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o ensino diferenciado na escola indígena “tengatuí ... - UCDB

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<strong>escola</strong>, a não ser em “aprender Português” e “fazer contas”, que eram as que os pais<br />

consideravam necessárias <strong>na</strong>quele momento para resolver as suas necessidades<br />

imediatas no convívio com a sociedade majoritária. (p.83)<br />

[...] Outro pai, demonstrando uma visão mais conjuntural da situação <strong>na</strong>s reservas,<br />

dizia: “[...] agora <strong>na</strong> aldeia já tá difícil, a gente tem que procurar um meio, porque<br />

mais tarde vai acabar o serviço, vai acabar tudo e como que a gente vai viver?”.<br />

(ROSSATO, 2002, p.84-5. Grifos da autora)<br />

“Dribladas” as resistências, sobressai a compreensão da diferença que permeou a<br />

proposta do <strong>ensino</strong> <strong>diferenciado</strong> <strong>na</strong> <strong>escola</strong> percebida <strong>na</strong>s intenções, para a qual recorro<br />

novamente aos estudos de Souza (op cit), observando as respostas à questão 100 sobre a razão<br />

que levou a <strong>escola</strong> Tengatuí a, <strong>na</strong>quele momento, propor esse <strong>ensino</strong>:<br />

PROF. 1: As discussões/reflexões a respeito da importância, valor, respeito e<br />

fortalecimento da cultura indíge<strong>na</strong>.<br />

PROF. 2: Alto índice de repetência, evasão e falta de compreensão entre<br />

professores e alunos.<br />

PROF.3: O grande índice de evasão e repetência entre as etnias guarani<br />

nhandeva e guarani kaiowá falantes da língua indíge<strong>na</strong> e também após<br />

esclarecimentos dos professores como um direito do aluno(a).<br />

PROF.4: A <strong>escola</strong> implantou o <strong>ensino</strong> <strong>diferenciado</strong> devido a dificuldade que vinha<br />

encontrando para trabalhar somente <strong>na</strong> língua portuguesa com os alunos que têm<br />

como língua mater<strong>na</strong> o guarani. Foi pensado também <strong>na</strong> valorização da cultura e<br />

tradição indíge<strong>na</strong>.<br />

PROF.5: Pois <strong>na</strong> língua os alunos entendiam melhor o professor, tanto como no<br />

diálogo, <strong>na</strong> conversa entre professor e aluno. (professor falante da língua). (Grifos<br />

meus)<br />

Se as respostas, de um lado, corroboram o já exposto sobre a importância<br />

conferida à reprovação e à evasão, de outro demonstram a compreensão do <strong>ensino</strong><br />

<strong>diferenciado</strong> como instrumento para o fortalecimento da cultura, para a construção da<br />

identidade e para a assunção do reconhecimento do ser índio, o reconhecimento da diferença<br />

como passo primeiro para a construção da autonomia, no sentido desse “auto-<br />

reconhecimento”. Creio que a fala de A<strong>na</strong>stácio Peralta, indíge<strong>na</strong> da etnia guarani, permita a<br />

compreensão dessa questão por um “atalho” que só mesmo a fala espontânea de um indíge<strong>na</strong><br />

é capaz de nos proporcio<strong>na</strong>r:<br />

[...] A influência do branco, religião, sobretudo, entrou <strong>na</strong> identidade indíge<strong>na</strong> e<br />

bagunçou tudo. [...] Não é lei que diz quem eu sou. O índio tem que saber que ele é<br />

importante, independente das leis. Daí a importância das pesquisas e da escrita pro<br />

conhecimento dos elementos que caracterizam minha origem. [...] Se o índio não<br />

está feliz com ele mesmo, não adianta estudo algum. Ele às veiz tem uma vida boa,<br />

100 Questão nº 2: “O que levou a <strong>escola</strong> a implantar essa modalidade de <strong>ensino</strong>?”

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