o ensino diferenciado na escola indígena “tengatuí ... - UCDB
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o de valorização pelo convívio com o diferente e pela aceitação advinda do reconhecimento<br />
dos valores que a identifica, conforme adverte Freire (2004, p.62): “[...] a <strong>escola</strong> de vocês, a<br />
nossa <strong>escola</strong>, só será válida <strong>na</strong> medida em que, pensando diferente, respeita o pensamento<br />
diferente. Fora disso, é uma invasão a mais, é uma violência sobre a outra cultura”.<br />
Mudanças, entretanto, são quase sempre conflituosas, sobretudo quando prevêem<br />
alterações em concepções cujo processo de inter<strong>na</strong>lização percorreu um árduo caminho. Uma<br />
<strong>escola</strong> que objetive identificar-se como uma <strong>escola</strong> indíge<strong>na</strong>, e não uma <strong>escola</strong> para índios,<br />
deve ser pensada a partir das interferências que a perpassam de modo a atender as demandas,<br />
ao mesmo tempo em que se instrumentalize para contor<strong>na</strong>r os obstáculos que se lhe<br />
apresentem.<br />
Da mesma forma, não se pode perder de vista que embora assuma, num dado<br />
momento, a sua especificidade, a <strong>escola</strong> indíge<strong>na</strong> não perderá algumas características da<br />
<strong>escola</strong> ocidental, e talvez seja esse o ponto fundamental para a sua permanência e para a<br />
resolução de alguns conflitos justificadores da resistência com relação ao <strong>ensino</strong> <strong>diferenciado</strong>.<br />
A resistência, por parte de alguns, pode ser justificada, de certa forma, por representar, no seu<br />
imaginário, um retrocesso, a volta a uma condição estigmatizada como inferior, <strong>na</strong> medida em<br />
que propõe o retorno às tradições.<br />
Trata-se de pensar uma <strong>escola</strong> com identidade própria, que considere o convívio<br />
com o entorno, com a sociedade envolvente. Trata-se de uma <strong>escola</strong> que prepare o índio para<br />
que “não se dobre”, mas que reivindique seu espaço de direito enquanto cidadão.<br />
Contudo, não se trata de uma <strong>escola</strong> garantida pela condescendência, dos órgãos<br />
gover<strong>na</strong>mentais e/ou dos legisladores, para com os “pobres indíge<strong>na</strong>s”, logo, deve-se permitir<br />
que sejam eles a pensá-la, a gerenciá-la, a idealizá-la e, efetivamente, colocar seus projetos<br />
em prática. Trata-se de não se pensar a <strong>escola</strong> como um espaço de transformação de seres<br />
humanos pobres, margi<strong>na</strong>lizados ou discrimi<strong>na</strong>dos, mas de pensá-la como um espaço de<br />
reconhecimento das diversidades e das múltiplas culturas, “[...] de descobrir que o diferente é<br />
tão válido quanto nós ou às vezes melhor, em certos aspectos é mais competente. O que<br />
significa é que o diferente não é necessariamente inferior, não existe isso” (FREIRE, 2004,<br />
p.62).<br />
Há um perigo eminente, no entanto, que ronda, pode-se dizer, os projetos de<br />
construção de educação diferenciada, que vão além do âmbito das intenções e objetivos que<br />
os legitimam, <strong>na</strong> medida em que dependem de instâncias gover<strong>na</strong>mentais para a garantia de<br />
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