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tratados de amor: uma análise das obras de pietro bembo

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prosa que surgiram ao redor <strong>das</strong> aca<strong>de</strong>mias literárias: os Tratatti d’<strong>amor</strong>e. A influência<br />

ficiniana possibilitou a jovens autores do Cinquettento a pensar o conceito <strong>de</strong> <strong>amor</strong> como<br />

algo mais espiritual do que físico.<br />

Assim, no segundo capítulo da monografia analisamos o tratado Os Assolani <strong>de</strong><br />

Pietro Bembo, publicado em 1505. Para tanto, não <strong>de</strong>scuidamos <strong>de</strong> relacionar a produção<br />

tratadística do período com os círculos <strong>das</strong> cortes renascentistas italianas, que passam a se<br />

configurar no contexto da produção dos <strong>tratados</strong> analisados, e seu novo i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />

sociabilida<strong>de</strong>. Neste aspecto, utilizamos como referência a obra O processo civilizador <strong>de</strong><br />

Norbert Elias 9 , a qual traz importantes elucubrações acerca <strong>das</strong> relações sociais nos meios<br />

renascentistas, <strong>uma</strong> vez que o autor afirma que a civilida<strong>de</strong> é um longo processo histórico<br />

datado, que começa a se configurar no Renascimento. Mudanças que ocorreram nos<br />

padrões <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> entre os séculos XIV e XVII são marca<strong>das</strong> pela importância que<br />

se passa a <strong>de</strong>stinar ao comportamento. Alguns autores se tornaram muito famosos pela<br />

<strong>de</strong>scrição e i<strong>de</strong>alização <strong>de</strong>stes espaços <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>s e dos indivíduos que neles viviam<br />

como Pietro Bembo.<br />

Nascido em 1470 em Veneza, Bembo foi um patrício veneziano e é consi<strong>de</strong>rado<br />

<strong>uma</strong> figura representativa da classe intelectual do final do século XV e início <strong>de</strong> XVI.<br />

Levou a cabo <strong>uma</strong> admirável aproximação <strong>de</strong> diversas teorias sobre a linguagem e tentou<br />

construir <strong>uma</strong> gramática <strong>de</strong> <strong>uma</strong> língua italiana que não existia, dispersa como estava em<br />

numerosos dialetos. Os Assolani é consi<strong>de</strong>rado um dos primeiros gran<strong>de</strong>s <strong>tratados</strong><br />

filográficos do Renascimento. Na obra, Bembo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o <strong>amor</strong> é um meio <strong>de</strong> salvação<br />

espiritual propiciada aos homens. De um ponto <strong>de</strong> vista filosófico-literário, o tratado possui<br />

influências oriun<strong>das</strong> dos estudos da filosofia neoplatônica e do profundo conhecimento <strong>de</strong><br />

Bembo a respeito <strong>de</strong> Petrarca. Com esta redação Bembo constrói um diálogo sobre o <strong>amor</strong>,<br />

mas também um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comportamento cortesão, <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> microcosmos em que<br />

a conversação se dá <strong>de</strong> forma dialética sobre temas que muito agradavam o público <strong>das</strong><br />

cortes. Ao tratar do <strong>amor</strong> como questão central em Os Assolani Bembo aborda a questão<br />

<strong>das</strong> relações e convivências <strong>de</strong> indivíduos que compartilham <strong>de</strong> um código social comum.<br />

Bembo atenta, portanto, para a questão da comunicação do indivíduo com o outro e com o<br />

mundo através do enfoque na configuração dos espaços sociais <strong>das</strong> cortes. Observamos<br />

<strong>uma</strong> estreita relação entre a concepção <strong>de</strong> Bembo referente ao <strong>amor</strong> e a da Marsílio Ficino,<br />

<strong>uma</strong> vez que ambos afirmam ser o retorno à Deus o ato supremo <strong>de</strong> <strong>amor</strong>. A influência<br />

platônica no tratado <strong>de</strong> Bembo é perceptível através do caráter temático, e também <strong>de</strong><br />

elementos técnicos que aparecem na forma do diálogo como as diferentes perspectivas<br />

elenca<strong>das</strong> sobre um mesmo tema, as interrupções <strong>das</strong> personagens ao longo <strong>das</strong><br />

exposições, além do <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> <strong>uma</strong> personagem que acaba por conduzir o diálogo. Esta<br />

estrutura também é perceptível no tratado Sobre a Infinida<strong>de</strong> do Amor, cuja <strong>análise</strong> é tema<br />

do terceiro capítulo.<br />

Neste capítulo em que analisamos a obra <strong>de</strong> Tullia D’Aragona, consi<strong>de</strong>ramos<br />

importante fazer <strong>uma</strong> reflexão sobre a inserção <strong>das</strong> mulheres nos espaços cultos<br />

renascentistas 10 . Desse modo, é importante <strong>de</strong>stacar que houve a participação <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s<br />

mulheres nos espaços <strong>das</strong> cortes renascentistas, mais pluralistas, voltados à cultura<br />

h<strong>uma</strong>nista. A ascensão da mulher erudita e escritora ocorreu neste cenário h<strong>uma</strong>nista e<br />

muitas <strong>de</strong>las conseguiram publicar livros, alcançaram a notorieda<strong>de</strong> e foram reconheci<strong>das</strong><br />

9<br />

ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Volume 1, Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 1994. “A civilização como<br />

transformação do comportamento h<strong>uma</strong>no.”<br />

10<br />

SMARR, Janet L. “Dialogue of Dialogues: Tullia D’Aragona and Sperone Speroni.” MLN 113 (1998)<br />

204-212; CURTIS-WENDLANDT, Lisa. “Conversing on love: text and subtext in Tullia D’Aragona Dialogo<br />

<strong>de</strong>lla Infinità d’Amore.” Hypatia Vol.19, n.4 (Fall 2004).

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