

anterior, com o do camaleão.<br />

Por outro lado, estudiosos preocupados com os desafios, propostos às<br />

organizações, como rapidez com responsabilidade (uma recente exigência do consumidor<br />

final), nos leva a Deevy (1995), que buscava, como confidencia em sua obra, por muitos<br />

anos, uma palavra que descrevesse a chave do sucesso no mercado futuro. Queria<br />

entender a noção de responsabilidade para com o mercado. Entretanto, salientava que<br />

essa responsabilidade necessitaria ser combinada com vivacidade e agilidade. Para<br />

comunicar a relação entre rapidez e responsabilidade necessária para o ambiente de<br />

novos negócios, Deevy forjou a palavra, que aqui traduzimos, por “responsiva”. Declara<br />

ele que no futuro não haverá nenhum outro fator que a rapidez. A palavra “responsiva”,<br />

segundo ele, descreve a organização que é capaz de continuadamente se adaptar às<br />

necessidades do mercado, referindo-se, algumas vezes, que a nova identidade<br />

organizacional será como uma “organização resiliente” 4 .<br />

4 No Aurélio encontramos a definição de “resiliência” como a propriedade pela qual a energia armazenada em um<br />

corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica. Logo, a organização<br />

resiliente significa aquela que responde adhocraticamente a um desafio proveniente do mercado e, cessado esse<br />

impacto, a organização retorna as suas operações rotineiras.<br />

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Para esclarecer melhor o conceito de organização “responsiva”, Deevy nos apresenta,<br />

então, as suas características:<br />

1 - A organização “responsiva” é baseada no “compromisso” em vez do “controle”.<br />

2 - A organização “responsiva” é um sistema auto-organizado que possui um potencial de<br />

auto-renovação.<br />

3 - As relações necessárias é que definem o grau de presteza da estrutura organizacional<br />

“responsiva”.<br />

Modelo Burocrático Modelo Responsivo<br />

Continuando seu raciocínio, baseado nos desenhos acima, Deevy constata que o<br />

modelo burocrático prevalece, entre nós, mais do que 150 anos, até aparecer uma nova<br />

maneira de pensar sobre as organizações. Naturalmente a organização “responsiva” não<br />

foi concebida como uma melhora do velho modelo, mas como uma diferença fundamental<br />

da maneira de ver a função organizacional e como o trabalho é feito. A questão que se<br />

propõe, segundo o autor, é: “<strong>Como</strong> nós transformamos a burocracia tradicional no novo<br />

modelo a operar?”<br />

O autor responde, apresentando três condições que possibilitam essa troca:<br />

Condição 1 - Permite a cada pessoa conhecer as marcas a serem alcançadas;<br />

Condição 2 - Criar um fluxo livre dirigido aos clientes;<br />

Condição 3 - Dar a cada pessoa uma participação nos resultados.<br />

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A fim de esclarecer melhor a passagem do estado tradicional de as organizações<br />

verem o mundo para a nova visão, Deevy nos apresenta as diferentes maneiras culturais<br />

na qual se estabelecem os dois focos diagnosticados, no quadro 3, “Cultura<br />

Organizacional”.<br />

Quadro 3 - Cultura Organizacional Burocrática Vesus Responsiva<br />

Cultura Burocrática Cultura Responsiva<br />

O indivíduo como herói Orientação para equipes<br />

Foco no controle Foco no compromisso<br />

Foco para dentro da organização Foco no mercado/cliente<br />

Dependência psicológica Age como empresário<br />

Compromisso com o próprio grupo Compromisso com a empresa<br />

Mentalidade limitada ao departamento Orientação para o processo do negócio<br />

Centrado na gerência Centrado no empregado<br />

Fonte Deevy (1995)<br />

Constatamos que muitos autores apóiam-se na argumentação de que as<br />

organizações modernas estão calcadas exclusivamente na informação e no<br />

conhecimento. Afirmam eles que de nada adiantam estruturas eficazmente desenhadas<br />

para responder aos desafios, propostos pelo ambiente, e, muito menos, estilos gerencias<br />

mirabolantes, que direcionam as organizações para seu destino de sucessos, senão<br />

dispomos de informações apropriadas para as respostas que o ambiente competitivo nos<br />

exige. Muitos desses autores são árduos defensores da inteligência organizacional.<br />

Somente as empresas inteligentes podem conscientemente se adaptarem às novas<br />

realidades. Quanto mais inteligente a organização se tornar, mais chances ela terá de<br />

sobrevivência nessa era de turbulências constantes e descontinuadas.<br />

Muitos desses autores buscam detalhar um leque de fatores que podem atuar<br />

eficazmente na formação da inteligência organizacional, visando a um alto grau de<br />

competitividade para as organizações. Herring (1988) é um deles, onde através da Figura<br />

3 “Construindo um Sistema para Negócios Inteligentes”, nos demonstra claramente a<br />

dinâmica dos fatores que podem atuar eficazmente na formação da inteligência<br />

organizacional. Ainda nessa linha, Zuboff (1994) declara que numa organização altamente<br />

informatizada, os bancos de dados assumem vida própria, tornando-se um sistema de<br />

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informação poderoso, substituindo simbolicamente, on line, a maioria dos detalhes<br />

dinâmicos da vida cotidiana de uma organização. Nesse ponto, podemos nos questionar:<br />

“O que significa para uma organização <strong>transformar</strong>-se num banco de dados?” Esse<br />

mesmo autor nos responde, esclarecendo que a otimização do uso desse banco de dados<br />

leva a organização a se <strong>transformar</strong> num ambiente de aprendizado constante, onde o<br />

trabalho, em si, torna-se um processo de investigação e as contribuições que seus<br />

membros podem dar são, cada vez mais, uma função de sua capacidade de perceber,<br />

refletir, explorar, formular hipóteses, testar e comunicar.<br />

Verificamos que as novas características ambientais requerem das organizações o<br />

desenvolvimento de novas capacidades. Elas almejam mudanças nas suas estruturas,<br />

calcada exclusivamente no desenvolvimento de tecnologias de informação e nas<br />

profundas capacidades dos profissionais que nelas trabalham. Os teóricos de mercado<br />

chamam isso de “hipercompetição”, por introduzir um novo conjunto de condições<br />

competitivas. Salientam eles de que não é mais possível para uma organização<br />

desenvolver uma vantagem competitiva, que lhe permitirá competir confortavelmente num<br />

segmento do mercado, durante um longo tempo. As pressões competitivas, segundo eles,<br />

são muito fortes e as condições competitivas estão mudando muito rapidamente, por isso<br />

se exige um novo grupo de capacidades competitivas.<br />

O que vimos até aqui foi como é difícil encontrar todas essas exigências<br />

competitivas combinadas dentro de uma forma tradicional de organização burocrática.<br />

Sabemos que a tradicional organização burocrática é simplesmente tão lenta em suas<br />

reações e tão voltada para dentro de si, que enfoca o controle em vez da ação<br />

necessária. Ela está moldada para prover estabilidade, quando a inovação é necessária.<br />

Com tantas camadas gerenciais, com tanta assessoria, tantos controladores e tantos<br />

relatores, é simplesmente absurdo o custo com pessoal que inviabiliza qualquer<br />

competição orientada para agregar valor.<br />

O que substituirá, então, a forma burocrática de organização? Nesse ponto<br />

analisamos diversas contribuições, porém há um consenso na literatura de quais<br />

características serão necessárias para a transformação da organização burocrática em<br />

uma que responda eficazmente aos desafios desse ambiente hipercompetitivo. Listamos<br />

abaixo as principais:<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

a) Decisões tomadas perto do ponto de ação. Pessoas que trabalham regularmente com<br />

o consumidor e está melhor capacitado para tomar decisões instantâneas junto ao<br />

consumidor;<br />

b) Decisões tomadas com colaboração. Apesar das decisões serem tomadas perto do<br />

ponto de ação, elas raramente são tomadas completamente independente. Tipicamente<br />

os tomadores de decisão recebem informações e consultam outros no processo de<br />

tomada de decisão, funcionando como uma rede de informações;<br />

c) Organização horizontalizada. A horizontalização da organização será intensificada, pois<br />

níveis hierárquicos simplesmente adicionam custo, mas raramente adicionam valor<br />

compatível;<br />

d) Organizado por processos. O cliente é o começo e o fim, com todo o processo atado<br />

para adicionar valor para o mais novo cliente;<br />

e) Perspectiva holística. Esta é talvez a mais definida característica estrutural de<br />

organização do futuro. Membros da organização não são funcionalmente orientados, eles<br />

são orientados organizacionalmente. Na verdade, eles têm que desempenhar funções<br />

dentro dos processos, mas eles desempenham as funções no contexto do todo (visão,<br />

missão, objetivo e estratégia). Sem essa orientação holística, os membros da organização<br />

não têm uma adequada base para tomar decisões de qualidade e atender à necessidade<br />

do consumidor (tanto interno como externo).<br />

Certificamos que, com a descrição desse capítulo, praticamente fica assegurada a<br />

importância de se construir um modelo que atenda às necessidades dessa nova realidade<br />

em que convivemos. Com isso buscamos desenhar uma organização que não mais se<br />

conforma ou mesmo não se satisfaz com os conceitos e processos que a amarram na sua<br />

função natural de adaptação com o seu ambiente.<br />

Finalizamos esse capítulo, constatando que os dirigentes das organizações que<br />

fizerem-na sobreviver eficazmente no século XXI, pautado por incertezas, devem se<br />

conscientizar que estão diante de um alvo móvel (mercado), que se desloca a um ritmo<br />

acelerado (concorrência). Os requisitos para esse grau de competência são a<br />

flexibilidade, a inovatitividade e o aperfeiçoamento permanente, baseados no aprendizado<br />

contínuo e na participação ativa dos trabalhadores. Fala-se na verdade em um novo<br />

paradigma de organização. E, nesse novo desempenho, procura-se obter o efeito<br />

combinado de esforços na direção de melhor qualidade, maior flexibilidade e<br />

inovatividade, prazos de entrega menores e mais confiáveis e menores custos.<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

Programas voltados para a desverticalização, a terceirização, parcerias com clientes e<br />

fornecedores, trabalho em equipe, eliminação de desperdícios, rotação de tarefas,<br />

trabalhadores polivalentes, automação microeletrônica, compõem algumas das mudanças<br />

que caracterizam a modernização empresarial dentro desse novo paradigma.<br />

E assim, nesta seção, foram analisados os diversos comportamentos, adotados<br />

pelas organizações em face do cenário de exigências, preconizadas para o século XXI,<br />

onde não conseguimos adaptar os mesmos paradigmas encontrados nas formas<br />

tradicionais de organização. Na próxima seção analisaremos o grau de criatividade e<br />

inovação necessários na organização para que ela responda com eficácia os desafios<br />

propostos pelo século em que convivemos.<br />

2.3 Ênfase na Criatividade e Inovação nas Organizações: os resultados da ação<br />

revolucionária<br />

Criativo é o homem comum, do qual nada se tirou.<br />

Maslow<br />

Vimos nas seções anteriores que as organizações, ansiosas, procurando idéias que<br />

se transformam em negócios da noite para o dia, se deparam com pessoas que, de uma<br />

maneira geral, não são criativas, porque, confortavelmente, visam somente se adaptar às<br />

rotinas fundamentadas na falta de retorno, no desconhecimento dos objetivos, na<br />

manutenção do status quo a qualquer preço, dentre outros motivos. Isso fica bem<br />

caracterizado com o caso de um alto dirigente de uma empresa multinacional que, ao<br />

responder sobre qual era o seu trabalho como presidente do conselho, simplesmente,<br />

afirmou que sua função era a de “manter abertas as mentes fechadas da empresa”.<br />

<strong>Como</strong> vivemos numa época caracterizada por aceleradas transformações<br />

tecnológicas, integração regional e mundial da produção e comercialização,<br />

universalização das comunicações, rápidas mudanças políticas e culturais, constatamos<br />

que as idéias criativas surgem inesperadamente no momento de tensão. A criatividade 5 e<br />

a inovação, nesse caso, tornam-se poderosos recursos de que dispõe a organização para<br />

responder e aliviar tensões, em face dos desafios propostos a ela concomitantemente.<br />

Esses desafios são interpretados como novas demandas dos clientes, novos<br />

produtos, novas técnicas de produção e comercialização, novos processos de<br />

5 Recorremos ao Aurélio para entender o conceito de criatividade. Define criatividade como “qualidade de criador”; por<br />

criador define “aquele que cria ou criou” e o verbo criar por “ inventar, imaginar, produzir, suscitar.”<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

gerenciamento, novos mercados. Dessa forma, essas exigências são imperativas para as<br />

organizações, cobrando novas formas de gerenciamento, que incluem decisões rápidas<br />

sobre fatos novos, para os quais não se pode contar com regras preestabelecidas. Neste<br />

caso, vem sendo exigido das lideranças e de outros membros da força de trabalho das<br />

organizações uma elevada dose de capacidade criativa. Porém, introduzir uma inovação<br />

não parece muito simples, tendo em vista que a resistência a qualquer mudança é algo<br />

muito freqüente na organização. Tanto isso é verdade que Alencar (1996) recorre a<br />

Beveridge, biólogo e professor da Universidade de Cambridge, que nos lembra: “a mente<br />

humana resiste a uma nova idéia, da mesma forma como o nosso organismo enfrenta um<br />

elemento estranho, rejeitando-a com igual intensidade”. A autora constata que a<br />

criatividade vem sendo um tema atrativo para vários profissionais dos mais diversos<br />

setores, sendo pesquisada por diversas disciplinas, como Administração, Economia,<br />

Arquitetura, Engenharia, Filosofia, Matemática, Psicologia, entre muitas outras.<br />

Recorrendo a História, Alencar nos apresenta diversas interpretações que aqui<br />

sintetizamos:<br />

a) os gregos concebiam a criatividade como um estado místico de receptividade a algum<br />

tipo de mensagem proveniente de entidades divinas e invocavam as musas em busca da<br />

inspiração;<br />

b) o pensamento ocidental da concepção do indivíduo criativo era expresso como um<br />

veículo das idéias divinas;<br />

c) a associação entre criatividade e loucura tem sido apontada, buscando-se nos<br />

distúrbios mentais a explicação para a natureza irracional e involuntária da criação, como<br />

uma tentativa de compensar desajustamentos ou como uma entre outras formas de<br />

exprimir conflitos inconscientes;<br />

d) a produção criativa como uma expressão de uma criatividade imanente em tudo o que<br />

existe no universo é também uma concepção muito conhecida.<br />

Agora nos interessa distinguir criatividade de inovação. Para Levitt (1985) a<br />

diferença entre a criatividade e a inovação é a seguinte: a criatividade é basicamente ter a<br />

idéia e, portanto, bastando ter um problema, um objetivo, conhecimentos específicos e<br />

gerais, o ser humano pode utilizar técnicas diversas que o levem a obter uma idéia;<br />

inovar, no entanto, é praticar a idéia, é colocá-la como ação efetivada. Em Tushman &<br />

Nadler (1997) nos deparamos com dois tipos de inovação: inovação de produto e<br />

inovação por processo. Baseando-se na Figura 4 “Tipos de Inovação”, descrevemos<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

como os autores definem esses dois tipos, sendo que dentro de cada uma dessas<br />

categorias, há três graus de inovação - incremental, sintética e descontínua:<br />

a) Inovação de produto - A maioria das inovações de produto são mudanças incrementais.<br />

Elas propiciam características adicionais, novas versões ou extensões de uma linha de<br />

produtos anteriormente padronizada. É óbvio que tais inovações acontecem o tempo todo,<br />

podendo grande número de inovações incrementais, ligadas a necessidades de clientes,<br />

construir significativa vantagem competitiva;<br />

b) Inovação de processo - As inovações de processo modificam a forma com que os<br />

produtos e serviços são feitos e entregues. <strong>Como</strong> na inovação de produto, a maioria das<br />

inovações de processo são aperfeiçoamentos incrementais que resultam em custos<br />

menores, melhor qualidade ou ambos. Inovações substanciais de processo reduzem os<br />

custos e aumentam a qualidade do produto ou serviço, porém requerem novas<br />

qualificações, novas formas de organização e, freqüentemente, novas formas de gestão.<br />

À semelhança do que ocorre na inovação de produto, quanto maior o grau de mudança<br />

de processo tanto maior a incerteza e também a necessidade de aprendizado<br />

organizacional.<br />

Afirmam ainda os autores que existem somente duas formas em que a criatividade<br />

pode se manifestar: a invenção e a descoberta. Esclarecem que a invenção (ou inovação)<br />

quando, pela associação de dois ou mais fatores aparentemente díspares, chega-se a um<br />

terceiro fator que tem parte dos anteriores, mas que, em relação a eles, é novo. Reforçam<br />

esse conceito com a definição: “Descoberta é o encontro acidental de algo que não se<br />

havia percebido anteriormente”. Entretanto, alguns estudiosos de comportamento<br />

organizacional tem verificado que certas organizações estão vivenciando o panorama de<br />

dificuldades e necessidades, partindo para a consecução de tipos possíveis de inovações<br />

e de programas reais para as suas implementações.<br />

Aprendemos que a simples existência de uma organização supõe que houve uma<br />

crise em determinado momento - a organização, nesse caso, torna-se, em si mesma, a<br />

saída que foi encontrada através de uma abordagem criativa para o problema. No<br />

entanto, se a organização nasceu dessa crise, da identificação de uma oportunidade e da<br />

ação mercadológica para explorá-la, seria então conveniente mantê-la na crise que<br />

precede a criação e estimulá-la dessa forma durante todo o decorrer da sua vida. Logo,<br />

estímulos permanentes para crises (que precedem uma criação), faz com que a<br />

organização tenha, sempre e sistematicamente, aquele impulso inicial que a fez nascer e<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

que, em determinadas circunstâncias, faria agora com que ela “renascesse” diversas<br />

vezes durante o transcorrer de sua existência.<br />

Encontramos em Hill & Amabile (1993) a analogia entre a inovação organizacional<br />

com à criatividade individual. Chamam até de organização criativa, ou seja, aquela que<br />

valoriza o potencial para a competência, responsabilidade e ação, indo de encontro com a<br />

prática presente em nossa sociedade de promover um constante desperdício de potencial<br />

criativo. Caracteriza-se, segundo eles, por uma cultura que reconhece o potencial<br />

ilimitado de seus recursos humanos, que cultiva a harmonia do grupo, que estabelece<br />

expectativas apropriadas, que tolera as diferenças e que reconhece as habilidades e<br />

esforços de cada indivíduo. Descrevem, em seguida, os fatores básicos que compõem as<br />

organizações criativas:<br />

a) Recursos: dizem respeito a fundos, materiais, pessoas e informações disponíveis para<br />

se realizar o trabalho. Tais recursos, entretanto, podem ou não ser usados de forma<br />

criativa;<br />

b) Técnicas: incluem competências no gerenciamento da inovação, presentes nos<br />

distintos níveis da organização e voltadas para a concepção, desenvolvimento e<br />

implementação de idéias criativas;<br />

Motivação: esse fator é considerado o componente mais importante tanto no nível<br />

individual como organizacional. Lembram Hill & Amabile que os recursos e as<br />

competências de gerenciamento tornam a inovação possível, considerando, entretanto,<br />

que o elemento catalisador é a motivação para inovar, que engloba uma orientação para o<br />

futuro e uma visão orientada ao risco, sobretudo por parte dos escalões superiores da<br />

organização.<br />

A pergunta a que nos propomos agora é como se deve desenvolver o processo<br />

criativo nas organizações que convivem com uma intensa competitividade mercadológica.<br />

Buscando, através da criatividade nas organizações, a compreensão da criatividade<br />

individual, verificamos em Freud, o pai da psicanálise, que definia a criatividade<br />

individual, em sua obra “O Poeta e a Fantasia”, como originária de um conflito dentro do<br />

inconsciente (id), sendo que, mais cedo ou mais tarde, o inconsciente produz uma<br />

solução para esse conflito. Defendia ele que se a solução reforça uma atividade<br />

pretendida pelo ego, ou seja, pela parte consciente da personalidade, teremos como<br />

resultado um comportamento criador. Encontramos respostas também em Duailibi &<br />

Simonsen (1971) que afirmam: “o homem feliz jamais fantasia, mas o insatisfeito sim; os<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

instintos insatisfeitos são as forças impulsionadoras das fantasias e cada fantasia é uma<br />

satisfação de desejos, uma retificação da realidade insatisfatória”. Para que a criação<br />

ocorra, a pessoa criativa deve ser inicialmente perturbada e frustrada por um problema ou<br />

uma situação que não pode manobrar. O pensamento criador principiaria, segundo os<br />

autores, com a percepção de um problema cuja solução se mostra incompleta. As<br />

soluções criativas, para eles, resultam, portanto, da liberação de energias necessárias à<br />

eliminação dessa angústia. Para Don Fabun 6 , o processo criativo se dá da seguinte<br />

maneira:<br />

a) desejo - a pessoa ou a organização devem, por qualquer razão, querer criar algo<br />

original;<br />

b) preparação - ou acumulação de dados, visa “tornar familiar o estranho”;<br />

c) manipulação - é uma tentativa de síntese, de juntar conceitos aparentemente não<br />

relacionados;<br />

d) incubação - o componente inconsciente do processo criador;<br />

e) antecipação - é o que chamamos de “aquecimento”, um sentimento de premonição,<br />

algo nos diz que o problema está prestes a ser resolvido;<br />

f) iluminação - a solução esperada;<br />

g) verificação - a confirmação da viabilidade da solução.<br />

Nessa direção caminha também Mañas (1993), quando afirma que o indivíduo<br />

possui uma estrutura intelectual, porém o que se deve considerar é que, para obter o<br />

processo criativo, o indivíduo deve utilizar todos os seus conhecimentos. Esclarece ele<br />

que sem conhecer, sem memorizar o conhecido, sem pensar de maneira divergente ou<br />

convergente sobre o conhecido, já memorizado e pensado, fica impossível criar. É<br />

fundamental, segundo o autor, colocar todas as ferramentas disponíveis no intelecto para<br />

acionar o processo de criação, sendo que este processo só é efetivado, quando<br />

efetivamente as pessoas necessitam atingir um objetivo, mesmo que esse objetivo não<br />

esteja claramente definido. O autor nos explica ainda que o processo de criação só é<br />

estabelecido a partir de uma seqüência de passos que alguns estudiosos determinam<br />

como temporais, sendo considerados como passos construtores de um processo de<br />

solução de problemas. Os passos para a consecução desse processo são, segundo o<br />

autor:<br />

6 Don Fabun, em seu artigo no “The Journal of Communication Arts, V.10, No.3, 1968.<br />

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a) de sensibilização, onde o indivíduo percebe determinada situação como problemática;<br />

b) o de compreensão, onde o indivíduo processa os elementos necessários à melhor<br />

compreensão da situação;<br />

c) busca de idéias, onde procura alternativas possíveis para solucionar a situação<br />

problemática;<br />

d) crítica, onde o indivíduo finalmente, de posse de todas as alternativas, as avalia, com<br />

espírito crítico, utilizando a tomada de decisão para escolha daquela ou daquelas que<br />

julga a melhor ou as melhores.<br />

Nesse ponto indagamos: É possível treinar a criatividade numa pessoa? É possível<br />

fazer com que cada um de nós, através de algum processo consciente, passe a ser mais<br />

criativo do que é atualmente? Verificamos que alguns autores respondem a essas<br />

interrogações, alegando que criatividade não se ensina: o que se aprende é a maneira de<br />

pensar que faz surgir o potencial criativo existente em todas as pessoas. É isso que se<br />

espera de uma pessoa quando se dá a ela o treinamento para ser mais criativa.<br />

Recorrendo a Peter Drucker, em seu artigo “Landmarks of Tomorrow”, compete aos<br />

executivos facilitar a criatividade da empresa, com ênfase em algumas recomendações<br />

básicas, a saber:<br />

• criar condições para um aprendizado autogerador - isto é, para as pessoas que<br />

desejem ser criativas dentro da empresa obter estímulos em si mesmas, vindos de sua<br />

própria atitude;<br />

• evitar que o meio (gerência de nível médio) não seja autoritário em excesso;<br />

• pressionar para seu subordinado superaprender - isto é, não se contentar jamais com<br />

os estoques de conhecimentos referentes apenas à solução de um problema específico;<br />

• postergar os seus julgamentos (à medida do possível), mesmo quando já puder tê-los<br />

formado;<br />

• dividir com o seu pessoal as suas experiências, sem ciúmes profissionais nem<br />

superioridade;<br />

• estimular a flexibilidade intelectual, encarando a solução de qualquer problema sob<br />

várias formas;<br />

• encorajar a auto-avaliação do processo individual, permitindo que o próprio<br />

subordinado analise o seu trabalho e o seu desenvolvimento;<br />

• ajudar seu pessoal a tomar-se mais sensível;<br />

• prover freqüentemente oportunidades para que todos exercitem sua criatividade;<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

• auxiliar cada subordinado a compreender, aceitar e superar os seus fracassos;<br />

• instar para que os problemas sejam abordados como um todo e compreendidos como<br />

um todo - a fim de evitar que a pessoa, envolvendo-se excessivamente num dos detalhes<br />

do problema, perca a visão objetiva do conjunto.<br />

No Brasil, entretanto, verificamos que se tem procurado muito pouco tirar proveito<br />

sistemático da criatividade, em virtude do nosso sistema educacional obsoleto. Sabemos<br />

que não há interesse por parte da escola em desenvolver a capacidade do aluno para<br />

pensar de uma maneira criativa. Apesar de estarmos já no novo milênio, a nossa escola<br />

qualifica o indivíduo apenas parcialmente para a vida moderna, uma vez que o ensino<br />

continua praticamente nos mesmos moldes da primeira metade do século. Com isto, a<br />

criatividade reduz-se abaixo do nível das suas reais possibilidades, criando bloqueios,<br />

gerando insegurança, minando a autoconfiança e levando a um enorme desperdício de<br />

talento e de potencial criativo. Sabemos da árdua tarefa de se desenvolver um modelo de<br />

desenvolvimento de mentes criativas na organização. Vimos, então, nesta seção, o<br />

significado da criatividade e inovação nas organizações. Foi descrito também sobre as<br />

medidas necessárias para se desenvolver processos que estimulem a criatividade<br />

individual, como também das dificuldades de isso acontecer efetivamente. Para isso, fazse<br />

necessário, como veremos na seção seguinte, estudar qual cultura organizacional que<br />

facilitaria o desenvolvimento da criatividade e inovação nas organizações.<br />

2.4 Por uma Cultura Organizacional calcada no Inconformismo<br />

Iniciamos esse capítulo com Schein (1986), que procurou elaborar um conceito de<br />

cultura 7 , concebendo-a como um modelo dinâmico que é aprendida, transmitida e<br />

mudada. Existem, nesse caso, diferentes níveis pelos quais a cultura de uma organização<br />

pode ser apreendida: (a) os artefatos visíveis, como os produtos visíveis: o layout da<br />

organização, o comportamento das pessoas - fáceis de serem percebidos, mas difíceis de<br />

serem interpretados; (b) os valores, sendo que aqui o autor aponta o problema da<br />

diferença existente entre os valores aparentes e os valores em uso; e finalmente (c) os<br />

7 Aurélio nos define também “cultura”( do latim “cultura”) como (1) “ o complexo dos padrões de comportamento, das<br />

crenças, das instituições e de outros valores espirituais e materiais transmitidos coletivamente e característicos de uma<br />

sociedade; civilização”; (2) “o desenvolvimento de um grupo social, uma nação, etc., que é fruto do esforço coletivo<br />

pelo aprimoramento desses valores; civilização, progresso”; (3) “ atividade e desenvolvimento intelectuais; saber,<br />

ilustração, instrução”.<br />

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pressupostos básicos, que normalmente são inconscientes, mas que, na realidade,<br />

determinam como os membros do grupo percebem, pensam e sentem.<br />

Schein, no entanto, define cultura organizacional como “um conjunto de valores,<br />

expressos em elementos simbólicos e em práticas organizacionais, que em sua<br />

capacidade para ordenar, atribuir significações e construir a identidade organizacional<br />

tanto agem como elementos de comunicação e consenso como expressam e<br />

instrumentalizam relações de dominação”.<br />

Para Vasconcelos (1993), a cultura organizacional é, pois, fruto de um sistema de<br />

interações simbólicas, constituída por formas de expressão de um determinado grupo<br />

social, tais como, a produção de signos, linguagem, mitos, rituais, cerimônias, tabus,<br />

heróis, histórias, valores, arte, formas de comportamento, hábitos etc., representativos da<br />

“visão de mundo” ou do paradigma predominante na organização.<br />

Morgan (1986), por sua vez, define cultura como um processo de construção da<br />

realidade que permite às pessoas ver e compreender eventos específicos, ações, objetos,<br />

pronunciamentos ou situações de forma distinta. Esses padrões de compreensão também<br />

provêem uma base para tornar o próprio comportamento sensível e significativo.<br />

Alencar (1996) apresenta uma definição para cultura organizacional, baseando-se<br />

nos sistemas de crenças, normas, sentimentos e valores compartilhados pelos membros<br />

da organização que se espelha nas ações, especialmente daqueles que estão no topo da<br />

organização.<br />

Freitas (1997) nos fornece também sua definição do que entende por cultura<br />

organizacional: “...um conjunto de representações imaginárias sociais, construídas e<br />

reconstruídas nas relações cotidianas dentro da organização, que são expressas em<br />

termos de valores, normas, significados e interpretações, visando a um sentido de direção<br />

e unidade, e colocando a organização como a fonte de identidade e de reconhecimento<br />

para seus membros”.<br />

<strong>Como</strong> alguns administradores organizacionais tendem a tratar a cultura como um<br />

comportamento exótico ou irracional ou qualquer coisa na empresa a ser manipulada por<br />

eles, Fonseca (1991) nos revela que a abordagem que trata a cultura como alguma coisa<br />

que a organização é, em vez de encarar a cultura como algo importado da sociedade para<br />

dentro da organização ou como alguma ciosa criada pela gerência, admite que a cultura é<br />

o produto de símbolos e significados negociados e compartilhados que emerge da<br />

interação social. Esclarece a autora que a interpretação da cultura organizacional deve<br />

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ser profundamente articulada com a riqueza do contexto da vida social dos membros da<br />

organização.<br />

A partir dessas definições e de muitas outras pesquisadas, porém não citadas aqui,<br />

podemos ensaiar, nesse estudo, uma definição de cultura organizacional como:<br />

um conjunto de valores e crenças, socialmente apreendidos, pelos membros que a<br />

compõe, formando assim uma identidade organizacional explícita e diferenciada,<br />

expressada em ações compartilhadas de todos os seus integrantes, como respostas aos<br />

desafios propostos pelo mundo exterior.<br />

Identificamos na nossa pesquisa uma cisão nas opiniões de alguns autores, quando<br />

buscamos entender se a cultura organizacional pode ou deve ser gerenciável. Uns<br />

aceitam ser viável gerenciar e mudar a cultura de uma organização e outros que não<br />

pensam dessa forma. Descobrimos que, no primeiro grupo, os estudiosos citam a variável<br />

cultural como um ponto-chave para a execução de uma mudança estratégica e dentre<br />

eles, podemos citar Lorsch, Sathe, Schein e Schrivastava. Dentre os estudiosos que<br />

aceitam o gerenciamento da cultura, temos Mintzberg, Tichy, Bertero e Van Maanem.<br />

Tomei & Braustein (1993) explicam essa constatação, afirmando que é unânime que os<br />

momentos mais indicados para a execução de mudanças culturais são as crises externas,<br />

as lutas internas de poder durante a sucessão interna e a socialização de novos<br />

membros, sendo que nestes momentos, a resistência dos membros da organização<br />

manifesta-se de maneira mais branda, permitindo assim a “introjeção” de novos aspectos<br />

na cultura organizacional. Salientam, porém, que é possível gerenciar a cultura<br />

organizacional, que um fator ambiental pode ser o catalisador do processo de<br />

gerenciamento e mudança e que um exemplo deste fator ambiental poderia ser o<br />

processo de fusão ou privatização de empresas.<br />

Colocamo-nos, então, do lado dos teóricos que afirmam ser a cultura organizacional<br />

gerenciável. Fonseca (1991) é um deles, quando afirma que, para mudar a cultura<br />

organizacional, devemos observar três paradigmas, que representam diferentes formas<br />

de encarar mudança cultural, tendo em vista o conceito de cultura adotado: no paradigma<br />

1, a cultura é comum a toda a organização e tem uma ligação profunda com os valores<br />

transmitidos pela liderança; no paradigma 2, enfatizam-se as diversas subculturas que<br />

representam diferentes valores dentro da organização; e, finalmente, no paradigma 3,<br />

propõe-se que é mais difícil estabelecer fronteiras entre culturas e subculturas (já que os<br />

indivíduos, em constante interdição, compartilham alguns pontos de vista, discordam<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

sobre outros, ou são ignorantes ou indiferentes para com outros mais). O modelo desses<br />

três paradigmas convivem simultaneamente dentro da organização.<br />

Fleury (1993), outro teórico favorável ao gerenciamento da cultura organizacional,<br />

observa que à medida que uma organização se desenvolve no tempo, certos padrões de<br />

relações externas e internas, certas formas de resolver os problemas vão se<br />

consolidando, por isso identifica três tipos de mudanças culturais nas organizações:<br />

• a mudança aparente, quando a organização realiza alguma mudança a fim de<br />

preservar sua cultura;<br />

• a mudança revolucionária, quando os novos valores incorporados são antagônicos<br />

aos anteriores. Isto representa um grande esforço dos membros fundadores, que<br />

construíram a identidade organizacional, de substituir valores antigos por novos valores;<br />

• a mudança gradual, quando os novos valores propostos são complementares aos<br />

existentes, ampliando o leque de alternativas para a solução de problemas.<br />

Nesta seção, buscamos saber até que ponto a cultura é gerenciável, analisamos a<br />

posição de alguns autores que nos mostra a importância dos diversos fatores que<br />

compõem a cultura organizacional, como também a tentativa de se definir uma tipologia<br />

para a cultura e, finalmente, como se processa uma mudança cultural. Assim,<br />

acreditamos que a cultura é gerenciável e que a mudança revolucionária proposta por<br />

Fleury (1993) parece-nos ser a mais adequada se estivermos direcionados para o<br />

desenvolvimento de uma cultura organizacional revolucionária.<br />

Pretendeu-se no capítulo 2 oferecer uma visão sucinta de alguns pensamentos<br />

direcionados para a compreensão do que julgamos a essência comportamental da<br />

organização. Foram analisados os diversos comportamentos, adotados<br />

pelas organizações, em face do cenário de exigências, preconizadas para o século XXI,<br />

onde não conseguimos adaptar os mesmos paradigmas encontrados nas formas<br />

tradicionais de organização. Para isso, constatou-se a necessidade de se fomentar a<br />

criatividade e a inovação nas organizações. Foi descrito também sobre as medidas<br />

necessárias para se desenvolver processos que estimulem a criatividade individual, como<br />

também das dificuldades de isso acontecer efetivamente. Neste caso, concluiu-se que a<br />

cultura pode ser gerenciável e que a mudança revolucionária está mais de acordo com as<br />

pretensões de uma baseada no inconformismo. No próximo capítulo, analisaremos os<br />

motivos e as condições necessárias para a formação de uma organização estritamente<br />

revolucionária, denominada por nós, de inconformista.<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

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3 As Condições Essenciais para a Formação de uma Organização Inconformista<br />

Este capítulo nos apresenta as condições necessárias para se desenvolver uma<br />

Organização Inconformista. Descrevemos inicialmente o significado de conformismo e<br />

inconformismo nas organizações para depois relatarmos sobre a importância da<br />

contribuição e satisfação humana no trabalho como incentivo à criatividade e à inovação<br />

na organização.<br />

3.1 O Grau de Conformismo nas Organizações<br />

Este capítulo busca <strong>identificar</strong> as causas do conformismo nas organizações.<br />

Procura analisar o comportamento conformista dos indivíduos nas organizações, quando<br />

reagem a comandos administrativos.<br />

3.1.1 Algumas Considerações sobre o Conformismo<br />

Segundo o dicionário do Aurélio, o termo conformismo significa “a atitude de quem<br />

se conforma com todas as situações”; já o conformado é definido como aquele que se<br />

conforma, resigna, acomoda com infortúnios, vicissitudes, desconfortos, desgraças:<br />

pessoa conformada; é um conformado: tudo aceita como a vontade de Deus.<br />

Alguns teóricos da área social analisam o conformismo como uma resposta<br />

comportamental natural do indivíduo às pressões das forças do grupo a que pertence.<br />

Isso é justificado por Walter & Heyns (1962) quando afirmam que uma sociedade livre não<br />

é necessariamente livre. Em dada situação, é freqüente o caso de que alguns indivíduos<br />

se conformarem e outros não. É comum acreditar que alguns indivíduos podem ser<br />

caracterizados como sendo conformistas e outros não-conformistas. Às vezes, fazemos<br />

algumas confusões para analisar essa situação. Um grupo de “hippies” é freqüentemente<br />

chamado de não-conformista. Isso implica dizer que esse grupo possui desvios de<br />

conduta não aceitáveis pelas normas sociais. Na teoria tradicional isso tinha razão de ser,<br />

por causa das necessidades morais e sociais das pessoas para ter um ambiente social<br />

controlado. A palavra-chave era controle. Walter & Heyns ainda nos explica que as<br />

organizações tradicionais são calcadas, na sua grande maioria, no controle excessivo das<br />

atividades organizacionais, no intuito de se assegurar com precisão o atingimento dos<br />

resultados (e aí perguntamos: de quem?).<br />

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Já para Pinto & Abreu & Xavier & Fernandes (1977), as pressões do grupo provocam<br />

modificações psicológicas "arbitrárias", porém, têm sido até certo ponto ignoradas as<br />

características materiais das condições reais. Dentro deste ponto de vista, tornou-se<br />

muito enfatizado o aspecto de submissão do indivíduo às forças grupais. Deixou-se de<br />

averiguar as possibilidades de independência de relações produtivas com o ambiente<br />

humano, negando-se praticamente a capacidade que o indivíduo tem para, em certas<br />

situações, ir contra tais pressões. Podemos dizer, então, que atos de rebelião,<br />

independência e conformidade existem e têm funções definidas em todos os sistemas<br />

culturais. Por diversos motivos um grupo pode tornar-se importante para uma pessoa, e<br />

quanto maior for esta importância, mais fortes e eficazes tendem a ser suas pressões<br />

para uniformização. Segundo as autoras, se estudarmos a teoria da troca social,<br />

consideraremos que se uma pessoa julga que sua opinião sobre uma conclusão difere da<br />

opinião dos outros membros, há várias possibilidades de mudanças que ela pode<br />

considerar: primeiro, ela pode ficar independente ou não mudar de modo algum sua<br />

opinião; segundo, ela pode modificar um pouco a fim de ficar mais perto do que percebe<br />

ser a opinião do grupo (tal movimento, se conseguir reduzir a discordância, seria o<br />

conformismo); terceiro, é possível que uma pessoa modifique sua opinião para o<br />

inconformismo ou oposição e ir mais além da posição inicial tomada pelo grupo.<br />

As referidas autoras consideram que as forças sociais, usando a violência, podem<br />

impedir que a pessoa expresse sua compreensão e intenção frente a determinadas<br />

situações, quando o indivíduo pode agir de diferentes formas: o indivíduo precisa tomar<br />

medidas de defesa; ele pode lutar para afirmar sua individualidade; pode limitar-se pela<br />

submissão ou resignação; e, pode até unir-se aos que o oprimem.<br />

Com esse pensamento, recorremos a Reich (1986), que nos alerta sobre a<br />

armadilha em que se encontra a estrutura emocional do homem, sua estrutura de caráter.<br />

O autor afirma: “… que pouco adianta elaborar sistemas de pensamento sobre a natureza<br />

da armadilha, quando a única coisa para sair da armadilha é conhecê-la e encontrar a<br />

saída”. Com esta declaração, Reich acrescenta que tudo é inútil que não adianta “Miguel<br />

Angelos, os Shakespeares, os Goethes e os grandes cientistas e médicos, os Pasteurs e<br />

os Flemings” inventarem artifícios para prolongar a vida na “prisão” 8 , onde a armadilha<br />

nos leva. O essencial para o indivíduo ainda é: encontrar a saída da “prisão”. Porém,<br />

afirma que a saída é naturalmente visível pelos prisioneiros, mas esses não se<br />

8 Para Reich( 1996) esse tipo de prisão significa uma vida não livre, o contrário de liberdade.<br />

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manifestam em direção a essa saída, conformando-se com a situação. O problema, pois,<br />

segundo Reich, está nos prisioneiros. "Se algum deles tenta sair, os outros o matam",<br />

salienta Reich. O autor ainda ressalta que muito poucos conseguem se esgueirar para<br />

fora da prisão, durante a noite, quando todos dormem. “É a situação na qual se<br />

encontrava Jesus Cristo", complementa Reich. Com essas afirmações, Reich nos ensina<br />

que a saída se fará possível através do processo de reeducação dos seres humanos.<br />

Afirma ele que o educador do futuro fará, sistematicamente (e não mecanicamente), o que<br />

todo educador bom e autêntico já faz hoje: “sentirá as qualidades da Vida viva em cada<br />

indivíduo e facilitará o seu desenvolvimento pleno”. Ensina-nos Reich que a tendência<br />

social atual, isto é, enquanto estiver dirigida contra essas qualidades inatas de expressão<br />

emocional viva, o educador autêntico deverá assumir uma dupla tarefa: deve conhecer as<br />

expressões emocionais naturais que variam de um indivíduo para outro, e a de aprender a<br />

lidar com o meio social, restrito e amplo, na medida em que este se opõe a essas<br />

qualidades vivas. Alerta-nos, finalmente, que devemos nos preparar, pois esse processo<br />

será lento, penoso e exigirá muito sacrifício. “Muitas serão as vítimas da peste<br />

emocional”, conclui.<br />

Encontramos em o "Leviatã", obra de Thomas Hobbes, escrita no século 17 (1651),<br />

o seguinte: “...a vida do homem no estado de natureza - sem leis nem governo - era<br />

solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta, uma vez que os homens são por índole<br />

agressivos, autocentrados, insaciáveis e obcecados por um desejo de ganho imediato".<br />

Freud, neste caso, (afirmava em diversos artigos escritos) que num nível inconsciente e<br />

primitivo, os seres humanos são inerentemente hostis, destrutivos, egoístas e cruéis,<br />

onde a inclinação à agressão é um dispositivo instintivo primário no homem, pois o<br />

inconsciente é sempre infantil.<br />

Nesse sentido, nos questionamos como ainda existem exemplos, em nosso<br />

quotidiano, de comportamentos humanos voltados para a cooperação, a generosidade e o<br />

altruísmo aparentes?<br />

Recorrendo a algumas obras clássicas para tentar responder a essa indagação,<br />

constatamos que, nos estudos de Adam Smith, "Riqueza das Nações" de 1776, os<br />

indivíduos são vistos como levados a um comportamento social decente por intermédio de<br />

sua ambição pessoal, justamente o traço mais estável da psicologia humana. Salienta o<br />

autor, em sua obra, que não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do<br />

padeiro que esperamos nosso jantar, mas sim de seu interesse pessoal. Conclui, então:<br />

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“... não contamos com sua humanidade, mas com seu amor de si, e não lhes falamos de<br />

nossas necessidades, mas de seus ganhos”.<br />

Verificamos também que o egoísmo filosófico recebeu seu maior impulso com a<br />

publicação, em 1859, da "Origem das Espécies", de Charles Darwin. Darwin explica que,<br />

tão-somente características genéticas favoráveis ao sucesso reprodutivo dos indivíduos,<br />

tinham chance de se fixar na espécie. De modo análogo, afirma Darwin que traços de<br />

caráter que não conduzissem ao ganho pessoal seriam erradicados ao longo do tempo.<br />

Para um “darwinista linha-dura” não haveria razão evolucionária para agir de outro modo,<br />

quando descreve: “...seria pura loucura mergulhar num rio para salvar uma criancinha”.<br />

Observa-se, até aqui, que o motivo principal para o conformismo seria mais ou menos<br />

vivido no sentido das inconveniências que o não-conformismo traria. Nesse caso,<br />

entendemos o conformismo como uma mudança no comportamento de uma pessoa,<br />

devido à influência do grupo, resultando num aumento da congruência entre o indivíduo e<br />

o grupo. Essa definição trata apenas do conformismo comportamental. É evidente que<br />

nessa definição não está implícita a pretensão do sujeito. Alguns escritores exigem que,<br />

para um ato ser considerado conformista, deve representar a pretensão da pessoa para<br />

preencher as expectativas-padrão do grupo. Acrescentam que nem só a mudança no<br />

comportamento, nem a pretensão, por si só, definem um ato conformista. Julgam que<br />

ambos devem estar presentes, e a direção da mudança deve levar em conta as normas<br />

ou padrões do grupo. Podemos ver também o conformismo como uma atitude para evitar<br />

sanções, pois a ameaça da perda dos reforçadores sociais levaria ao conformismo.<br />

Verificamos que as pessoas ameaçadas pela rejeição de um grupo exibiam conformismo<br />

público, na tentativa aparente de evitar o desagradável desta rejeição.<br />

A nossa tese central é de que as funções individuais dentro de um campo social<br />

obedecem a sua percepção das expectativas do grupo sobre o seu comportamento.<br />

Dependendo das circunstâncias motivacionais e perceptuais, e de como essas estão<br />

relacionadas a determinadas características do campo social, o indivíduo será mais ou<br />

menos dado a comportar-se concordando com essas expectativas. Essa expectativa não<br />

é estática, porém, por sua vez, depende da prévia interação entre o indivíduo e os<br />

mesmos relevantes do grupo.<br />

Mattos (1992) esclarece-nos sobre a responsabilidade dos educadores no<br />

incentivo da passividade e conformismo dos indivíduos. Afirma ele que o sistema<br />

educacional de uma sociedade desempenha o papel de modelar o ser humano em seu<br />

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processo de socialização, como um longo rito de passagem. Entretanto, o próprio<br />

conceito de educação sofreu o efeito distorcido do reducionismo econômico, e o sistema<br />

educacional, ao invés de formar, no sentido de despertar os indivíduos, tem sido usado<br />

como mero instrumento de adestramento. Desta forma, anestesiando consciências e<br />

amortecendo impulsos criadores, o sistema educacional se transforma em instrumento<br />

político de manutenção de mitos, símbolos e tradições dos grupos detentores de poder.<br />

Assim, Mattos salienta que a educação enfatizou o "fazer" ao invés do "ser e entender".<br />

Por outro lado, segundo ele, as organizações de trabalho reforçaram o mito do poder e a<br />

massa de trabalhadores procura esmerar-se no fazer cada vez mais e melhor, sem saber<br />

o porquê nem o para quê, guiadas por normas e padrões estabelecidos.<br />

Porém, Mañas (1993) identifica um outro lado da questão, nos alertando sobre a<br />

passividade de algumas pessoas em face da realidade que se apresenta. O homem vive<br />

a acatar o sistema e ir vivendo, afirma ele, sem observar, muitas vezes, com detalhe a<br />

realidade ao redor, sendo comum, também, não questionar a qualidade, ou validade das<br />

informações que são passadas. O nosso ir vivendo é geralmente uma atitude passiva.<br />

Explica: “…muitas vezes nos recusamos a refletir sobre o fato novo, agarramo-nos<br />

desesperadamente ao nosso sistema de crenças e buscamos violentamente e geralmente<br />

sem sucesso, recuperar a segurança perdida”. Aqui Mañas nos conta a história do boi que<br />

ilustra com exatidão seu ponto de vista:<br />

“… imagine-se caminhando por um vasto campo. É uma manhã bonita, ensolarada, com<br />

uma brisa refrescante que lhe bate ao rosto. Seus pensamentos vêm e vão, sem que você<br />

os registre conscientemente. De repente você se depara com um boi, placidamente,<br />

voando. Voando! Exatamente, voando! Qual você acha que seria sua reação? Muito<br />

provavelmente, sua reação seria de espanto, não acreditaria. Olharia em volta, como que<br />

preocupado com você mesmo, esfregaria os olhos, olharia novamente e, talvez<br />

boquiaberto, veria o boi planando. Seu pensamento? Quem sabe não seria este: "Estou<br />

ficando maluco!". Quem sabe correr, fugir, não fosse sua reação lógica. Talvez dissesse a<br />

você mesmo, tentando se convencer: - "Aquilo não é possível". "Manda prender este boi!<br />

Seja este boi o que for! ... segura este boi ! É proibido voar.”<br />

Com essa ilustração, constata-se que sempre contamos com todas as coisas que se<br />

comportam de uma maneira ou de outra, de acordo com o sistema de crenças que nos é<br />

transmitido por nossos pais, mestres, amigos, antepassados ou pelo sistema social,<br />

religioso, político ou científico do grupo ao qual pertencemos. Porém, existem situações<br />

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em que o nosso sistema de crenças é colocado em xeque, onde as circunstâncias não<br />

seguem o padrão esperado – “boi realmente não pode voar à toa”. Somente, aí, então, é<br />

que pensamos. Sintetizamos, então, que a conformidade é quase certa de ocorrer quando<br />

há uma forte necessidade e a situação exige um comportamento conformista, a fim de<br />

satisfazer essa necessidade.<br />

Nesta seção, foi visto as razões que motivam o conformismo. Por outro lado,<br />

começamos a entender os motivos que levam as pessoas ao inconformismo. Na seção<br />

seguinte, analisaremos o grau de inconformismo nas organizações e as causas da<br />

resistência ao novo.<br />

3.1.2 O significado da contribuição e satisfação humana no trabalho: as causas do<br />

conformismo nas organizações<br />

Em decorrência da ênfase na especialização, interessa-nos discutir sobre a perda do<br />

significado do trabalho, que chega a um ponto tão absurdo onde ninguém percebe mais o<br />

alcance do que produz porque não vê o conjunto da atividade em que o seu esforço se<br />

insere. Citando um trecho de Albornoz 9 , onde nos mostra que a alienação objetiva do<br />

homem, do produto e do processo de seu trabalho é uma conseqüência da organização<br />

legal do capitalismo moderno e desta divisão social do trabalho, sendo praticamente uma<br />

"auto-alienação”. Para ele, o trabalhador vende seu tempo, sua energia, sua capacidade a<br />

outrem. Vendem-se aí suas personalidades, ou seja: os sorrisos, a pontualidade, o senso<br />

de oportunidade, a aparência de confiabilidade, etc. Isto torna a empresa impessoal,<br />

alienando o pessoal no indivíduo e que a rotina que visa o barateamento da produção<br />

leva todos à idiotia da especialização.<br />

Complementando as análises feitas por Reich, sobre a armadilha humana, Boff<br />

(1982) salienta que a origem do nome trabalho, vem de trepalium, em latim, que significa<br />

instrumento de tortura, pena pesada, ou seja: cansativo e contudo suportável; monótono<br />

e, ao mesmo tempo causador de humilde alegria; desgastador da vida e, no entanto,<br />

também mantenedor da vida; vocação do homem no ato de <strong>transformar</strong> o meio ambiente<br />

e simultaneamente fator de alienação de castigo e de dor. Revela Boff que, desde sua<br />

criação, o homem se destina ao trabalho e por isso é profundamente realizador e<br />

humanizador, mas devido à alienação fundamental do homem (pecado original),<br />

9 Albornoz, Suzana. O que é trabalho. 5ed. São Paulo: Brasiliense, 1992.<br />

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transmutou-se efetivamente em pena e como fator de alienação entre os homens e do<br />

homem com a natureza.<br />

Vergara & Branco( 1993) concordam com essa afirmação, oferecendo-nos uma<br />

expressão que só adquire sentido quando se considera a ação humana como elemento<br />

de contribuição relevante, quando declaram: “... no contexto das organizações, a<br />

fragmentação se manifesta através de relações hierárquicas fundamentadas na ilusão de<br />

supremacia do chamado trabalho intelectual sobre o braçal, através de especialização<br />

compartimentalizada e do desmembramento de tarefas levado a extremos”. Segundo os<br />

autores, tudo isso dá origem a um trabalho sem vida e desvinculado de suas relações<br />

com todo. Concluem, finalmente, ressaltando que esse fenômeno verificado, como não<br />

poderia deixar de ser, é um arranjo social baseado em valores e premissas que espelham<br />

a natureza segmentada de nosso universo interior.<br />

Recorrendo à História para buscar razões que conduzem à alienação do<br />

trabalhador, verificamos que, com a Revolução Industrial, deu-se origem ao surgimento<br />

de novas "castas" na sociedade, classificadas por Berger (1990) da seguinte maneira: a<br />

primeira, a classe das pessoas, cujo trabalho ainda provê ocasião para auto-identificação<br />

primária e comprometimento do indivíduo (condições favoráveis à auto-realização); a<br />

segunda classe coloca as pessoas que realizam trabalhos por elas percebidos como uma<br />

verdadeira ameaça a auto-identificação, uma opressão; a terceira se posiciona entre as<br />

duas, sendo uma classe cinza ou neutra onde as pessoas nem se regozijam nem sofrem.<br />

Nessa última, as pessoas vão "levando" o trabalho pelas outras coisas mais interessantes<br />

que este supre, conectadas à sua vida privada. Ressalta, porém, que essa última classe,<br />

comparada às outras, foi a que mais se expandiu durante a Revolução Industrial, com a<br />

racionalização do trabalho e a burocratização da máquina administrativa decorrentes da<br />

necessidade funcional do sistema industrial.<br />

<strong>Como</strong> para entrever o futuro é preciso não perder de vista o passado, Masi (1993)<br />

esclarece que também recorre à revolução industrial como a passagem necessária e de<br />

aprendizado para podermos definir a importância do trabalho no mundo atual.<br />

"O que determinou tanto progresso?", questiona o autor. Responde quando revela: “ ...<br />

entre Napoleão e nós, realizou-se a revolução industrial, ou seja, aquele conjunto de<br />

inovações tecnológicas que, substituindo a habilidade humana com máquinas e o esforço<br />

de homens e animais com energia inanimada, tornou-se possível a passagem do<br />

artesanato à manufatura, dando vida,, assim, a uma economia moderna".<br />

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Observando em um artigo no "London Times", datado de maio de 1995, onde iniciava<br />

com as seguintes palavras: "Dante, ao compor suas visões do inferno, bem que poderia<br />

ter incluído o trabalho repetitivo, sem criatividade e sem atrativo da linha de montagem de<br />

uma fábrica… ele destrói a iniciativa e enferruja o cérebro...". Mediante isso, encontramos<br />

em Friedmann (1983) a explicação de que as tarefas, além de repetidas, sofreram<br />

excessivo parcelamento, ocorrendo, freqüentemente esse fenômeno, tanto nas oficinas,<br />

quanto nos escritórios, nos serviços de venda e de distribuição.<br />

Thiry-Chesques (1995), por sua vez, complementa a discussão sobre o grau de<br />

alienação imposto ao trabalhador moderno, alertando-nos sobre as novas máscaras de<br />

exploração da mão-de-obra, objetivando qualidade total e produtividade total. Enfatiza o<br />

autor que a apologia da padronização, que beira a anulação completa da individualidade,<br />

em favor da eficácia dos sistemas está no cerne dos pacotes de técnicas gerenciais.<br />

Essas técnicas de excelência, de qualidade, e as novas perspectivas na administração de<br />

recursos humanos, segundo o autor, aparecem como perigoso passo adiante do simples<br />

controle do comportamento. “Na busca de um sobreesforço dos empregados, essas<br />

técnicas necessitam conquistar os sentimentos e o pensamento (os corações e as<br />

mentes) e dirigir a consciência das pessoas envolvidas na produção.”, conclui ele.<br />

Reforçando esse ponto de vista, recentemente uma romancista francesa indignada<br />

com a deteriorização do trabalho, no mundo neoliberal, escreveu uma obra, bastante<br />

polêmica, até mesmo no mundo dos estudiosos em Economia, denominada "Horror<br />

Econômico" 10 . Sem ser uma "expert" em Economia, Viviane Forester escreveu sobre o<br />

desalento e a angústia das sociedades, qualificadas como desenvolvidas, acostumadas<br />

com taxas de crescimento altas, pleno emprego e equilíbrio social. Segunda a autora, as<br />

sociedades enfrentam, pela primeira vez, em 50 anos, uma série de problemas, para os<br />

quais não estavam preparadas ou que supunham resolvidos: desemprego, exclusão<br />

social, miséria crescente e um futuro sem grandes perspectivas. Ressalta ela que os<br />

sistemas econômicos modernos só têm uma mora, a de dar mais importância ao lucro e<br />

excluir os seres humanos, que nele são apenas valores supérfluos. Viviane Forester se<br />

mostra revoltada também com o sistema perverso de mentiras dos economistas para os<br />

quais um balanço impecável é mais importante que as pessoas que produzem riquezas.<br />

10 Matéria jornalística( sem autor), publicada no Jornal do Brasil de 30 de março de 1997, sobre baseada no artigo "O<br />

horror econômico", escrito pela romancista Viviane Forester, de 71 anos de idade, lançado na França, no início de<br />

1977, com uma tiragem inicial de aproximadamente 300.000 exemplares.<br />

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Em sua opinião, o capitalismo e o neoliberalismo são destruidores do emprego e<br />

provocam uma marginalização crescente da população. Afirma que essas novas<br />

tecnologias, essas máquinas que substituíram o trabalho humano produzem cada dia<br />

mais bens de melhor qualidade, prescindindo da mão-de-obra. “O "horror econômico",<br />

para ela, é a ameaça de nos tornarmos todos inúteis e sermos descartados pelo sistema.<br />

Aristóteles, pai da cultura ocidental, que, através de uma de suas reflexões tentava<br />

entender o trabalho, quando dizia: “… se cada ferramenta pudesse, a partir de uma ordem<br />

dada, trabalhar por conta própria, se os teares tecessem sozinhos, se o arco tocasse<br />

sozinho nas cordas da cítara, então, os empreendedores poderiam privar-se dos<br />

operários e os proprietários, dos escravos”. Nesse ponto, retornamos a Masi (1993) que<br />

declara: “... nunca, como hoje, estivemos tão perto da realização desse sonho: fábricas<br />

inteiramente automatizadas já estão em operação em três dos cinco continentes".<br />

Acreditando também que o processo tecnológico eliminará cada vez mais trabalho<br />

humano, o autor nos ilustra com a seguinte observação: “ ... hoje a população mundial é<br />

doze vezes maior que na época de Isaac Newton, porém, a nossa vida média (700.000<br />

horas) é seis vezes mais longa que a do homem de Neanderthal e mais que o dobro da<br />

dos nossos avós (300.000 horas).” Segundo ele, os nossos avós trabalhavam 120.000<br />

horas no curso de suas vidas, enquanto nós trabalhamos aproximadamente 80.000. Os<br />

nossos filhos, por sua vez, viverão em média 900.000 horas e trabalharão não mais que<br />

50.000 horas. Com isso, salienta que a humanidade espera com volúpia novas<br />

descobertas para eliminar as quatro escravidões que nos impunham: escassez, tradição,<br />

autoritarismo e cansaço físico. E, assim, conclui, “… o mito de Sísifo pode, finalmente, ser<br />

reescrito que, como se sabe, o herói grego foi punido pelos deuses por excesso de<br />

engenhosidade”.<br />

Nesta seção buscou-se conhecer as causas do conformismo das pessoas. Analisou-se<br />

também os fatores que levaram a perda do significado do trabalho humano na sociedade.<br />

Pela história conhecemos a lógica da anulação completa da satisfação do homem no<br />

trabalho, seu conformismo com tudo que provem da organização, sob as máscaras<br />

gerenciais da produtividade e qualidade total. Sentimos, então, a necessidade de estudar,<br />

como veremos na seção seguinte, como o inconformismo pode nos conduzir a um<br />

trabalho criativo, trazendo mais significado para o ser humano e com isso maior<br />

satisfação para o seu desempenho.<br />

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3.2 O Inconformismo nas Organizações: Celeiro de Mentes Revolucionárias<br />

Neste capítulo vamos analisar os fatores que conduzem os indivíduos ao<br />

inconformismo e como isso pode ser traduzido em uma contribuição efetiva no trabalho,<br />

gerando mais satisfação para realizá-lo. Esse cenário facilita a formação de mentes<br />

revolucionárias.<br />

3.2.1 A Necessidade de se Identificar e Promover o Inconformismo nas Organizações<br />

Ao analisar as causas do inconformismo das pessoas na organização, não<br />

poderíamos deixar de citar a máxima de George Bernard Shaw, que, através de sua<br />

ironias sobre o contexto em que viveu, nos apresenta o seguinte: "The reasonable man<br />

adapts himself to the world. The unreasonable man persists in tryng to adapt the world to<br />

himself . Therefore, all progress depends on the unreasonable man". 11<br />

Sabemos que, em muitas situações, o comportamento conformista conduz à<br />

satisfação de uma necessidade, enquanto o comportamento inconformista conduz à<br />

satisfação de uma outra diferente necessidade. Muitas das necessidades humanas são<br />

mais fortes em certas ocasiões do que em outras. Entretanto, o conformismo e o<br />

inconformismo devem flutuar de tempos em tempos, dependendo das forças das<br />

necessidades que servem as duas classes de comportamento nas situações envolvidas.<br />

Sabemos que os indivíduos que adotam o comportamento inconformista, em<br />

determinadas situações, trabalham mais duros do que aqueles que buscam o<br />

conformismo porque visam uma afiliação imediata. John Galbraith sempre, em suas<br />

palestras, afirmou que a sabedoria convencional reinante nas organizações atualmente é<br />

uma forma de pensamento conformista, inteligência sem risco que, em vez de investigar<br />

novos ângulos e possibilidades na discussão dos problemas humanos, contenta-se em<br />

repetir aquilo que a maioria já sabe, garantindo aplausos de antemão. “Já a sabedoria<br />

inconformista 12 é a antítese disso”, afirma com segurança.<br />

Alguns teóricos se referem a essa disposição do indivíduo para o inconformismo de<br />

diversas maneiras. Hamel (2000) salienta que a era do progresso começou com a<br />

esperança – e termina com a ansiedade. Afirma que não é que as coisas não mudassem<br />

11 Traduzimos essa máxima de George Bernard Shaw como “ O homem razoável se adapta ao mundo. O homem<br />

inquieto persiste em tentar adaptar o mundo a si próprio. Entretanto, todo progresso depende das pessoas inquietas”.<br />

12 Segundo o dicionário do Aurélio, o termo “inconformado” significa “ aquele que não se conforma ou não se<br />

conformou; não resignado”; já o “inconformismo” é definido como procedimento ou modo de ser próprio de quem é<br />

inconformado”; por fim, inconformista é aquele que revela inconformismo: atitude inconformista.<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

na era do progresso, mudavam. Porém, o mundo caracterizava-se pelo equilíbrio<br />

descontínuo, no qual as mudanças ocorriam de maneira gradual e raramente<br />

disseminavam formas de vida inteiramente novas. Salienta também que a mudança como<br />

conhecíamos também mudou. Não é mais tão agressiva. Não mais se movimenta em<br />

linha reta. Neste século XXI, a mudança é descontínua, abrupta, indócil. Enfim, para<br />

Hamel, vivemos num mundo que é só descontinuidade, sem equilíbrio. Estamos agora,<br />

segundo o autor, no limiar de uma nova era – a era da revolução, somos testemunhas de<br />

uma explosão, onde aparecem novas formas de vida concorrentes. Para essa nova era,<br />

salienta: “... a empresa que evolui lentamente já está a caminho da extinção. O verdadeiro<br />

segredo da era virtual não é “e” de eletrônica , e sim “i” de inovação e imaginação. O<br />

diferencial competitivo das empresas “ponto com” não é a proeza técnica, mas a<br />

imaginação”.<br />

Sabemos que as estatísticas demonstram que quase a totalidade (90%) das<br />

empresas emergentes brasileiras sucumbem no primeiro ano de vida por não serem<br />

excessivamente criativas. Na inovação - não no sentido comum de novos produtos e<br />

novas tecnologias, mas na acepção de novos modelos de negócio radicais, o ponto de<br />

partida é a mentalidade revolucionária. A inovação deve ser transformada em capacidade<br />

de oferecer produtos e serviços dentro das expectativas dos clientes. Em suma,<br />

entendemos que a inovação radical é a vantagem competitiva do novo milênio.<br />

A organização inconformista, proposta por este artigo, é para aqueles que querem<br />

fazer essa diferença em seu mundo e em suas organizações; é para os rebeldes que<br />

rejeitam a idéia de que somente os que ocupam cargos altos na organização tem o dom<br />

de pensar e refletir sobre o futuro da organização; é para todos os que estão cansados de<br />

jogar em segurança; é para os sonhadores que não estão dispostos a sacrificar seus<br />

sonhos no altar da sabedoria convencional; enfim, é para os líderes que atribuem tanta<br />

importância aos clientes, aos colegas e a seu próprio legado que simplesmente não<br />

conseguem imaginar-se não liderando a revolução organizacional.<br />

A organização inconformista vem para derrubar a versão de progresso de fins do<br />

século XX que difundiu o cinismo. A revolução proposta pela organização inconformista<br />

deriva do fato de que aqueles que eram gigantes do mercado não ditam sozinhos as<br />

novas regras. Novos ventos estão destruindo fortificações que outrora protegiam o status<br />

quo . A desregulamentação destruiu os monopólios confortáveis. A internet dilacerou com<br />

suas presas as organizações tradicionais. A diferença entre ser um pioneiro e um<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

seguidor não mais se mede em décadas, mas em minutos. Pela primeira vez na história,<br />

somos capazes de construir com base na imaginação, em vez de progredir a partir do<br />

passado.<br />

Baseando-nos ainda em Hamel, entendemos que a organização tradicional se<br />

preocupava com “o como” (como fazer, como ser eficiente), já as a organização<br />

inconformista se ocupa a pensar “no que” que oportunidades buscar, que parcerias<br />

constituir, que tecnologias pesquisar, etc... .<br />

Esta seção nos apresentou as razões que levam as pessoas ao inconformismo,<br />

como também a organização, facilitando a formação de mentes revolucionárias para a<br />

criatividade e inovação. Na próxima seção, estudaremos como o trabalho pode ser um<br />

meio de promover a satisfação humana, enriquecido constantemente através do incentivo<br />

a mentes revolucionárias na organização.<br />

3.2.2 A ampliação do conceito de contribuição e satisfação humana no trabalho: o<br />

incentivo a mentes revolucionárias<br />

A nossa preocupação agora é responder a seguinte questão: “ Então com que visão<br />

de ser humano vamos trabalhar? Moggi & Burkhard (1996) nos explicam que existem<br />

muitas escolas de pensamento que enxergam o homem de maneiras diferentes e, que<br />

essas visões impregnaram a cultura de abordagens ideológicas e maniqueístas que<br />

amarram as pessoas e as empresas a paradigmas que dificultam os passos em direção à<br />

mudança. Classificam quatro visões do ser humano, concebidas ao longo do tempo e<br />

orientadas para o tratamento das mudanças organizacionais, as quais resumimos aqui:<br />

a) a visão tecno-mecanicista: muito popular no fim do século passado, comparando o ser<br />

humano a uma máquina. Minimiza o papel do ambiente na determinação do<br />

comportamento. As propriedades básicas do ser humano - inteligência, personalidade,<br />

motivos, percepções e emoções - não são concebidas como sujeitas a mudanças<br />

qualitativas durante o período de vida;<br />

b) a visão behaviorista: considera o homem, na hora de seu nascimento, como uma<br />

folha de papel em branco (tabula rasa) que recebe todo o conhecimento através dos<br />

sentidos. O ambiente externo seria o único fator determinante do comportamento do<br />

indivíduo. Desta linha destaca-se o psicólogo americano Skinner, com o estudo do<br />

comportamento como ciência objetiva;<br />

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c) a visão personalista ou psicologia humanista: preconiza que o indivíduo adulto<br />

determina seu próprio caminho, dirigindo-se para níveis mais elevados de<br />

autoconsciência. Há em cada indivíduo uma consciência que lhe permite significar e<br />

optar. Essa consciência autônoma e interna é a liberdade individual. Uma visão muito<br />

recente derivada desta abordagem é dada pela psicologia transpessoal;<br />

d) a visão holística do ser humano: foi desenvolvida pelo cientista e pensador austríaco<br />

Rudolf Steiner e integra todas as visões apresentadas. Nela, encontramos a visão<br />

mais abrangente, arquetípica e esclarecedora sobre o ser humano.<br />

Nessa linha, em consonância com a visão holística do ser humano, é que alguns<br />

autores, com o advento das novas tecnologias, revigoram suas esperanças e se propõem<br />

a repensar o conceito do trabalho, trazendo para o seu conteúdo mais significância.<br />

Dentre eles, podemos nos referir a Tofler (1980) que se concentra na imposição de um<br />

tipo de força de trabalho radicalmente diferente. Segundo ele, o novo mundo dos<br />

negócios se concentra na circulação de conhecimento, o que exige do trabalhador uma<br />

vasta gama de habilidades culturais e interpessoais. Afirma ele que qualquer estratégia<br />

eficiente de redução de desemprego numa economia supersimbólica dependeria, pois,<br />

mais de distribuição de conhecimento do que de distribuição de riqueza. Nesse caso,<br />

segundo o autor, o proletariado estaria sendo substituído pelo "cognitariado" e, com isto,<br />

começariam a surgir novas "castas" sociais, conforme o nível de envolvimento da pessoa<br />

com o processo de geração de informações e conforme o tipo de acesso que teria a<br />

estas. Sintetiza o autor que os trabalhos, puramente simbólicos, seriam aqueles<br />

responsáveis pela transmissão ou geração de informações; os trabalhos mistos<br />

envolveriam trabalho físico e a "manipulação" das informações; os trabalhos puramente<br />

manuais estariam condenados ao desaparecimento, pois toda tarefa repetitiva e simples<br />

pode ser feita sem "pensar" e, conseqüentemente, é candidata à robotização.<br />

Verificamos em alguns autores uma crítica, bastante relevante, na qual se afirma<br />

que novamente se observa um reducionismo, ao se desmembrar o homem em um ser<br />

físico e outro mental, como se ambos não estivessem estritamente relacionados e não<br />

fossem um. Para reforçar essa sua análise, Schumacher 13 nos alerta: "…a difundida<br />

substituição do esforço braçal pelo esforço mental não teve vantagens no nosso ponto de<br />

vista. Trabalho físico adequado, mesmo que desgastante, não absorve grande parte do<br />

13 Schumacher, Ernst Friedrich. Good Work. New York: Harper & Row Publishers, 1979, pp. 25.<br />

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poder de atenção (espaço mental), mas o trabalho mental sim; de maneira que não se<br />

deixa espaço para as questões espirituais que realmente interessam".<br />

Alertado com isso recorremos a autores que visam buscar na ampliação do<br />

conceito do trabalho o fator de diferencial competitivo para as organizações. Valença<br />

(1997) é um deles, defende a tese de que as organizações, a partir de seus valores e<br />

visões de mundo, precisam de pessoas que tenham aprendido as habilidades que são<br />

necessárias para a consecução das tarefas. Diz ele que antes que as pessoas possam<br />

usar estas habilidades de modo eficaz, os programas instrumentais da organização se<br />

baseiam em programas mentais e em programas de habilidades que devem ser<br />

rigorosamente generalizados entre todos e estocados nos repertórios de prática. Assim,<br />

segundo o autor, os trabalhadores não apenas executam os seus programas mentais<br />

tácitos de habilidades, mas vão aos poucos, tornando-se rígidos e inalteráveis. Entretanto,<br />

salienta o autor que os agentes não podem executá-los, sem deixar de pensar/refletir, não<br />

conseguindo de nenhuma maneira executá-los de forma perfeita, por mais que tenham<br />

sido mecanizados.<br />

A par disso, Valenti & Silva (1995) afirmam que as expectativas com relação ao valor<br />

do trabalho se elevaram, criando a necessidade de uma nova visão do homem, uma<br />

mudança de paradigma. Esse novo paradigma, explicam eles, tende a superar essas<br />

dificuldades, em que cada profissional da organização será visto, e quer ser visto, como<br />

sócio do negócio organizacional.<br />

Já Thiry-Chesques (1995) propõe que a organização construa uma cultura<br />

compatível com as necessidades e pressões da sociedade moderna. Diz ele tratar-se de<br />

não compreender a especificidade do ente social, mas de preconizar um tipo de<br />

associação economicamente rentável, imersa na lógica de mercado. O propósito,<br />

esclarece, é o "fortalecimento" da cultura corporativa mediante o compromisso<br />

(commitment) e a autonomia criativa dos empregados. Baseado neste conceito, proposto<br />

por Thiry-Chesques, observamos que, na trajetória dos estudos das teorias<br />

organizacionais, quanto à compreensão dos determinantes do comportamento humano na<br />

situação de trabalho, uma proliferação de construtos intrapsíquicos, que são na sua<br />

maioria de natureza atitudinal. Tais construtos buscam dar conta de tudo o que o<br />

indivíduo traz consigo para a situação de trabalho e de como processa psicologicamente<br />

os eventos que aí ocorrem.<br />

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Bastos (1993) nos sugere, identificado com as distintas abordagens do construto de<br />

comprometimento, alguns fatores que considera principais:<br />

a) o enfoque afetivo<br />

Enfatiza-se a natureza afetiva do processo de identificação do indivíduo com os<br />

objetivos e valores da organização.<br />

b) enfoque instrumental<br />

O comprometimento é visto como função das recompensas e custos associados<br />

com a condição de integrante da organização.<br />

c) enfoque sociológico<br />

Nesse terceiro enfoque, com origem na Sociologia, trata-se de reconhecer o apego<br />

(attachment) 14 à organização empregadora, como significando que o vínculo do<br />

trabalhador é conceitualizado em termos das relações de autoridade que governam o<br />

controle do empregador e a subordinação dos trabalhadores.<br />

d) enfoque normativo<br />

O construto comprometimento é conceitualizado como o conjunto de pressões<br />

normativas internalizadas pelo indivíduo para que se comporte congruentemente com os<br />

objetivos e interesses da organização.<br />

e) enfoque comportamental<br />

O comprometimento é um vínculo do indivíduo com atos ou comportamentos,<br />

fazendo com que as cognições relativas a tais atos se tornem mais resistentes a<br />

mudanças posteriores.<br />

Um dos problemas levantados por Berry (1995) e Thiry-Chesques (1995),<br />

contrapondo-se a Bastos (1993) em sua classificação proposta acima, é que o<br />

comprometimento fica difícil se o grau de frustração dos trabalhadores, no tocante a falta<br />

de crença nas promessas dos empresários de melhorar suas condições no trabalho, for<br />

baixo. Isto é apresentado por Berry (1995) nas pesquisas sociais de Yankelovich e<br />

14 Halaby, C. N. & Weakliem, D. L. Worker control and attachment to the firm. American Journal of Sociology, VC.<br />

95, N. 3, pp. 549-591, 1989. Esses autores conceituam "apego" como o interesse do trabalhador em permanecer no seu<br />

emprego atual ou a expectativa de utilidade atribuída, pelo trabalhador, a dois cursos de ação - permanecer versus<br />

buscar novo emprego.<br />

Em trabalho mais recente, Os autores afirmam que tal conceituação captura a essência do que alguns chamam de<br />

"comprometimento organizacional", embora seja mais neutro e despido da conotação psicológica e afetiva associada a<br />

este termo. Concluem os autores: "...além do mais, na nossa definição simples de permanecer versus sair, o attachment<br />

pode ser revelado por expressões verbais e/ou comportamentais de um trabalhador”.<br />

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Harris 15 que demonstram que, nos últimos trinta anos, a descrença do povo norte-<br />

americano nas suas instituições aumentou vertiginosamente. O empresariado norteamericano<br />

só agravou essa tendência nacional de desilusão ao se mostrar incapaz de<br />

atender às expectativas de carreira criadas por suas freqüentes falsas promessas.<br />

Ressalta ele que se a situação na metade da década de 80 já era ruim, o downsizing<br />

(desestratificação), metas de produtividade e os processos de reestruturação do final dos<br />

anos 80 e início dos 90 só serviram para torná-la ainda pior. Ilustra-nos o autor com a<br />

seguinte mensagem, colocada no quadro de avisos de uma fábrica, logo após o anúncio<br />

de demissões em massa, resultantes da fusão da empresa, onde fica traduzido um pouco<br />

da angústia e do ressentimento que o processo de reestruturação normalmente provoca:<br />

Não sabemos dizer por quanto tempo continuaremos a operar.<br />

Não podemos prometer que não seremos engolidos por outra empresa.<br />

Não podemos prometer que haverá promoções.<br />

Não podemos garantir seu emprego até a aposentadoria.<br />

Não podemos prometer que haverá dinheiro para a aposentadoria.<br />

Não podemos esperar sua eterna lealdade nem temos certeza se a<br />

desejamos.<br />

No entanto, o autor salienta que os empregados céticos, desiludidos, frustrados e<br />

patologicamente co-dependentes não nasceram assim. Portanto, segundo o autor, a<br />

única explicação possível parece ser que este profundo descontentamento é uma<br />

conseqüência da prática gerencial.<br />

Por sua vez Corrêa (1996) nos propõe uma alternativa de solução que satisfaça<br />

tanto a organização, como o trabalhador, reduzindo, sobremaneira, seu grau de frustração<br />

no ambiente de trabalho. Descreve ele que uma organização que pretenda aumentar o<br />

nível de flexibilidade de sua força de trabalho deveria favorecer o desenvolvimento das<br />

seguintes características principais em seus trabalhadores: habilidades melhores e<br />

múltiplas; habilidade de tomar decisões/resolver; habilidade de trabalhar em equipe;<br />

15 As pesquisas sociais de Yankelovich e Harris pintam um quadro de acentuado declínio na confiança que o povo<br />

norte-americano coloca em suas instituições. Yankelovich conclui que "a confiança no governo caiu drasticamente de<br />

quase 80% na década de 50 para cerca de 33% em 1976. Mais de 80% dos eleitores norte-americanos afirmam que não<br />

confiam mais, como antes, nas pessoas que ocupam posições de liderança". Em seu trabalho de 1989, The Cynical<br />

Americans, Harris afirma que “nunca o declínio da confiança e a ascensão da desconfiança foram tão evidentes na<br />

atitude das pessoas em relação às empresas e líderes. Essa confiança despencou de aproximadamente 70% no final da<br />

década de 60 para cerca de 15% nos dias de hoje. Cada vez menos pessoas acreditam que as empresas sabem o que<br />

estão fazendo quando se trata de investir seu dinheiro ou oferecer um emprego seguro para seus empregados. Cada vez<br />

menos pessoas concordam que as empresas estão contratando, treinando e mantendo as pessoas certas para administrar<br />

as empresas".<br />

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capacidade de comunicação; habilidade de compreender o processo como um todo;<br />

habilidade de adaptação a situações novas; e, habilidade/disposição para o aprendizado<br />

contínuo.<br />

Dentro da linha em que o recurso mais valioso da organização é ação funcional do<br />

homem, verificamos que o ser humano é construtor ou co-criador de instituições sociais<br />

(grupos, empresas, associações, sociedades, países etc) à imagem e semelhança da sua<br />

estrutura mais sutil. Crendo na máxima que a empresa só se desenvolve se as pessoas<br />

que a compõem se desenvolverem, e vice-versa, apresentamos a seguinte circularidade :<br />

empresas de sucesso => investem em recursos humanos => e para terem mais sucesso<br />

==> continuam investindo em recursos humanos. Alguns autores afirmam que bastaria um<br />

caso de insucesso para desqualificar o rigor dessa circularidade.<br />

Já Srour (1994) e Gonçalves (1997) acreditam no aparecimento da terceira<br />

revolução industrial, esclarecendo que os trabalhadores são capacitados para a<br />

polivalência e a multifuncionalidade, respondendo por um segmento da produção ou por<br />

um produto por inteiro, além de serem avaliados por resultados não só individuais, mas<br />

sobretudo coletivos. Constataram que muitas empresas têm obtido resultados notáveis,<br />

organizando-se em função de processos e projetos, agrupando seu pessoal em times e<br />

dando a eles autonomia sem precedentes. No entanto, sabemos que trabalhar<br />

eficazmente em grupos não é intuitivo: para terem sucesso em suas novas tarefas, os<br />

empregados precisarão de novos conhecimentos, novas habilidades e novos<br />

comportamentos, desde a compreensão de processos inteiros até a solução de<br />

problemas e a demonstração de iniciativa.<br />

Nesta seção apresentamos estudos que buscam a ampliação do conceito do<br />

trabalho, como fator de criação de mentes inconformistas ou mesmo rebeldes na<br />

organização, voltadas simplesmente para soluções coletivas internas e externas. Com<br />

isso, estará assegurada à organização o seu diferencial competitivo, extremamente<br />

inovador. Analisou-se aqui as muitas escolas de pensamento que enxergam o homem de<br />

maneiras diferentes, onde alguns autores, com o advento das novas tecnologias,<br />

revigoram suas esperanças e se propõem a repensar o conceito do trabalho, trazendo<br />

para o seu conteúdo mais significância, isto é, celeiro de inovações constantes. No<br />

próximo capítulo, discutiremos como a organização pode se tornar o instrumento de<br />

formação de cérebros revolucionários voltados para a competitividade.<br />

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No capítulo 3, analisamos a dificuldade de os indivíduos ainda se negarem ao<br />

crescimento humano e não quererem evoluir em todas as suas dimensões. Desta forma,<br />

apresentamos as razões que explicam esse comportamento, mostrando a armadilha em<br />

que se encontra a estrutura emocional do homem. Prosseguimos com as dimensões<br />

esquecidas do ser humano encurralado na superespecialização, apresenta uma perda do<br />

significado do seu trabalho, através de imposições calcadas na qualidade e na<br />

produtividade total. Mais adiante questionamo-nos sobre com que visão de ser humano<br />

devemos trabalhar em face da competitividade existente.<br />

4. A Organização Inconformista: transformadora de mentes revolucionárias em diferencial<br />

competitivo<br />

Não se pode ensinar alguma coisa a um homem; apenas ajudá-lo a encontrá-la dentro de<br />

si mesmo.<br />

“Galileu”<br />

Uma das nossas maiores preocupações no desenvolvimento deste artigo era a de<br />

tentar explicar a passagem de uma organização tradicional para a do modelo, proposto<br />

por nós, denominado de inconformista. Primeiramente, faz-se necessário desenvolver na<br />

organização um aprendizado organizacional revolucionário, tornando os indivíduos o<br />

único diferencial competitivo da organização. Mais adiante discutir as diversas formas de<br />

ocorrer a difusão desse aprendizado revolucionário, como também as possíveis<br />

resistências internas a esse tipo de aprendizado. E, finalmente, propor um perfil de<br />

liderança, adequado aos pressupostos da organização inconformista, que facilite o<br />

desenvolvimento de mentes revolucionárias.<br />

4.1 A Organização Inconformista: pressupostos, conceito e estrutura de aprendizado<br />

revolucionário<br />

A partir de agora, cabe-nos buscar uma definição para a organização inconformista.<br />

Entendemos por organização inconformista aquela que visa construir capacidades<br />

individuais para o desenvolvimento de conhecimentos revolucionários que criem uma<br />

vantagem competitiva auto-sustentável para a organização no mercado em que atua.<br />

Essa vantagem competitiva auto-sustentável é o resultado da potencialização constante<br />

dos seguintes fatores na organização: informação revolucionária, flexibilidade estrutural e<br />

responsividade. Esses fatores são alcançados através do incentivo permanente e<br />

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somente a mentes revolucionárias, conseqüência dos constantes inconformismos na<br />

organização.<br />

Na seção 2.2, analisamos as opiniões de diversos autores que buscam <strong>identificar</strong> o<br />

modelo de organização contemporânea que sobreviverá às exigências do ambiente<br />

descontinuado e imprevisível. Verificamos que o comportamento estratégico de uma<br />

organização decorre do seu grau de abertura, o que, por sua vez, é determinado por dois<br />

fatores: a cultura e a capacitação organizacionais. Em face disso, Ansoff (1993) nos<br />

esclarece que, à proporção que cresce a organização, desenvolvem-se as habilidades,<br />

conhecimentos e valores do grupo, constituindo mais do que a simples soma das<br />

contribuições dos participantes. Quando a organização se torna grande, segundo ele, os<br />

grupos de trabalho se multiplicam e passa a existir um outro ingrediente de sua<br />

capacitação, o qual pode ser determinado de conformidade com a interação e a<br />

complementação dos membros do grupo entre si. O resultado desse processo é<br />

denominado pelo autor de "capacitação estratégica organizacional", que, em síntese,<br />

decorre da competência administrativa e logística da organização. Assim, salienta que<br />

essa competência significa a capacidade de um grupo ou de um indivíduo afetar qualquer<br />

aspecto do comportamento estratégico, constituindo o seu "poder" na organização.<br />

Nesta mesma direção, caminha Berry (1995), que reforça a constatação de Ansoff,<br />

esclarecendo-nos que a arena empresarial intensamente competitiva de amanhã e os<br />

novos mercados, para os quais estamos reinventando nossas empresas, exigem que a<br />

competitividade se torne uma qualidade presente na organização como um todo e que<br />

seus membros terão que aprender a reaprender continuamente. Ressalta ele que as<br />

diversas abordagens que visam à conscientização cada vez maior a respeito dessas<br />

necessidades emergentes e urgentes são voltadas para o "empowerment" (delegação de<br />

poderes), aprendizagem, rede de comunicações, parcerias e alianças estratégicas.<br />

Finaliza com a seguinte mensagem: “… a questão fundamental das organizações da<br />

próxima geração será a forma de gestão que facilitem a liberação da energia humana e<br />

que nela se concentrem”.<br />

Ainda dentro dessa abordagem, retornamos a Moggi & Burkhard (1996) que<br />

complementam as idéias de Ansoff e Berry, quando afirmam que o desafio de colocar a<br />

empresa e seus recursos voltados para o mercado exige tempo, coragem, persistência e<br />

paciência e, quando consolidado, esse novo patamar se torna um diferencial competitivo<br />

definitivo. <strong>Como</strong> a mudança cultural é um fenômeno de aprendizagem coletiva, exclusivo<br />

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de cada empresa, como vimos anteriormente, os autores afirmam que quem aprende não<br />

é a empresa, mas, sim, as pessoas individualmente e em grupo. O concorrente,<br />

asseguram eles, nunca poderá queimar etapas nesse processo porque, como entidade<br />

viva, a empresa também não pode dar saltos no seu processo evolutivo.<br />

Fillion (1993), por sua vez, oferece uma excelente contribuição a essa discussão,<br />

entendendo que o ser humano passa a ser, no futuro, o único diferencial competitivo das<br />

organizações. Declara o autor que o indivíduo, nesse caso, torna-se um líder que guia<br />

toda uma equipe em direção à meta; um líder que cria uma cultura de aprendizado para si<br />

mesmo, transmissível às pessoas que se encontram ao seu redor. Tornar-se também,<br />

continua o autor, um pensador com visão, "um visionário", implicando ser alguém capaz<br />

de atingir o equilíbrio entre o fazer e o sonhar. “Delegar o sonho que leva a uma visão é<br />

difícil, mas deve-se delegar o fazer aquilo que se tiver sonhado”, salienta Fillion.<br />

Kofman & Senge (1993) nos alertam que o aprendizado pode também ocorrer<br />

entre o medo e a necessidade. Por um lado, esclarecem eles: "… nós sentimos a<br />

necessidade de mudar para atingirmos nossos objetivos; por outro lado, nós sentimos a<br />

ansiedade de encarar o desconhecido e o não familiar”. Para aprender coisas<br />

significativas, sugerem eles que devemos eliminar algumas noções básicas sobre nossos<br />

mundos e sobre nós mesmos. “Este é uma das mais apavorantes proposições para o<br />

ego”, finalizam.<br />

Tofler & Tofler (1995) vão ainda mais longe na questão da necessidade intrínseca<br />

das pessoas para aprender, independente das adversidades naturais, afirmando: "...<br />

estamos criando novas redes de conhecimento..., interligando conceitos de maneiras<br />

surpreendentes..., construindo espantosas hierarquias de ingerência…, gerando novas<br />

teorias, hipóteses e imagens, baseadas em novas suposições, novas linguagens, códigos<br />

e lógicas. O mais importante, porém, é que estamos inter-relacionando dados de várias<br />

maneiras, dando-lhes contexto e, assim, incorporando-os à informação; e estamos<br />

montando blocos de informação em modelos cada vez maiores de arquiteturas de<br />

conhecimento".<br />

Levey & Levey (1995) inserem nesse debate a idéia de que o aprendizado<br />

requerido é, antes de mais nada, transformacional, e nos propõe uma poderosa<br />

ferramenta, denominada de "roda do aprendizado", onde são incluídos dois caminhos<br />

complementares: o caminho da “inovação” e do “desenvolvimento” e o caminho do<br />

"insight" e “descobrimento”. Baseando-nos na figura proposta por esses autores,<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

apresentamos Figura 6, “A Roda do Aprendizado: o núcleo de competências para uma<br />

organização inconformista”, onde podem ser aplicados a uma organização pelo seu<br />

potencial de "insights" e desenvolvimentos através de nove domínios interrelacionados,<br />

assim descritos: todo ser humano tem uma profunda aspiração por uma qualidade de<br />

vida. Para realizar tal qualidade de vida, nós confiamos bastante em nós mesmos e nos<br />

outros que fornecem serviços e produtos de qualidade para se fazer um trabalho de<br />

qualidade. No crescimento das inter-relações mundiais, fazer um trabalho de qualidade<br />

requer construir e manter relacionamentos de trabalhos de qualidade. Estes por sua vez<br />

refletem a qualidade do desempenho, eficiência, pensamento, atenção, e a intensidade de<br />

sabedoria e compaixão, que cada indivíduo traz para sua vida e trabalho. Uma ação<br />

inspirada de um indivíduo isolado pode mudar nosso mundo para melhor ou pior. O poder<br />

desta influência aumenta na proporção em que nós melhoremos nossa capacidade de<br />

obter "insights", inspirar e nos comunicar com os outros.<br />

Ximenes (1997) traz-nos uma valorosa contribuição quando enfatiza que<br />

aprender não é saber a resposta, mas sim saber onde, como e com quem encontrar a<br />

melhor resposta - e da maneira mais rápida.<br />

Entendemos também que a mentalidade de se encarar os negócios organizacionais<br />

é de vital importância para se promover uma organização voltada para um modelo de<br />

inconformismo. Assim a mentalidade deve ser vista como uma predisposição para<br />

enxergar o mundo de uma determinada maneira, que estabelece limites e fornece<br />

explicações para o porquê das coisas serem como são, enquanto, ao mesmo tempo,<br />

estabelece uma orientação para as maneiras como devemos nos comportar. Diante disso,<br />

podemos traçar, baseado em Stephen H. Rhinesmith 16 , seis características pessoais<br />

associadas às mentalidades voltadas para o aprendizado organizacional revolucionário:<br />

1. conhecimento - precisa ser amplo e profundo, cobrindo aspectos técnicos e do negócio<br />

e contribuindo para gerir adequadamente o processo competitivo;<br />

2. conceitualização - diz respeito à capacidade conceitual necessária para lidar com a<br />

complexidade das organizações atuais. Para isso, os indivíduos devem ser,<br />

simultaneamente, especializados e holísticos na sua maneira de pensar, conciliando<br />

análise e síntese;<br />

3. flexibilidade - refere-se à adaptabilidade necessária para lidar com as mudanças<br />

rápidas no ambiente;<br />

16 Rhinesmith, Stephen H. Guia gerencial para a globalização. Rio de Janeiro: Berkeley, 1993.<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

4. sensibilidade - é necessária para lidar com as diferenças individuais presentes nas<br />

equipes, estando receptivo a outros pontos de vista e predisposto a questionar<br />

suposições, valores e convicções;<br />

5. julgamento - está associado à qualidade de lidar com a incerteza, a qual está cada vez<br />

mais presente nas decisões gerenciais;<br />

6. reflexão - oferece a perspectiva necessária para lidar com as exigências de um<br />

aprendizado contínuo.<br />

Concluímos, então, que as pessoas desejam participar da solução dos problemas de<br />

sua organização e que o requisito da organização é assegurar que seu pessoal possa<br />

livremente debatê-los. Para isso, a organização deve investir muito no treinamento e<br />

desenvolvimento do seu pessoal, sobretudo daqueles ligados à atividade-fim. Os<br />

resultados dessa iniciativa beneficiam à organização por ter funcionários inconformados;<br />

e, beneficiam aos clientes porque o quadro de pessoal de seus fornecedores de serviços<br />

é responsivo.<br />

Por outro lado, sabemos que isso só será possível se a organização der ênfase ao<br />

desenvolvimento de equipes. Falamos da equipe, autodirigida ou autogerenciada,<br />

proporcionando energia à organização inconformista. As equipes se formarão em torno de<br />

um problema que, uma vez resolvido ou redefinido, algumas equipes serão desfeitas e<br />

outras se formarão, modificando-se conforme a necessidade. Entretanto, faz-se<br />

necessário que sejam capazes de “atrair, desenvolver e reter”, de forma mais eficaz, um<br />

grupo diversificado dos melhores e mais inteligentes talentos humanos do mercado. Para<br />

atrair os melhores talentos, a organização deve <strong>identificar</strong> a predisposição psicológica dos<br />

profissionais que ingressam na força de trabalho. Uma vez que esses talentos<br />

compreendam bem o seu próprio valor no mercado, serão mais exigentes com relação às<br />

suas recompensas (mensuráveis e psíquicas) e remunerações (dinheiro e oportunidades).<br />

A razão principal de uma organização inconformista é atender às demandas psicológicas<br />

de sua força de trabalho, tais como: o seu anseio de autodeterminação; a oportunidade de<br />

exercer liderança e obter promoções; e o significado de seu trabalho. A única maneira<br />

para a organização inconformista atender a essas demandas será adotar um crescimento<br />

agressivo planejado, uma ação empreendedora e a descentralização interna. Essas<br />

medidas criarão a necessidade de rapidamente desenvolver aptidões na força de<br />

trabalho. Essa é a essência da organização inconformista. Tornar-se capaz de<br />

desenvolver métodos para aumentar a necessidade e o impacto do aprendizado,<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

demonstrando uma clara vantagem competitiva, não apenas em termos de um capital<br />

humano avançado, mas também na capacidade de atrair os melhores e mais inteligentes<br />

profissionais. Através da Figura 7, “Velocidade do Aprendizado Organizacional<br />

Revolucionário”, proposta por Smith & Kelly (1997) e adaptada ao nosso estudo,<br />

visualizamos essa ação empreendedora organizacional, onde a organização<br />

inconformista aprenderá a desenvolver seu capital humano de forma mais ágil e efetiva,<br />

do que as organizações atuais e antigas. A estratégia para elevar a curva, alcançando um<br />

maior impacto em menos tempo, ocorrerá por meio de uma comunicação eficaz.<br />

Ilustrando essa nossa idéia, encontramos em Hamel (2000), o caso do engenheiro<br />

da Sony que desafiou a alta administração a superar seus próprios preconceitos contra o<br />

negócio de video games. A resposta que o engenheiro recebeu da cúpula foi “... não<br />

fabricamos brinquedos!” Esse executivo não se dando por vencido, importuna, trama e<br />

arquiteta. Contra todas as forças consegue persuadir a Sony a desenvolver o playstation<br />

(jogo de video game). Foi um extraordinário sucesso! O playstation, em 1998, foi<br />

responsável por 40% dos lucros da Sony. Conclui Hamel que todo rebelde é persistente.<br />

<strong>Como</strong> a era da revolução exige mentes revolucionárias, isto nos leva à era do<br />

aprendizado organizacional revolucionário que conduz a oportunidades inéditas. Essa era<br />

é bem assimilada pelos inconformados. Exige-se da organização, para uma sobrevivência<br />

sadia, que elas pratiquem permanentemente a inovação em seus negócios. E essa<br />

inovação é a capacidade de imaginar negócios totalmente diferentes dos já existentes.<br />

Ser inconformista sem ter pontos de vista revolucionários, torna-se um engodo. Faz-se<br />

necessário cultivar mentes que se autodirijam, que vejam diferente e sejam diferentes.<br />

Para isso, a organização deva ter um modelo gerencial que esclareça bem como o poder<br />

é distribuído em toda a organização e, em especial, como essa distribuição de poder pode<br />

inibir os modelos mentais.<br />

A partir de agora, cabe-nos buscar uma definição para a organização inconformista.<br />

Entendemos por organização inconformista aquela que visa construir capacidades<br />

individuais para o desenvolvimento de conhecimentos revolucionários que criem uma<br />

vantagem competitiva auto-sustentável no mercado, onde a organização opera. Essa<br />

vantagem competitiva auto-sustentável é o resultado da potencialização constante dos<br />

seguintes fatores na organização: informação revolucionária, flexibilidade estrutural e<br />

responsividade. Esses fatores são alcançados através do incentivo permanente e<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

somente a mentes revolucionárias, consequência dos constantes inconformismos na<br />

organização.<br />

Nesta seção apresentamos a organização como instrumento de aprendizado<br />

revolucionário. Sob esse prisma, o indivíduo, incentivado a gerar conhecimento<br />

revolucionário, torna-se um líder que guia toda uma equipe em direção a mudanças<br />

inéditas na organização, desenvolvendo uma cultura de aprendizado revolucionária,<br />

celeiro de mentes revolucionárias. Dentro desses pressupostos, elaboramos uma<br />

definição para a organização inconformista. Na seção seguinte, vamos estudar as razões<br />

para se desenvolver na organização o aprendizado organizacional revolucionário.<br />

4.2 Ênfase no aprendizado organizacional revolucionário: a essência da organização<br />

inconformista<br />

Iniciamos esta seção, recorrendo a um texto "sufi" 17 , que sabiamente nos coloca<br />

frente a dura realidade sobre a capacidade de as pessoas aprenderem:<br />

… o trágico da situação é que, mesmo entre as pessoas supostamente<br />

iluminadas, somente uma pequena minoria quer verdadeiramente<br />

aprender. São, na verdade, como um bando de selvagens que desfizeram<br />

um aparelho de rádio e que alegremente ou talvez com temor, lustram as<br />

peças isoladas, exaltando a sua dureza, simetria, raridade e descrevendo<br />

suas virtudes. Os selvagens querem que suas experiências sejam<br />

confirmadas. Querem falar sobre as brilhantes peças e não sobre o<br />

"todo". Não vêem porque o "todo" não poderia ser uma extrapolação do<br />

transistor ou do condensador. Em algum momento, e quanto antes<br />

melhor, temos de trazer os selvagens de volta a uma etapa anterior e lhes<br />

explicar que o que tomaram por milagre não foi um milagre: foi parte de<br />

algo de cuja totalidade temos suficiente conhecimento. E supondo que<br />

pudéssemos atrair sua atenção o suficiente para conseguir que isto os<br />

penetre, ainda teríamos de lutar contra sua exigência de que lhes seja<br />

mostrada a totalidade, imediatamente. Faz-se necessário conscientizá-los<br />

de que devem participar efetivamente na restauração da tecnologia<br />

perdida, que nós precisamos deles, ou de alguns deles, tanto quanto eles<br />

precisam de nós - tudo isto também deve ser transmitido. Nesta altura,<br />

muita gente perde o interesse. Tais pessoas devem ser afastadas o mais<br />

rápido possível, porque não estão aptas para o ensinamento.<br />

Na tentativa de descrever o comportamento interno das organizações que facilite às<br />

pessoas atividades revolucionárias que resultem em inovações constantes, recorremos a<br />

alguns conceitos básicos de aprendizado, baseado nos modelos teóricos de organizações<br />

aprendizes.<br />

17 Textos Sufis. Rio de Janeiro:Edições Dervish,1985.<br />

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O conceito de aprendizado e organização aprendiz vem dos primórdios do estudo de<br />

administração. O trabalho de Frederick Taylor com sua administração científica, no início<br />

do século, dizia que as verdades gerenciais articuladas e medidas são aprendizados que<br />

podem ser transferidos para os empregados e desta forma melhorar a eficiência da<br />

organização. Nas décadas de 50’s e 60’s, ocorrem as melhores definições e refinamentos<br />

para o conceito de organização aprendiz, em particular, através da obra de Hebert Simon<br />

e seus colegas sobre modelos de tomada de decisão. Outra grande contribuição vem do<br />

trabalho de Chris Argyris e Donald Shon da Universidade de Havard e do mais recente<br />

trabalho de aprendizado, através de Peter Senge e seus colegas do MIT ( Massachusetts<br />

Institute of Technology). No entanto, Ulrich, Glinow & Jick (1994) salientam que o estudo<br />

de organizações aprendizes não é novo - o que é novo, entretanto, é o recente interesse<br />

em como o conceito de organização aprendiz pode ajudar a construir uma empresa<br />

competitiva.<br />

Já para Hitt (1995) a organização aprendiz é uma mudança de paradigma<br />

proveniente da organização tradicional. Analisa ele que este século tem testemunhado a<br />

emergência de três diferentes paradigmas organizacionais: no início deste século, Max<br />

Weber escreveu extensivamente sobre a natureza da organização burocrática - um<br />

paradigma que focava a racionalidade e a eficiência; no meio deste século, Peter Drucker<br />

introduziu o conceito do desempenho organizacional - um paradigma que prometia<br />

resultados e efetividade; agora, no final deste século, aponta também para Peter Senge<br />

que tem ajudado a popularizar o conceito da organização aprendiz - um paradigma<br />

centrado na adaptação contínua a um ambiente em permanente mutação. Esses<br />

diferentes paradigmas, esclarece Hitt, nos mostram três importantes aspectos de todas as<br />

organizações: eficiência, efetividade e aprendizado. A eficiência, analisa o autor, tem sido<br />

definido como “fazer as coisas certas” enquanto que efetividade é “fazer certo as coisas” e<br />

o aprendizado envolve expandir continuamente a capacidade da organização para “fazer<br />

certo as coisas e para fazer as coisas certas”. Na figura 5 “Um Retrato da Evolução<br />

Organizacional”, apresentamos um histórico da evolução organizacional definida por Hitt.<br />

Voltando um pouco na História, verificamos que Sócrates, pensador grego, utilizava<br />

o processo de aprendizado, denominado “Maiêutica”, que significa, portanto, o<br />

instrumento de tirar das pessoas o que elas já sabem, sem ainda ter uma consciência da<br />

importância do que transmitem, mostrando-lhes do que são capazes. Para Sócrates, os<br />

homens estão sempre “grávidos” da verdade, sendo preciso que alguém os ajude no<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

“parto”. Assim, a maiêutica para o pensador é a arte de mobilizar processos emergentes,<br />

sendo aí a essência do método indutivo. Na verdade, pode-se dizer que Sócrates foi o<br />

primeiro facilitador, o pioneiro do trabalho em pequenos grupos, em que pessoas<br />

sentadas em círculo dialogavam em busca do autoconhecimento. Isto ocorreu três<br />

séculos antes de Cristo.<br />

Confirmando o pensamento de Sócrates, Mariotti (1995) nos apresenta as origens do<br />

termo “educar” que vem do latim Ex + ducere, que significa conduzir (ducere) para fora<br />

valores que já existem nas pessoas em forma de potencial. Salienta que o<br />

comportamento dos indivíduos é fundamentalmente orientado por esses valores e que a<br />

educação é um processo de mobilização de potenciais humanos, e não uma simples<br />

imposição de conceitos vindos de fora, embora essa dimensão não deva ser<br />

subestimada. Para o autor, “ensinar é ensinar a ensinar e aprender é aprender a<br />

aprender”, enfatizando também que: “não estamos falando, portanto, numa simples<br />

transmissão de conhecimento, na expectativa de sua aceitação passiva. …até porque,<br />

sendo a educação um componente da cultura, seu surgimento e evolução implicam<br />

mudança, ... trata-se, portanto, de um fluxo contínuo, que não mais se limita à chamada<br />

educação intencional e, aí, em um sentido mais amplo, o processo é espontâneo e não<br />

admite fronteiras”.<br />

Após essa breve referência histórica, relacionamos abaixo, os principais conceitos,<br />

selecionados na literatura pesquisada, que julgamos importantes para a finalidade desse<br />

estudo, sobre aprendizagem na organização:<br />

• “Aprendizado organizacional ocorre quando membros da organização agem como<br />

agentes aprendizes, respondendo às mudanças no ambiente interno e externo da<br />

organização, detectando e corrigindo erros da teoria organizacional pertinente e fazendo<br />

alguma coisa sobre os resultados de suas inquirições em figurações específicas e áreas<br />

compartilhadas da organização” (Argyris & Shon, 1978);<br />

• “.... a aquisição do novo conhecimento por atores que são capazes e desejam aplicar<br />

adaptar aquele conhecimento na tomada de decisões ou influenciar outros na<br />

organização”(Miller, 1996);<br />

• “Aprendizado organizacional significa o processo de melhorar as atividades através de<br />

um melhor conhecimento e compreensão e organização aprendiz significa o processo de<br />

melhorar as operações através do melhor conhecimento e entendimento” (Fiol & Lysle,<br />

1985);<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

• “Uma entidade aprende se, através de seu processamento da informação, o limite de<br />

seu potencial é mudado”( Huber, 1991);<br />

Encontramos também em Garvin (1993) e Senge (1990) as definições que atendem<br />

os interesses de nosso estudo. Em Garvin nos deparamos com um conceito de processo<br />

de aprendizado que satisfaz a nossa necessidade: “... uma organização habilitada para<br />

criar, adquirindo e transferindo conhecimento e modificando seu comportamento para<br />

refletir sobre novos conhecimentos e idéias”. Através desse conceito, o autor propõe que<br />

a organização deve se capacitar em cinco atividades, ou seja: (1)solução sistemática de<br />

problemas,(2)experimentação com novas abordagens, (3)aprendendo com sua<br />

experiência e passado histórico, (4)aprendendo com as experiências e melhores práticas<br />

dos outros, e (5)transferindo conhecimento rapidamente e eficientemente por toda a<br />

organização. Em Senge, aprendemos que a Organizações Aprendizes são lugares onde o<br />

pessoal expande sua capacidade continuamente para criar os resultados que eles<br />

desejam verdadeiramente, onde novos e amplos modelos de pensar são criados, onde a<br />

aspiração coletiva é estabelecida livremente, e onde o pessoal está aprendendo<br />

continuamente como aprender juntos.<br />

Para entendermos melhor o processo do aprendizado organizacional, recorremos a<br />

McGill & Slocum Jr (1993) que nos apresenta conceitos sobre organizações nãoaprendizes.<br />

Os autores esclarecem que nas organizações tradicionais, os consumidores<br />

são obrigados a aceitar o serviço pelas regras estabelecidas ou procurar o serviço de<br />

outra empresa. Entretanto, segundo os autores, essas organizações reagem apenas por<br />

causa de mudanças no ambiente, sendo que essas mudanças não são produto de<br />

aprendizado, elas apenas ocorrem devido a problemas no negócio. Conhecer as<br />

organizações - seu alto nível de controle, conformidade, comportamentos de rotina e fuga<br />

de riscos - pode ser uma learning disadvantage, definem os autores.<br />

De posse desses conceitos básicos de aprendizado organizacional e organização<br />

aprendiz, examinaremos agora os diversos processos para desenvolvê-lo, visando à<br />

transformação da cultura de uma organização tradicional para uma do tipo inconformista.<br />

Em geral, a literatura sobre o aprendizado organizacional tende a ignorar a dependência<br />

dos campos sobre a linguagem e idéias do aprendizado individual e, particularmente, o<br />

fato que isso se associa com o complexo e mutável corpo da teoria em si. Para se<br />

assegurar um determinado conhecimento, o campo de estudo não é visto simplesmente<br />

como uma estática fonte de idéias de teóricos organizacionais. Uma breve discussão está<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

presente sobre conceitos e idéias do aprendizado individual e suas relações com a teoria<br />

do aprendizado organizacional. Verificamos na literatura uma gama de definições dadas<br />

para o aprendizado organizacional, sendo isto uma medida do problema de consistência<br />

conceitual e acumulável no estudo. Na temática sobre o aprendizado organizacional,<br />

constatamos, no decorrer desse estudo, que a preocupação de “como as organizações<br />

são também capazes de aprender”, ocorre, desde, pelo menos, a década de 60, por parte<br />

dos estudiosos da Psicologia Comportamental, da Cibernética e da própria Teoria das<br />

Organizações. Embora os estudos voltados para o aprendizado possam parecer simples<br />

e até intuitivos, transformá-los em princípios aplicáveis a empresas não se apresenta tão<br />

fácil assim, segundo alguns autores. Acadêmicos e consultores, pesquisados para a<br />

consecução deste trabalho, que procuram dar resposta a este desafio têm um ponto em<br />

comum: eles enfatizam a capacidade de adaptar-se a um mundo em acelerada<br />

transformação, a uma condição de competição extremamente rigorosa.<br />

A questão proposta por Argyris e Shon (1978), neste momento, nos inquieta de certa<br />

forma. Questionam eles: “ Quais são as organizações que se pode aprender?” Duncan<br />

and Weiss (l979) também declaram que o processo de aprendizado organizacional deve<br />

ser formulado em termos de como a organização funciona. Apesar de as questões em<br />

qual função acontece o processo de aprender, esses autores propõem uma outra<br />

indagação: “Qual é o aprendizado que as organizações devem oferecer?”<br />

Sabemos, entretanto, que para responder a essas questões, faz-se necessário<br />

mudar os conceitos que ainda vigoram em organizações, chamadas de tradicionais. Para<br />

que a mudança possa se constituir em um processo contínuo e não em um processo<br />

pontual, no qual momentos de grandes transformações revolucionárias são seguidos por<br />

momentos de estabilidade estacionária, é preciso construir organizações voltadas para<br />

um processo permanente de aprendizagem. Por isso, Fleury & Fleury (1995) declaram:<br />

“…faz-se necessário, primeiramente, o desenvolvimento de uma “cultura de<br />

aprendizagem”. Embora esse conceito seja simples, esses autores salientam que<br />

operacionalizá-lo no cotidiano organizacional é difícil.<br />

Na busca de uma cultura organizacional, visto anteriormente na seção 2.4, que<br />

facilite a elaboração de uma cultura voltada para o aprendizado revolucionário,<br />

deparamos com a situação de que a tendência natural da maioria das organizações seria<br />

muito mais no sentido da preservação de padrões culturais do que no da mudança.<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

Entretanto, Schein (1993) discute esse processo, afirmando que os padrões culturais,<br />

dominantes em uma organização, podem dificultar os processos de aprendizagem e<br />

mudança, pois esses processos acontecem através da aquisição de conhecimentos e<br />

informações, lenta e gradativamente, ou através de insights súbitos (mais difíceis de<br />

acontecer). Em outras situações, comenta o autor que, para enfrentar novos desafios, as<br />

pessoas teriam de desaprender as formas conhecidas de lidar com a situação e aprender<br />

novamente, sendo que este também pode ser um processo difícil, até doloroso que as<br />

pessoas procuram o evitar.<br />

Nesse ponto, Fleury & Fleury (1997) salienta que um dos principais desafios às<br />

empresas brasileiras no momento atual é como passar por um processo de mudança<br />

revolucionária, superar os traumas e propor-se a viver em um processo permanente de<br />

mudança, através de uma cultura organizacional de aprendizado revolucionário. Sugere o<br />

autor alguns pontos essenciais para gerar essa dinâmica da aprendizagem:<br />

• processo de inovação e de busca contínua de capacitação e qualificação das pessoas<br />

e das organizações é um processo permanente, jamais esgotado;<br />

• processo de aprendizagem é um processo coletivo, partilhado por todos, e não o<br />

privilégio de uma minoria pensante;<br />

• os objetivos organizacionais são explicitados e partilhados; o comprometimento com<br />

esses objetivos ocorre em função da congruência entre os objetivos individuais de<br />

autodesenvolvimento e os objetivos de desenvolvimento organizacional;<br />

• a comunicação flui entre pessoas, áreas, níveis, visando à criação de competências<br />

interdisciplinares; desenvolve-se visão sistêmica e dinâmica do fenômeno organizacional.<br />

Uma outra contribuição importante, sobre a importância de se estabelecer uma<br />

cultura de aprendizado revolucionário nas organizações, vem de Wood Jr. (1996) que<br />

encara as organizações de aprendizagem a partir de uma classificação das empresas de<br />

acordo com seus recursos mais essenciais, como capital, trabalho ou tecnologia. Ressalta<br />

ele que a Teoria Econômica, por exemplo, tradicionalmente separa “Empresas de<br />

Trabalho Intensivo e Empresas de Capital Intensivo”. Explica que “Empresas de Trabalho<br />

Intensivo”, por exemplo, costumam ter estruturas organizacionais na forma piramidal<br />

tradicional, com muitos níveis hierárquicos, salários e o nível de emprego da tecnologia<br />

baixos. Porém, salienta que a tendência, a médio prazo, é que essas empresas fiquem<br />

confinadas a nichos de mercado pouco atraentes e lucrativos, onde o nível de exigência<br />

do consumidor em relação à qualidade e sofisticação é baixo. Por outro lado, afirma que<br />

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as “Empresas de Capital Intensivo” exigem mão-de-obra de maior qualificação e orientam-<br />

se para segmentos mais sofisticados de mercado, funcionando com estruturas<br />

organizacionais mais modernas e flexíveis e se adaptam mais facilmente a novas<br />

conjunturas competitivas. Segundo o autor, entretanto, esse tipo de empresa corre o risco<br />

de não conseguir acompanhar o ritmo do crescimento da competição no mercado<br />

globalizado. Enfim, “Empresas de Trabalho Intensivo e Empresas de Capital Intensivo”<br />

são consideradas como “Empresas de Conhecimento Intensivo”, pois identificam ou criam<br />

oportunidades antes dos seus concorrentes, explorando estas oportunidades e<br />

abandonando estes nichos, quando seus concorrentes conseguem capacitar-se para<br />

ameaçá-las.<br />

Branco (1995) destaca que o aprendizado revolucionário se dá, em nível individual e<br />

organizacional, exigindo das organizações a competência de criatividade, aprendizagem e<br />

inovação a qual aponta como facilitadora para a busca de se balancear ordem e caos.<br />

McKenna (1993) explica que o aprendizado revolucionário é resultante da nova<br />

abordagem, onde os novos consumidores não conhecem mais as antigas regras, os<br />

antigos conhecimentos, ou as antigas formas de fazer negócios - e não se importam com<br />

isso. Segundo o autor, importam-se sim com uma organização que esteja disposta a<br />

adaptar seus produtos e serviços às suas “estratégias”.<br />

<strong>Como</strong> no centro de tudo está o homem que procura decidir o seu destino de forma<br />

menos penosa possível e visando operacionalizar isso no contexto das organizações,<br />

Lawrence & Lorsch (1972) nos ajuda, esclarecendo que, enquanto todos os indivíduos se<br />

esforçam por solucionarem os problemas que aparecem diante deles, a grande variedade<br />

de diferentes experiências leva cada sistema individual a se desenvolver diferentemente.<br />

Nesse caso deveríamos, então, fazer nossas atenções convergirem para as diferenças<br />

existentes entre sistemas individuais que sejam significativas para a compreensão das<br />

relações entre contribuintes individuais e a organização.<br />

Pfeffer (1994) reforça a idéia das contribuições individuais distintas, devido as<br />

experiências adquiridas, enfocando que o treinamento (considerado pelo autor, como um<br />

instrumento eficaz para a formação competitiva das pessoas na organização) é aplicado à<br />

aqueles que já estão suficientemente bem treinados. “Mais freqüentemente nas áreas<br />

gerenciais e que muito pouco é feito para os funcionários de linha de frente”, salienta ele.<br />

Exemplifica o fato, revelando que um documento do planejamento de recursos humanos<br />

do Bank of America acusa que as empresas multinacionais são três ou quatro vezes mais<br />

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tendentes a oferecer “workshops”, para um corpo de executivos estressados do que<br />

treinar pesquisadores para desenvolvê-los. Adianta ainda que outro dado importante<br />

deste documento é que 17% dos executivos recebem treinamento pagos pelas empresas<br />

em comparação com 4% do pessoal operacional de fábrica. Algumas empresas tratam o<br />

treinamento como um luxo, provavelmente por não saberem como organizá-lo e<br />

disseminá-lo e não conseguirem integrá-lo fortemente com os objetivos estratégicos dos<br />

seus negócios.<br />

Para fazer uma comparação das finalidades do treinamento executado pela<br />

Organizações Aprendizes Tradicionais com as do treinamento a ser aplicado nas<br />

Organizações Inconformistas, baseamo-nos em Kramlinger (1992) e apresentamos o<br />

seguinte:<br />

1 – Finalidade do treinamento nas Organizações Aprendizes Tradicionais:<br />

• <strong>Como</strong> criar e melhorar o preço dos produtos para o mercado;<br />

• <strong>Como</strong> entender e <strong>identificar</strong> as expectativas dos clientes;<br />

• <strong>Como</strong> criar e executar novas estratégias de Marketing e novas alianças;<br />

• <strong>Como</strong> absorver e usar novas tecnologias;<br />

• <strong>Como</strong> melhorar e integrar os sistemas;<br />

• <strong>Como</strong> melhorar a qualidade dos produtos e processos;<br />

• <strong>Como</strong> trabalhar com seu pessoal para reduzir atritos e perdas.<br />

2 – <strong>Como</strong> deve ser a finalidade do treinamento nas Organizações Inconformistas:<br />

• Qualquer indivíduo pode ser um recurso de idéias úteis;<br />

• Pessoal mais próximo do problema usualmente tem as melhores idéias;<br />

• Fluxo de aprendizado é dirigido para qualquer sentido: vertical, horizontal, transversal;<br />

• Nada é sagrado (exceto as visões norteadoras e os valores);<br />

• Processo de diálogo aberto melhora as idéias;<br />

• Quanto mais informado for o indivíduo mais revolucionário ele se torna;<br />

• Novas idéias são permanentemente valorizadas;<br />

• Um erro é simplesmente uma oportunidade de se aprender.<br />

Buscando ilustrar a importância do treinamento formador de aprendizado<br />

organizacional revolucionário como um diferencial competitivo, basta verificar que os<br />

níveis de produtividade de países industrializados, como Estados Unidos, Alemanha,<br />

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França, Inglaterra e Japão, estão relacionadas aos investimentos feitos por essas<br />

economias em recursos humanos. Quanto mais se investe, maior a produtividade. <strong>Como</strong><br />

estamos numa revolução da informação, tão importante quanto a revolução industrial há<br />

100 anos, e que essa informação está disponível para todo mundo que quiser, o que<br />

realmente está faltando é ter pessoas para usá-la, para dar-lhe um sentido, no intuito de<br />

fazê-las sentir que controlam pelo menos parte de sua vida. Por isso, não dar poder às<br />

pessoas no trabalho é fazê-las ficar infelizes, pois sentem que não tem controle de nada.<br />

O importante é disseminar o poder na hierarquia abaixo, deixar que os funcionários<br />

tenham mais responsabilidades, explicar às pessoas o que está acontecendo, por que<br />

está acontecendo, deixá-las participar de todas as decisões. Essa é a essência da<br />

Organização Inconformista.<br />

O que nos interessa agora é saber como o conhecimento se torna a base do esforço<br />

competitivo; o modo pelo qual o conhecimento é aplicado aos produtos e aos mercados,<br />

determinando a expansão ou contração a longo prazo da força de trabalho de produção<br />

da organização. Aprendemos no decorrer de todo nosso estudo que o cerne da<br />

organização do conhecimento está baseado em quatro processos distintos, ou seja: a)<br />

coletar e disseminar o conhecimento que já existe na organização; b) adquirir e criar novo<br />

conhecimento; c) converter o conhecimento em produtos e serviços lucrativos; d) dirigir o<br />

pessoal que trabalha com o conhecimento. Desse modo, respeitados todos esses<br />

paradigmas, pode-se delinear que todos os funcionários esperam que a crescente<br />

interação na organização ajude a circulação do conhecimento e que a organização inteira<br />

será considerada como um enorme conjunto de potencial humano. Os futuros<br />

funcionários do conhecimento organizacional inconformista serão bem diferentes dos<br />

seus predecessores: serão mais bem informados, mais cépticos, mais inquisidores, mais<br />

dados a divergir e a protestar, mais pessoalmente entrosados e mais inclinados a agir. O<br />

desafio, porém, é saber como fazer para liberar esses impulsos no sentido da ação<br />

criadora e ao mesmo tempo utilizar construtivamente os inúmeros conflitos que<br />

inevitavelmente hão de ocorrer. É isto que pretendemos ver no capítulo seguinte.<br />

Nesta seção verificamos certos aspectos problemáticos da adoção de uma<br />

Organização Aprendiz dentro de um quadro teórico. Dadas as pressões contínuas sobre<br />

as organizações, operando sob condições turbulentas para se tornarem cada vez mais<br />

produtivas, discutiu-se a importância da utilização de uma estrutura organizacional que<br />

conduza à formação de mão-de-obra qualificante como o único diferencial competitivo,<br />

83


Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

fator essencial na organização inconformista. Na próxima seção estudaremos como<br />

difundir o aprendizado organizacional revolucionário para a formação de uma cultura,<br />

baseada em mentes revolucionárias.<br />

4.3 <strong>Como</strong> deve ocorrer a difusão do aprendizado revolucionário nas organizações<br />

inconformistas<br />

Amparando-nos em diversos autores podemos afirmar que numa organização<br />

inconformista tem como principal tarefa a de criar e disseminar um ambiente que promova<br />

o aprendizado organizacional inconformista, e não a de lidar com crises ou fazer controles<br />

rígidos. Assim os empregados são responsáveis por reunir, examinar e usar informações<br />

que levam a processos da aprendizagem revolucionária. Eles devem conscientemente<br />

expor falhas e construtivamente promover discussões, debates, quando sua experiência<br />

garantir algum desacordo com a filosofia da organização.<br />

Tompkins (1996), um desses autores, nos fornece elementos para entendermos como<br />

ocorre o aprendizado coletivo na organização. Expressa a autora que a literatura sobre<br />

aprendizagem organizacional poderia ser classificada em dois subgrupos: primeiro,<br />

muitos pesquisadores utilizam o modelo de estímulo/resposta de Skinner. Este é<br />

chamado de aprendizagem adaptativa, denominado também como baixo nível de<br />

aprendizado. A aprendizagem adaptativa implica que há algumas condições ou estímulos<br />

que motivam a organização para adaptar seus métodos de trabalho. Um estudo recente<br />

em aprendizagem organizacional, segundo a autora, identificou três motivações para a<br />

aprendizagem:<br />

• a primeira motivação, chamada de discomfort stress, significando a pressão que se<br />

sofre resultante da complexidade do ambiente, referente a tempo, energia, habilidades<br />

necessárias que grupos podem utilizar e da incerteza no ambiente no tocante à habilidade<br />

de se prever o futuro;<br />

• a segunda motivação, chamada de performance stress que significa a forma como os<br />

resultados de decisões tomadas afetam os níveis de preferências e aspirações pelos<br />

incentivos existentes dentro da organização e manipulado por seus líderes; e,<br />

• a terceira motivação, chamada de disjunctive stress, trata-se do stress que vem dos<br />

níveis crescentes de divergência e conflitos pelos modos com que os indivíduos e<br />

subgrupos se comportam (combinado com “performance stress”, causa a adaptação<br />

organizacional, ou melhor, conformismo).<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

Baseando-nos ainda em Tompkins, apresentamos o Quadro 4, “Diferenças entre<br />

Difusão e Não – difusão do Conhecimento Revolucionário”.<br />

Quadro 4 - Diferenças entre Difusão e Não-difusão do Conhecimento Revolucionário<br />

Difusão do Conhecimento Não-Difusão do Conhecimento<br />

Organizacional Inconformista<br />

Organizacional Inconformista<br />

Padronização da visão e do processo Visões e processos independentes<br />

Pessoas usam plenamente novos Pessoas rejeitam ou ignoram novos<br />

conceitos<br />

conhecimentos<br />

Há um padrão nas respostas quando o Há respostas diversas quando o grupo é<br />

grupo é questionado sobre algo perguntado<br />

As pessoas procuram conselhos de Pessoas precisam procurar por<br />

outras baseadas na conveniência( quem conhecimento ou se basear em artigos<br />

está mais perto)<br />

Respostas rápidas e diretas<br />

Fonte: Baseado em Tompkins (1996)<br />

Respostas atrasadas ou referência a<br />

outra pessoa<br />

Sabemos, entretanto, que pessoas freqüentemente resistem aos esforços novos na<br />

empresa para difusão de conhecimento revolucionário, por razões de medo e, até, por<br />

causa de novas imposições provocadas pela situação. Algumas medidas podem ser<br />

utilizadas para reduzir essa resistência, ou seja, educação/comunicação, participação,<br />

facilitação e apoio, negociação, cooptação, manipulação, e, coerção.<br />

Para a organização inconformista a competência dos indivíduos “inconformados ”<br />

torna-se muito importante para a difusão do conhecimento revolucionário. Para que haja<br />

aprendizagem coletiva, as presunções e entendimentos coletivos dos indivíduos e do<br />

grupo devem ser trazidos “à tona”. Se o grupo pode desenvolver uma norma que torna<br />

aceitável desafiar visões antigas e que sugere estratégias de mudanças, a competência<br />

dos “resistentes” pode ser útil para acabar com o perigo que o pensamento grupal pode<br />

trazer.<br />

No quadro abaixo, que denominamos de Quadro 5 “Abordagens Organizacionais<br />

(Organização Tradicional versus Organização Inconformista)”, baseado no proposto por<br />

McGill & Slocum, Jr. (1993), apresentamos as diversas abordagens que devem<br />

caracterizar o comportamento das organizações inconformistas, no tocante as suas<br />

experiências, defrontadas com as seguintes variáveis: filosofia, práticas gerenciais,<br />

empregados, clientes e mudança.<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

FILOSOFIA<br />

PRÁTICAS<br />

GERENCIAIS<br />

Quadro 5 - Abordagens Organizacionais<br />

(Organização Tradicional versus Organização Inconformista)<br />

Organização tradicional Organização Inconformista<br />

Dedicação à maneira<br />

ideal:<br />

Previsível<br />

Controlada<br />

Eficiente<br />

Mantém o controle<br />

através de regras e<br />

regulamentos<br />

EMPREGADOS Seguem regras sem<br />

perguntar porquê<br />

CLIENTES<br />

MUDANÇA<br />

Devem acreditar que a<br />

empresa sabe o que é<br />

melhor<br />

Incremental, precisa ter<br />

um leve ajuste da<br />

melhor maneira<br />

possível<br />

Examina, amplia e melhora<br />

cada experiência, incluindo,<br />

aí, como esta experiência<br />

ocorre<br />

Encoraja experiências,<br />

promove discussões<br />

construtivas, modela o<br />

aprendizado, reconhece<br />

falhas<br />

Reúnem e usam<br />

informações, discussões<br />

construtivas<br />

Fonte: Baseado em McGill & Slocum, Jr. (1993)<br />

São parte<br />

de uma relação de<br />

ensino/aprendizado com<br />

diálogo aberto e contínuo<br />

São parte do processo<br />

contínuo de experimentarexaminar-levantar<br />

hipóteses-experimentar de<br />

novo<br />

Com isso, traçamos as linhas mestras que norteiam as ações da organização<br />

inconformista, quando de sua passagem proveniente de uma forma tradicional. Agora,<br />

cabe-nos citar as cinco condições, fundamentadas em Garvin( 1993), conforme sua<br />

proposta no capítulo anterior, que facilitam a difusão do aprendizado organizacional<br />

revolucionário nas organizações inconformistas:<br />

1) disseminação do conhecimento: o conhecimento deve circular livremente por toda a<br />

organização; boas idéias não devem ser propriedade de poucos; conceitos e iniciativas<br />

inovadoras devem ser compartilhadas;<br />

2) experimentação: o ambiente de trabalho deve favorecer a experimentação; o foco da<br />

experimentação é a busca de novas oportunidades; novos conceitos e idéias devem ser<br />

testados com métodos científicos; o erro deve ser visto como fonte de aprendizado;<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

3) resolução sistemática de problemas: ferramentas de diagnóstico com base científica<br />

devem ser disseminadas; problemas devem ser solucionados com metodologias de base<br />

estatística;<br />

4) memória Organizacional: a empresa deve preservar sua história, com seus sucessos e<br />

fracassos; estes registros devem estar disponíveis a todos na empresa;<br />

5) aprendizado com Terceiros: a empresa deve aproveitar a experiência de parceiros e<br />

concorrentes; este aprendizado pode envolver produtos, procedimentos, formas de<br />

gestão, tecnologia e ações estratégicas; este aprendizado deve levar em conta os<br />

aspectos contingências.<br />

A resenha bibliográfica desta seção, mostra-nos como os estudiosos de aprendizado<br />

organizacional encaram o desafio da difusão do conhecimento revolucionário na<br />

organização, no intuito de torná-la menos vulnerável aos impactos do ambiente em que<br />

opera, como também entender as causas que levam as pessoas a resistir a ampliação de<br />

seus conhecimentos. Na seção seguinte, buscaremos, então, <strong>identificar</strong> o perfil ideal de<br />

liderança que atenda e conduza a organização inconformista a atingir eficazmente o seu<br />

objetivo.<br />

4.4 Um Perfil de Liderança Para a Organização Inconformista<br />

Se quiser liderar as pessoas, caminhe atrás delas.<br />

“Lao-Tzu”<br />

Iniciamos este estudo com Bolt (1996) que busca, através de uma ilustração, o novo<br />

conceito de liderança para essa era em que nos defrontamos. O autor nos submete a um<br />

anúncio, que poderia ser, muito bem publicado nos classificados de domingo de qualquer<br />

grande jornal, ou seja:<br />

Procura-se: executivo para conduzir a empresa "Fortune 500", no século XXI. Deve ser<br />

um cidadão global, visionário, autêntico, corajoso. Não é desejável que seja obcecado por<br />

trabalho.<br />

A resposta, segundo o autor, de prováveis diretores-executivos seria esmagadora.<br />

Contudo, explica ele, que no mar de résumés e currículos repletos de MBA's, poucos<br />

candidatos, se tanto, preencheriam os requisitos. "Numa época em que a liderança é mais<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

crucial do que tudo para nossa própria sobrevivência, existe uma grave carência de<br />

pessoas qualificadas para liderar corporações neste próximo século", constata o autor.<br />

Nessa mesma constatação pessimista da falta de liderança, encontramos Kouzes<br />

& Posner (1996), preocupados com o ceticismo, reinante na organização, sobre que<br />

rumos tomar. Reconhecem que as pessoas estão cansadas, irritadas, desgostosas e<br />

pessimistas em relação ao futuro, sendo a maior dos últimos 25 anos. Relatam que a<br />

lealdade às instituições - e a lealdade das instituições às pessoas - está afundando como<br />

uma pedra. Quase metade da população é cética e céticos não participam de melhorias,<br />

afirmam eles. “Em tal clima, como um líder poderia mobilizar um eleitorado,<br />

aparentemente relutante na direção de um futuro desconhecido ou mesmo mais incerto,<br />

quem o desejaria?", se questionam os autores.<br />

Para justificar ainda mais a incapacidade de não encontrarmos líderes preparados<br />

para esses novos desafios, Argyris ( 1997) nos esclarece que alguns dirigentes evitam, de<br />

qualquer maneira e com grande perícia, o aparecimento de conflitos com os colegas, e<br />

acabam causando tremendos problemas organizacionais. O autor chama isso de<br />

incompetência hábil, na qual os gerentes usam comportamentos rotineiros trazidos pela<br />

prática (habilidade) para produzir algo que não pretendiam obter (incompetência). Explica<br />

o autor que, pelo fato de os executivos não dizerem o que realmente pensam ou não<br />

testarem as pressuposições em que realmente acreditam, suas habilidades impedem a<br />

resolução das questões intelectuais importantes inseridas no desenvolvimento da<br />

estratégia. E assim, as reuniões terminam apenas com inúmeras listas e nenhuma<br />

decisão, no intuito de criarem “rotinas organizacionais defensivas”. Argyris define essas<br />

rotinas como qualquer ação ou"política projetada para evitar surpresa, embaraço ou<br />

ameaça, porém elas também impedem o aprendizado e por conseguinte impedem as<br />

organizações de investigar ou eliminar os problemas subjacentes. Ressalta, porém, que<br />

as rotinas defensivas são sistêmicas no sentido de que a maioria do integrantes da<br />

empresa adere a elas, sendo que quando essas pessoas deixam a organização, entram<br />

outras novas, e mesmo assim, as rotinas defensivas se mantêm intactas. Para ilustrar<br />

bem essa situação, o autor finaliza: "A direção de uma organização nunca fala realmente<br />

a sério de descentralização".<br />

Entretanto, como a proposta dessa seção é a de tentar definir um modelo de<br />

liderança para as organizações inconformistas, recorremos a autores que nos ajudará<br />

nessa definição.<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

Nessa direção, encontramos em Shein (1996) afirmações de que as instituições do<br />

passado ficarão obsoletas e novas formas de governo e liderança terão de ser<br />

aprendidas. Os líderes do futuro, por conseguinte, enaltece o autor, terão de desenvolver<br />

sempre as seguintes características:<br />

• Níveis extraordinários de percepção e compreensão das realidades do mundo e de si<br />

mesmos;<br />

• Níveis extraordinários de motivação que lhes possibilite passar pelo inevitável<br />

desconforto de aprender e mudar, sobretudo em um mundo de fronteiras menos precisas,<br />

onde a lealdade fica mais difícil de definir;<br />

• Força emocional para gerenciar a própria ansiedade e a dos outros, à proporção que o<br />

aprendizado e a mudança se tornam cada vez mais um modo de vida;<br />

• Novas habilidades para analisar premissas culturais, <strong>identificar</strong> premissas funcionais e<br />

disfuncionais e desenvolver processos que ampliem a cultura, através da construção<br />

baseada em pontos fortes e elementos funcionais;<br />

• Disposição e capacidade de envolver os demais e evocar sua participação, pois as<br />

tarefas serão muito complexas e as informações distribuídas de forma muito ampla para<br />

que os líderes resolvam sozinhos os problemas;<br />

• Disposição e capacidade para compartilhar poder e controle, segundo conhecimento e<br />

as habilidades das pessoas, ou seja, permitir e incentivar o florescimento da liderança por<br />

toda a organização.<br />

Buscando outras características que justifiquem o papel de sucesso de um líder<br />

para as organizações inconformistas, encontramos em Ulrich (1996) uma preciosa<br />

contribuição, que diz respeito à credibilidade pessoal. Justifica ele que os líderes<br />

fidedignos possuem hábitos, valores, traços e competências pessoais, que geram<br />

confiança e compromisso naqueles que dirigem. Ilustra seu parecer, apontando Mahatma<br />

Gandhi, como um dos melhores exemplos desta credibilidade pessoal, que alegava:<br />

"minha vida é a mensagem que ela contém". Entretanto, salienta que, paralelo à<br />

credibilidade, os líderes de uma organização inconformista, bem-sucedidos, também<br />

devem ser capazes de desenvolver competência administrativa. Esta competência,<br />

segundo Ulrich, provem de líderes que podem adaptar, estruturar, implementar e melhorar<br />

processos organizacionais para atingir objetivos ambiciosos.<br />

Propondo um modelo para demonstrar sua análise, Ulrich nos apresenta na Figura 8<br />

“Atribuição da Liderança: Credibilidade Versus Competência”, cinco passos necessários<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

para que os líderes convertam aspirações em ações nos âmbitos pessoal (geração de<br />

credibilidade) e organizacional (geração de competência). São eles, segundo o autor:<br />

1.Avaliação. Os líderes precisam avaliar as potencialidades e deficiências pessoais e<br />

empresariais. Uma avaliação sincera deve ajudá-los a ver o mundo como ele é, não como<br />

gostariam que fosse. Admitir as deficiências e ser capaz de alavancar pontos fortes<br />

possibilita que conheçam bem a si mesmos e a suas organizações a fim de progredirem;<br />

2.Articulação. Os líderes precisam articular as metas e diretrizes pessoais e<br />

organizacionais. Missões pessoais e visões organizacionais se tornam meios úteis para<br />

articular uma diretriz;<br />

3.Alocação. Os líderes precisam alocar recursos. Entre os recursos pessoais estão o<br />

tempo e a acessibilidade. Líderes que não gerenciam seus calendários não conseguem<br />

gerar credibilidade pois jamais têm tempo para alguém ou alguma coisa. Outrossim, os<br />

líderes precisam alocar recursos em uma organização de modo a fortalecê-la.<br />

Desenvolver competências através de treinar, moldar equipes, reprojetar processos de<br />

trabalho e compartilhar informações se torna um meio de alocar a energia organizacional;<br />

4.Atenção. Os líderes precisam concentrar a própria atenção. Eles ganham credibilidade<br />

tendo entusiasmo em relação a algumas prioridades e prestando atenção àqueles cujos<br />

interesses não podem ser atendidos pela regra geral. Os líderes ajudam as organizações<br />

a focalizar a atenção, especificando algumas prioridades principais, perseguindo com<br />

determinação estas prioridades e desenvolvendo uma cultura organizacional que busque<br />

soluções;<br />

5.Responsabilidade. Os líderes têm o dever de prestar contas. Sem um processo de<br />

“responder e relatar”, as metas pessoais se tornam aspirações, não realidades. Da<br />

mesma forma, torna-se imprescindível construir um sistema de gerenciamento do<br />

desempenho onde os comportamentos organizacionais são esperados e explicados.<br />

Depois da análise das propostas de diversos autores, no intuito de <strong>identificar</strong> o perfil<br />

de liderança que mais condiz com a organização inconformista, encontramos na<br />

contribuição de Rolls (1995) características que mais se aproximam do que queríamos<br />

definir. O autor nos oferece um quadro onde é apresentado modelos competentes de<br />

liderança, onde se visualiza as expectativas que se espera de um líder e de seus<br />

seguidores. Adaptando esse quadro ao que procuramos <strong>identificar</strong>, como características<br />

de um líder que mais se enquadram para a liderança de uma organização inconformista,<br />

conseguimos, assim, definir os atributos necessários para o líder de uma organização<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

inconformista. Apresentamos,então, a seguir o Quadro 6 “Características de um Líder e<br />

as Expectativas de seus Seguidores para uma Organização Inconformista”:<br />

Quadro 6 - Características de um Líder e as Expectativas de seus Seguidores para uma<br />

Organização Inconformista<br />

Fatores de Análise Competências de um Líder Expectativas<br />

Seguidores<br />

dos<br />

Visão Revolucionária<br />

Habilidades Pessoais<br />

Pensamento<br />

Expansionista<br />

Entendendo a<br />

Conectividade<br />

Intuição<br />

Perspectiva<br />

Integração<br />

Compaixão<br />

Auto-aceitação<br />

Poder Compartilhado<br />

Autenticidade<br />

Espírito de Criação<br />

Liderança Moral<br />

Sensitividade<br />

Humildade<br />

Maestria<br />

Orientado para o<br />

Crescimento<br />

Assumindo Risco<br />

Autodirecionado<br />

Tolerância<br />

Ambigüidade<br />

91<br />

Compreendendo o Todo<br />

Encorajamento<br />

Aceitação<br />

Empoderamento<br />

Verdadeiro<br />

Autodescoberta<br />

Valoriza o Trabalho<br />

Dignidade<br />

Autonomia<br />

Potencial Explorado<br />

Crescimento<br />

Escolha Certa<br />

Independência<br />

Espaço para Erros<br />

Apoio na Transição<br />

Aprendizado


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_____________________________________________________________________________________________________<br />

Mentalidade<br />

Revolucionária<br />

Trabalho em Equipe<br />

Fonte: Baseado em Rolls (1995).<br />

Compromisso<br />

Aprendizado<br />

Verdadeiro<br />

Espiritualidade<br />

com o<br />

Insight<br />

Introspecção<br />

Assumindo Desafios<br />

Inovação<br />

Cooperação<br />

Valores Compartilhados<br />

Diálogo<br />

Ouvidor<br />

Criatividade<br />

Promotor de Harmonia<br />

Incentivador de<br />

Relacionamentos<br />

Responsabilidade<br />

Interpessoalidade<br />

Inovação<br />

Significado<br />

Assumindo Desafios<br />

Elaboração Conjunta<br />

Valores Compartilhados<br />

Autoexpressão<br />

Contribuição<br />

Criatividade<br />

Unidade Social<br />

Relacionamento<br />

Nesta seção, buscamos entender, sucintamente, as características que devem nortear<br />

o papel de um líder para organizações, que convivem com ambientes altamente<br />

competitivos. Analisamos, portanto, calcado nos estudos de diversos autores, o conceito<br />

de liderança, os diversos tipos existentes e os pressupostos de um líder para as<br />

organizações inconformistas. Resta-nos agora propor um modelo que oriente as<br />

organizações, ditas tradicionais, a se <strong>transformar</strong> em uma organização inconformista.<br />

Na Parte I, apresentamos o conceito de organização e suas proposições, como<br />

também o da Organização inconformista, descrevendo sobre a importância da cultura<br />

organizacional para a criação de uma cultura de aprendizado revolucionário. Mais adiante,<br />

foram mostrados os aspectos da criatividade e inovação na organização, como também a<br />

difusão do aprendizado revolucionário na organização como ferramenta da<br />

competitividade das organizações. Verificamos também que a aprendizagem - dos<br />

indivíduos e das empresas - tornou-se uma variável estratégica bastante eficaz como<br />

única alternativa de solução para enfrentamento desse cenário turbulento. A partir daí,<br />

92


Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

analisamos o significado de ampliar a contribuição e satisfação humana no trabalho como<br />

incentivo a formação de mentes revolucionárias. Daí o porquê de o aprendizado<br />

revolucionário dirigido a inovações constantes, em ciclos sucessivos, surgir como um<br />

imperativo para a criação da vantagem competitiva auto-sustentável. Trata-se, enfim, de<br />

uma reestruturação de toda organização, não somente de processos, mas também de<br />

mentalidades. Finalmente, foi apresentado o perfil ideal de liderança para a Organização<br />

Inconformista. A partir daí, como razão principal deste artigo, propomo-nos, então, a<br />

apresentar, na Parte II, a seguir, um modelo conceitual de organização inconformista.<br />

PARTE II – DESCRIÇÃO DE UM MODELO DE ORGANIZAÇÃO <strong>INCONFORMISTA</strong><br />

O segredo do sucesso não é prever o futuro, mas criar uma organização que prosperará<br />

em um futuro que não pode ser previsto.<br />

“Michael Hammer”<br />

5. Descrição do Modelo<br />

Neste capítulo, detalhamos o modelo conceitual de Organização Inconformista,<br />

proposto por esse artigo. Acreditamos que o último passo no processo de criação de<br />

conhecimento é conceber um modelo real. Um modelo é muito mais prontamente<br />

concebível do que uma metáfora ou uma analogia. No modelo, as contradições são<br />

resolvidas e os conceitos se tornam transferíveis através de uma lógica consistente e<br />

sistemática.<br />

Conforme apresentado na Figura 9, “Um Modelo de Organização Inconformista para<br />

Organizações Emergentes Brasileiras”, cuja diagramação demonstra o funcionamento do<br />

modelo proposto por esse estudo, idealizamos módulos que operam sincronizados, no<br />

intuito de arquitetar uma ação organizacional revolucionária das organizações emergentes<br />

brasileiras direcionadas para ambientes altamente competitivos. Deve-se observar, na<br />

Figura 9, que as caixinhas, nominadas por atividade ou conceito, são interligadas por<br />

setas que significam interconectividade, interdependência, composição de um módulo que<br />

funciona dinamicamente como uma coisa só ao mesmo tempo. Deve-se observar também<br />

que cada módulo da referida figura é circundado por uma linha pontilhada que significa a<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

sua transparência e flexibilidade para adequar-se dinamicamente com os outros módulos<br />

do modelo, não existindo qualquer fronteira rígida que impeça essa sincronia. É assim<br />

que também é traçada a linha que emoldura toda a diagramação do desenho.<br />

Visualizamos, nesse caso, que para uma organização inconformista se alinhar<br />

eficazmente ao seu ambiente deve mostrar total transparência e sincronização de suas<br />

ações, através de um processo intenso de comunicação interna e externa.<br />

5.1 Módulo 1 - Ciclo de Aprendizado Profundo<br />

O conceito de “ciclo de aprendizado profundo” foi tomado emprestado de Senge (1995)<br />

que o descreve essa circularidade da seguinte maneira: “… à medida que o indivíduo<br />

desenvolve novas capacidades, criam-se nele novas percepções e sensibilidades e, desta<br />

forma, vivenciando as novas experiências adquiridas, novas crenças e premissas<br />

começam a se formar em sua mente, o que permite o desenvolvimento de novas<br />

habilidades e capacidades”. A intensidade dos questionamentos resultantes desse<br />

processo é que torna o aprendizado profundamente revolucionário.<br />

Verificamos que esse ciclo intenso de aprendizado constitui, então, a essência de<br />

uma organização inconformista, acarretando mudanças fundamentais na mentalidade<br />

individual, como também coletiva. Quando esse ciclo começa a funcionar, as mudanças<br />

resultantes são significativas e duradouras. Este ciclo, então, conforme estabelece Senge,<br />

é composto de três atributos essenciais: habilidades e capacidades, consciência e<br />

sensibilidade e, finalmente, suposições e crenças. A dinâmica do ciclo, conforme Figura 9,<br />

é descrita da seguinte maneira:<br />

1) Habilidades e Capacidades<br />

O ciclo de aprendizado só funciona quando podemos fazer coisas que não<br />

podíamos fazer antes, evidenciando, assim, as novas habilidades e capacidades<br />

adquiridas, ocorrendo, aí, o aprendizado real. Para melhor compreensão desse atributo,<br />

descrevemos os quatro agrupamentos naturais das habilidades e capacidades que<br />

caracterizam as organizações que visam o aprendizado organizacional revolucionário:<br />

• Aspiração: trata-se da capacidade de indivíduos, equipes e organizações de querer<br />

verdadeiramente<br />

desenvolvimento;<br />

mudanças revolucionárias como objetivo de crescimento e<br />

94


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_____________________________________________________________________________________________________<br />

• Reflexão e Conversação: trata-se da capacidade de se refletir sobre premissas<br />

profundas e padrões de comportamento inéditos, tanto individual quanto organizacional<br />

de uma forma séria e responsável;<br />

• Conceituação: trata-se da capacidade de se enxergar todo o sistema e analisar os<br />

efeitos positivos e negativos de uma decisão revolucionária, nunca antes praticada na<br />

organização.<br />

Aqui achamos conveniente inserir um outro fator que se originou de uma forma de<br />

agir do povo brasileiro, mediante a situações injustas da nossa sociedade. Esse fator é<br />

denominado de “jeitinho brasileiro”, conforme proposto por Da Matta ( 1984):<br />

• Jeitinho Brasileiro: trata-se da maneira original que tem o brasileiro de harmonizar a<br />

"regra jurídica" e as "práticas da vida diária". Segundo Da Matta( 1984), a legislação<br />

brasileira está ora a serviço da exploração ou submissão do cidadão, garantindo o<br />

privilégio de alguns, ora à mercê de outros que procuram "corrigir e reinventar a<br />

sociedade”. O jeitinho seria uma articulação entre esses dois universos. Ser um jeito ou<br />

estilo profundamente original do brasileiro viver, e às vezes sobreviver em meio às<br />

dissonâncias de sua realidade. Acreditamos que, nesse caso, não deixa de ser na<br />

verdade um modelo mental e um pensamento sistêmico da realidade de nosso país.<br />

2) Consciência e Sensibilidade<br />

Esses atributos significam que à medida que nossas novas habilidades e<br />

capacidades se desenvolvem, o mundo que "vemos" literalmente muda”. Neste caso,<br />

estamos criando nova consciência e sensibilidade do mundo que nos cerca. Isso decorre<br />

do novo modelo mental que estamos cultivando, tornando-nos cada vez mais conscientes<br />

dos modos nos quais continuamente construímos nossa visão do mundo. Quanto melhor<br />

percebemos, mais sensíveis nos tornamos. Isso se deve a nossa capacidade intensiva de<br />

interpretar as informações originadas do ambiente, que nos cerca, e transformá-las em<br />

um aprendizado organizacional revolucionário.<br />

3) Suposições e Crenças<br />

Quando novas percepções são assimiladas, elas se transformam em suposições e<br />

crenças. Entretanto, isso não acontece rapidamente. Quando ocorre, representa mudança<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

no nível mais profundo da cultura de uma organização. As crenças profundas<br />

freqüentemente não se conciliam com os valores abraçados em organizações, porque<br />

uma prova da nossa ingenuidade acerca de cultura é o fato de pensarmos que podemos<br />

mudá-la simplesmente declarando novos valores. As crenças e suposições profundas<br />

podem mudar com o evoluir da experiência, e quando isso acontece, é aí que a cultura<br />

muda.<br />

Evoluindo na descrição desse módulo, reconhecemos que a pessoa humana é o<br />

motor fundamental de qualquer mudança, e sem a participação do indivíduo nenhuma<br />

mudança se concretiza. E nessa direção defendemos a tese de que as organizações, a<br />

partir de seus valores e visões de mundo, precisam de pessoas que tenham aprendido as<br />

habilidades que são necessárias para a consecução das tarefas. Para reforçar o modelo<br />

do circulo de aprendizado profundo, antes que as pessoas possam usar estas habilidades<br />

de modo eficaz, os programas instrumentais da organização devem se basear em<br />

programas mentais e em programas de habilidades que devem ser rigorosamente<br />

generalizados entre todos e estocados nos repertórios de prática.<br />

Concluímos, então, que a prática do “ciclo de aprendizado profundo” dará às<br />

organizações o que espera Thiry-Chesques( 1995), descrito no capítulo 4.3 desse estudo,<br />

uma cultura compatível com as necessidades e pressões da sociedade moderna, isto é, o<br />

"fortalecimento" da cultura corporativa mediante o compromisso (commitment) e a<br />

autonomia criativa dos empregados. Em suma, o ciclo de aprendizado profundo não<br />

funciona isoladamente. Depende intrinsecamente da dinâmica de dois mais outros ciclos,<br />

entretanto se caracteriza como o núcleo de todo o funcionamento do modelo.<br />

Agora descreveremos o funcionamento do processo de aprendizado organizacional<br />

revolucionário, onde aparecem o ciclo conceitual de aprendizado revolucionário e o ciclo<br />

operacional de aprendizado revolucionário.<br />

5.2 Módulo 2 – Processo de Aprendizado Organizacional Revolucionário<br />

Nesse módulo tomamos emprestado o modelo de Kim( 1996), denominado por ele<br />

de “Gestão Sistêmica da Qualidade”, onde fizemos algumas alterações para podermos<br />

adaptá-lo ao modelo proposto põe esse estudo. O autor se preocupa com a ênfase na<br />

dimensão competitiva da organização, por isso enfatiza que o aprendizado nas<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

organizações deve ser revolucionário tanto no nível operacional, quanto no conceitual<br />

para ser duradouro e significativo.<br />

Desta feita, baseado nos ensinamentos de Kim, definimos dois ciclos que compõem<br />

o “processo de aprendizado organizacional revolucionário”: o ciclo operacional de<br />

aprendizado revolucionário e o ciclo conceitual de aprendizado revolucionário.<br />

Descrevemos a seguir a dinâmica de cada ciclo, suas interações e sua integração com o<br />

“ciclo de aprendizado profundo”, já descrito no início desta seção. Para ilustrar melhor<br />

essa descrição, faz-se necessário consultar a Figura 9, extraindo a diagramação desse<br />

módulo.<br />

1) O Ciclo Operacional do Aprendizado Revolucionário<br />

Baseando-nos em Kim, primeiramente partimos para a distinção clássica do<br />

processo de aprendizagem, diferenciando a aprendizagem operacional da aprendizagem<br />

conceitual. A aprendizagem operacional ocorre, neste caso, do processo de aquisição de<br />

skills ou know-how, ou seja, no desenvolvimento de habilidades físicas para produzir<br />

ações. Já a aprendizagem conceitual ocorre pela aquisição do know-why, ou seja, no<br />

desenvolvimento de capacidade para articular conhecimentos conceituais sobre uma<br />

experiência.<br />

A aprendizagem operacional constitui um processo cumulativo e envolve a<br />

elaboração de rotinas. Diz respeito ao chamado conhecimento tácito, desenvolvido pelo<br />

indivíduo em situações especificas de trabalho e difícil de ser articulado em linguagem<br />

formal. Embora o conhecimento operacional seja essencial para o funcionamento de<br />

qualquer organização, cada vez mais ele tem de estar associado no conhecimento<br />

conceitual. <strong>Como</strong> requisito fundamental para a dinâmica organizacional, o processo de<br />

aprendizagem operacional e conceitual ocorrem em todos os seus níveis. Em outras<br />

palavras, alertamos sobre a importância de não haver fronteiras rígidas entre os quadros<br />

operacionais que detêm apenas o conhecimento operacional e os quadros diretivos<br />

detentores do conhecimento conceitual. Pretendemos, assim, como veremos na<br />

explicação desse ciclo, superar a concepção “taylorista” de separação entre aqueles que<br />

pensam e aqueles que fazem.<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

Entendemos que a aprendizagem conceitual implica perguntar o “porquê”. Com este<br />

procedimento contestam-se a natureza ou a existência de determinadas condições, os<br />

procedimentos ou as concepções, conduzindo à elaboração de novos quadros de<br />

referências. O processo de aprendizagem refere-se à aquisição de conhecimentos e<br />

habilidades e o de memória à retenção desses conhecimentos. Nesse ciclo é mostrado<br />

um típico processo de melhoria da qualidade pelo CQT ( Controle da Qualidade Total).<br />

Encontramos, aí, o ciclo PDCA(Planejar - Fazer - Verificar –Analisar/Agir) 18 .<br />

Esse ciclo funciona da seguinte maneira:<br />

• Planejar – resume em se conhecer o problema, os objetivos a que se quer atingir,<br />

analisar os meios e as capacitações que se dispõem e, finalmente, estabelecer o plano<br />

para se chegar com sucesso ao objetivo proposto.<br />

• Fazer – significa executar as ações especificadas na etapa do Planejamento<br />

respondendo as questões: What (medida) – Who (responsável) – When (Prazo) – Where<br />

(Local) – Why (Razão) – How (Procedimento). Para isso requer-se um processo<br />

permanente de treinamento operacional.<br />

• Verificar – significa avaliar os efeitos do trabalho executado. Checar se todas as<br />

questões, definidas na etapa do “Fazer”, foram devidamente respondidas.<br />

• Analisar/Agir – significa intervir no ciclo operacional em função dos resultados<br />

alcançados diferentes daqueles previstos na etapa “Planejar”.<br />

O ciclo operacional ficará bastante enriquecido quando na etapa “Analisar/ Agir”<br />

buscarmos ampliar o poder de intervenção no processo PDCA, através da coleta de<br />

novos dados, tanto qualitativamente quanto quantitativamente. Dessa forma, o ciclo<br />

operacional interage harmonicamente com o ciclo conceitual que fornecerá mais<br />

informações devidamente qualificadas para se entender e aperfeiçoar todo o processo<br />

operacional. Essa melhoria inicia-se através da etapa do planejamento.<br />

Em suma, o ciclo operacional, que trata das mudanças na maneira como efetuamos<br />

o trabalho, enfatizando como efetuamos as rotinas novas ou revistas em substituição às<br />

antigas ou desgastadas, só faz sentido se fundirmos com o aprendizado conceitual. Agora<br />

descreveremos a dinâmica do “ciclo conceitual de aprendizado revolucionário”.<br />

18 PDCA é a sigla em Inglês para PLAN –DO-CHECK-ACT , utilizada amplamente na Administração da Qualidade.<br />

<strong>Como</strong> a sigla é bastante conhecida, mantivemos o original em inglês.<br />

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2) O Ciclo Conceitual do Aprendizado Revolucionário<br />

Segundo Kim, o ciclo conceitual do aprendizado revolucionário diz respeito à<br />

mudança dos modelos mentais sobre como o mundo funciona, tais como reformular um<br />

problema num contexto diferente e investigar as implicações. Verificamos que esse ciclo<br />

destaca o porquê de efetuá-lo - ou seja, refere-se ao raciocínio por trás do porquê as<br />

coisas são feitas pela primeira vez. Com este procedimento, contestam-se a natureza ou<br />

a existência de determinadas condições, os procedimentos ou as concepções,<br />

conduzindo à elaboração de novos quadros de referências, propondo mudanças inéditas<br />

nas estruturas, levando a novas maneiras de ver o mundo e novas ações. Com isso, os<br />

modelos mentais individuais revolucionários conterão ao mesmo tempo as novas<br />

estruturas e rotinas, e também o conhecimento de como essas rotinas se encaixam na<br />

nova estrutura. Assim, com o passar do tempo a concepção que uma organização tem do<br />

mundo afeta o modo como as pessoas interpretam as mudanças no ambiente e como<br />

traduzem seus modelos mentais em ação. Esse ciclo funciona da seguinte maneira:<br />

• Coleta de Dados - trata-se de se levantar dados quantitativa e qualitativamente para<br />

se chegar a melhor solução para o problema identificado na etapa “Analisar/Agir” do ciclo<br />

operacional.<br />

• Síntese/Análise – de posse dos dados levantados na etapa “Coleta de Dados”, faz-se<br />

uma análise desses dados e busca-se, através da síntese, aqueles que melhor<br />

apresentam soluções revolucionárias para o problema identificado na etapa anterior.<br />

• Novas Percepções Conceituais – com o domínio da informação que traduz a melhor<br />

solução para o problema identificado, nova concepção do mundo organizacional ocorre, e,<br />

conseqüentemente, mais qualificado e revolucionário o aprendizado individual para<br />

futuras intervenções no processo como um todo.<br />

A engrenagem dos dois ciclos compõe o processo de aprendizado revolucionário,<br />

porém, se um dos vínculos for enfraquecido ou rompido, o aprendizado pode se<br />

prejudicar. Isso é tão verdade que a administração de crises é um caso de aprendizado<br />

situacional no qual cada problema é solucionado, mas nenhum aprendizado<br />

revolucionário é transferido para a situação seguinte. Podemos, então, concluir que<br />

quando se rompe a integração dos dois ciclos, ocorre o aprendizado fragmentado,<br />

significando perda do conhecimento.<br />

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3) Integrando os dois módulos: “Ciclo do Aprendizado Profundo” com o “Processo de<br />

Aprendizado Organizacional Revolucionário”<br />

À medida que adquirimos novas percepções do mundo que nos cerca, obtidas na<br />

etapa “Novas Percepções Conceituais” do ciclo “Processo de Aprendizado Organizacional<br />

Revolucionário”, criam-se igualmente “nova consciência (do que somos e o que<br />

queremos) e nova sensibilidade” no ciclo de “Aprendizado Profundo”. Aí, então, no<br />

decorrer do tempo, “novas crenças e suposições” começam a se formar, o que permite o<br />

desenvolvimento de “novas habilidades e capacitações”. Essas “habilidades e<br />

capacitações” do ciclo de “Aprendizado Profundo”, juntamente com as “novas percepções<br />

conceituais” do ciclo “Processo de Aprendizado Organizacional Revolucionário”,<br />

contribuirão qualitativamente com o processo de planejamento, que, a partir daí, inicia-se<br />

um outro “processo de aprendizado organizacional revolucionário”.<br />

Concluímos, então, que a engrenagem dos dois módulos de aprendizado, o<br />

“Processo de Aprendizado Organizacional Revolucionário” com o do “Aprendizado<br />

Profundo”, nos oferece uma abordagem integrada e harmônica do aprendizado<br />

revolucionário.<br />

Entretanto, julgamos que esses dois módulos, “Ciclo de Aprendizado Profundo” e<br />

“Processo de Aprendizado Organizacional Revolucionário”, necessitam de um reforço<br />

para assegurar sua perpetuidade. Esta é a razão da inclusão do módulo “Comportamento<br />

Organizacional Inconformista” no modelo, aqui proposto.<br />

5.3 Módulo 3 – Comportamento Organizacional Inconformista<br />

Neste módulo, que denominamos “Comportamento Organizacional Inconformista”,<br />

caracterizado pelo domínio da ação de alinhamento, visamos à integração da estrutura<br />

organizacional com os módulos de Processo de Aprendizado Organizacional<br />

Revolucionário e com o Ciclo de Aprendizado Profundo. O que definimos aqui é que, sem<br />

uma arquitetura organizacional revolucionária, nenhum aprendizado revolucionário ocorre<br />

efetivamente. Para definir esse módulo, recorremos de novo a Senge (1990), que nos<br />

propõe a “arquitetura das organizações que aprendem”. Através de seus ensinamentos e<br />

com algumas alterações para adaptá-los ao nosso modelo de organização inconformista,<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

descreveremos, abaixo, como esse módulo funciona. No intuito de visualizar esse<br />

módulo, faz-se necessário extrair sua diagramação da Figura 9.<br />

O trabalho real de construir organizações inconformistas é o trabalho do ciclo de<br />

Aprendizado Profundo, integrado com o processo de aprendizado organizacional<br />

revolucionário. Entretanto, isso só será possível se houver uma arquitetura composta de<br />

quatro sustentáculos. Os sustentáculos da arquitetura da organização inconformista,<br />

proposta para uma cultura organizacional de organizações emergentes brasileiras, terão a<br />

seguinte configuração: idéias norteadoras; inovações em infra-estrutura; teoria, métodos e<br />

ferramentas; e, finalmente, a liderança inconformista. Descreveremos o módulo<br />

“comportamento organizacional inconformista “ da seguinte maneira:<br />

1) Idéias Norteadoras<br />

Idéias norteadoras ou "idéias diretoras", para organizações inconformadas com suas<br />

ações de resposta aos desafios propostos pelo ambiente em que opera, são calcadas em<br />

princípios revolucionários que amparam a visão, valores e propósitos da organização.<br />

Porém, essas idéias podem não ser necessariamente benignas, como, por exemplo, o<br />

propósito míope de uma organização de pretender somente a maximização do retorno do<br />

investimento para os acionistas.<br />

As idéias norteadoras não são estáticas, pois o seu significado evolui, à medida que<br />

as pessoas participam mais das decisões diretoras da organização. Isto é alcançado<br />

principalmente com a visão compartilhada e o trabalho de equipe. Quanto mais<br />

revolucionárias forem as idéias norteadoras, mais inconformista se transforma a<br />

organização e, conseqüentemente, mais responsiva ela se torna junto ao mercado em<br />

que atua, criando uma vantagem competitiva por um longo tempo.<br />

2) Teoria, Métodos e Ferramentas<br />

Sabemos que o termo "teoria" quer dizer um conjunto fundamental de proposições<br />

acerca de como o mundo funciona, o qual foi submetido a repetidos testes, e no qual<br />

adquirimos certa confiança. Dessa forma, geramos teoria quando buscamos algo novo no<br />

mundo, resultado de práticas repetitivas de sucesso. Neste caso, conforme nos apregoa<br />

Senge (1995): "a ciência trata de pôr em ordem os dados da nossa experiência."<br />

O "Método" (que vem do grego methodos - um meio de perseguir objetivos<br />

particulares) significa um conjunto de técnicas e procedimentos sistemáticos para lidar<br />

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com tipos particulares de questões ou problemas. Entretanto, sabemos que é pouco<br />

provável que as ferramentas "sem teoria" aumentem significativamente nosso acervo de<br />

conhecimentos generalizáveis. Sem teoria subjacente, conseguem-se ferramentas que<br />

poderiam funcionar numa situação e em outra não, mas não se sabendo o “porquê” disso<br />

acontecer. Em última análise, podemos sentenciar que a utilidade da ferramenta pode<br />

depender de aspectos reproduzíveis da habilidade de uma pessoa específica. <strong>Como</strong><br />

exemplo dessa constatação, podemos citar o trabalho de um consultor que realmente<br />

pode fazer uma determinada ferramenta funcionar numa organização, sendo que os<br />

funcionários envolvidos não tenham a mínima idéia de como aplicá-la de modo eficaz.<br />

A sinergia entre teorias, métodos e ferramentas torna-se o cerne de qualquer esforço<br />

humano que verdadeiramente construa conhecimento revolucionário. As teorias, nesse<br />

caso, são levadas a testes práticos que, por seu turno, levam ao aprimoramento das<br />

teorias, assim, forma-se um ciclo contínuo.<br />

3) Inovações na Infra-estrutura<br />

A condicionante “Infra-estrutura” é definida como o meio através do qual uma<br />

organização coloca à disposição recursos para apoiar pessoas no seu trabalho. Dessa<br />

forma, os dirigentes de organizações inconformistas devem desenvolver e melhorar<br />

mecanismos infra-estruturais constantemente de modo que as pessoas tenham os<br />

recursos mais adequados de que necessitam: tempo, apoio administrativo, dinheiro,<br />

informações, tecnologia, etc.<br />

Organizações que buscam aprimorar o aprendizado revolucionário devem<br />

experimentar diversas inovações de infra-estrutura. A maioria das inovações de infraestrutura<br />

para organizações inconformistas devem conduzir as pessoas a desenvolverem<br />

suas capacidades e habilidades, sua contribuição no trabalho de equipe, seu modelo<br />

mental acerca do mundo, enfim, de desenvolver novas percepções conceituais<br />

revolucionárias para aprimorar sua capacidade de planejar o seu futuro e o futuro da<br />

organização. Assim, as pessoas conseguem construir no seu espaço de trabalho, o<br />

espaço para sua aprendizagem organizacional revolucionária.<br />

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4) Liderança Inconformista<br />

A inclusão do fator “Liderança Inconformista” no nosso modelo se deve ao fato de<br />

termos percebido, na revisão bibliográfica, deste estudo, sua vital importância na evolução<br />

do aprendizado nas organizações brasileiras que pretendem ser competitivas.<br />

Identificamos em nossa cultura o grau de importância desse fator, em que, através dele,<br />

o comportamento das organizações, tanto públicas quanto privadas, sempre representou<br />

a vontade do regime patriarcal, contando fielmente com a cumplicidade dos vassalos.<br />

Convém sublinhar aqui a importância desse fator, que na percepção tradicional de<br />

liderança, a figura do dirigente é vista como herói, resultado de uma visão individualista e<br />

não sistêmica. Essa idéia de liderança parte da suposição de que as pessoas são<br />

impotentes, não têm objetivos pessoais e são incapazes de controlar as forças da<br />

mudança, deficiências essas que só podem ser sanadas por alguns poucos grandes<br />

líderes. Enquanto prevalecer esse tipo de mito, as pessoas continuarão com seu interesse<br />

voltado para eventos de curto prazo e heróis carismáticos, em vez de se interessarem por<br />

forças sistêmicas e aprendizagem coletiva.<br />

Em face disso, apresentamos aqui, o que julgamos ser qualificações e ações<br />

necessárias para se compor o perfil da liderança inconformista no contexto cultural em<br />

que convivem as organizações brasileiras que emergem por causa de um ambiente<br />

altamente competitivo. A nova visão de liderança nas organizações de aprendizagem<br />

enfoca funções mais delicadas e mais importantes. Os líderes têm a responsabilidade de<br />

construir organizações nas quais as pessoas expandam continuamente sua capacidade<br />

de entender a complexidade, definir objetivos e aperfeiçoar modelos mentais - ou seja,<br />

eles são responsáveis pela aprendizagem organizacional revolucionária. Aqueles que a<br />

praticarem encontrarão profunda satisfação em capacitar os outros e fazer parte de uma<br />

organização capaz de produzir resultados que realmente sejam inéditos e satisfaçam às<br />

pessoas.<br />

O líder de uma organização inconformista, que denominamos no nosso modelo, de<br />

“liderança inconformista”, tem a importante tarefa de impulsionar toda a engrenagem do<br />

modelo, aqui proposto, através de:<br />

• promoção de idéias norteadoras que impulsionem a motivação para criar e aprender<br />

na organização de forma revolucionária; inovação na infra-estrutura que facilite e<br />

motive para o desempenho revolucionário das pessoas; utilização de métodos e<br />

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ferramentas que, amparadas por teorias que as justificam, instrumentalizem as<br />

pessoas na prática da proatividade; formação de uma visão compartilhada porque<br />

promove uma orientação a longo prazo e um imperativo para a aprendizagem<br />

revolucionária; cultivo do pensamento sistêmico porque os administradores, sendo<br />

pragmáticos por natureza, precisam enxergar a realidade atual e uma imagem do<br />

futuro que eles estão criando; domínio dos diversos modelos mentais e uma noção de<br />

como fazer aflorar suposições não verbalizadas; ênfase no aprendizado em equipe<br />

para se acender diálogos frutíferos e se criar a tensão criativa para o aprendizado<br />

revolucionário sistêmico; domínio das capacidades e aptidões, pois a maioria dos<br />

administradores costumam ter receio, e com razão, de superestimar o crescimento<br />

pessoal; incremento do processo de aprendizado organizacional revolucionário,<br />

movido pelas melhores informações, que conduzem a percepções mais apuradas da<br />

realidade e assim, qualificando mais a postura inconformista das pessoas; e, por fim,<br />

a busca do desenvolvimento da qualidade de vida das pessoas através da reflexão,<br />

respeito mútuo e do diálogo incessante que contribuem para o enriquecimento do<br />

ciclo do aprendizado profundo.<br />

<strong>Como</strong> ainda se torna raro <strong>identificar</strong> dirigentes com todo esse talento na cultura<br />

organizacional brasileira, constatamos que, em curto prazo, o caminho para se encontrar<br />

pessoas interessadas em desenvolver organizações inconformistas em nosso país será<br />

bastante penoso.<br />

Dessa forma, com a descrição desse módulo, denominado “Comportamento<br />

Organizacional Inconformista” que funciona integradamente com os módulos “Processo<br />

de Aprendizado Organizacional Revolucionário” e “Ciclo do Aprendizado Profundo”<br />

podemos entender, no modelo proposto, toda dinâmica do aprendizado organizacional<br />

revolucionário, que cria uma vantagem competitiva auto-sustentável, respondendo<br />

competitivamente aos desafios emanados de um ambiente turbulento e descontínuo.<br />

5.4 Módulo 4 – Ambiente Competitivo<br />

<strong>Como</strong> vimos no capítulo 1.2, está ocorrendo no mundo um fenômeno tão parecido<br />

quanto o que ocorre com as correntes do “El Niño” nas mudanças climáticas do mundo.<br />

Para alguns países esse fenômeno natural resolveu inúmeros problemas na agricultura,<br />

como estiagem ou frio intenso, porém para outros foi uma catástrofe sem par: furacões,<br />

secas, enchentes, degelos, etc. Na era denominada “Globalização da Economia”,<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

verificamos os mesmos efeitos, ou seja, para uns negócios prósperos, para outros<br />

desemprego e crises constantes. Essa era denominada tão bem por Drucker (1969) como<br />

“Era de Descontinuidade” está ocorrendo uma aceleração e uma acumulação de eventos<br />

que começaram a alterar as fronteiras, a estrutura e a dinâmica do ambiente empresarial,<br />

levando as empresas a se defrontar com desafios novos e imprevistos. <strong>Como</strong> vimos em<br />

Drucker (1969) que, ao adjetivar essa era, apontou algumas de suas características<br />

incomuns comparadas as de outras eras, como:<br />

• Explosões de novas tecnologias resultando num grande número de novas empresas;<br />

• Uma mudança de economias internacionais para economias globais;<br />

• Um movimento político-social distante das instituições monolíticas e pluralistas;<br />

• Uma nova ênfase no conhecimento como capital central e recurso crítico para a<br />

economia.<br />

Assim, as organizações, visando à sua sobrevivência nesse ambiente de constantes<br />

pressões, diminuíram não apenas os ciclos de vida dos produtos e serviços, como<br />

também o tempo disponível para o desenvolvimento e lançamento de novos produtos.<br />

Atualmente, as empresas precisam se apressar, para não caírem vítimas da artrite<br />

organizacional. Além do mais, elas precisam olhar em várias direções ao mesmo tempo.<br />

Alguns executivos pensam que as suas empresas estão equipadas com eficientes<br />

radares sensíveis a mudanças, mas a maioria não está. Na maior parte, o que elas<br />

detectam são mudanças esperadas.<br />

Relatamos novamente aqui os dizeres de Hamel & Prahalad (1995) sobre a<br />

realidade que nos cerca:<br />

"… estamos no limite - e para alguns será a beira de um precipício - de uma revolução<br />

tão profunda quanto a que deu origem à indústria moderna. Será a revolução ambiental, a<br />

revolução genética, a revolução de materiais, a revolução digital e, acima de tudo, a<br />

revolução da informação. Setores inteiramente novos, hoje ainda em gestação, logo<br />

estarão nascendo se transformando em megaoportunidades. Muitas dessas<br />

megaoportunidades representam bilhões de dólares em possíveis receitas futuras.” E<br />

finalizam com a célebre sentença: "o futuro é agora".<br />

Conforme apresentado no capítulo 1 deste artigo, analisando diversas propostas de<br />

classificação do ambiente, resolvemos fundir as propostas, formuladas por Bowditch &<br />

Buono e Bohm, pois assim atenderíamos aos requisitos do nosso modelo. Na Figura 9 é<br />

mostrada claramente essa classificação da seguinte maneira:<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

a) Clientes dos produtos ou serviços da organização. Geralmente, este setor é chamado<br />

mercado de clientes ou de consumidores e se encarrega de absorver as saídas ou os<br />

resultados da atividade organizacional. Buscam incessantemente sua satisfação, através<br />

dos produtos e serviços gerados pelas organizações, evitando uma postura de fidelidade.<br />

Com esse comportamento estimulam o sistema organizacional a desenvolver<br />

permanentemente respostas à altura de suas exigências. Para isso requer-se da<br />

organização uma aprendizagem continuada dos fatores que direcionam o comportamento<br />

desses clientes. Quanto mais exigentes os clientes melhores respostas são cobradas da<br />

organização: este é o ciclo do aprendizado organizacional revolucionário;<br />

b) Fornecedores de recursos para a empresa, isto é, os fornecedores de capital e dinheiro<br />

(que é o mercado de capitais tratado pela área financeira), de materiais (que é o mercado<br />

de fornecedores tratado pela área de suprimentos e compras), de mão-de-obra (que é o<br />

mercado de recursos humanos tratado pela área de pessoal), de equipamento, de<br />

serviços (composto de empresas prestadoras de serviços, como propaganda,<br />

processamento de dados etc.) e de espaço de trabalho. Torna-se, assim, o mercado de<br />

suprimento de entradas e insumos necessários às operações da organização. <strong>Como</strong> os<br />

fornecedores tendem a ser parceiros das organizações nas respostas aos clientes, cada<br />

vez mais insatisfeitos com os serviços e produtos gerados pelas organizações, os<br />

estímulos resultantes dessa cumplicidade são inúmeros. Entretanto, para isso, as<br />

organizações estudam sistematicamente modelos de interatividade com seus<br />

fornecedores no intuito de aprenderem qual a melhor maneira de satisfazer as outras<br />

partes integrantes desse ambiente competitivo;<br />

c) Concorrentes tanto para mercados (clientes ou usuários) como para recursos<br />

(materiais, humanos, financeiros etc.). Este setor é constituído do mercado concorrente,<br />

ou seja, de empresas que concorrem entre si para a obtenção dos recursos necessários e<br />

para a conquista dos mercados para a colocação dos seus produtos ou serviços. Os<br />

concorrentes podem disputar tanto as entradas (os mesmos fornecedores de recursos)<br />

como as saídas (os mesmos clientes) de uma empresa;. Desta forma, através da<br />

concorrência é que as organizações podem avaliar seu desempenho no mercado, pois<br />

são gerados estímulos para o desenvolvimento de melhores produtos e serviços. Esses<br />

estímulos são provenientes do benchmarking (significa resumidamente aprender com a<br />

concorrência) que as organizações praticam entre si. A postura revolucionária aqui é<br />

aprender mais rápido que a concorrência.<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

a) Grupos Regulamentadores, incluindo o governo, sindicatos, associações entre<br />

empresas, associações de classe etc. Este setor é constituído das instituições que, de<br />

alguma maneira, impõem controles, limitações ou restrições às atividades da empresa,<br />

seja especificando maneiras pelas quais ela deverá se conduzir, cerceando algumas de<br />

suas decisões, fiscalizando ou controlando suas atividades etc. Os grupos<br />

regulamentadores estimulam as organizações no tocante à auditagem de seus processos<br />

junto aos clientes, fornecedores, concorrentes e de suas obrigações fiscais e sociais.<br />

Nesse caso, aprende-se permanentemente com as diversas formas de se exercer a ética<br />

e a responsabilidade nos negócios.<br />

Chamamos o ambiente competitivo de “ordem explicada ”, baseado na exposição de<br />

Bohm (1980) como a "nova noção de ordem" para descrever a realidade mais profunda<br />

do ambiente. A “ordem explicada” significa tudo aquilo que temos oportunidade de<br />

acessar e experimentar, proveniente de um todo, que não conseguimos entender como<br />

finito. O que é mais importante, segundo Bohm, é que os seres humanos participam<br />

desse "desdobramento” a todo tempo.<br />

Podemos concluir, então, que, à medida que os níveis de turbulência se alteram, as<br />

organizações geram ações administrativas que visam lidar com esses níveis crescentes<br />

de imprevisibilidade, novidade e complexidade. E para cada ação organizacional é gerada<br />

uma reação do ambiente competitivo que posteriormente vai provocar uma outra ação<br />

organizacional e assim sucessivamente. Ocorre que essas acelerações promovidas pelo<br />

ambiente competitivo apresentam, atualmente, baseado em Ansoff (1993), três desafios<br />

às organizações:<br />

• Uma dificuldade crescente de antecipação suficiente para planejar com antecedência<br />

uma resposta oportuna;<br />

• A necessidade de velocidade maior na implantação da resposta;<br />

• A necessidade de flexibilidade e resposta oportuna a surpresas que não podiam ser<br />

antecipadas.<br />

A aplicação do modelo, aqui proposto, visa instrumentalizar a organização, baseado<br />

no aprendizado organizacional revolucionário contínuo, para responder em qualquer<br />

tempo, lugar e situação com ações rápidas e efetivas que garantam sua sobrevivência<br />

competitiva por longo prazo.<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

Finalizamos este capítulo, explicando sucintamente a dinâmica do modelo de<br />

Organização Inconformista da seguinte maneira:<br />

• Sendo o ambiente turbulento e descontínuo, provocado pela dinâmica dessa<br />

sociedade informacional que estamos convivendo, gerando ações e reações dos seus<br />

participantes (clientes, fornecedores, órgão regulamentadores e concorrentes), ele<br />

impacta o comportamento da organização, desafiando-a com ameaças e<br />

oportunidades. Essas ameaças (que podem se <strong>transformar</strong> em oportunidades,<br />

dependendo do domínio da ação de alinhamento da organização) e oportunidades que<br />

desafiam uma resposta rápida e competitiva da organização, alteram o<br />

comportamento organizacional que buscará, através de uma liderança agir de forma<br />

eficaz a esse estímulo. A liderança, por sua vez, se apoiará em idéias norteadoras que<br />

estimulam o aprendizado organizacional revolucionário, a criatividade e a inovação<br />

dos indivíduos na organização, aplicando teorias, métodos e ferramentas, que<br />

instrumentalizem os indivíduos a desenvolver suas habilidades, finalmente, buscará,<br />

capacidades e percepções da solução a ser tomada e, inovações na infra-estrutura<br />

que facilitem o desempenho competitivo de cada indivíduo na organização. Com essas<br />

medidas, entra em funcionamento a dinâmica integrada dos ciclos de “processo de<br />

aprendizado organizacional revolucionário” e do “aprendizado profundo”, com a<br />

finalidade de se encontrar a resposta mais qualificada possível. E assim,<br />

sucessivamente a organização vai desenhando o seu perfil competitivo, através de um<br />

aprendizado organizacional revolucionário contínuo, que a deixará alinhada<br />

permanentemente com o ambiente em constante mutação, garantindo, assim, uma<br />

vantagem competitiva de longa duração nesse ambiente. Porém, se a organização<br />

que assume uma relação simbiótica com o ambiente (domínio da ação de<br />

alinhamento), optando por ficar em nichos de mercado protegidos, terá mais<br />

dificuldades em mudar e aprender, à medida que o ambiente se torna mais turbulento.<br />

Nesta Parte II, vimos, então, através do capítulo 5, a descrição do modelo de<br />

Organização Inconformista, proposto por esse estudo, aplicado exclusivamente a<br />

organizações emergentes brasileiras. No entanto, o modelo foi elaborado por<br />

acreditarmos que a aprendizagem organizacional revolucionária - dos indivíduos e das<br />

empresas - tornou-se uma variável estratégica bastante eficaz, como única alternativa de<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

solução para enfrentamento desse cenário turbulento. Sabedoras também dessas<br />

profundas alterações, ocasionadas no ambiente em que operam, as organizações vêm<br />

investindo intensamente em educação, como também na democratização do acesso às<br />

decisões estratégicas, por acreditarem que o indivíduo é o único diferencial competitivo<br />

que garantirá sua sobrevivência. Este modelo, baseado no aprendizado organizacional<br />

revolucionário contínuo, torna-se uma alternativa de solução, como forma de se alinhar<br />

aos novos conceitos de qualidade e satisfação do cliente que surgem. Com isso,<br />

entendemos que um modo de se gerar a melhor inovação decorre de uma educação mais<br />

abrangente de aprendizado organizacional revolucionário contínuo, em ciclos sucessivos,<br />

baseada não somente em processos eficazes, mas também em modelos mentais,<br />

constantemente se revolucionando, ou melhor se superando.<br />

PARTE III - ASPECTOS CONCLUSIVOS<br />

Baseada na informação que transformou nosso modo de pensar, de produzir, de<br />

consumir, de negociar, de administrar e de se comunicar, explode um cenário nunca<br />

dantes experimentado, a globalização intensa, ligando pessoas e atividades importantes<br />

de todo o mundo e, ao mesmo tempo, desconectando das redes de poder e de riqueza.<br />

Uma nova cultura construída em torno de um universo virtual cada vez mais interativo.<br />

Essa época vem sendo marcada por grandes e rápidas mudanças. A tendência mundial<br />

hoje aponta para a competitividade total e as organizações, por sua vez, deixaram de ser<br />

um mecanismo em que o homem é visto como mera peça da sua engrenagem. Isso se<br />

verifica devido a superespecialização ter-se tornado um fator de entrave ao<br />

desenvolvimento das organizações, ao contrário do que se pregava até bem pouco<br />

tempo. Quando os mercados mudam, as tecnologias proliferam, os concorrentes se<br />

multiplicam e os produtos se tornam obsoletos, quase que da noite para o dia, as<br />

organizações de sucesso são aquelas que criam sistematicamente novos conhecimentos,<br />

conhecimentos revolucionários.<br />

A resultante desse cenário é que as organizações se contraem espasmodicamente,<br />

na busca permanente de respostas que visem à sua sobrevivência nesse ambiente de<br />

constantes pressões. Além de diminuírem de tamanho, as organizações são forçadas a<br />

reduzir, não apenas os ciclos de vida dos produtos e serviços, como também o tempo<br />

disponível para o desenvolvimento e lançamento de novos produtos. Atualmente, as<br />

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Currículo Permanente - Administração da Justiça: Gestão e Planejamento - 2007 Celso José de Campos<br />

_____________________________________________________________________________________________________<br />

organizações precisam se apressar, para não caírem vítimas da paralisia. Além do mais,<br />

elas precisam olhar em várias direções ao mesmo tempo. Alguns administradores<br />

pensam que as suas organizações estão equipadas com eficientes radares sensíveis a<br />

mudanças, mas a maioria não está. Na maior parte, o que elas detectam são mudanças<br />

esperadas.<br />

Verificamos que a maioria dos autores, aqui estudados, nos relata que já estamos no<br />

limite e para alguns será a beira de um precipício - de uma revolução tão profunda quanto<br />

a que deu origem à indústria moderna. Será a revolução ambiental, a revolução genética,<br />

a revolução de materiais, a revolução digital e, acima de tudo, a revolução da informação.<br />

Setores inteiramente novos, hoje ainda em gestação, logo estarão nascendo, se<br />

transformando em megaoportunidades. Muitas dessas megaoportunidades representam<br />

bilhões de dólares em possíveis receitas futuras. A regra, então, é partir para o mercado<br />

para garantir permanentemente a adaptabilidade da organização à mudança.<br />

Assim, à medida que os níveis de turbulência se alteram, as organizações geram<br />

ações administrativas que visam lidar com esses níveis crescentes de imprevisibilidade,<br />

novidade e complexidade. E para cada ação organizacional revolucionária é gerada uma<br />

reação mais revolucionária ainda do ambiente competitivo que posteriormente vai<br />

provocar uma reação organizacional revolucionária à altura e assim sucessivamente.<br />

<strong>Como</strong> vimos, esse ambiente competitivo estimula permanentemente às<br />

organizações para ações de alinhamento, fazendo-se necessário <strong>identificar</strong> todos os<br />

desafios a elas propostos, ou seja: dificuldade crescente de antecipação, suficiente para<br />

planejar com antecedência uma resposta oportuna; necessidade de velocidade maior na<br />

implantação da resposta; e flexibilidade - resposta oportunas a surpresas que não podiam<br />

ser antecipadas.<br />

A partir da possibilidade de gerenciamento da cultura, conforme constatamos na<br />

seção 2.4, as organizações devem investir intensamente em educação, pois o indivíduo<br />

passa a ser o único diferencial competitivo que garantirá a sua sobrevivência. Mas, no<br />

entanto, deve-se promover um trabalho enriquecido e produtor de satisfação, sendo todo<br />

ele em equipe, para que essa equipe, autodirigida ou autogerenciada, proporcione<br />

energia à organização inconformista.<br />

Procurou-se, então, através do significado de aprendizado organizacional<br />

revolucionário, agregar valor no conteúdo do trabalho. Para isso, faz-se necessário<br />

promover na organização: um clima no qual os indivíduos são encorajados a aprender e a<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

desenvolver seu potencial plenamente; a extensão deste aprendizado, englobando<br />

clientes, fornecedores e outros envolvidos com a empresa; uma política centrada na<br />

estratégia de desenvolvimento dos recursos humanos; e, finalmente, uma tolerância<br />

permanente para com o processo de transformação organizacional. Desta forma, as<br />

organizações são capazes de desenvolver métodos para aumentar a necessidade e o<br />

impacto do aprendizado revolucionário, mostrando clara vantagem competitiva, não<br />

apenas em termos de um capital humano avançado, mas também na capacidade de atrair<br />

os melhores e mais inteligentes profissionais.<br />

Por outro lado, preocupamo-nos com as disfunções organizacionais que impedem o<br />

aprendizado organizacional revolucionário. No entanto, entendemos que, embora as<br />

organizações de comando e controle gerem grande quantidade de rotinas defensivas,<br />

elas são também capazes de operar, em um nível aceitável, a partir do momento em que<br />

as pessoas transpõem as fronteiras laterais da organização.<br />

<strong>Como</strong> o modelo de comportamento organizacional inconformista, proposto por esse<br />

estudo, está voltado para os pressupostos de um aprendizado revolucionário continuado,<br />

por acreditar que o indivíduo é o único diferencial competitivo das organizações,<br />

verificamos, infelizmente, que a mentalidade dos empresários brasileiros ainda está longe<br />

dessa realidade. Um outro fator gerador desse distanciamento brasileiro, face ao modelo,<br />

é o rudimentar sistema escolar brasileiro que tem buscado muito pouco tirar proveito da<br />

criatividade dos alunos por ser ainda altamente obsoleto.<br />

Em face dessa realidade, mostramo-nos otimistas, no tocante à mudança de<br />

mentalidade dos dirigentes das organizações emergentes brasileiras. Isto se deve às<br />

transformações nas regras do jogo do mercado internacional e nacional, do fim das<br />

reservas de mercado, do rompimento de situações oligopolísticas, dos limites impostos à<br />

corrupção desvairada, das intervenções "neoliberais" do Estado, da ação dos movimentos<br />

sindicais, do questionamento das condições e relações de trabalho, dos movimentos<br />

ecológicos, da pressão por novas formas de interação com o ambiente, das novas<br />

tecnologias, etc. Entretanto, sabemos que, em razão da própria heterogeneidade do<br />

tecido empresarial brasileiro, a reação das empresas aos desafios e obstáculos tem se<br />

mostrado das mais variadas: algumas se antecipando às mudanças, outras apenas<br />

reagindo e outras se fechando.<br />

Em suma, vimos, então, na Parte I deste artigo, como a aprendizagem - dos<br />

indivíduos e das organizações - tornou-se uma variável estratégica bastante eficaz como<br />

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_____________________________________________________________________________________________________<br />

única alternativa de solução para enfrentamento desse cenário turbulento. Esse<br />

aprendizado revolucionário dirigido a inovações constantes, em ciclos sucessivos, surge<br />

como um imperativo para a criação da vantagem competitiva auto-sustentável. Trata-se,<br />

enfim, de uma reestruturação de toda organização, não somente de processos, mas<br />

também de mentalidades que sejam suficientemente revolucionárias para manter a<br />

vantagem competitiva alcançada por um longo período. Para isso, a organização deve<br />

estabelecer um perfil de liderança que facilite o desenvolvimento de mentes criativas e<br />

inovadoras – resultante do grau de inconformismo na organização.<br />

De posse de todas essas informações, e acreditando que o último passo no processo<br />

de criação de uma organização inconformista é conceber um modelo real, propomos, na<br />

Parte II deste artigo, um modelo de Organização Inconformista aplicado a Organizações<br />

Emergentes Brasileiras. No modelo, as contradições são resolvidas e os conceitos se<br />

tornam transferíveis através de uma lógica consistente e sistemática. Esse modelo ensaia<br />

a tentativa de converter o conhecimento implícito em explícito. A aplicação do modelo,<br />

aqui proposto, visa instrumentalizar a organização brasileira que já esteja operando em<br />

um contexto altamente competitivo, baseado no aprendizado organizacional<br />

revolucionário contínuo, para responder em qualquer tempo, lugar e situação com ações<br />

rápidas e efetivas que garantam uma vantagem competitiva auto-sustentável por um<br />

longo prazo.<br />

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Elaborado por CELSO JOSÉ DE CAMPOS<br />

FIG. 27 - UM MODELO DE ORGANIZAÇÃO APRENDIZ<br />

PARA INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS COMPETITIVAS<br />

AMBIENTE COMPETITIVO<br />

— ORDEM EXPLICADA —<br />

CLIENTES<br />

AÇÃO ORGANIZACIONAL<br />

REAÇÃO DO AMBIENTE<br />

COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL APRENDIZ<br />

— DOMÍNIO DA AÇÃO DE ALINHAMENTO —<br />

IDÉIAS NORTEADORAS<br />

COMPORTAMENTO INDIVIDUAL APRENDIZ<br />

— DOMÍNIO DA MUDANÇA DURADOURA —<br />

PENSAMENTO SISTÊMICO<br />

MODELOS MENTAIS<br />

APRENDIZADO PROCESSO DE APRENDIZADO INDIVIDUAL<br />

CONCEITUAL<br />

NOVAS<br />

PERCEPÇÕES<br />

CONCEITUAIS<br />

SÍNTESE<br />

ANÁLISE<br />

COLETA DE<br />

DADOS<br />

QUANTITATIVA<br />

CONSCIÊNCIA E<br />

SENSIBILIDADE<br />

SUPOSIÇÕES<br />

E CRENÇAS<br />

APRENDIZADO<br />

OPERACIONAL<br />

PLANEJAR<br />

ANALISAR / AGIR<br />

LIDERANÇA APRENDIZ<br />

121<br />

CICLO DO<br />

APRENDIZAD<br />

O<br />

FAZER<br />

VERIFICAR<br />

VISÃO COMPARTILHADA<br />

INOVAÇÕES NA INFRAESTRUTURA<br />

AÇÃO ORGANIZACIONAL REAÇÃO DO AMBIENTE<br />

FORNECEDORES

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